A porta da oficina se abriu com um estrondo. Lou-reen entrou com um brilho animado nos olhos, trazendo um pergaminho nas mãos.

    — As Olimpíadas Militares de Taeris estão chegando! — Ela exclamou, desenrolando o pergaminho sobre a mesa, revelando o calendário do evento.

    Marco piscou, intrigado.

    — Olimpíadas militares?

    — Sim! — Lou-reen assentiu com entusiasmo. — Todo ano as seis grandes regiões do império enviam seus melhores guerreiros para competir. É uma das maiores celebrações de Taeris. Há provas de resistência, combate, estratégia e habilidades de essência.

    Marco arqueou uma sobrancelha, analisando o pergaminho.

    — Não tem datas — murmurou. — Só as provas.

    — Ué — Lou-reen ergueu o queixo, como se fosse óbvio. — Quando todas as regiões terminam as colheitas, a gente se reúne. Como todo ano.

    — Então é basicamente um festival de batalhas?

    Lou-reen sorriu.

    — Mais do que isso. É um teste de talento, disciplina e inovação militar. Além das competições individuais e em equipe, há exibições de novas táticas e armamentos.

    Marco coçou o queixo, refletindo sobre a informação.

    — Isso significa que as Olimpíadas serão em Ga-el, certo?

    — Exatamente! — Lou-reen confirmou. — Como capital, Ga-el tem as maiores arenas e campos de treino para esse tipo de evento.

    Marco trocou um olhar com Kalamera.

    — Se é assim… talvez seja o lugar perfeito para montar o observatório que estamos planejando. Ga-el fica no centro do Império, poderíamos construir os telescópios em um ponto estratégico para que nada obstrua nossa visão do céu.

    Kalamera assentiu, interessada.

    Lou-reen ponderou por um momento, observando o entusiasmo deles. Depois, cruzou os braços com um sorriso confiante.

    — Eu posso conseguir isso.

    Marco sentiu seu coração acelerar com a possibilidade. Finalmente, seu sonho de um observatório permanente poderia se tornar realidade. E com as Olimpíadas acontecendo, teriam uma oportunidade única de presenciar um dos eventos mais grandiosos de Taeris, ao mesmo tempo em que avançavam na exploração do universo.

    ***

    A noite pairava sobre Ga-el, envolta em uma névoa espessa que se arrastava pelas ruas de pedra. Guardas patrulhavam as ruas silenciosos, suas armaduras reluzindo sob a luz pálida da lua.

    O Museu Imperial, uma imponente estrutura de mármore e ferro, ergue-se no centro da cidade como um monumento ao passado glorioso de Taeris.

    Na entrada do museu, dois guardas conversavam despreocupadamente. Vestiam o uniforme padrão do exército imperial e seguravam suas lanças com uma postura relaxada. Eram jovens, recém-saídos da academia, e seu assunto estava longe de qualquer preocupação com segurança.

    — As Olimpíadas Militares estão chegando — disse um deles, um rapaz alto de cabelos escuros, um sorriso empolgado no rosto. — Ouvi dizer que o nadador de Cabricg vai quebrar todos os recordes este ano.

    O outro, um soldado de rosto sardento e expressão animada, riu ao ouvir isso.

    — Você fala do Talver, não é? Ele é rápido, mas o pessoal de Eley-Vine tem um corredor que pode ultrapassar qualquer um. Aposto que ele vai levar o ouro na prova de resistência.

    O soldado de Cabricg abriu a boca para argumentar, mas algo chamou sua atenção. O ar ao redor deles pareceu se mover de forma estranha, como se as sombras tivessem um peso que não deveriam ter. O chão escureceu por um instante e, diante deles, uma silhueta emergiu da escuridão.

    A sombra se ergueu, tomando forma diante dos olhos arregalados dos soldados. Uma figura envolta em um manto escuro, com o rosto oculto sob um capuz profundo, surgiu como se tivesse sido moldada pela própria noite.

    Os soldados se entreolharam, o relaxamento de antes se dissipando instantaneamente. Seus corpos ficaram tensos, os dedos apertando os cabos das lanças.

    O intruso deu um passo à frente.

    — O que diab—? — começou um deles, mas sua voz morreu no instante em que a lâmina negra surgiu da escuridão.

    A adaga, forjada com a própria noite, deslizou silenciosa pelo ar e encontrou o primeiro alvo. O jovem soldado mal teve tempo de reagir antes que o fio sombrio cortasse sua garganta. Ele se engasgou, olhos arregalados, tentando conter o sangue quente que jorrou de seu pescoço. Seu corpo cedeu, caindo pesadamente sobre o chão de pedra.

    O segundo guarda recuou instintivamente, a mão movendo a lança, mas foi tarde demais. Como uma serpente ágil, a figura sombria avançou. A adaga mergulhou certeira abaixo das costelas do soldado, atravessando o tecido de sua armadura. Um suspiro sufocado escapou de seus lábios enquanto sua força se esvaía, seu corpo sendo suavemente apoiado no chão pelo assassino.

    Sem hesitar, a figura encapuzada deslizou até a entrada do museu, movendo-se com precisão calculada. O salão principal estava mergulhado em silêncio, interrompido apenas pelo farfalhar discreto de sua capa ao roçar o chão de mármore. Com passos leves, avançou pelos corredores, seu olhar atento mapeando o ambiente à procura de seu objetivo.

    Enquanto isso, do lado de fora, o som compassado de botas ecoava pelas ruas de pedra. Uma patrulha noturna seguia seu percurso habitual, lanças em punho e olhares atentos às sombras da cidade. A noite estava tranquila, ou assim parecia, até um dos soldados estacar de repente.

    — Esperem… O que é aquilo?

    Os demais se viraram na direção que ele apontava. Sob a luz trêmula das tochas, duas silhuetas jaziam imóveis junto à entrada do museu. Um dos patrulheiros avançou com cautela, ajoelhando-se ao lado de um dos corpos.

    — Mortos… — murmurou, tocando a gola ensanguentada do uniforme de um dos guardas caídos.

    A tensão explodiu num instante.

    — Alarme! — bradou o comandante da patrulha. — Homens caídos no museu!

    Um dos guardas girou sobre os calcanhares e correu para soar o alerta. No instante seguinte, um som estridente ressoou por toda a capital de Ga-el. O alarme imperial.

    Antes que pudessem reagir, a sombra se moveu. Como uma criatura viva, deslizou para fora do museu, distorcendo-se entre as trevas, carregando uma mochila cheia. Em um piscar de olhos, surgiu atrás do primeiro guarda, e um estalo seco ecoou no ar quando ele caiu morto. Os outros dois mal tiveram tempo de gritar antes de lâminas negras emergirem da escuridão, silenciando-os.

    O corpo do último soldado bateu contra o chão.

    — É por isso que eu amo esse império — disse uma voz feminina, quebrando a quietude com um tom despreocupado. — Eles sabem fazer uma festa de boas-vindas.

    Dos fundos da praça iluminada pela lua, a general Hamita Granlyn caminhava em passos decididos, os músculos bem definidos ressaltados pela armadura ajustada ao seu corpo. Alta e imponente, sua postura irradiava confiança, como se nenhum inimigo no mundo fosse capaz de derrubá-la. O cabelo, cortado em um estilo ousado, caía parcialmente sobre um rosto marcado por cicatrizes de batalhas passadas. Seus olhos brilhavam com a promessa de um bom combate, e o sorriso ligeiramente cruel que se formava em seus lábios demonstrava sua satisfação em estar ali.

    Ela girou os ombros, estalando o pescoço, e estendeu os braços como se estivesse se aquecendo para um espetáculo. Seu traje de combate mesclava placas metálicas e couro reforçado, permitindo proteção e mobilidade ao mesmo tempo. Nas costas, duas espadas curtas estavam presas, mas, naquele momento, ela parecia mais interessada em medir seu oponente antes de sacar qualquer lâmina.

    — Bem… eu esperava um pouco mais de barulho — ela comentou, olhando os corpos caídos ao redor. Então ergueu os olhos para a figura encapuzada. — Mas acho que você vai compensar isso, não é?

    Hamita abriu um sorriso selvagem e flexionou os punhos.

    A figura encapuzada permaneceu imóvel, sem demonstrar qualquer sinal de intimidação diante da presença feroz de Hamita Granlyn. Em um movimento fluido, ergueu as mãos e murmurou com frieza:

    — Materialização de Essência: Lança Crepuscular.

    Dezenas de lanças feitas de sombras emergiram ao redor da figura como serpentes afiadas, zunindo pelo ar em direção à general. Hamita sorriu. Em um instante, suas mãos se moveram como borrões, interceptando cada uma das lanças e desviando-as com golpes secos e precisos, avançando a cada impacto. Estilhaços negros se dissipavam no ar, mas a figura encapuzada permaneceu impassível.

    — Materialização de Essência: Hidra de Mil Noites.

    As sombras ao redor do invasor se torceram e se fundiram, crescendo até assumirem a forma de uma gigantesca serpente negra. O monstro enroscou-se em torno da torre do pátio do museu, sua forma opressora contornando a estrutura de pedra. Com um rugido silencioso, a serpente se contraiu violentamente, esmagando a torre como se fosse feita de papel.

    Os escombros desabaram em um estrondo.

    A serpente girou sua cabeça e avançou contra Hamita, sua bocarra se abrindo para engoli-la, mas a general nem pestanejou. Com um movimento certeiro, sacou uma de suas espadas e, em um único golpe vertical, cortou a cabeça da criatura ao meio.

    O que deveria ser o fim do monstro, revelou-se um erro fatal. O corpo da hidra pulsou e, ao invés de perecer, duas novas cabeças emergiram onde antes havia apenas uma.

    Hamita estalou a língua e recuou ligeiramente, avaliando o inimigo.

    A hidra atacou novamente, suas presas rasgando o ar. Sem perder tempo, Hamita ergueu sua mão.

    — Manipulação de Rocha: Dragão da Montanha.

    Do solo rachado do pátio, uma colossal cabeça de dragão esculpida em pedra irrompeu, rugindo como se possuísse vida própria. Suas mandíbulas se fecharam ao redor da hidra de sombras, engolindo-a sem piedade. E então, como se nunca tivesse existido, o dragão afundou de volta à terra, levando consigo a criatura inimiga.

    Por um momento, tudo ficou em silêncio. Mas a figura encapuzada não havia terminado.

    — Materialização de Essência: Véu da Noite Eterna.

    Uma névoa densa e negra se espalhou por todo o pátio, ocultando tudo em um manto impenetrável de escuridão. Hamita sorriu. Essa era uma jogada interessante.

    Ela abaixou-se e tocou o solo.

    — Manipulação de Rochas: Conquista de Território.

    Toda Ga-el estremeceu. Através do contato com o chão, Hamita sentiu cada estrutura, cada rua, cada passo dos soldados correndo para reforçar a segurança do museu. Ela podia sentir o peso das casas, das torres, e, mais importante, o do próprio invasor.

    Mesmo envolto na escuridão, o inimigo não podia mais se esconder. Ela sentiu o peso sutil de uma nova lança sendo formada na névoa e, no instante seguinte, desviou-se dela sem mesmo vê-la. Em resposta, atacou. O invasor se moveu com velocidade, conjurando e arremessando lanças sombrias em rápida sucessão, mas Hamita avançava como se a névoa não existisse. Cada golpe dela era preciso, cada desvio era antecipado, e o inimigo começava a entender que aquela luta não era mais um duelo de poder, mas uma caçada.

    O invasor disparou para os telhados, saltando com leveza sobre as estruturas da cidade. A névoa o acompanhava, expandindo-se e tornando-o um vulto invisível. Mas Hamita não precisava de visão. Ela sentia a pressão dos pés do invasor a cada passo, a cada aterrissagem. Ele podia correr o quanto quisesse, mas não poderia se esconder dela.

    A perseguição se intensificou, a névoa se espalhando por ruas e becos. O invasor saltou em meio a um grupo de soldados que chegava para conter a ameaça. Hamita hesitou por um instante ao sentir os soldados se desequilibrando e caindo uns sobre os outros.

    E então, a névoa se dissipou.

    O invasor havia desaparecido.

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