Capítulo 39: Funcionou, mas não totalmente
A expressão de Aileen parecia muito triste.
Yu Sheng olhou para sua “obra-prima”, na qual havia trabalhado por várias horas. Colocando-se no lugar dela, ele pensou que, se um dia sua alma tivesse que entrar em um corpo como aquele para reviver, ele provavelmente choraria de verdade…
No entanto, a reação de Aileen o deixou um pouco magoado. Ele conteve o constrangimento, manteve o rosto sério e olhou para a boneca na pintura, tentando parecer sério: “Eu me esforcei muito, sabe? Pelo menos os olhos estão simétricos…”
Desta vez, Aileen chorou de verdade: “Mas a cabeça não é simétrica…”
Yu Sheng desviou o olhar: “Uhm… realmente, sou um pouco inexperiente. Da próxima vez, farei melhor. A prática leva à perfeição, a prática leva à perfeição…”
“É melhor não haver uma próxima vez”, Aileen acenou com a mão, resignada. Então, provavelmente pensando que hoje era o dia em que finalmente se libertaria e deveria estar feliz, ela forçou um sorriso — sem sucesso. Suas mil palavras se transformaram em um suspiro: “Ah, pelo menos é um corpo. Eu realmente sinto que a conexão foi estabelecida. Tudo bem, que seja este.”
Ela respirou fundo, pulou da cadeira na pintura, deu dois passos à frente e, como se lembrasse de algo, olhou para o ursinho de pelúcia em suas mãos.
Depois de ficar em silêncio por alguns segundos, ela abraçou o ursinho com força, virou-se e o colocou na cadeira, como se estivesse se despedindo.
Yu Sheng ficou curioso: “Não vai levar o urso?”
“Não dá para levar. Ele… é outro indivíduo selado nesta pintura. Sua consciência se dissipou há muito tempo, eu nem sei de onde ele veio”, Aileen balançou a cabeça e deu um tapinha na cabeça do ursinho. “Ele terá que ficar aqui. Mas não vou jogar fora esta pintura, então é como se ele ficasse comigo.”
“Ah.”
Yu Sheng assentiu e, com um misto de nervosismo e curiosidade, observou os próximos movimentos de Aileen.
Ele estava muito curioso para saber como a boneca finalmente “sairia” da pintura e como ela “viveria” no “corpo de boneca” feio que estava na mesa.
Então, ele viu Aileen, na pintura, começar a… “derreter”!
A cena era bizarra e assustadora. Aileen, como uma estátua de cera sendo derretida pelo fogo, começou a perder sua forma, cor e detalhes em um piscar de olhos. Em poucos segundos, ela se transformou em uma substância preta e maleável, que desmoronou na moldura e começou a vazar pela borda inferior, escorrendo para a mesa!
A mesa emitiu um leve chiado, como se estivesse sendo corroída por um ácido forte. A substância preta que escorria da moldura primeiro parecia uma lama espessa, depois ficou fina como água e, no segundo seguinte, transformou-se em uma… névoa negra que não se dissipava, flutuando ao redor do corpo da boneca na mesa e penetrando lentamente na argila sem vida.
Yu Sheng arregalou os olhos, observando a cena. Não sabia se era sua imaginação, mas sentiu um… frio vindo daquela névoa negra flutuante.
Se não tivesse visto com seus próprios olhos que aquela névoa era Aileen, ele teria achado a coisa sinistra e perigosa. A cena toda era muito estranha. Mas, mesmo sabendo, ele ainda achava a névoa extremamente bizarra. A sensação de frio persistente parecia uma malícia vinda de um abismo escuro e distante, infiltrando-se neste mundo, o que não combinava em nada com a atitude despreocupada e inofensiva de Aileen.
Yu Sheng balançou a cabeça, afastando os pensamentos aleatórios, e observou a névoa negra penetrar cada vez mais rápido na argila. De repente, pensamentos absurdos surgiram em sua mente—
‘O que aconteceria se eu soprasse na névoa agora? Ou se eu enfiasse a mão nela?
‘Aileen provavelmente xingaria de forma bem feia…’
Yu Sheng finalmente conteve o impulso de fazer uma besteira. Nesse momento, a penetração da névoa chegou ao fim.
A boneca na mesa começou a mudar visivelmente. A figura de argila, grosseira a ponto de ser feia, de repente adquiriu as características de um ser vivo. A superfície áspera tornou-se lisa em um piscar de olhos, e os membros, antes tortos, se equilibraram e se realinharam rapidamente. Começou a adquirir a textura e a cor da pele, os traços faciais distorcidos se fundiram na cabeça e se regeneraram dentro da argila, emergindo gradualmente no rosto…
Yu Sheng pensou que, por uma questão de polidez e respeito, deveria se virar.
Mas, antes que pudesse, viu um vestido preto e elegante “crescer” do corpo da boneca, como se fosse parte de sua carne, cobrindo-a.
‘Metamorfose?’
A palavra surgiu em sua mente. Nesse momento, ele sentiu de repente uma… conexão com Aileen.
A sensação foi fugaz. Ele nem teve tempo de distinguir se o sussurro que ouviu era a voz de Aileen antes que a conexão se silenciasse.
Yu Sheng franziu a testa, lembrando-se do sangue que havia adicionado à argila ao modelar o corpo, e sentiu que a conexão momentânea poderia estar relacionada a isso.
De repente, ele ficou um pouco preocupado: seu sangue parecia ser especial, isso afetaria a “regeneração” de Aileen?
Mas sua preocupação logo foi dissipada.
A boneca, completamente remodelada, estava deitada em silêncio na mesa. Sua pele era como a de um humano, seus cabelos escuros como tinta, seu rosto delicado como uma obra de arte.
Sob o olhar tenso de Yu Sheng, os cílios da boneca tremeram levemente.
Então, seus olhos se abriram lentamente.
Os olhos vermelhos olharam para o teto, sem foco, mas no segundo seguinte, recuperaram o brilho. Aileen levantou as mãos desajeitadamente, olhando para elas com incredulidade. Ela fechou e abriu as mãos lentamente, como se estivesse sentindo a textura do ar.
Depois de alguns segundos, a boneca sorriu. Um sorriso que parecia conter uma emoção intensa, à beira das lágrimas.
A voz de Yu Sheng soou ao lado: “Parabéns, Aileen.”
“Sim”, Aileen apoiou as mãos na mesa, levantou-se com esforço e ficou de pé, cambaleante. Então, com um sorriso radiante, olhou para Yu Sheng ao lado. Ela abriu os braços, como se fosse dar um abraço. “Eu voltei à vida! Yu Sheng! Obrig…”
A boneca parou de repente, como se tivesse percebido algo tardiamente. Ela permaneceu com os braços abertos, olhando para Yu Sheng ao lado da mesa, atônita.
Yu Sheng: “…?”
Aileen ergueu a cabeça lentamente: “Por que você parece… tão alto?”
Yu Sheng pensou um pouco: “Será que é porque você é baixa?”
Aileen ficou atônita, olhou para seu próprio corpo e depois para o abajur próximo. Ela engoliu em seco, correu até lá e comparou sua altura com a do abajur. Em seguida, virou o pescoço rigidamente.
Yu Sheng começou a sentir que algo estava errado.
“Por que…”, Aileen murmurou, atordoada. “Por que estou tão baixa…”
“Uhm… pelo tamanho de uma boneca, é grande”, Yu Sheng já estava em pânico, mas manteve o rosto sério. “Estou falando daquelas bonecas de um terço… espere, eu errei?!”
“…Um terço o caramba! Humano, tamanho padrão! Bonecas vivas são como humanos! Eu tenho um metro e sessenta e sete!”, a pequena Aileen, da altura de um abajur, pulava e gritava na mesa. “Cadê minhas pernas longas?! Hã?! Hã?! Por que eu tenho a mesma altura deste abajur?! Eu… eu nem consigo alcançar a cadeira ao lado!”
Yu Sheng ficou completamente confuso, mas depois sentiu que algo estava errado: “Não, espera. Você estava vendo enquanto eu modelava o corpo. Você mesma viu o tamanho. Por que não disse nada na hora?”
A pequena boneca, que pulava na mesa, ficou surpresa e, mais uma vez, pareceu perceber tardiamente: “Ei, é verdade, eu estava vendo…”
Ela correu para o centro do círculo concêntrico onde o corpo da boneca havia sido feito, olhou para a pintura de onde havia saído e forçou a mente. Algumas memórias vagas surgiram.
“É verdade… sua operação não teve problemas. O corpo de argila é apenas um meio, um recipiente temporário para a alma… Mesmo que o tamanho estivesse um pouco errado, minha alma deveria tê-lo ajustado ao remodelar o corpo…”
Aileen falava sozinha na mesa, ora olhando para baixo, pensativa, ora olhando para os arranjos do ritual ao redor, e de vez em quando, apertando seu próprio corpo, resmungando.
“Será que a diferença de tamanho era muito grande? Por isso o ajuste foi limitado? Não, não faz sentido… por mais limitado que fosse, deveria ter havido alguma mudança… de jeito nenhum eu teria a altura de um abajur…”
Aileen mediu a si mesma com as mãos e pulou no lugar, como se tentasse crescer com esse método inútil.
Obviamente, não funcionou.
“Então… o ritual deu errado?”, Yu Sheng perguntou, nervoso, ao lado. “A remodelação do corpo não foi ajustada corretamente? A culpa não é minha, certo…”
Aileen ergueu a cabeça, sua expressão de indignação e quase choro assustou Yu Sheng.
“Uma fita métrica.”
A boneca da altura de um abajur estendeu a mão para Yu Sheng, sua voz rangendo os dentes.
“Para quê?”
“Medir minha altura!”
Yu Sheng disse “ok” e correu para o segundo andar para pegar uma fita métrica.
No início, ele pensou em pegar uma régua, mas achou que Aileen poderia voar para mordê-lo se visse uma régua, então não ousou.
Momentos depois, Aileen ficou em pé, ereta, na mesa, com um livro velho na cabeça. Ao lado, Yu Sheng puxou a fita métrica para medir a altura da pequena boneca.
Aileen inclinou o livro um pouco, mas Yu Sheng o segurou.
“Qu-qual a altura?”, a pequena boneca perguntou, cautelosa.
“…66,6 centímetros”, Yu Sheng olhou para a fita, seu tom cheio de pena. “Eu tentei arredondar para cima, até considerei os 0,6 centímetros.”
Aileen finalmente chorou de verdade.

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