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    Diferente do que eu esperava, a decisão do cavaleiro diante da escolha entre duas opções foi rápida e racional.

    — Vou me ajoelhar.

    — …Hã?

    Falou com tanta naturalidade que por um instante achei que tivesse ouvido errado. Mas não, ouvi direito.

    — Os dezenove homens da 4ª Companhia fizeram o possível para se reunir ao batalhão principal, mas julgamos impossível cumprir tal dever devido a circunstâncias de força maior. Com base no artigo 41 do Código Militar, exerceremos agora julgamento autônomo e, visando à sobrevivência do batalhão, transferimos o comando ao Visconde Yandel conforme solicitado.

    — Ah…

    Quando finalmente entendi a situação, senti minhas forças se esvaírem. Eu já estava preparado para usar meu título e esmagar qualquer resistência, mas…

    “Então era só uma questão de dar um pretexto, é isso…”

    No fim, eu estava brigando sozinho contra sombras.

    — Pelo que ouvi, o senhor é exatamente como dizem. É uma vergonha admitir, mas confiarei o destino meu e de meus homens a você. Prometo que não seremos peso nem causaremos incômodos.

    — Bem… sinceramente, não me preocupo com isso. Mas tem certeza de que quer fazer isso?

    O cavaleiro inclinou levemente a cabeça.

    — Que pergunta estranha. Todo cidadão de Rafdonia sabe: se algo der errado dentro do labirinto, não há ninguém mais confiável que o Visconde Yandel.

    Ah… e o que dizer disso? Diante de um elogio tão direto e inesperado, vindo de alguém assim, senti-me um pouco sem graça. De repente, nem parecia adequado tratá-lo da mesma forma ríspida de antes.

    “Mas será que esse desgraçado planejou isso?”

    Saul Andreyako, capitão da 4ª Companhia do 3º Batalhão da Ordem dos Cavaleiros Reais, um sujeito com uma habilidade política assustadora. Melhor não baixar a guarda com ele.

    — Muito bem. Contanto que não causem confusão ou problemas, prometo cuidar de vocês com responsabilidade e sem discriminação.

    — Isso é o bastante.

    — Armin!

    Decidido a aceitar o grupo de cavaleiros, deixei-os aos cuidados de Armin. Ele, como sempre, tratou de tudo com eficiência: verificou o histórico dos recém-chegados e conduziu o tutorial básico.

    “…No fim das contas, o número de pessoas aumentou de novo.”

    Dos vinte e seis que restavam, reduzidos após a quarta Onda, que levou treze, somaram-se os quatorze sobreviventes encontrados pela equipe de busca. E, por fim, esse último grupo de cavaleiros, vinte e dois ao todo: dezenove cavaleiros e três sobreviventes resgatados junto deles, incluindo o Mestre da Guilda.

    “Um total de sessenta e duas pessoas…”

    Na prática, já podíamos considerar esse o número máximo de integrantes.

    Se aumentasse ainda mais, começaria a ficar difícil de se mover nas áreas dentro do Colapso.

    “É estranho pensar nisso…”

    Até pouco tempo atrás, minha maior preocupação era justamente o oposto, o número reduzido de pessoas. Mas agora? Tudo o que fiz foi mandar a equipe de busca e tirar um bom cochilo, e de repente o grupo cresceu tanto que já não havia mais lugar para ninguém. Era uma sensação estranhamente desconfortável.

    “Está tudo dando certo demais…”

    Uma inquietação começou a surgir sem motivo claro. Claro, depois da última Onda, que tinha sido brutal, talvez fosse natural termos um pouco de sorte agora. Mas mesmo assim…

    “Não, ainda está me deixando com um mau pressentimento.”

    Quando as coisas vão bem demais, eu tenho esse maldito hábito: o coração acelera e a respiração fica pesada. Então decidi revisar tudo mais uma vez, só pra garantir que nada escapara. Passei os olhos pela lista que Armin havia feito, conferindo se Hans não teria se infiltrado secretamente, e depois conversei com os novos integrantes, escutando o que haviam passado até agora, se tinham visto algo estranho, se houve incidentes incomuns. Era só uma tentativa de acalmar a mente, mas acabou rendendo uma informação inesperada.

    — Você disse que estava na Ilha Arps quando o colapso começou…?

    — Sim.

    Enquanto ouvia o relato do capitão Saul, franzi o cenho sem perceber.

    O motivo era simples: o exército real havia anunciado oficialmente que ocuparia três ilhas com alta taxa de coleta de pedras de mana.

    — Mas a Ilha Arps não é conhecida por ter um bom rendimento de pedras de mana.

    — Também não sei os detalhes. Nós nos movemos para lá e, pouco tempo depois, tudo aconteceu.

    Saul disse que, no fim, tiveram sorte. Afinal, a Ilha Arps era uma das poucas que não foram afetadas mesmo após a invocação do Lorde das Lágrimas.

    “Isso não parece coincidência…”

    Pensando assim, comecei a questioná-lo mais a fundo. Saul, a princípio, mostrou-se relutante em revelar assuntos internos do exército, mas diante do título de visconde, acabou cedendo e respondeu com sinceridade. E o que descobri foi o seguinte:

    — Hmm…

    Desde a entrada no labirinto até o início do colapso, consegui entender o panorama geral das ações do exército real. No começo, eles seguiram o plano à risca, os mil e setecentos soldados do exército real se dividiram em três grupos e ocuparam as três ilhas, explorando-as em busca de pedras de mana.

    Porém…

    — Então, de repente, receberam uma ordem? Para se moverem todos para a Ilha Arps?

    — …Sim.

    — E você não sabe o que aconteceu com as tropas que estavam estacionadas nas outras duas ilhas?

    — Não ouvi nada sobre as demais unidades. Mas suponho que tenham permanecido lá, não?

    Não, de jeito nenhum. Lembrei-me do grito cheio de desespero que ecoou quando o Lorde das Lágrimas foi invocado, e todos fomos arrastados pelas ondas até o centro do desastre.

    — O exército real! Onde diabos está o exército real?! Uma calamidade dessas estoura e eles nem aparecem pra ajudar!!

    Naquele lugar, não havia sequer um navio de guerra da realeza.

    “Provavelmente estavam em uma das ilhas seguras. Assim como o grupo do Saul.”

    Coincidência? Acaso? Uma mera conveniência do destino? Palavras assim não bastavam para justificar o que estava diante de mim. A essa altura, já dava pra cravar com certeza. Não sei o que pretendiam ao fazer algo assim, mas…

    “Então não foi o Baekho Lee, afinal.”

    Quem invocou o Lorde das Lágrimas foi o exército real.


    A realeza havia invocado o Lorde do Sexto Andar.

    Mas por quê? Qual seria a razão? O que eles pretendiam ganhar ao invocar um monstro daqueles?

    Infelizmente, não me foi dado tempo para refletir a fundo sobre isso.

    O período de calmaria havia chegado ao fim.

    Zzzt…!

    O ar se rasgou com aquele som familiar de ruptura. Felizmente, a maioria já estava desperta e em posição, então a resposta foi rápida.

    — Todos em formação!

    — O colapso começou!!

    Os Aventureiros correram para dentro das linhas que havíamos marcado antecipadamente, formando uma formação compacta para evitar que alguém ficasse para trás.

    — Haa…

    Acompanhei o movimento e me posicionei onde me cabia. E então…

    Flash!

    A visão piscou, e começou a quinta Onda.

    “Já é a quinta…”

    Normalmente, um colapso dimensional termina por volta da sétima Onda. Se a sorte estivesse do nosso lado, bastaria resistir mais duas vezes para enfim deixar esse maldito labirinto e voltar à cidade. Claro, isso se a sorte realmente resolvesse sorrir.

    — Ainda assim, chegamos longe.

    Não dava pra dizer que o fim estava próximo, mas ao menos já era possível imaginá-lo. Portanto…

    — Behel–LAAAH!!

    Soltei outro grito de guerra para reunir forças e atravessar mais um dia com vida.

    O ponto de início dessa Onda era uma das fendas do 8º andar, o Palácio do Lorde da Geada. As criaturas que surgiam ali eram de nível alto, e o campo tinha efeitos complicados, mas havia um lado positivo: melhor enfrentar o pior logo no começo do que quando estivéssemos exaustos e sobrecarregados.

    Assim mesmo:

    【Você derrotou um Espírito de Gelo. EXP +7】

    【Você derrotou um Cavaleiro do Frio Extremo. EXP +6】

    【Você derrotou uma Torre Congelada. EXP +7】

    【Você derrotou um Ogro de Gelo…】

    【…】

    【…】

    Monstros de níveis superiores surgiam em massa, mas eram rapidamente eliminados, e a experiência se acumulava. Com mais de sessenta pessoas e, acima de tudo, com a presença dos cavaleiros, usuários de aura, o combate se tornou incomparavelmente mais eficiente. A chegada dos dezenove cavaleiros equivalia, na prática, a adicionar dezenove atacantes de elite.

    Slash!

    A aura cortava monstros de nível 4 como se fossem tofu. E os cavaleiros não eram apenas bons no ataque. Como é comum entre eles, a força ofensiva era coberta pela Aura, uma habilidade praticamente trapaceira, enquanto as deficiências eram compensadas com essências defensivas e armaduras pesadas. Em outras palavras, podiam atuar até como tanques de suporte.

    “Se formos apontar um ponto fraco, talvez seja o fato de que quanto maior a defesa, mais lentos eles tendem a ser…”

    Mas, na verdade, isso pouco importava agora.

    【Você lançou Medo Dracônico.】

    Bastava um rugido para atordoar tudo em volta. Os cavaleiros só precisavam cortar o banquete já servido diante deles…

    Zzzt…!

    Oh, já acabou? O primeiro campo terminou surpreendentemente fácil, muito mais do que eu temia. Desta vez, nada de chefes surgindo do nada como no Coração do Dragão Vermelho, e o número de monstros que nos seguiram para o próximo campo era mínimo. Basicamente, limpamos tudo que apareceu pela frente.

    — Haa… Desta vez é o nono andar?

    O segundo campo era ainda mais complicado.

    【Você entrou em uma área especial.】

    【Efeito de campo – Montanha Crânio de Dragão foi aplicado.】

    【Efeito de Status Maldição do Dragão foi aplicado.】

    【Resistência física reduzida em 50%】

    【Um Essência aleatória foi selada.】

    Verifiquei rapidamente: Mergulho da Alma1 não funcionava. O que significava que a passiva Célula do Começo2 também estava desativada.

    — P–Parece que um exército inteiro está vindo!

    — Segurem a linha!

    Assim que abrimos os olhos no segundo campo, monstros começaram a chover de todos os lados. Era, sem dúvida, a maior quantidade de inimigos que já tínhamos enfrentado até então. Bem, era de se esperar, a Montanha Crânio de Dragão era conhecida justamente pela quantidade absurda de criaturas.

    “Ao menos o tipo deles combina bem com o nosso time.”

    Nosso poder de fogo em área também não deixava a desejar.

    【Myul Armin invocou Espirito da Vingança Suicida.】

    【Myul Armin invocou Espirito da Vingança Suicida…】

    E, sendo eles mortos-vivos, melhor ainda.

    【Você usou Explosão Selvagem.】

    【Dano é causado a todos os mortos-vivos ao redor.】


    【Maria Shure Eloyd lançou Tocha da Condenação.】

    【Enquanto a melodia continua, a resistência de todos os mortos-vivos na área é severamente reduzida.】

    Explodindo e esmagando as ondas que vinham como num cerco, continuamos resistindo.

    【Você derrotou um Lich.】

    【Você derrotou um Cavaleiro Negro.】

    【Você derrotou um Dragão de Ossos.】

    【Você derrotou um Rei Esqueleto Helmhorn.】

    【Você derrotou um Lorde Zumbi…】

    Durante a luta, chegaram a aparecer três monstros de segundo nível ao mesmo tempo, um deles foi teleportado para fora pelo mago especializado, outro foi abatido por Ainar junto com os cavaleiros, e o último ficou sob minha guarda: mantive-o contido até os outros terminarem e depois todos nós o abatemos juntos. Ah, e nenhum dos três deixou essência. E então…

    Zzzt…!

    Mesmo com um campo do nono andar surgindo logo após a fenda do oitavo andar, a parte inicial passou sem grandes incidentes. E o que veio depois… não foi muito diferente.

    Zzzt…!

    Os campos continuavam mudando, e com eles vinham novos efeitos de campo, novos tipos de monstros.

    — Aaaaargh!!!

    O cansaço se acumulava, e alguns inimigos escapavam da linha de contenção, amontoando-se ao redor… mas no fim,

    Clack, flop, flop…

    A quinta Onda terminou sem maiores tragédias.

    …Embora não fosse o mesmo que dizer que não houve perdas.

    — Três mortes confirmadas. Total de sobreviventes: cinquenta e nove!

    Ainda assim, foi uma Onda em que conseguimos lidar muito bem com o perigo. Mesmo assim, três vidas se foram. Mas não era algo fora de se compreender, no labirinto, um erro mínimo pode significar a morte. Considerando a enxurrada de monstros de terceiro e quarto nível que enfrentamos, o fato de apenas três terem morrido era, na verdade, prova de que resistimos incrivelmente bem.

    “Desta vez, a sorte com os campos não foi das melhores…”

    Talvez fosse o preço pela melhora de força com o aumento do grupo. O fato é que essa Onda teve um nível de dificuldade consideravelmente alto e, pra piorar, a zona de estabilização não era das mais favoráveis.

    Terra Primordial. Um campo localizado no coração do nono andar, o Túmulo Estelar.

    — O que pretende fazer, senhor?

    — Vamos dispensar a exploração. Não estamos com falta de pessoal, e o risco de perder gente durante a busca é alto demais.

    — Entendido.

    — E aumente o número de vigias noturnos. As criaturas daqui provavelmente vão atravessar o Decreto de Aniquilação.

    — Será feito como ordena.

    — Ah, e… chame um sacerdote.

    — Sim.

    Como em todo período de descanso, chamamos o sacerdote e acendemos a fogueira. Desta vez, porém, não houve ninguém chorando baixinho como antes. Afinal, os três mortos eram pessoas que haviam se juntado ao grupo sozinhas, sem laços diretos com os demais. Mesmo assim, todos se reuniram diante das chamas e prestaram um momento de silêncio.

    — Tende piedade, acolhei suas almas com calor e guiai-as, concedei descanso aos que estão exaustos.

    Quando a quinta Onda terminou, fiquei ali, diante da fogueira crepitante, pensando:

    Fwoosh…!

    Quantas vezes mais ainda teríamos de acender o fogo?

    1. Do gigante do Mar Profundo; reduz consumo de Poder da Alma, MP, além de dar aumentar em 1,5 vezes o atributo mais alto.[]
    2. A passiva do Gigante do Mar Profundo; a habilidade de recuperar o Poder da Alma, MP.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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