Capítulo 13 — O Encontro
Eu não suporto esse lugar.
Não importa o quanto eu vaguei por esse suposto festival de pequena escala, nada de interessante apareceu.
As barracas sustentadas apenas pelos produtos da caravana eram menores do que as dos festivais das outras cidades que passamos anteriormente.
— Irina havia dito que existe uma pousada por aqui com boa comida. Me pergunto se foi apenas gentileza dela.
Dúvido muito que seja verdade, pelo menos com o que vi até agora. Nem mesmo os soldados desse lugar, se é que podem ser chamados assim, são fortes.
No máximo, poderiam proteger a cidade de uma pequena horda de monstros, algo que se mostrou recorrente nas regiões anteriores.
De qualquer forma, pelo menos posso aproveitar um pouco de descanso aqui — fazer a segurança da caravana era simplesmente exaustivo.
Olhei ao redor em busca de algo interessante ou alguma comida nova que ainda não havia experimentado, mas nada me atraiu.
— Na verdade, existe aquele sujeito chamado Edgar. Aparentemente, ele abriu uma barraca de um tal sorvete… Acho que posso passar lá.
Decidi seguir as pessoas que passavam por mim, procurando onde estaria aquele homem e sua barraca. No entanto, enquanto me perdia em pensamentos, alguém se chocou comigo.
Argh—
Um gemido de dor escapou da boca da pessoa, atraindo meu olhar para ela. Surpreendentemente, era um rapaz jovem de cabelos negros que havia batido em mim.
“Espere um segundo, eu não percebi ele… Isso é estranho”, pensei alarmada.
Mesmo que estivesse de folga, dúvido que estava tão relaxada a ponto de deixar a presença dele escapar de mim. Com suspeita, olhei para ele.
Seu corpo jovem, significativamente menor que o meu, pareceu paralizar quando me viu, o fazendo ignorar o fato de ter caído no chão sujo.
Por que ele reagiria assim? Para mim, pelo menos, é a primeira vez que o vejo em minha vida. Hmm…
Através de seus olhos que me observavam com surpresa, traços de algo mais pairavam por alí. Talvez desconforto ou medo.
— Quem é você? — disse grosseiramente, expressando minhas dúvidas.
Eu jamais falaria com um civil em uma situação normal, onde ele poderia ter se ferido no impacto ou queda, mas isso não é uma situação normal.
Em resposta a minha pergunta, apenas o silêncio falou. Nos afogamos nele, o rapaz se recusando a falar enquanto continuava a me observar.
Que pessoa estranha. Mesmo comigo sendo abertamente hostil, ele permaneceu quieto sem desviar os olhos de mim. Não, ele me observava com afinco, me analisando.
“Esses olhos…”, percebi algo.
O olhar que caia sobre mim não era apenas de surpresa, nem confusão, mas receio. Ele havia notado algo em mim que o atordoou, mas o que seria?
Não estou em serviço neste momento, então não carrego minha armadura comigo. Mesmo a espada em minha cintura é muito menor do que a minha usual.
Minha mão esquerda traçou um caminho suave, pousando sobre o cabo da espada. Para não o alarmar, girei sutilmente meu corpo para que não percebesse o movimento.
Mesmo que não pretendesse começar um combate em meio a tantas pessoas comuns, eu deveria me certificar de que ele não tentasse nada.
“Não posso abaixar a guarda em relação a ele.”
— Qual o seu nome e profissão? — perguntei.
— Eu, eh… desculpe, não vi você enquanto eu virava a esquina — gaguejou com nervosismo escorrendo de cada palavra. — Me chamo Arthur, eu sou um coureiro.
“Mentiroso”, tive a certeza em minha mente.
Um coureiro de um lugar tão simples nunca seria capaz de passar despercebido por mim. Não… mesmo em todo o nosso império de Soler Moon não haveria um coureiro capaz disso.
Mas por que ele, Arthur, mentiria para mim? A esse ponto, ele já deve ter percebido minhas suspeitas. Não há motivos para agravar sua situação.
De qualquer forma, sua maneira de agir era estranha demais. Ele poderia causar muitos problemas se deixado livre para vagar pela cidade.
— Coureiro? — expressei minha dúvida com suspeita na ponta da minha língua.
Por um momento, ele olhou para mim sem dizer nada, o mundo inteiro caindo naquele silêncio pesado. Mas um suspiro saiu de sua boca quando me olhou.
— Sim, sim, eu sou um coureiro; o melhor da região, diga-se de passagem. Inclusive — disse enquanto estendia a mão — você poderia me ajudar a levantar?
“O que houve com essa mudança de atitude?”, fiquei perplexa.
A poucos minutos, talvez mesmo segundos, ele me olhava com receio e surpresa, mas agora isso não era diferente de indiferença dirigida a um estranho.
Me aproximando cautelosamente dele, mas com passos firmes e controlados, dei minha mão para ele. A palma de sua mão era calejada ao toque.
— Já que eu disse o meu, você poderia me dizer o seu nome?
Me questionei se deveria dizer meu nome para ele ou não, mas vendo a forma com que agi até agora, acho que deveria ao menos fazer isso.
Olhando para ele, decidi levar as coisas com calma. Talvez assim ele deixe escapar alguma coisa.
— Meu nome é Kaedra, uma comerciante — menti.
Mesmo que eu tenha decidido enganar ele ao gerar confiança e conforto, não vi motivos para revelar minha profissão tão abertamente.
Além do mais, caso ele realmente seja alguém perigoso, seria problemático se soubesse minha identidade verdadeira.
— Sou nova por aqui, então estou um pouco nervosa, haha — sorri docemente.
Segundo Irina, a melhor forma de se aproximar de alguém do sexo oposto é oferecer um sorriso bonito com voz mansa. E vendo como ele ficou paralizado, deve ter funcionado.
“Irina realmente é muito inteligente com esse tipo de coisa. Devo pedir alguns conselhos para ela mais tarde.”
— Ah, sim, entendo… Então, você faz parte da caravana?
— Exatamente, eu vim com eles. Inclusive, você mora por aqui? Não lembro de ter visto você durante a viagem.
Ele me olhou por um momento, talvez tentando entender o motivo oculto da pergunta, mas logo respondeu.
— É, eu moro nessa pequena cidade; é um lugar bem confortável, apesar da aparência caótica de agora. Bem para lá. — Apontou para a direção de onde viera.
“Então ele mora aqui… mas ainda não tenho certeza sobre a veracidade das suas palavras.”
— Sério? A quanto tempo? Pelo pouco tempo que passei por aqui, parece ser bem difícil realizar algumas coisas, como viajar.
— Hm… Recentemente completou dois anos desde que me mudei para cá — disse com a mão no queixo. — No começo, as coisas são meio complicadas, mas você se acostuma.
Sua fala era estranhamente leve, como se não sentisse mais o peso de conversar comigo ou da pressão que eu insistia em emitir minutos atrás.
“Talvez falar do passado seja a chave… Não custa nada tentar explorar mais. Afinal, se eu lidar com as coisas agora, não vou precisar trabalhar na minha folga.”
— E você veio para cá sozinho ou com a sua família? — perguntei sem me importar muito, mas algo estranho aconteceu.
Os olhos azuis do rapaz jovem à minha frente, que antes brilhavam profundamente, se deixaram cair na opacidade. Sua atenção parecia ter sido tomada por memórias.
Me perguntei se havia um motivo para essa mudança, mas antes que eu pudesse expressar as minhas dúvidas, Arthur me chamou.
— Sim, eu vim para cá sozinho. Infelizmente, minha antiga aldeia foi atacada e fui o único sobrevivente.
Sua expressão não era mais a de surpresa de quando nos encontramos, nem a de leveza e indiferença de alguns segundos atrás, mas algo novo.
Era uma frieza que não considerei possível que alguém tão jovem pudesse expressar.
Seus lábios franzidos em uma linha morta não esboçavam reação, nem qualquer outra parte de seu rosto.
A verdade por trás de sua chegada a Veldoren me surpreendeu. Mesmo que fossem acontecimentos não tão raros, também não eram exatamente comuns.
— Infelizmente, terei que me retirar, Kaedra. Espero que tenha uma boa noite e aproveite o festival com cuidado — Arthur disse, me tirando do meu torpor.
— Hã? — Antes que eu pudesse reagir, ele se moveu em alta velocidade por entre os transeuntes, desaparecendo aos poucos.
“Não posso permitir que ele escape! Ainda não tirei todas as informações.”
Corri atrás de sua sombra, mas ela era rápida demais. Sem que eu pudesse sequer chegar perto dele, Arthur sumiu completamente naquele mar de pessoas.
Olhei para o lado em busca de algum vestígio dele, mas não encontrei nada. Ele simplesmente evaporou de lá.
Parada no meio da rua, algumas pessoas trombaram contra mim, mas não ousaram levantar a voz para a minha imagem séria.
“Arthur”, lembrei o nome em minha cabeça. “Não me esquecerei do seu rosto.”
Não importa quanto tempo se passe, não irei me esquecer daquele sujeito suspeito que encontrei. Mas não havia nada que eu pudesse fazer por enquanto.
— Talvez eu deva voltar e informar os outros… — balbuciei para ninguém em específico. — Mas não agora.
Era improvável que Arthur fizesse algo por agora, então tenho algum tempo para terminar de explorar esse festival.
“Era para cá aquela barraca?”, me perguntei enquanto retomava meu andar.
Mas embora andasse à procura do tal sorvete, minha mente não pôde deixar de se lembrar daquele jovem de mais cedo.
— Talvez eu deva falar com Irina sobre isso…

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