Capítulo 49 — Conclusão Inesperada
Akane não resistiu e desfez a barreira. Ela pediu, com a voz trêmula, que a Camaleão a levasse até o local o mais rápido possível. Camaleão invocou o chicote e o prendeu em uma viga do teto; em seguida pediu que Akane se segurasse. Juntas, balançaram pelo ar e chegaram ao campo em um movimento rápido.
Ao tocar o chão, Akane correu em direção à cratera que se formara, mas foi interrompida pelas irmãs gêmeas. Camaleão desfez sua Manifestação e tentou acompanhá-la, porém também se deparou com as duas. As gêmeas estavam postadas no início do campo, bloqueando a passagem para que Akane e Camaleão não interferissem na luta.
— Saiam do caminho!!! Eu preciso ajudar o Kamito! Ele precisa de mim! Se vocês não saírem por bem, sairão por mal! — Akane gritou, o rosto vermelho de raiva, enquanto assumia uma postura de combate.
As irmãs permaneceram imóveis por um instante, até que a gêmea mais velha deu um passo à frente e a encarou friamente.
— Quem é você para achar que pode nos dar ordens?! Nós sabemos bem que seu namoradinho precisa de você. E é por isso que você não passará.
Harpia riu enquanto as duas trocavam olhares tensos; Pombo e Camaleão se mantiveram apenas observando. Camaleão tentou argumentar, a voz embargada pela confusão.
— Nunca imaginei que você voltaria, Pombo. Vocês não entendem?! Eles são os vilões!!! Por que estão ajudando a Ordem de novo?
Camaleão olhou para a sua amiga, confusa. Ela não entendia o motivo de ela ter voltado para a Ordem, e que isso as tornavam inimigas. Pombo a olhou com dureza e respondeu sem rodeios, a voz cortante:
— Porque informação é poder. E a Ordem tem esse poder. Um novo mundo onde podemos ser deuses e sem concorrência, um local cheio de paz. Você também lutava por isso, e agora é uma traidora qualquer.
Camaleão sentiu o peso daquelas palavras e, com o coração apertado, desistiu de conversar. Invocou o chicote num movimento rápido e firme.
— Vocês fizeram uma escolha. Nós não permitiremos que a Ordem tome essa cidade! — ela declarou, apontando o chicote na direção das gêmeas — Se vocês realmente querem lutar, então lutaremos! Depois que vocês caírem, eu ajudarei o Kamito.
Akane, séria, estendeu o braço esquerdo e manifestou sua Relíquia: um arco dourado apareceu em suas mãos, brilhando levemente. Harpia sorriu com desdém, ajustou a postura e respondeu, provocando:
— Pode rir o quanto quiser… Eu irei te derrotar!!!
Harpia invocou uma espada e a apontou para Akane, com um sorriso provocador.
— Vamos ver se você é mesmo capaz disso!!! Quanto mais tempo te seguramos aqui, mais tempo o Coiote terá de matar aquele monstro. — disse ela com um olhar confiante.
Akane a encarou firme, os olhos ardendo de indignação, e ergueu o arco em resposta.
— Ele não é um monstro! Ele é uma boa pessoa, meu melhor amigo e o homem que eu amo! Então não permitirei que o trate assim!!! Prepare-se!!!
Era raro vê-la perder o controle, mas as palavras de Harpia a atingiram diretamente no coração. Akane realmente estava pronta para lutar.
— Pombo… então é assim que vai ser?! — Camaleão perguntou, com o peito pesado. — Eu não queria ter que lutar com você, mas, se você está do lado dos vilões, eu terei que te impedir! Agora as coisas são diferentes!!! Eu te vencerei!!!
Ela começou a girar o chicote, criando um som cortante no ar. Pombo invocou duas pistolas e as apontou para a antiga amiga, que se surpreendeu, ajustando imediatamente sua postura para o combate.
Enquanto um novo confronto prestes a explodir tomava forma no campo, Kamito e Solum permaneciam caídos lado a lado na cratera. Solum estava de costas, respirando com dificuldade, enquanto Kamito permanecia com o rosto pressionado contra o solo.
Solum soltou uma risada rouca e virou levemente a cabeça na direção dele, tentando enxergar se Kamito ainda estava vivo.
— Ei, Kamito! Finalmente morreu?! Espero que sim, já que você está com a cara no chão. Eu te venci mais uma vez. Como pode ver, eu sou superior!
Mesmo sem um resultado claro, Solum já celebrava a vitória.
Kamito respondeu com a voz abafada pela terra, tentando mexer o rosto sem sucesso.
— Cale-se! Eu não morri. Eu só estou admirando as estrelas. E nós dois sabemos muito bem que eu venci, pois eu caí depois de você.
Os dois permaneceram ali, exaustos, sem forças para sequer se levantar, apenas aguardando qual deles se recuperaria primeiro para continuar aquilo que ainda não havia terminado.
— Nem está escuro para ter estrelas no céu, e você está com a cara colada no chão. Você mente muito mal. Eu que venci essa luta, aceite isso.
Ao ouvir o riso de Kamito, Solum também riu, fazia anos que ele não se divertia tanto. Aquele instante o fez pensar sobre o que vinha fazendo, se estava certo ou errado.
— Kamito, por que você e seus amigos estão tentando nos impedir? Você não acha injusto interromper alguém que está à procura da paz?
— Ei, Solum. — respondeu ele, entre dentes — Você acha justo que para essa paz que vocês buscam aconteça, vocês tenham que sacrificar essa cidade e todas as pessoas que vivem nela? Isso não é paz, é apenas um objetivo egoísta de conseguir poder e controle. Você sabe muito bem disso, e você pode impedir que isso aconteça.
Mesmo com o corpo dolorido, ele tentava encará-lo, algo difícil pela posição em que estava. Por mais estranho que fosse, Kamito não queria matá-lo; queria mostrar que ele estava errado. A luta lhes dera prova suficiente de que Solum não era unicamente mau.
— Você não é mau. — continuou o garoto, com sinceridade — Eu pude perceber isso enquanto lutávamos. Se o que você disse sobre paz for verdade, então você sabe que a Ordem está errada e que ela precisa ser impedida. Eu não vou pedir para que você se junte a mim ou que nos ajude, só pedirei que você faça o certo.
— Pelo visto, você sabe bastante sobre a Ordem. Não assumiu um nome dela por acaso. Realmente, há coisas na Ordem que não concordo. Só quero lutar, e ela me proporciona isso. Mas você tem razão… Mesmo que o objetivo seja a paz, ela está sendo buscada da forma errada, e sei quem está por trás disso.
Solum fechou os olhos por um momento, como se ponderasse cada palavra. Quando falou, houve menos farpa e mais cansaço na voz.
— Kamito… Vamos estabelecer uma trégua. Há uma pessoa que eu pretendia matar depois que eu te matasse, mas você pode ficar para depois. Não tem graça lutar contra você se tudo aqui for tomado. Pode-se dizer que as circunstâncias nos fizeram aliados.
— Uma trégua?! Então você já se decidiu. Está bem, Solum, teremos uma trégua. Mas, se isso não acontecesse, eu teria que te surrar de novo.
Kamito gargalhou, abafado, mesmo ainda no chão. Ele tentou se virar para olhar o céu e, ao conseguir, fechou os olhos por um segundo. Sentiu, então, a energia de Akane agitada, uma inquietação que o apressou. Havia outras presenças energéticas muito próximas dela, e o desespero o percorreu.
— Solum, de quem são as duas energias daqui de perto?! — ele perguntou, com a voz urgente — Eu preciso ajudar a Akane! Por mais que ela seja forte, essas energias são monstruosas. Eu… Eu não posso deixar que ela se machuque.
— Energias? Elas são das irmãs gêmeas, Harpia e Pombo. Não se preocupe com a sua namorada, nenhuma delas tem Manifestações como as nossas. Sem falar que a Camaleão está com ela. As duas dão conta daquelas irmãs.
Solum respondeu com calma, ajeitando-se no chão e olhando para Kamito como se dissesse que aquilo já estava resolvido. Parecia tranquilo; conhecia bem as gêmeas. O foco delas não era o combate direto, mas a coleta de informações, por isso suas especialidades eram interrogatórios e torturas, não lutas abertas.
— As duas não gostam muito de lutar, as Manifestações delas não são focadas nisso. Não se preocupe com elas, tenho certeza de que ficarão bem.
Kamito tentou mexer-se, dominado pela angústia.
— Assim espero… Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a ela. Que droga! Eu queria poder me mexer para ir até ela!
Solum riu ao vê-lo se esforçar, o riso foi suave, quase aliviado. Kamito o olhou, com intenção de provocar a retirada da trégua, mas acabou rindo também. A tensão entre os dois afrouxou por alguns instantes, não parecia que eram mais inimigos mortais.

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