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    A noite aproximou-se timidamente. A cidade, ainda em silêncio, tentava entender o que acontecia. Raishi e Ruby olhavam para o céu e pensavam em como aquele mundo ainda tinha esperança, e que mais uma vez um “lobo” lutara para realizá-la. Na entrada do campo de treinamento, Akane e Camaleão preparavam-se para atacar suas oponentes, Pombo e Harpia. Num piscar de olhos, Camaleão percebeu que sua adversária desaparecera e rapidamente tornou-se invisível. Ela precisava tomar muito cuidado, pois lidava com uma rastreadora. 

    — Tinha esquecido de como sua Manifestação é chata! Mas ela não é mais um problema para mim. Agora eu consigo te rastrear em qualquer lugar! — disse Camaleão, cerrando os dentes enquanto procurava por sinal. 

    Pombo surgiu no ar, sacou suas armas com cuidado e começou a atirar próximo a uma meia parede. Camaleão saltou rapidamente em sua direção, chicoteando as balas, e tentou acertá-la, mas Pombo desviou com agilidade. 

    — Você não mudou nada! Continua explosiva como sempre… Foi assim que eles te convenceram a mudar de lado?! Porque isso é… Ridículo! 

    — P-Pode até ter sido isso! Mas eu mesma percebi o quanto a Ordem está errada! Sacrificar inocentes para conquistar a paz é o mesmo que nada!!! 

    Camaleão esquivou-se de um ataque de Pombo e voltou ao chão, encarando-a furiosa. Ela sabia dos interesses da amiga e não podia pegar leve. Começou a girar o chicote enquanto a olhava seriamente. 

    — Pombo, eu sei que você e sua irmã não se importam com isso. Eu sei que para vocês só importa aquilo que lhes beneficia, por isso que vocês voltaram para a Ordem. E é por isso que eu te impedirei com as minhas mãos!!! O Yujiro me mostrou o certo, e agora é a minha vez de lutar! — declarou, puxando o chicote com firmeza. 

    — Pombo, não dê ouvidos às baboseiras dela! Lembre-se do nosso foco. Somos só nós duas nesse mundo e eles querem nos impedir de alcançarmos o nosso tão sonhado objetivo. Lembre-se do nosso lema. — Harpia murmurou, cerrando os olhos e assumindo postura defensiva. 

    Harpia mostrou-se bastante séria; seu olhar era fixo e transmitia raiva contida. 

    — Você diz que estamos tentando impedir o objetivo de vocês, sendo que esse objetivo é sacrificar várias vidas por um sonho passageiro. 

    Akane segurou o arco com firmeza e começou a puxar a corda, moldando uma flecha dourada. Ela mirava a cabeça da Harpia e não parecia estar brincando, realmente pretendia disparar. 

    — Não permitirei que vocês prossigam com isso! Todos nós estamos lutando por essa cidade e por todas as pessoas. Mesmo que eu caia aqui, eu sei que meus amigos irão vencer! Eu sei que o Kamito vai vencer! — disse Akane, a voz tensa enquanto apertava a empunhadura. 

    — Eu não me importo com quantas pessoas vão morrer ou não. Só uma coisa me importa, o bem-estar da minha irmã e o meu! Saiam do nosso caminho!!! — respondeu Harpia, em surto de fúria, avançando com a espada em punho. 

    Akane passou a disparar várias flechas na tentativa de detê-la. Harpia cortou todas as flechas e, prestes a desferir um ataque, viu Akane erguer um escudo de energia que repeliu sua lâmina. 

    — Eu tinha me esquecido do quanto a sua Manifestação é chata. — comentou Harpia, recuando um passo enquanto avaliava — Uma criadora de escudos e barreiras… Pelo visto, eu terei que atacar de outra forma. 

    — Não importa o quanto você tenta me atacar, você jamais passará da minha Wall of Souls!!! Sabe, o Kamito não foi o único que treinou. Eu também treinei muito para estar aqui, agora veja o resultado do meu treinamento!!! 

    Akane apoiou o arco na parede de energia e puxou a corda; a barreira começou a se alterar, projetando diversas pontas por toda a sua extensão. Ao soltar a flecha, todas as pontas dispararam como uma saraivada. 

    — Wall of Spiritual Arrows!!!  

    — Sua Manifestação não é só de defesa?! Isso quer dizer que você a manipula quase com perfeição… Nesse caso, eu não tenho escolha a não ser usar isso! — Harpia murmurou, fechando os olhos por um instante. 

    Ela não se preocupou com a chuva de flechas; quando abriu os olhos, estes estavam diferentes, uma mescla de amarelo com vermelho, com linhas negras em volta. Harpia encarou a parede de flechas e todas começaram a cair, desviando como se fossem repelidas por uma força invisível. 

    — Essa é a minha Manifestação: Olhar do Medo! Não importa o que você faça, tudo se intimidará e terá medo de me tocar. Até mesmo você! 

    — I-Impossível… Uma Manifestação capaz de fazer até mesmo outra Manifestação errar ou recuar é quase inacreditável. Então devo esperar que a Manifestação da sua irmã seja parecida com a sua, já que vocês são gêmeas. 

    Akane fitou-a séria, reavaliando rapidamente a situação. Ela percebeu que precisava mudar de estratégia: apesar de sua habilidade defensiva ser quase instantânea, uma Manifestação que a fazia recuar constituía um problema grave. Estava em desvantagem. 

    — Eu preciso vencê-la de alguma forma. Não posso perder tempo… O Kamito precisa de mim. Dessa vez, eu que irei protegê-lo! 

    Harpia sorriu, satisfeita por ter encurralado Akane. A jovem percebeu que precisava mudar de estratégia, do contrário, jamais venceria aquela luta. Do outro lado, o confronto entre Camaleão e Pombo se desenrolava mais devagar, as duas se estudando com cuidado. Pombo sorriu e, lentamente, os olhos dela ficaram amarelos, enquanto a região ao redor adquiria um tom azul-claro. Camaleão observou, surpresa. 

    — Então decidiu usar a sua Manifestação?! Como você chama mesmo?! “Olhos que tudo enxergam”?! — Camaleão comentou, a voz baixa e cortante, avaliando — Vocês são famosas por suas Manifestações se completarem. Enquanto uma possui a Manifestação de intimidação, a outra possui a de rastreamento e de coleta de informações. Um par perfeito. 

    Camaleão assumiu uma postura semelhante à de Yujiro: a mão esquerda para trás segurando o chicote, a direita à frente em posição de defesa, pronta para reagir. 

    — Que engraçado você estar usando uma cópia do estilo dos Nomura que você aprendeu sete dias atrás. Você espera que eu te ataque para trocar a mão do chicote e revidar, me pegando desprevenida… — Pombo recuou, voz tremendo com desdém — Isso é muito baixo! Que feio!!! 

    Pombo recuou alguns passos, visivelmente assustada; não imaginara que a amiga enfrentaria a situação. As mãos dela tremiam e o peso das duas armas que carregava parecia maior do que o costume. Ela se encolheu, assustada. 

    — Parece que você ainda não superou o trauma de armas. Pombo, não precisa ser assim. Não há motivos para lutarmos. Por favor, tente entender. 

    Camaleão dissolveu a pose, baixou a guarda e estendeu a mão, a pedido sincero estampado no rosto. Pombo sorriu de forma amarga e, sem hesitar, atirou à queima-roupa. A bala acertou Camaleão, que foi arremessada para trás cuspindo sangue; levou a mão ao estômago, ofegante. 

    — P-Pombo… Por que fez isso?! Eu… Eu pensei que você precisava de ajuda. 

    — Porque eu sabia que você abaixaria a guarda caso eu fizesse isso. Pude ler toda a sua energia e encontrar seu ponto fraco! Você não consegue ferir seus amigos! Então desista de uma vez, Camaleão! Você é só um peso morto. 

    Pombo aproximou-se com passos lentos e frios. Ela ergueu a arma e apontou para a cabeça da menina caída, puxando o gatilho. Antes que a bala a atingisse, um escudo brilhou entre elas e a defendeu. Pombo virou o rosto e viu Akane, de longe, mantendo a proteção. 

    — O-O que?! Você fez isso dessa distância?! Mana! Pensei que você estava cuidando dela! Eu não quero ter que lutar com as duas! 

    — Não se preocupe. Eu vou dar um jeito nela. Essas barreiras não serão mais um problema, não depois do meu… Gaze of Fear!!! 

    Harpia encarou Akane e seus olhos escureceram. Ao perceber aquilo, Akane estremeceu e recuou dois passos com cautela, sentindo a pressão da intimidação invadir o campo. 

    — O-O que é isso?! Meu corpo está se movendo involuntariamente, como se fosse instintivamente… Então essa é a Manifestação Espiritual dela?! 

    Akane sentiu as pernas obedecerem a algo estranho, como se seu corpo se movesse por instinto e não por vontade própria. Ela tentou dar um passo à frente, mas as pernas não responderam, pareciam congeladas pelo medo. Forçou os músculos, tentou mirar com o arco, mas as mãos tremiam demais. 

    — E-Eu nem consigo me mover direito… Meu corpo parece estar com muito medo de reagir contra você. Eu não posso ser derrotada por isso! 

    Harpia sorriu, dominadora. 

    — É inútil. Ninguém nunca foi capaz de escapar dos meus olhos, e você não será a primeira. Não importa o quanto tente, você sempre terá medo de mim. Eu falei que vocês não ficariam no nosso caminho. Agora, morra! — a mulher anunciou, aproximando-se com passo lento e confiante. 

    Akane recuou, tentando manter a postura. Harpia riu e investiu com a espada; Akane desviou por um triz, o corte arranhando alguns fios do seu cabelo. Harpia continuou a cercá-la, provocando. 

    — Eu falei que não há como escapar. Primeiro eu vou te matar… Depois eu vou matar o seu namoradinho da forma mais dolorosa possível. Vai ser divertido! 

    Akane cerrou os dentes, a raiva vencendo o pavor por um instante. 

    — Não ouse encostar um dedo nele! Você vai pagar caro caso faça algum mal a ele! Você pode fazer qualquer coisa comigo, mas nunca ameace o Kamito!!! 

    Ela parou de fugir e, com as mãos trêmulas, ergueu o arco e mirou na Harpia. O esforço para superar o medo era visível no rosto dela; a determinação fazia suas mãos tremerem ainda mais. 

    A flecha saiu disparada e raspou a bochecha da Harpia, fazendo-a arregalar os olhos pelo breve incômodo. 

    — Está tentando resistir?! Tudo isso por causa daquele rapaz?! Se é assim que deseja, eu farei você sofrer no lugar dele. Você vai se arrepender!!! — respondeu Harpia, empunhando a espada e avançando outra vez. 

    Akane esquivou-se desengonçadamente, convocando escudos de energia que tremiam sob a pressão do olhar inimigo. 

    — Isso! Isso! Se desespere ainda mais! — a mulher zombou — Tenha muito mais medo de mim!!!  

    A poucos metros dali, Camaleão conseguiu se levantar com dificuldade, apoiando a mão direita sobre o ferimento, vinculada pela dor. Pombo observava, vasculhando a energia da oponente, tentando decifrar a próxima ação; no entanto, por mais que tentasse ler a Camaleão, nada importante surgia. Aquilo a deixou intrigada, até então conseguia prever tudo, e agora algo escapava de sua leitura. 

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