Índice de Capítulo

    Siegfried, Mimosa e Blossom congelaram por um momento, observando em silêncio o enorme ogro agarrar um homem-crocodilo com as mãos nuas.

    A quimera devia ter cerca de um metro e oitenta, maior do que qualquer um deles, ainda assim, era quase uma criança perto do ogro — com seus três metros de altura. E quando o monstro o ergueu no ar como se fosse uma boneca de pano, Mimosa se escondeu atrás de Siegfried.

    Sabiam o que o ogro planejava antes mesmo que ele o fizesse.

    Um rugido gutural quebrou o silêncio, enquanto o monstro rasgava o homem-crocodilo ao meio em um gesto de pura violência. A quimera deixou um som estridente escapar de suas mandíbulas meio quebradas; seus ossos estalando como madeira podre, conforme iam se partindo; seus músculos rasgando como um pedaço de pano velho.

    De repente, o corpo da criatura se partiu em dois e o seu sangue espirrou violentamente em todas as direções, enquanto vísceras e fragmentos de carne se espalhavam pelo chão.

    Mas não foi o primeiro a morrer.

    Os cadáveres de outros homens-crocodilos eram visíveis aos pés do ogro, embora fosse bastante difícil determinar exatamente quantos eram, uma vez que seus corpos haviam sido esmagados até se transformarem em um tapete de carne moída. Pelo menos cinco, a julgar pela quantidade de membros espalhados pelo chão.

    E devem ter dado uma boa luta, pois o ogro tinha perdido o seu elmo e era visível o cansaço. A sua pele grossa e verruguenta molhada de suor. Seus olhos pequenos, meio-fechados, como se lutasse para enxergar. A boca enorme, aberta e ofegante. Sua armadura, coberta de arranhões; alguns dos quais foram capazes de atravessar o metal até a carne por baixo dele — estava sangrando.

    Levou um momento para o monstro finalmente se dar conta da presença do trio. Quando o fez, deu um rugido ensurdecedor que fez as entranhas de todos estremecer por um momento.

    — Blossom? — chamou Siegfried.

    — Tem uma pequena fenda no muro. Escondida atrás do jardim. Foi como fugi da última vez.

    — É claro que foi — disse em tom de sarcasmo. — Isso vai ser divertido.

    Então Siegfried e Blossom avançaram.

    Enquanto a jovem corria para uma posição mais estratégica, se posicionando atrás do monstro, o papel de enfrentá-lo de frente coube à Siegfried.

    Quando viu o rapaz se aproximar, o ogro tentou imediatamente acertar um soco nele. Mas o seu corpo era grande, pesado e lento demais. Bastou apenas que Siegfried se abaixasse e o braço da criatura passou por cima de sua cabeça — uma rajada de vento fez o seu cabelo esvoaçar e seu sangue gelar, mas não foi atingido.

    “Agora!”

    Embora sua espada não fosse feita de aço anão, ainda era de bom aço e estourou o joelho do ogro com tamanha violência que o som de seus ossos se partindo foi audível.

    O monstro tombou no chão, caindo sobre o joelho e rugindo de dor. Mas logo dor se tornou raiva e a criatura esticou bem o braço em uma tentativa de alcançar Siegfried. Não que tenha tido sucesso.

    Não era a sua primeira vez enfrentando um ogro e sabia que ser pego por um deles seria o seu fim, por isso já havia se afastado e estava a três metros da criatura, quando Blossom disparou as suas flechas.

    A primeira perfurou a placa de aço nas costas do ogro e ficou presa lá; a segunda atravessou o seu pescoço, com a ponta saindo pela sua garganta. O sangue negro e viscoso esguichando de forma descontrolada.

    “Uma artéria”, soube de imediato.

    Um ogro não é um homem, nem um animal, mas uma aberração da natureza. Um monstro. E para derrotá-lo, você deve saber aproveitar ao máximo todas as oportunidades. Sem medo. Sem hesitação. Apenas morte.

    Por isso atacou.

    Mas quando tentou decapitá-la, a pele da criatura se provou dura demais para a lâmina, que dilacerou sua carne até quase a metade do pescoço, antes de ficar presa.

    Foi quando o ogro teve uma convulsão.

    O enorme corpo tremendo descontrolado; os olhos perdendo o brilho e tornados brancos, conforme a vida deixava o seu corpo; o sangue escorrendo e espirrando. Mesmo assim, encontrou força o bastante para agarrar Siegfried com a sua enorme mão.

    — Merda!

    Devia ter recuado. Abandonado a espada e tomado distância novamente, quando teve a chance. Devia saber que estava fácil demais.

    Agora era tarde.

    O braço da criatura era grosso como um tronco de árvore. Sua mão envolveu completamente o torso de Siegfried, e então… Apertou.

    Estava fraca. Podia ver isso. A sua pele pálida e molhada de suor. Os dedos meio molengas. Mas pouca diferença fez; quando a criatura o apertou, seus ossos estalaram e Siegfried pôde sentir as suas costelas se partirem — as pontas afiadas perfurando algo que não devia lá dentro. Os seus pulmões lutando para tragar o ar e falhando miseravelmente.

    Uma flecha atingiu a cabeça do ogro e Siegfried viu a ponta sair logo acima da sua sobrancelha direita, mas a criatura não morreu. Nem ao menos pareceu notar o que havia acontecido.

    “Merda! Merda! Porra!”

    A criatura espremeu um pouco mais e Siegfried cuspiu um naco de carne ensanguentada, sem saber ao certo o que era. Sua vista embaçada. O corpo mole. A mente exausta, como se estivesse acordado a dias.

    Mas sua mão direita ainda segurava a espada, tal como havia sido condicionado a fazer há muito tempo.

    “Sua arma é sua vida”, diziam os anões. “Se tiver de morrer, faça isso com ela na mão. E garanta que o desgraçado que te matou pague caro por isso.”

    Seu braço tremia tanto que era difícil manter uma empunhadura firme, mas ainda assim conseguiu arrancar a lâmina presa ao pescoço do ogro.

    — QAREDIA!!! — gritou, com o resto de fôlego que ainda havia em seu peito.

    E enfiou o aço no rosto da criatura.

    A lâmina atravessou sua testa, afundando até o cabo, enquanto a ponta saía pela parte de trás da sua cabeça. E o mundo inteiro parou.

    Aos poucos, os dedos do monstro amoleceram e sua mão se abriu, libertando Siegfried, que caiu de joelhos, sem fôlego por um instante. Respirar se tornou uma tortura e, cada vez que seus pulmões se enchiam de ar, sentia algo perfurar as suas entranhas, como se um animal selvagem mastigasse seu estômago. Mas estava vivo.

    — Siegfried! — chamou Mimosa, rastejando pelo chão em sua direção. E embora não fosse capaz de correr de pé, movia-se com a agilidade de uma cobra quando estava deitada no chão.

    Ela o segurou, para que não tombasse, e então o ajudou a se levantar. Nessa altura, a jovem já era capaz de se manter de pé sem ajuda, desde que não precisasse andar muito rápido.

    Blossom se juntou a eles e já estavam indo até à passagem secreta, quando ouviram:

    — Impressionante — disse o barão Kroft. — Vejo que as histórias a seu respeito eram verdadeiras, vira-casaca.

    — …

    — O que foi? Não gosta desse nome? Então que tal: ‘Siegfried’? É você, não é? O bastardo do conde Gaelor. Um jovem bárbaro de cabelos negros, que carrega uma lâmina escura como carvão.

    De repente, o lorde Kroft puxou pela espada que estava na sua bainha. A espada de Siegfried. E vê-la em suas mãos deixou o rapaz furioso. Não que Elliot Kroft tenha se importado:

    — Aço anão. Bruto e carente de refinamento. Um trabalho bastante aquém do futuro rei de Thedrit. Mas creio que não posso ser muito exigente, não é mesmo?

    E sorriu.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota