Capítulo 54: O tesouro por trás da sagrada auto destruição, parte 1
“Esse lugar não precisa explodir, para estar em chamas, está bem abaixo de você, cozinhando, caldeirões do inferno, onde as folhas que alimentam o fogo são mais importantes do que a carne que os mantém no céu.’’ — A verdade que moveu um homem que morreria por suas convicções.
Kamikaze Faturuman conhecido como o Xogum, treinado com os valores de um samurai, alguém com a capacidade de destruir tudo por onde passa, temido por toda a região onde vive, agora se encontra acuado, dentro do seu próprio quarto, na casa onde firmou sua fortaleza, e se comprometeu a viver o fins do seus dias nesta casa. Após uma batalha árdua para reafirmar sua autoridade, não resistiu e abriu mão até mesmo de seus valores.
Tudo fica exposto quando Kamikaze chega ao seu quarto, apressado, abandonando qualquer prestígio pela casa a qual prometeu viver o resto de seus dias, derruba a porta que já está danificada com um chute, e anuncia a sua chegada para todos no local, no entanto ignora os invasores e se concentra apenas em sua cadeira e seu cachorro.
— Vamos logo, Minashi, precisamos fugir daqui! — ordena Kamikaze, sem conseguir esconder a pressa.
Fica claro para todos que Kamikaze, o temido Xogum da pólvora acesa, desistiu completamente da batalha, com danos acumulados que geram dificuldades nele até mesmo caminhar, fazendo com que agora deseje agora fugir do local.
Dembele ao ver em frente aquele que o causou terror na sua mente por tantos anos, em uma situação de fragilidade, acaba perdendo sua fúria, pela primeira vez, ele sente algo além de ódio pelo Xogum, empatia, com isto dentro de si age, o marmanjo pega o revólver de Anjin e aponta para Kamikaze.
— Vão, mas nunca retornem para cá! — ordena Dembele.
— Vai desistir de tudo mesmo? — questiona Minashi, não consegue esconder a felicidade de ver a mudança nas ações do Xogum, mas fica chocada.
— Eu perdi quando cheguei aqui, Minashi, nunca fui o vitorioso que pareço, você era só um pouco mais nova que eu, mas era só uma adolecente da idade desses garotos e eu só era um pouco mais velho, nem adulto quando falhei. Quem me abrigou foi um dos fazendeiros revoltado com toda a injustiça, seu pai, apesar de toda a riqueza acreditou no meu sonho e toda família Kaziyama se tornou parte do meu grupo! — diz Kamikaze acariciando o rosto de Minashi. — Por isso eu prometi te defender após a morte de todos eles!
O marmanjo não conseguindo se segurar, ele chora como uma criança, demonstrando que acima da ameaça se sobressai algo que o Xogum não havia demonstrado aos inimigos, piedade. A capacidade de perdoar os atos do Xogum, ainda não era possível para ele, mas seu coração foi tocado ao ver a relação sincera entre Minashi e Kamikaze.
— Isso, você é melhor — complementa Yasuke, em apoio ao seu amigo.
A cena é comovente, o impasse havia se encerrado, o olhar de Kamikaze era o de aceitação diante as condições, contanto que pudesse garantir que aqueles que ama fossem salvos.
— Inaceitável? Você vai desistir agora por que se sente impotente, tudo por que perdeu por um momento!? — questiona Hiro, indignado.
— Hã? Garoto, ele desistiu! — afirma Balu olhando para Hiro chocado, ao ver seu olhar mudar de repente, e por algum motivo ele consegue sentir algo vindo de Hiro que exala como um cheiro forte, assim como todos os outros.
— Dá onde você saiu, aberração? — Kamikaze olha para Hiro de forma ameaçadora.
— Eu? Eu vim da cidade de Mu, sou apenas um garoto normal, eu enxergo uma luz no fim do túnel! — afirma Hiro, sua intenção mudou, as suas vontades também, seus olhos mudaram, com as pupilas afinando.
— Ei, não pense em fazer nenhuma idiotice agora, ele tá acabado, mas ainda é perigoso! — Saikyo interfere segurando o seu primo pelo braço, estranhando sua postura. — Ei, por que está irritado com isso!? Não tem nada haver com você! — Saikyo sente calafrios ao perceber a revolta em Hiro.
— Ele desistiu! — afirma Dembele, tremendo com o revólver na mão contendo o ódio dentro de si. — E essa é a maior humilhação que alguém como ele pode sofrer!
— O que me revolta, é que vocês, Balu e Yasuke não tinham poder algum, e se arriscaram mesmo contra tudo! Impotentes, e no primeiro momento que é encurralado, ele desiste? — questiona Hiro, abaixando a cabeça com decepção. — Pelo visto não é grande sem projetar suas sombras sobre os outros.
— Não me venha com essa, vocês dois, alunos de Li Han. Por que seguem seu mestre? — pergunta Kamikaze, sem conseguir raciocinar direito do porquê da atitude revoltada de Hiro.
— Ele disse que iria me ensinar coisas, quero aprender, já aprendi algumas, paciência é uma delas. E outra agora mesmo, aprender a me impor sobre o mundo e pessoas como você! — afirma Hiro. — Eu não entendo tudo agora, mas no final eu aprendo a explicar, e se eu errar, eu tento outra vez!
Hiro se lembrando de seus desejos e vontades, pensa “Eu sempre quis viajar pelo mundo, descobrir as coisas da forma que eu quiser, mas sempre, sempre tinha alguém para me impedir, nada, nada vai me impedir de fazer o que eu quero”.
A profunda irritação em Hiro, ao olhar para Kamikaze desistindo naquele momento, é de se lembrar de si mesmo ao ser derrotado, a sensação de indignação profunda, pois ele sabe do que Kamikaze é capaz.
— Dispostos a morrer por motivações que nem sabem explicar quais são? Isto é estúpido, até os jovens de Mu são perdidos! — diz Kamikaze, segura o cabo de sua espada firme, que no momento está na bainha. — O Iluminado não deve converter sua cidade, ele deveria a transformar em pó! — Kamikaze puxa o cabo da sua espada, mostrando uma parte da lâmina para Hiro tentando o amedrontar.
— Acabou, amigo! Não tem porque lutar! — avisa Yasuke, segurando o choro, ainda amedrontado.
— Hiro, não lute contra ele, não tem chance! — diz Balu preocupado. — Não tem necessidade nenhuma, ele já decidiu ir embora por vontade própria, ele está armado e tem mais experiência que você. Acabou, o dever já foi cumprido, livrar a cidade do Xogum! Pensei que queria nos ajudar?
— Dever, desejo . . . mas, como eu vou ganhar coragem se eu não lutar contra ele me entende? Eu não sei como é enfrentar alguém como ele, é algo novo, eu quero saber! — diz Hiro, ignorando completamente os avisos. — Eu quero que ele tente outra vez!
— Maldito seja por me obrigar a fazer isso garoto! — reclama Kamikaze, se preparando para sacar a sua espada.
Porém, antes que Kamikaze consiga executar qualquer movimento, Saikyo se moveu pela a esquerda do dele, o lado oposto o qual segura a sua espada, onde fica desprotegido. Perto o suficiente, Saikyo desfere um soco reto com a mão traseira utilizando de toda sua força atingindo de forma certeira no queixo de Kamikaze, que tem seu movimento completamente interrompido, largado o cabo da espada a fazendo voltar para a bainha, e logo em seguida Kamikaze dá passos para trás tonto, por ter sua cabeça chacoalhada, Minashi que observou tudo ao lado fica espantada.
— Vocês conversam demais! — afirma Saikyo, irritada, desvia o olhar do alvo e evita olhar para Minashi, se sentindo envergonhada. — Droga Hiro, que imprudência, está colocando tudo em risco, pessoal, sai daqui! Logo! — ordena Saikyo assustada, se colocando a frente para proteger todos no local.
— Ei, pare de roubar minhas batalhas, assim eu nunca vou crescer! — reclama Hiro, ficando irritado com a interferência.
Kamikaze ainda tonteado, olha para Saikyo admirado com tamanha lealdade demonstrada para garota, ele pensa “Ela se colocou à frente se arriscando por todos os outros, para defender a honra deles, assim como meu cachorro faria por mim!”.
Saikyo não perde tempo, vendo que o oponente está desnorteado, avança desferindo diversos socos no corpo e braços de Kamikaze, aumentando os danos que havia acumulado internamente, e principalmente nas partes que foram cortadas e costuradas por Li Han anteriormente. Saikyo consciente de cada golpe, ataca com velocidade, porém com cautela, pensando “Se o que Hiro falou que está na capa for verdade, eu preciso ficar atenta aos sinais de possíveis explosões’’. Com a pressão exercida por Saikyo, Kamikaze não consegue reagir e usar suas habilidades, à medida que ele toma como contra ataque é usar o cabo da sua espada, batendo com a ponta no estômago de Saikyo a fazendo cessar os ataques, e logo em seguida gira, e chuta com a sola do pé no peito da garota a arremessando para longe e a fazendo a cair no chão.
— Como vocês sabem das minhas brechas? — questiona Kamikaze, irritado por conta de suas fraquezas terem sido expostas.
Saikyo cai no chão sentindo muito o golpe, vai se recompondo aos poucos, algo desvantajoso pois Kamikaze se aproxima desembainhando sua espada. Dembele pensa em usar o revólver, até mesmo aponta em direção ao Xogum, no entanto Hiro entra na frente em seu avanço.
Hiro salta para cima do Xogum em um movimento arriscado, usando a picada de cobra com as pontas dos dedos da mão, acertando de forma certeira o pulso do oponente o fazendo soltar a espada. Hiro no ar gira para amortecer a queda, e pousa já preparado.
— Achou que meu mestre não ia me dar dicas? — Hiro provoca o adversário, mostrando não o temer.
— E você acha que eu não sei lutar sem armas? — Kamikaze responde, lançando um golpe junto, jogando seu corpo para frente, junto de seu cotovelo.
A cotovelada acerta em cheio no nariz de Hiro, o fazendo jorrar sangue sujando totalmente seu uniforme, a dor é grande, mas é amenizado pelo pensamento: “Dói, mas não é isso que me lembra que estou aqui! Isso é sobre minha vida!’’.
Kamikaze ao ver que a cotovelada não seria o suficiente, começa a coçar a palma da mão com a unha do dedão, Hiro percebendo não deixa que isto ocorra, agarrando o dedão dele, torce o quebrando. Em sequência, Hiro, lança o cotovelo contra a sua boca, pressionando o mantendo lá e se joga para cima de Kamikaze, o derrubando no chão, mantendo sua boca coberta com o cotovelo. Os dois caem perto de Minashi, Hiro fez isso de forma proposital e ainda está montado em seu oponente, o dominando.
— Saikyo, não se preocupe, foi com você que eu aprendi a melhor forma de fazer alguém, mudar de ideia! — elogia Hiro, sorrindo para sua prima, enquanto assume uma posição de vantagem.
A luta para Hiro não se trata mais sobre ajudar os que conheceu durante a viagem, ou por um sentimento de revolta que o comove, é sobre sua confusa forma de explicar o mundo, a razão de sua vontade. Mesmo sem saber, o garoto estava se avançando em uma das etapas de lição de seu mestre, tendo despertado em volta de si a névoa estranha que havia visto antes, o poder que muitos chamam de aura.

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