Ato 2 — Mal presságio — Capítulo 140
Chegada a hora do almoço, Kevyn saiu de casa com um guarda-chuva que Night havia lhe dado. O sol queimava sua pele? Claro que não, por que iria? Ele é um dragão primordial.
Ajeitando seus sapatos, o garoto piscou e chegou de frente para a porta. “Criar portais rápidos e quebrar o espaço com o azul? São coisas a se pensar”, pensou e atravessou a porta.
— Jeremy!
Assustando-se com o grito do rapaz, o homem olhou para trás rapidamente. — A-ah!
Alguém se escondeu atrás do balcão.
— Hm?… quem é? — perguntou o menino.
— É a… minha… namorada… — desviou o olhar.
— Ela parece… baixa! — gritou.
Cerrando suas sobrancelhas, o barman cruzou os braços e respondeu: — Não chame-a assim, ela é só tímida com mortais…
— Ei! Eu não sou um mortal! Saiba que sou o maior entre todos os mortais!
— Significa que é…?
— Calado.
De repente, a garota emergiu e encarou o pequeno dragão. Batendo no queixo de Jeremy, o cabelo platinado da mulher voou para baixo, chamando a atenção do príncipe, que viu com atenção até perceber seu olhar carmesim.
Relembrando péssimas memórias, Kevyn girou a cabeça e perguntou:
— Qual é o nome dela?
— É Hokaka — disse Hokaka. Isso é realmente engraçado.
Mas, sem desespero, o garoto deu uma leve risada e finalmente disse o que queria tanto dizer:
— Eu terminei a espada… — olhou para Jeremy.
Surpreso pela velocidade, o homem ergueu as sobrancelhas e respondeu: — Ah! Claro, vamos!
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Em planície enorme coberta por colinas, do alvorecer da tarde, Kevyn e seu comprador ficaram de frente para um extenso relevo.
— Você disse que iria cortar e fazer tudo desaparecer… não sei se você vai conseguir, não… — subestimando seu ferreiro, Jeremy cerrou os olhos e ergueu as sobrancelhas.
Sem dizer uma única palavra, o garoto deslizou a mão até sua bolsa e, com lentidão cerimonial, retirou uma espada carmesim feita de adamantina. A lâmina era um fio puro, espiralado como uma corrente viva de energia sólida, afiada até o limite do real.
Kevyn não hesitou. Com a tranquilidade de quem domina cada partícula do próprio poder, assim empunhou a arma com firmeza e, como um maestro regendo o silêncio, realizou um corte simples, quase sutil, como se escrevesse no ar.
Nada aconteceu.
Nenhum impacto, nenhum estrondo. A lâmina sequer tocou a colina à frente. O ar permaneceu quieto; demasiado a quem? O homem à frente sentiu um frio súbito na espinha. Seu corpo respondeu antes da mente — ele engoliu em seco, sem saber por quê.
Então veio.
Minúsculas partículas cintilantes, como estrelas em decadência, começaram a cair lentamente do céu. Não havia luz. Não era poeira. Era a matéria sendo refeita, como fuligem surgida do próprio abismo. Kevyn permaneceu imóvel, frio, observando o fenômeno como se já tivesse visto inúmeras vezes.
E, num pensar, a colina cedeu.
Não foi explosão. Não foi destruição. A estrutura simplesmente implodiu, do centro para fora, como se um vazio tivesse surgido em seu núcleo. O solo derreteu sem chamas, as rochas desintegraram-se sem ruído. Não havia fogo, apenas calor, apenas energia.
A arma de Kevyn não cortou coisas simplesmente. Ele cortou os fundamentos do espaço, com apenas o mover da arma.
E ali, onde antes havia relevo, restava apenas um vácuo fumegante, sussurrando a quem olhasse que nada estava seguro diante daquela lâmina. Implodida pelo alicerce nas mãos do garoto.
Com seus olhos abertos, Jeremy não conseguiu acreditar no que viu. “Que tipo de arma é essa?! O que é isso?!”, ainda assustado, a única coisa que pôde fazer foi respirar pesadamente ao ver a fundação da montanha completamente amarela pela temperatura que permaneceu após o ataque.
— Kevyn… Daniel sentiria medo do que você cria…
— Eu sei.
Suando frio, ele perguntou: — Você está se preparando para alguma coisa?
— Pra matar um apóstolo da sabedoria.
— Quem te disse isso?
— Meu irmão. — Um pouco ansioso, o menino estalou o dedo indicador com o dedão.
Reversão.
Então a montanha recarregou, voltou ao seu estado original; rematerializou-se, como se a destruição e Kháos fossem harmonia em sua mão. E, para surpresa do ruivo e do próprio príncipe, eles já haviam visto aquilo antes.
Ignorando, Kevyn olhou para além do horizonte, temendo que fosse perguntado.
Mas Jeremy franziu as sobrancelhas e enrugou um pouco o nariz, nada perceptível o bastante. “Eu entendi certo? Não importa, tudo que me basta é essa espada”, franziu os lábios e disse:
— Enfim, obrigado por mais uma vez mostrar que seu trabalho é perfeito.
— De… nada.
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Novo dia, novo desafio. Com o início de mais uma manhã, Kevyn se levantou de sua cama e se espreguiçou. “Desagradável, hoje é o dia”.
“Toc, toc”, o som da porta batendo para sua maldição.
“Gabriel não vem tem um tempo, perfeito, preciso conversar sobre algumas coisas.” Caminhou até o guarda-roupa e pegou algumas roupas que Night lhe deu.
“Toc, toc”, com o mesmo sobretudo que sua amada usou no dia do aniversário em que perdeu tudo, o garoto desceu as escadas e se aproximou da porta.
“Toc, toc”, aquelas leves batidinhas na porta eram incômodas o suficiente para despertar o príncipe. Aos poucos, cada vez que se aproximava, mais distante parecia. Passando pelo relógio de cômodo e seu “Tic-Tac”, canalizou seus pés — cada passo parecia uma eternidade, passo por passo, mais sofrimento.
Uma leve esperança percorreu seu corpo; talvez fosse justamente quem queria que fosse. Mas seria impossível, não seria Night, não poderia ser — sua alma não chamava pela aproximação, sugeria que nem mesmo abrisse aquela porta.
Kevyn gentilmente abriu a porta.
Mas não era seu irmão. Não era sua parceira. Não era ninguém que conhecia e, sim… quase um reflexo invertido dele mesmo.
Um mascarado de cabelo branco pairou, seu cabelo voando em meio à brisa da manhã e sua impotente coroa ressoavam como um trovão.
— Daniel morou em um lugar tão inóspito, não é? Não é digno para um grande homem como ele.


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