Capítulo 170: A Vovó-lobo da Chapeuzinho Vermelho

O cajado de aparência feroz cortou o ar com um assobio e atingiu violentamente a garra esguia, produzindo um som abafado e estranho de “plof“. Yu Sheng viu a garra se despedaçar como lama espessa, soltando uma fumaça sibilante. A sensação do impacto foi menos de carne e osso e mais de algodão e madeira podres.

Em um piscar de olhos, o monstro retorcido e esguio na porta começou a inchar violentamente, emitindo um grito agudo. Seu corpo inteiro se expandiu e cresceu em todas as direções, parecendo completamente enfurecido.

Mas Yu Sheng já estava preparado para isso.

“Aileen! Agora!”

Incontáveis fios pretos se espalharam por trás de Yu Sheng em um piscar de olhos, crescendo descontroladamente no ar como se tivessem vida própria, multiplicando-se e perfurando silenciosamente a carne do monstro esguio. O monstro crescia violentamente, e as teias de aranha frias e sombrias também cresciam violentamente. Em questão de respirações, os dois se enredaram firmemente, alcançando um certo equilíbrio. As teias, tensas, emitiam um som inquietante de “crac-crac”, mas a Vovó-lobo foi forçada a parar de se mover.

Aileen, parada na pequena cabana de madeira, ergueu as mãos bem alto. Seu corpo diminuto, no entanto, parecia fundido ao chão, resistindo a uma força imensa.

Como Yu Sheng havia previsto, se um corpo feito de argila e lótus podia permitir que Aileen suportasse o contra-ataque da “Fome” por um curto período, então um esqueleto feito de vergalhão a capacitaria a exercer uma força surpreendente. A mudança no material original resultava em um aumento exponencial no efeito de fortalecimento após a transformação em boneca.

Yu Sheng saiu correndo da pequena cabana de madeira.

Ele empunhava o cajado feroz, sua figura ágil como o vento. Com um passo, ele abriu uma cratera rachada no chão. Ele se lançou violentamente contra a “Vovó-lobo” imobilizada, o cajado em sua mão atingindo o peito do monstro com força. O violento recuo quase fez o vergalhão escapar de suas mãos, e o peito do monstro foi diretamente aberto por um buraco chocante.

Dentro do buraco não havia carne nem sangue, apenas uma névoa invisível, lama agitada, ossos pálidos e um coração negro que batia rapidamente, expelindo substâncias tóxicas.

Yu Sheng aterrissou no chão após o recuo, estabilizou-se um pouco e olhou para a “Vovó-lobo”, que era duas ou três vezes mais alta que ele, e para o buraco assustador em seu peito.

Esta era a “Vovó-lobo da Chapeuzinho Vermelho”, um monstro encharcado com o medo da garota, que cresceu desde sua infância até o presente.

Comparado a este monstro, a Vovó-lobo que havia devorado Xiao Xiao era claramente muito mais fraca. Aquela era, na melhor das hipóteses, apenas um lobo um pouco maior, enquanto a que Yu Sheng enfrentava agora havia claramente adquirido um poder além do comum.

No segundo seguinte, Yu Sheng sentiu um súbito sinal de alerta.

Embora a Vovó-lobo à sua frente ainda estivesse firmemente presa pelos fios de Aileen, parecendo incapaz de atacar, ele não hesitou em se lançar para o lado.

E quase no instante em que ele se jogou, um “vento” afiado e frio passou por sua nuca. Ele só ouviu um assobio agudo atrás de si, e o chão onde estivera, juntamente com um toco de árvore ao lado, foi cortado por algo invisível, deixando uma fenda chocante.

“Puta merda, o qu…”, Yu Sheng olhou para trás, chocado, e com o canto do olho, avistou uma sombra que se retraía rapidamente.

No segundo seguinte, ele reagiu bruscamente, ergueu a cabeça e gritou na direção da cabana: “Aileen! A sombra dela!”

A noite já havia envolvido a mata densa, e a luz das estrelas cobria o céu. Sob o brilho frio das estrelas, a sombra do lobo gigante a seus pés crescia descontroladamente.

Embora os fios pretos prendessem o corpo do lobo, sua sombra já havia se espalhado o suficiente para quase envolver toda a cabana. Dentro da sombra, inúmeros contornos caóticos e indistintos se agitavam, depois lutavam e sussurravam para emergir do chão, tomando forma diante dos olhos de Yu Sheng.

Havia sombras de lobos esguios, figuras humanas com feições indistintas, crianças que se aproximavam cambaleando e adultos que se viravam e iam embora sem hesitar. Alguns gemiam, outros imploravam, alguns simplesmente ficavam parados, enquanto outros olhavam para Yu Sheng com um olhar de ressentimento ou malícia.

Essas coisas que saíam da sombra pairavam perto da cabana, desmoronando e se dissolvendo constantemente, e constantemente se gerando dos pés da Vovó-lobo.

Elas pareciam estar tentando abalar Yu Sheng — ele não tinha muita certeza disso.

Porque ele não conhecia essas sombras.

Então, Aileen, dentro da cabana, agiu novamente. Teias de aranha pretas e densas surgiram, saindo pela porta da cabana, pelas janelas, e até mesmo por cada fresta nas paredes, pela chaminé, pelas fendas onde o telhado e as paredes se encontravam. A cena era como se a pequena cabana de madeira tivesse desenvolvido inúmeros pelos na escuridão da noite. Esses “pelos” se entrelaçavam na escuridão, transformando-se em teias cruzadas, cobrindo silenciosamente a Vovó-lobo e a sombra a seus pés.

Uma “lâmina” escura se estendia da sombra, tentando atingir Yu Sheng, mas foi enredada pelas teias e ficou suspensa no ar, imóvel.

Em seguida, o fogo de raposa azul-fantasmagórico apareceu no campo de visão de Yu Sheng. As chamas se espalharam rapidamente ao longo do caminho tecido pelas teias, “transbordando” da cabana como água corrente, queimando e derretendo rapidamente as sombras presas pelas teias.

Hu Li aprendeu a lição da última vez no museu e não tentou usar ataques físicos contra inimigos em estado de sombra. Em vez disso, usou suas chamas, o que agora parecia muito eficaz.

Yu Sheng se moveu.

Quando o lobo gigante e sua sombra foram suprimidos pelo esforço conjunto de Aileen e Hu Li, ele finalmente agiu. Ele se lançou mais uma vez em direção ao peito do lobo, em direção ao grande buraco que ele mesmo havia criado.

Camadas e mais camadas de fios pretos se entrelaçaram no ar, seguindo com precisão cada passo de Yu Sheng. Aileen já havia percebido a intenção dele; ela teceu uma escada que levava ao peito do lobo gigante, e no final da escada estava o coração que batia rapidamente.

Yu Sheng subiu correndo. O coração que batia rapidamente se tornou o maior alvo em seu campo de visão.

Na verdade, ele não tinha a menor ideia se aquilo era ou não o ponto fraco da “Vovó-lobo”. Mas, já que havia algo tão chamativo e pulsante em seu campo de visão, não importava o que fosse, Yu Sheng com certeza iria lá dar um soco.

O lobo gigante, preso pelas teias, soltou um uivo baixo. Uma malícia e uma fúria avassaladoras, quase se tornando uma pressão física, esmagaram-no de todas as direções.

Yu Sheng soube instantaneamente que provavelmente havia acertado.

Ele pisou no último degrau e se lançou em direção ao coração.

Neste momento de vida ou morte, uma parte do corpo do lobo gigante conseguiu se libertar à força das teias. Seu peito despedaçado se contorceu violentamente, e a “carne” semelhante a lama começou a cicatrizar, resistindo à pressão das teias. Ossos pálidos cresceram da cavidade torácica, em camadas, tentando proteger o coração.

Yu Sheng ergueu o cajado em sua mão e o desferiu com força, atingindo as costelas entrelaçadas que se regeneravam.

As costelas se regeneraram novamente com um ruído agudo, e então o cajado de Yu Sheng atingiu novamente, despedaçando os ossos.

Ele golpeava repetidamente, com força. O cajado feroz, soldado com lâminas, pregos e cacos de vergalhão, movia-se tão rápido que deixava um rastro no ar, como se estivesse escavando uma rocha teimosa, golpeando e perfurando o peito do lobo gigante. Ele ouvia vozes etéreas em seus ouvidos, vindas da cavidade torácica do Lobo Mau, do coração, de toda a Floresta Negra. As vozes sussurravam para ele, na língua dos lobos, na língua dos homens, na língua da floresta, seduzindo-o, induzindo-o, até mesmo se disfarçando como seu subconsciente, repetindo para ele incessantemente—

Não sente medo?

Nunca hesitou?

Sem nenhuma dúvida?

Mas Yu Sheng apenas ergueu sua “arma” mais uma vez.

“Em tese, eu deveria ter medo”, ele abriu um sorriso, olhando com entusiasmo para o coração agora exposto. “Mas a ‘razão’ está na minha mão—”

A “razão” em sua mão desceu com força. As lâminas e os pregos na “razão” deveriam ter se embotado, quebrado, deformado com tantos impactos, mas naquele momento, pareciam indestrutíveis, o material mais resistente e resiliente. Não apenas não sofreram nenhum dano, como também esmigalharam as costelas do lobo, que eram mais duras que o aço.

O cajado ficou preso entre as costelas do lobo gigante, e incontáveis teias de aranha pretas preencheram instantaneamente as outras frestas, bloqueando completamente o processo de regeneração do buraco.

Yu Sheng estendeu a mão para dentro e arrancou com força o coração escuro, que era maior que uma bola de basquete e ainda pulsava.

O coração pulsava violentamente, abrindo várias fendas. Substâncias altamente tóxicas jorravam incessantemente das fendas. Parte da substância caiu no braço de Yu Sheng, corroendo facilmente sua carne e infiltrando o veneno em seus vasos sanguíneos.

Yu Sheng sentiu como se seu corpo estivesse fervendo. O veneno de lobo queimava seus vasos sanguíneos, e a malícia da Floresta Negra seguia suas artérias, apunhalando diretamente seu coração.

Mas, em vez disso, ele sorriu feliz.

“Isso, isso, é isso… Você se infiltra em mim, assim como eu me infiltro em você. Tanto faz quem se infiltra em quem…”, ele abraçou o coração da Vovó-lobo, apertando com força contra o peito aquela coisa que emitia um veneno mortal e que o estava matando rapidamente. “Eu estava pensando em como te encontrar… Que bom, você veio me encontrar.”

Ele ouviu o choro fraco de um bebê, um choro que parecia perfurar a alma, ecoando em sua mente.

Ele até sentiu que toda a Floresta Negra estava chorando. Esse som estava lá desde o início — só que, antes de tocar o coração da Vovó-lobo, ele não conseguia ouvi-lo.

O coração, fluindo com veneno de lobo, se contorceu. Seus batimentos finalmente começaram a diminuir, e o veneno que escorria das fendas também foi se tornando mais ralo.

Aquele veneno agora corria nos vasos sanguíneos de Yu Sheng — ele estava cercado por Yu Sheng.

O corpo da Vovó-lobo começou a encolher, como um balão esvaziando. Em um piscar de olhos, passou de ter a altura de uma casa para pouco mais de dois metros, e continuou a encolher, a se deformar, desabando como uma poça de lama.

Yu Sheng também caiu do ar, aterrissando no chão. Ele abraçava o coração, igualmente murcho, e caiu na porta da cabana, junto com o cajado que se soltara do peito da Vovó-lobo.