Capítulo 39 - Uma Verdade Revelada?!
Enfim no meu quarto, com tempo de sobra para ler o livro que eu tanto estava querendo.
O livro que talvez tenha as respostas sobre essas partículas — ou células ONI. O motivo delas existirem e por que geraram todo esse alvoroço lá fora.
O livro que estava guardado debaixo da minha cama, agora em minhas mãos. Resolvo abri-lo com calma, enquanto estou deitado em minha cama.
Já na primeira página do livro, toda branca mas com um pequeno trecho escrito à mão, dizia:
“Que o mundo entenda nossos motivos. Pecadores ou salvadores, pagaremos por isso. Mas que a verdade seja dita: salvaremos todos, mesmo que às custas de inocentes.”
E no final desse trecho, uma assinatura estranha, da pessoa que o escreveu.
— Que assinatura estranha… — murmurei.
Não dava para entender a assinatura. Começava com um “S” e terminava com “I”.
Ignorei por enquanto, mas vou lembrar dela depois. Comecei a folhear as páginas e o conteúdo do livro foi surgindo.
Era muita informação. A cada página lida, uma verdade nova aparecia.
Eu estava ficando perplexo e chocado.
Horas se passavam e eu me aprofundava mais nesse livro.
Olhei para o relógio: já tinham passado duas horas desde que comecei a ler.
Já estou quase no final do livro, e o que li até agora foi muito revelador — coisas que eu preciso compartilhar com meus amigos, além de tirar dúvidas com o Okawara.
De uma coisa eu sei: se o que tem nesse livro for verdade… por que minha mãe nunca me contou isso?
Eu precisava saber dessas coisas, até porque sou eu que tenho essas partículas.
Sem pensar duas vezes, fechei o livro faltando algumas páginas para terminar. Preciso muito conversar com meus amigos.
Como Sasori e Fuutaro moram ao meu lado, fica fácil.
Saí do meu quarto e bati primeiro na porta do Sasori. Ele atendeu, expliquei meus motivos, ele entendeu e aceitou vir comigo até o quarto do Fuutaro.
Fiz o mesmo com o Fuutaro. Ele também aceitou. Entramos em seu quarto que estava impecavelmente organizado e cheiroso.
A primeira coisa que encostei foi no jogo de tabuleiro que eu havia jogado semanas atrás com Fuutaro e Sasori. O tempo está passando tão rápido que nem estou percebendo.
— Está com saudade de jogar esse jogo Yuki? Quer saber mais segredos nossos? hehe… — disse Fuutaro, dando um soco leve no meu ombro.
— Haha… Até que não preciso disso, posso saber de seus segredos facilmente hehe… Sem que vocês percebam. — comentei, com um sorriso convincente.
Fuutaro colocou ambos as mãos no rosto e disse: — Ui ui, que medo dele, um rank azul que ler mentes… Ai Deus que perigo!
— Haha! Piadista você em! — comentei, dando um soco leve em seu ombro.
Sasori apareceu do nada no meio de nós com o rosto serio dele de sempre.
— O tempo que vocês perderam aqui nessa conversa sem sentido foi enorme, dava até para enviar sinal por pulsos elétricos para a lua. — comentou Sasori, com uma pintada de tedio em sua voz.
Após essa fala, ele se virou e foi até o sofá.
Olhei para o Fuutaro com uma cara de quem queria morrer de rir, e como esperado, ele também estava do mesmo jeito.
— Vamos então, Yuki… se não Sasori fica doido haha.
Fomos para a sala e o Fuutaro sentou do lado do seu amigo no sofá.
— Bom, amigos… obrigado por terem aceitado me ouvir, e por emprestar o tempo de vocês para me escutarem agora. Prometo que é importante! — expliquei, em frente aos meus amigos.
Fuutaro estava com uma camisa vermelha estampada “Amo Artes”, e uma bermuda marrom.
Sasori usava uma camisa preta sem estampa e uma calça de moletom preta. Bem a cara dele.
— Tudo bem, Yuki. Nós somos amigos, então se um quer conversar, o outro escuta. Né não, Sasori? — disse Fuutaro, sorrindo.
— Sim… — respondeu Sasori, com aquele tom mórbido.
Seco e sem graça como sempre.
O Sasori clássico.
— Mais ânimo aí, Sasori haha. Desculpa, Yuki… você sabe como ele é.
— Sei sim hehe… Tudo bem. Vou começar a explicar então.
Organizei mentalmente as partes importantes: o que falar primeiro, e o que deixar para o final. Era muita coisa, então eu precisava organizar direito, senão eles não entenderiam.
— Meninos, o que vou dizer aqui é segredo nosso. Ninguém pode saber do que vou falar. Só nós três. Posso confiar? — indaguei.
— Claro que sim, Yuki! Eu e o Sasori nunca vamos falar nada, disso você pode ter certeza!
— Sim. Boca fechada! — disse Sasori, fazendo o gesto de silêncio.
— Certo… como promessa, vamos combinar um toque de irmandade então, tá bom?
Fuutaro levantou tão rápido que quase derrubou o sofá.
— Vamos!!!
— E como vai ser esse toque? — perguntou Sasori.
— Bom, talvez—
Antes que eu terminasse, Fuutaro gritou:
— Já sei, amigos!! Vamos fazer um desenho nas nossas mãos, de caneta mesmo, representando nossa irmandade! O que acham??
— Ótima ideia — disse Sasori, sorrindo.
Ver o Sasori sorrindo foi assustador.
— Gostei, mas os outros alunos vão ver e achar estranho, não? Pode dar problema para a gente — comentei.
— Se der problema, eu não ligo!! — disse Fuutaro, batendo o pé no chão, confiante.
A determinação dele era contagiante.
— Na verdade, pode dar problema sim. Tem uma regra da escola que proíbe vandalismo tanto no patrimônio quanto no próprio aluno — explicou Sasori.
— E desde quando todas as regras são seguidas? Olha o tanto de bullying que tem na escola sendo que tem regra contra isso! — retrucou Fuutaro.
— Bom… Fuutaro tem razão — comentei. — Acontece muita coisa aqui e a escola não faz nada. Acho que um desenho pequeno na mão não vai matar ninguém.
— Exato, Yuki! Então, Sasori, vai aceitar ou vai ser medroso?
Sasori suspirou, levantou os ombros e concordou.
— Tá bom, né… é literalmente dois contra um.
Fuutaro ficou tão feliz que até pulou, derrubando os óculos.
— Enfim… qual desenho vai representar nosso grupo ? — indagou Fuutaro.
— Talvez… as iniciais de nossos nomes juntos? — sugeriu Sasori.
Fuutaro saiu correndo para seu quarto.
— Fuutaro? O que vai fazer? — perguntei, curioso.
— E se for fazer as inicias de nossos nomes, pode ser de grafite e um desenho interessante junto. — disse Sasori.
Fui em direção ao Fuutaro, que tinha ido para seu quarto.
— Ei, Fuutaro, o que você está pegando?
— E ele não está me ouvindo… — murmurou Sasori.
— Depois pensamos nisso. Agora preciso contar o que importa Fuutaro. — disse, mais sério.
Fuutaro estava parado em frente ao seu guarda-roupa aberto, vasculhando em sua mochila.
— Ah.. Tá bom então. — disse Fuutaro, retirando o pincel de sua mochila.
— Desculpa Sasori hehe… mas eu prestei atenção no que você sugeriu e é uma boa ideia, depois a gente pensa nisso.
— Certo… — respondeu Sasori, com uma expressão triste.
Respirei fundo.
Era hora do assunto sério.
— O primeiro livro fala da origem de tudo. No dia 2 de dezembro de 2030, caiu um meteoro no mar, perto da cidade de Sukumo. Ele tinha cerca de 5 metros e pesava 56 toneladas. O governo japonês e o exército foram verificar, mas o meteoro estava no fundo do mar. Oficialmente, disseram que não iriam estudá-lo… mas em segredo construíram um laboratório no fundo do oceano.
— No fundo do mar??? — indagou Fuutaro, assustado.
— Sim. E segundo o livro, a construção terminou em 2033. A maior parte do livro fala das discussões entre os cientistas. Mas o mais importante é que, durante todo esse tempo, nenhuma anomalia apareceu. Nada de crianças com olhos cinzas ainda. O que apareceu foi morte de peixes por ali. Mas os cientistas não ligaram e continuaram.
Fuutaro e Sasori ouviam calados.
— O que me deixou pior foi saber que os cientistas usaram crianças órfãs em estado terminal como cobaias. Colocaram elas perto do meteoro sem proteção para estudar efeitos colaterais.
E isso foi só o começo.
Silêncio total.
Nenhum dos dois piscou.
Mas não durou muito, Fuutaro mesmo com uma expressão assustado, perguntou: — Mas como eles deixavam as crianças perto do meteoro se ele estava no fundo do mar?
— Boa pergunta amigo, segundo o senhor S, que escreveu o livro, eu acho… relatou que o laboratório foi construído ao redor do meteoro, e a parte mais próxima dele é onde ficava uma sala de testes para as cobaias.
— Entendi….
— Enfim, o livro fala só da origem do meteoro e do laboratório. Mas os outros volumes provavelmente falam sobre a escola e as partículas ONI. Por isso eu preciso deles.
Fuutaro engoliu seco.
— Boa parte disso a gente sabe pelas aulas… mas que usaram gente como cobaia… eu não sabia — disse ele.
— Meu Deus… — murmurou Sasori.
— Pois é. E agora? Como fica? confiar na escola e no governo ou no livro? isso é muito confuso. — comentei.
— Talvez isso tudo não seja verdade — disse Fuutaro. — Às vezes inventam coisas para deixar o livro mais valioso. E como esse cara sabia de tudo?
— Eu tenho certeza de que é verdade. Cientistas pensam pela ciência. E como as crianças iam morrer mesmo… aproveitaram.
— Concordo. Ser humano é horrível — disse Sasori.
Fuutaro levantou inquieto.
— Mesmo assim, temos que pensar com clareza! Talvez no início tenha sido cruel, sim, mas o governo sabia disso? Pode ter sido tudo escondido!
Sasori arqueou as sobrancelhas — talvez concordando só em parte.
— Por isso precisamos dos outros volumes. Lá pode ter respostas. Verdades sobre a escola — afirmei.
Sasori fechou os olhos, pensativo.
— É perigoso, Yuki. Estou sentindo um perigo iminente. Estamos mexendo com um cardume de piranhas. Se o diretor pegar a gente… estamos ferrados. — disse Fuutaro.
— Eu entendo. Mas você não acha estranho? Se usaram crianças como cobaias no passado… e se nós somos cobaias também aqui?
Fuutaro arregalou os olhos.
— Você está louco?? Retira isso! Aqui é o lugar mais seguro para a gente! Lá fora estaríamos sendo caçados e mortos! Aqui estamos protegidos! — gritou.
Ele parecia desesperado. Realmente acredita na escola.
Ou… tem medo de acreditar no contrário.
— Ele não vai te ouvir, Yuki — disse Sasori, levantando-se. — Eu vou te ajudar a pegar o restante dos livros.
— Sasori?? — gritou Fuutaro.
Sasori caminhou até ele, mãos nos bolsos, expressão fria.
— Você sabe o que fizeram com nosso amigo. E mesmo assim não quer fazer nada?
Fuutaro engoliu seco.
— Eu não quero isso… Mas precisamos ser os melhores e nos formar. Chegar no Horizonte. Mudar essa escola!
“Chegar no Horizonte?”
Eles querem mesmo subir na vida aqui?
Eles têm planos…
— A melhor maneira de mudar as coisas é sabendo a verdade — retrucou Sasori. — Com tudo exposto, podemos até desmascarar o diretor!
Eu nunca tinha visto Sasori desse jeito.
Ele parecia um animal acuado, pronto para atacar.
— Eu sei, Sasori! Mas se descobrirem a gente, acabou! — retrucou Fuutaro.
Eu precisava intervir.
— Gente… calma. Vocês estão surtando.
— Fica fora disso, Yuki! — disse Fuutaro.
— Não fala assim com ele! — retrucou Sasori. — Se não fosse o Yuki pegar esse livro, nunca saberíamos desses detalhes!
Fuutaro congelou.
— Vai ficar do lado dele agora? — perguntou ele.
— Nós três estamos do mesmo lado, Fuutaro! Presta atenção!
Silêncio tenso.
— Olha, Fuutaro… para você ficar sabendo… eu, tenho a mesma intenção que você. Eu quero formar aqui na escola e ir para o Horizonte, e tenho medo de ser pego também. Mas preciso dos outros volumes a qualquer custo! — confessei.
Eles ficaram surpresos.
— E como você quer fazer isso? Lembra que o sótão é proibido — disse Fuutaro.
— É algo que temos que planejar juntos — respondi.
Eles se entreolharam.
Fuutaro respirou fundo com os olhos fechados. Enquanto Sasori colocou as mãos no bolso novamente.
— Certo. Vamos pensar com calma — disse Fuutaro.
— Pode contar comigo, não importa o plano — disse Sasori, firme.
Eu sorri.
— Bom… vou precisar da ajuda de vocês mesmo. Mas antes… tenho outro amigo que pode ser útil.
— Quem? — perguntou Fuutaro.
— Arushi. Sabem quem é?
Fuutaro e Sasori fecharam a cara ao mesmo tempo, uma expressão de negação e raiva.
Por algum motivo não gostaram da ideia de eu trazer o Arushi.

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