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    O caos se espalhava como um incêndio em campo seco. Explosões de essência cintilavam entre as arquibancadas, gritos de guerra e confusão se misturavam, e o chão da arena tremia com os confrontos.

    O imperador não hesitou.

    — Com licença, senhores.

    Saltou do camarote com a leveza de quem ainda carregava o vigor da juventude nos músculos treinados. Pousou entre os soldados em conflito e ergueu a voz com autoridade imperial:

    — Todos os soldados abaixo de coronel, recuem imediatamente! Retornem aos quartéis! Defendam-se se atacados, mas não ataquem ninguém que não reconheçam. Não tentem proteger estranhos. Esta é uma ordem!

    A voz do imperador cortou o tumulto como uma lâmina bem forjada.

    Marco deu um passo à frente, pronto para seguir o exemplo, mas antes que pudesse saltar, sentiu uma mão firme em seu ombro. Virou-se e deu de cara com o olhar duro de Hogge Bakalyn, o Primeiro Ministro.

    — Você não vai ajudar em nada indo lá.

    Hogge apertou os dedos no ombro dele, como se quisesse fincar Marco no chão.

    — Olha em volta. — Inclinou o queixo na direção do vazio onde, segundos antes, estavam os generais. — A maior força militar do mundo acabou de pular lá pra baixo. Eles vão resolver o problema.

    Apontou para o próprio peito, depois para Kaertien, que tremia visivelmente ao lado, pálido, os olhos presos nas explosões lá embaixo.

    — Nós não. — Ele apontou de novo para Kaertien. — Nós só iríamos atrapalhar.

    Kaertien engoliu em seco, sem conseguir tirar as mãos da borda do camarote.

    — O Primeiro-Ministro está correto. — a voz saiu tensa, mas firme o suficiente. — O nosso papel é sobreviver. Garantir que o Império tenha quem tome decisões quando isso… terminar.

    Hogge voltou o olhar para Marco.

    — E você é estrangeiro. Não conhece as nossas formações, nem quem é quem lá embaixo. Se saltar agora, vira alvo, não solução. Venha conosco para um lugar seguro. Aqui em cima, você vale mais inteiro do que morto.

    Marco sentiu o estômago apertar, os olhos ainda presos na arena onde Lou-reen e os outros se espalhavam pelo caos.

    “Eu posso ajudar.”

    A voz de Nova cortou o pensamento, precisa:

    “Analisando: probabilidade de ser um peso morto lá embaixo: alta. Probabilidade de tomar uma decisão inteligente ficando com eles: muito alta.”

    Ele fechou a mão na mureta, respirou fundo uma vez, depois assentiu.

    — Tá. — respondeu, baixo. — Então vamos sair daqui.

    ***

    Serana olhou fixamente para Lou-reen, como se ninguém mais existisse na arena. Havia algo selvagem em seu olhar, um brilho predador, faminto. Seus cabelos negros, desgrenhados, caíam como uma juba de fera, e seu corpo se movia se movia com a precisão de um animal em caça.

    — Você é minha, — rosnou, com um sorriso torto.

    Lou-reen girou sua espada longa em resposta, firmando os pés na pedra quebrada da arena.

    Serana estendeu os braços para os lados e a essência primordial circulou seu corpo com um fluxo denso e obscuro. Em segundos, seus dedos se alongaram, e as unhas se transformaram em lâminas negras e curvas, afiadas como adagas.

    Quando se encontraram, o impacto rachou o chão sob seus pés; uma onda de energia explodiu para os lados, levantando poeira e detritos.

    Lou-reen apertou os dentes. A mulher diante dela era uma oponente formidável, uma besta moldada pela essência.

    Lou-reen girou com precisão, mirando o flanco de Serana, mas foi surpreendida por uma estocada direta, não de uma lâmina, mas das garras enegrecidas que saíam das mãos da adversária. O golpe foi seco e profundo. A general voou como um projétil, atravessando parte da arquibancada e saindo do estádio.

    Antes que qualquer um pudesse reagir, Serana já estava no ar, surgindo acima da adversária como uma sombra em queda.

    Lou-reen ergueu a espada a tempo de bloquear um golpe descendente das garras, que riscaram faíscas contra o metal e racharam o chão novamente. As duas se engajaram num ritmo rápido demais pra qualquer um acompanhar, lâmina contra garras, essência contra essência. Cada impacto ecoava como um trovão distorcido.

    Saltando entre colunas e telhados, cruzaram o pátio lateral do estádio. Quando atravessaram a base de uma torre, Serana golpeou com ambas as mãos, suas garras rasgando as fundações. A estrutura simplesmente cedeu, destruída pela força do confronto. A torre ruiu com um estrondo, engolindo as combatentes em uma nuvem espessa de poeira.

    Mas os sons do combate persistiam, cortes rápidos, estalos brutais e o silvo da essência sendo manipulada.

    — Lou-reen tá se divertindo… — Hamita comentou, se empolgando.

    No centro da arena mergulhada em caos, os quatro generais restantes formaram um semicírculo instintivo, lado a lado, encarando os cinco guerreiros de Malrath que avançavam em silêncio, como predadores em marcha.

    Grithin olhou em volta, cerrando os punhos, sentindo a essência vibrar sob a pele. Rosnou entre os dentes:

    — Onde está o maldito Luminor quando a gente precisa dele?

    — Eu aguento dois — disse Hamita, com um sorriso que beirava a loucura. Ela girava as espadas com os dedos como se estivesse ensaiando uma dança, os olhos brilhando de expectativa. — Já estava ficando entediada.

    Mas antes que qualquer um pudesse dar o primeiro passo, Asora Camadriel disparou em direção ao camarote real, subindo pelas arquibancadas como uma sombra em velocidade.

    Koopus rosnou e deu um passo para interceptá-la, erguendo o machado com um grito, mas foi travado. Pátkos Darkwater o enfrentou com uma velocidade surpreendente para alguém do seu porte colossal. O guerreiro de Malrath se colocou entre os dois com um baque seco, o impacto do salto rachando o chão.

    — Droga! — Koopus rangeu os dentes, recuando meio passo.

    Em um instante, o campo se dividiu.

    Grithin avançou contra Löerg Seaborn, os dois trocando golpes antes mesmo de qualquer saudação ou ameaça.

    Hamita, rindo como se estivesse em plena celebração, lançou-se sobre Auhra Revere, suas duas lâminas faiscando no ar.

    Aamerta olhou para Cedric Fairwind e se aproximou com calma, como quem encara um rival antigo.

    Em segundos, o chão virou um mosaico de choque de essência.

    Enquanto isso, acima de tudo, o camarote tremia com a aproximação de Asora. Ela cortava caminho pelas arquibancadas como uma lança viva, ignorando os soldados que tentavam detê-la. Cada passo seu deixava marcas no chão.

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