Índice de Capítulo

    Leopardo e Cascavel desistiram de fugir e tentaram segurar a flecha de energia, mas seus pés foram arrastados lentamente para trás pelo impacto. Cascavel começou a cuspir veneno sem parar, deixando filetes verdes caírem de sua boca na tentativa desesperada de enfraquecer o golpe, enquanto Leopardo rasgava o ar com suas garras, tentando fatiar a energia em plena fúria. Os dois lutavam para não serem engolidos pelo ataque. 

    Então, em um ato covarde, Cascavel deu um golpe fulminante nas costas de Leopardo, empurrando-o para a frente e o usando como escudo. No mesmo instante, a flecha explodiu em uma chama azul e dourada que iluminou todo o corredor. 

    — Cas… Cascavel… — Leopardo sussurrou, cuspindo sangue ao virar a cabeça — Seu maldito! V-Você me usou como escudo… Nunca esperei algo tão baixo de uma cobra como você! — ele ofegou, a voz falhando — Espero que você morra… 

    Quando a energia finalmente se dissipou, restou apenas fumaça e poeira dançando no ar. Leopardo agonizava no chão, tremendo fracamente. Parte de sua máscara havia sido destruída, revelando o lado direito de seu rosto pálido, quase sem vida. 

    Cascavel passou uma mão pelos cabelos, afastando-os com calma, e inclinou a cabeça com um sorriso satisfeito. 

    — Uma pena que você não percebeu minhas reais intenções a tempo — disse ele, aproximando-se lentamente do companheiro caído — Enfim… o caçador se tornou a caça. Como se sente sendo traído por um companheiro? — ele ergueu o queixo, zombeteiro — Aliás, não precisa responder. Irei lhe fazer o favor de te mandar para junto do seu irmão. Não me entenda mal, Leopardo… — seus lábios se curvaram em um sorriso vil — …São apenas negócios. 

    A névoa se dissipou por completo, revelando o rosto pálido e seco de Cascavel, marcado por uma expressão de prazer doentio, como se saboreasse cada segundo após assassinar seu aliado. 

    — Q-Que baixo! — Akane gritou, dando um passo à frente com o arco nas mãos. A voz dela tremia — Você… Você matou seu próprio aliado! Você não tem honra ou orgulho algum?! Trair e matar um companheiro a sangue frio é algo imperdoável! Você é mesmo um monstro, Cascavel!!! 

    Kamito estava totalmente tomado pela fúria. As chamas transbordavam de seu corpo como se escapassem de um recipiente prestes a explodir. Ele apertou a espada com força e avançou contra o inimigo. 

    — Morra de uma vez, seu monstro!!! — ele gritou, o olhar tomado de ódio. — Morra!!! 

    Akane ergueu o arco, gritando atrás dele que lhe daria cobertura, pronta para disparar. 

    Cascavel abriu os braços, rindo enquanto inclinava a cabeça para trás. 

    — Sim!!! — ele respondeu, batendo no próprio peito — Isso mesmo! Eu sou um monstro!!! E eu me orgulho disso! De trair, de matar e de não esconder minha verdadeira natureza… como você faz!!! 

    As palavras atingiram Kamito como um golpe invisível. Seu corpo hesitou por um instante mínimo, mas fatal. Cascavel aproveitou sem piedade. Ele avançou em um movimento serpenteante e desferiu uma joelhada brutal no queixo de Kamito, que foi lançado para cima e bateu no teto. 

    Akane ergueu as mãos rapidamente, criando uma barreira para amortecer o impacto dele. Sem perder tempo, ela começou a disparar flechas consecutivas, o arco brilhando em sua aura. Cascavel apenas gargalhou enquanto avançava, desviando com movimentos sinuosos e rebatendo algumas flechas com as unhas envenenadas. 

    — Hahahahaha!!! — ele riu, aproximando-se como quem aprecia um espetáculo — É tudo que vocês têm?! — seus olhos brilharam em puro desprezo — Não é o bastante para vocês sequer sonharem em me deter. Eu sou o ser mais poderoso de todo o império!!! 

    — Fique longe de mim, seu monstro!!! — ela levantou um dos braços instintivamente, como se pudesse afastá-lo assim. — Você é desprezível, eu tenho nojo de você! Nunca imaginei que pudesse existir algo como você!!! 

    Ela criou vários muros com pontas e os fez disparar inúmeras flechas em rápida sucessão. Cascavel continuou rindo, inclinando o corpo para rebater cada flecha com movimentos quase preguiçosos, devolvendo-as contra ela. Akane foi atingida por seu próprio golpe e caiu de joelhos, quase sem forças. 

    — N-Não pode ser possível… — ela murmurou, ofegante, apoiando uma das mãos no chão. — Estávamos tão perto… Kamito, me desculpe… 

    Kamito cambaleou para perto dela, ignorando Cascavel, que já observava tudo com um sorriso enviesado. 

    — Ei… Akane, não precisa chorar — disse ele, inclinando-se para perto dela enquanto sua voz ficava mais suave. — Você fez o que pôde e eu agradeço por isso. Agora, você pode descansar… Deixe que eu cuido dele para você! 

    Com dificuldade, ele retirou o próprio sobretudo e o colocou sobre os ombros dela, ajeitando o tecido com cuidado. Akane corou levemente e segurou o sobretudo, como se buscasse calor nele, enquanto o observava com surpresa. Cascavel, por sua vez, sorria, exibindo os dentes finos. 

    — Cascavel, acho que você brincou demais — Kamito declarou, erguendo a espada e estreitando os olhos. — Hora de te mandar para o inferno. 

    — Não me faça rir! — Cascavel levantou as mãos em um gesto exagerado, debochado. — Vocês não têm poder algum para me vencer. O que acha que pode fazer? Ganhar tempo para que o Coiote venha ajudá-lo?! — Ele soltou uma gargalhada alta. — Hahahaha!!! 

    Mas a risada parou de repente. A expressão dele se contraiu quando percebeu a mudança. Ele arregalou os olhos ao notar o olho esquerdo de Kamito tingido de preto e azul, e as pontas do cabelo escurecidas. 

    — M-Mas o que é isso?! — ele recuou um passo, apontando com o dedo trêmulo. — Su-sua aparência está mudando. Esse olhar… Esse olhar! Finalmente deixou de se esconder e vai mostrar quem é de verdade!!! 

    — Eu não sei do que é que você está falando — Kamito respondeu, inclinando o corpo como um predador prestes a saltar — mas é o fim da linha para você, Cascavel! Você disse que “não se deve esperar que seu adversário jogue limpo”! Agora morra perante suas próprias palavras!!! 

    Ele levantou o pé esquerdo lentamente, provocando. Assim que Cascavel avançou, Kamito desapareceu num instante, deixando apenas um rastro de energia azul em todas as direções. Cascavel girou em círculos, tentando acompanhar. 

    — Se eu estiver muito rápido — Kamito provocou, surgindo atrás dele por um instante — é só avisar. Posso deixar que me acompanhe! 

    — Desgraçado! — Cascavel rugiu, girando as lâminas venenosas nos dedos — Não tire sarro de mim! Eu irei te matar com requintes de crueldade! Te cortarei tanto que você será enterrado em uma caixa!!! 

    Ele tentou acompanhar os movimentos de Kamito, atacando às cegas, mas falhou miseravelmente. Kamito começou a diminuir a velocidade, intencionalmente, e Cascavel aproveitou para atacar. No entanto, assim que viu os olhos de Kamito de perto, congelou. 

    — I-Impossível! — ele engasgou, recuando um passo. — Esses olhos… Você realmente é um monstro, assim como eu!!! 

    — Está enganado!!! — o jovem avançou, sua voz firme e carregada de convicção — Eu não sou um monstro e nunca serei! Eu luto por pessoas importantes para mim e não por prazer! Chegou a hora de você morrer! 

    Ele parou diante de Akane, protegendo-a. Cascavel abriu a boca para implorar, erguendo as mãos, mas Kamito o ignorou por completo. Assumiu uma postura de samurai, acumulando energia na espada. Lentamente, ergueu a arma acima da cabeça e a desceu em um corte vertical. 

    — Morra, Cascavel! Blue Sky Ripper!!!! 

    Uma enorme lâmina de energia azul escura foi lançada. Cascavel nem sequer reagiu. A energia o arrastou violentamente para trás, destruindo a parede e arremessando seu corpo para fora do prédio. 

    Kamito caiu de joelhos, ofegante, enquanto a Relíquia se desfazia em partículas luminosas. Seu corpo cedeu e ele quase tombou, mas Akane o segurou, abraçando-o com força e afundando o rosto no ombro dele enquanto acariciava seu cabelo. 

    Ele a olhou e percebeu que ela sorria através das lágrimas. 

    — Bom trabalho, Kamito… — ela sussurrou, com a voz tremendo — Você conseguiu de novo. Agora tudo acabou, pode descansar. Me desculpe por não ter ajudado muito. Eu falei que não deixaria que eles te machucassem, mas não pude cumprir isso… 

    Akane chorou, apertando-o contra ela. Para ela, nunca era suficiente. 

    Kamito afastou-se devagar e tocou o rosto dela com carinho. Akane piscou, surpresa, antes que ele a puxasse suavemente e a beijasse. Era a primeira vez dele, mas, pela primeira vez, ele não sentiu medo. 

    Lentamente, afastou-se, corado, e sorriu de forma tímida.  

    — Akane… — ele começou levando a mão ao peito como se tentasse conter o próprio coração acelerado — Eu não teria conseguido sem você. Você me ajudou muito durante essa luta e, sem você, eu não seria nada. Você sempre esteve ao meu lado, e eu quero que continue assim para sempre. Eu não quero mais ser só seu amigo de infância ou seu vizinho… Quero ser algo além disso. Eu quero que você seja a minha namorada… e o meu motivo de viver e lutar todos os dias. 

    Ele sorriu, mesmo sentindo o rosto queimar de vergonha. Quando a encarou, percebeu que ela também estava corada. Akane levou as mãos trêmulas até a boca, sem saber como reagir. 

    — K-Kamito… — ela gaguejou, se aproximando de forma hesitante — V-Você está falando sério?! — seus olhos começaram a marejar — E-Eu adoraria ser a sua namorada. Desde o momento em que te conheci, sempre gostei de estar com você. E quando fomos crescendo, comecei a sentir algo maior… Eu ficava ansiosa e nervosa porque sempre queria estar ao seu lado… Quando você ficou em coma, eu tive medo, muito medo de você morrer. Eu não suportaria viver num mundo sem você. Eu… eu me mataria logo em seguida. Então, sim, eu aceito. 

    Akane sorriu ao aceitar o pedido. Seus olhos brilhavam, carregados de emoção. As palavras dela atingiram Kamito profundamente; ele sentiu a vontade de chorar, mas conteve as lágrimas, porque aquele era o momento mais feliz da vida dos dois até então. 

    — Eu te amo, Kamito — ela disse, segurando o rosto dele entre as mãos — Meu amado Kamito… eu serei a sua namorada. 

    Antes que ele pudesse respondê-la, uma voz fria e debochada interrompeu o momento. 

    — Que momento lindo. — Falcão surgiu caminhando entre as sombras do corredor, aproximando-se lentamente, com as mãos para trás. — Eu até aplaudiria, se vocês não fossem meus inimigos. Onde está o Coiote, aliás? Não importa. Vocês morrerão primeiro. 

    Kamito e Akane se viraram rapidamente, assustados. Falcão os encarava com uma expressão séria, mas ao mesmo tempo tranquila, como alguém que tinha plena confiança em sua vitória. 

    — É um prazer conhecê-los, Kamito Takeda e Akane Yagami — afirmou ele, inclinando levemente a cabeça enquanto continuava a caminhar na direção deles — Vocês são mesmo uma pedra no meu sapato. Arruinaram meu plano a mando do desprezível Raishi. Será que ele se importaria se eu os matasse?! 

    Kamito arregalou os olhos. 

    — F-Falcão… — ele deu um passo para trás, instintivamente colocando-se diante de Akane — Você veio pessoalmente até aqui?! Não era isso que deveria acontecer! O Raishi disse que você jamais sairia do seu posto! 

    Se o líder da Ordem estava ali, aquilo só podia significar uma coisa: Solum havia destruído o artefato, como prometera. 

    Falcão sorriu de forma discreta e amarga. 

    — E eu não viria — admitiu, parando a poucos metros deles — Mas vocês acabaram com toda a minha organização e ainda destruíram o único meio pelo qual eu alcançaria o meu objetivo. Chegou a hora de pagarem por tudo que fizeram contra mim. Chegou o seu fim. 

    Ele continuou avançando, e então algo começou a se formar atrás dele. Lentamente, enormes asas de energia se abriram nas costas, brilhantes e ameaçadoras. 

    Akane engoliu seco; Kamito cerrou os punhos. Os dois sabiam que não tinham chance contra ele naquele estado. Seria o fim. 

    — Por que essas caras de desespero?! — Falcão questionou, abrindo os braços, como se estivesse prestes a recebê-los para a morte — Vocês chegaram até aqui acabando com cada um dos meus subordinados. Chegou a hora de vocês tentarem o mesmo comigo. Vamos lá, Akane, Kamito! Levantem-se!!! 

    Então, Falcão finalmente se moveu. Sua energia transbordou pelo prédio e se espalhou pela cidade como uma onda esmagadora. Lá longe, ao senti-la, Raishi arregalou os olhos, e imediatamente se apressou para curar Harpia e Pombo, temendo pelo pior. Ele sabia que Kamito e Akane jamais seriam capazes de enfrentar Falcão naquele estado. 

    De volta ao último andar, Falcão encarava os dois jovens, abrindo completamente as asas. Ele estava decidido a matá-los ali mesmo. 

    Aquele seria o fim deles. 

    Depois de tudo o que haviam superado, de cada inimigo derrotado, cada ferimento, cada sacrifício… tudo iria acabar naquele exato lugar. 

    Enfim, a luta decisiva estava prestes a começar. 

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