Índice de Capítulo

    Falcão estava bem diante deles. Seu olhar carregava ódio e um desejo ardente de vingança por tudo que haviam feito. Kamito se levantou lentamente, ainda sentindo o corpo tremer de exaustão, enquanto Solum já assumia a linha de frente, confrontando o inimigo sem hesitação. Akane vestia o sobretudo de Kamito, ainda trêmula, mas esforçando-se para permanecer de pé. Embora tentasse parecer firme, seus olhos denunciavam o medo ao encarar Falcão. 

    Eles estavam fracos demais. Mal conseguiam respirar direito, e lutar parecia impossível. Estavam em maior número, sim, mas ninguém ali conseguia acreditar que poderiam vencer. Nem mesmo com tudo o que lhes restava. 
      E o fato de o próprio Raishi ter se disposto a enfrentar Falcão no lugar deles dizia tudo: aquele homem era simplesmente forte demais. 

    — Por que me olham assustados?! — Falcão perguntou, inclinando a cabeça levemente enquanto sorria sem humor. — Já notaram que sou muito superior a vocês?! Era previsível, já que os fracos se submetem aos fortes, e a minha justiça sempre prevalece. Solum, Akane Yagami e por último… Kamito Takeda. Ou prefere ser chamado de “Lobo”?! Não foi assim que se apresentou?! 

    Ele começou a avançar devagar, e, a cada passo, suas asas criavam dezenas de penas de energia, todas afiadas e apontadas diretamente para eles. O brilho era tão intenso que iluminava até as sombras do corredor. Falcão ergueu a mão direita em direção ao trio, abrindo os dedos como se segurasse o próprio destino deles. 

    — Chegou a hora de vocês morrerem. A brincadeira acabou, crianças. 

    Solum arregalou os olhos e deu um passo à frente, tentando manter a compostura apesar da dor. 

    — Isso é ruim! Kamito! Akane! Preparem-se para desviar! — gritou ele, erguendo um braço trêmulo. — Se essas penas nos acertarem, é o fim! Ele realmente está lutando a sério! 

    Logo após o aviso, Falcão fez um movimento quase imperceptível com a mão, e as penas foram disparadas. O ar cortou ao redor deles como dezenas de tiros simultâneos. O trio saltou para trás, ganhando um pouco de espaço, mas as penas começaram a acelerar, deixando rastros de energia por onde passavam. 

    — Se as coisas continuarem nesse ritmo, acabaremos mortos! — Kamito pensou, cerrando os dentes. 

    — Droga! — ele gritou, tropeçando enquanto tentava se mover. — Eu mal tenho forças para acompanhar esse golpe, quanto mais desviar dele! Se ao menos eu ainda tivesse um pouco mais de energia! 

    Era desesperador. Era a primeira vez, desde sua derrota para Solum, que Kamito se sentia tão impotente — tão fraco. 

    — Não vou permitir isso! — Akane gritou, abrindo os braços com força apesar do cansaço. — Não enquanto eu ainda estiver respirando! 

    Ela invocou três escudos de energia ao redor dos três, cada um brilhando como cristal em plena pressão. Mas, assim que as penas tocaram a superfície dos escudos, houve uma explosão violenta. Cada barreira estilhaçou como vidro sob uma tempestade, e os três foram arremessados brutalmente contra a parede de pedra. 

    Akane caiu de joelhos, tossindo, enquanto tentava entender o que havia acontecido. 

    — I-Impossível… — murmurou ela, tremendo. — A Manifestação dele destruiu meus escudos com um só toque… 

    — É claro, seu escudo era mais fraco do que uma simples parede. Até mesmo uma simples brisa poderia destruí-lo com facilidade. 

     Ele sorriu enquanto a encarava, como se zombasse dela. Logo depois, seu olhar voltou-se para Kamito. O sorriso sumiu de seu rosto, e ele o observou de forma séria e ameaçadora, como se estivesse esperando que ele reagisse. 

    — Não perceberam que esse é o fim da linha? Vocês são fracos e inúteis. Nada que vocês usem ou tentem irá funcionar. 

    — D-Droga… — Kamito murmurou enquanto tentava se afastar da parede, o corpo cambaleando. — Não podemos ficar apenas na defensiva. Precisamos de alguma forma descobrir a fraqueza da Manifestação dele. Eu só tenho mais dois disparos do meu golpe, mas no meu estado eu não consigo usar sequer um… 

    Ele respirou fundo, tremendo, mas mesmo assim assumiu uma posição de saque. Sua mão ergueu a Relíquia, que se manifestou com um brilho fraco. 

    — A Garra Azul… ZENDRIQ!!!! 

    — Não, Kamito! — Solum o alertou, levantando o braço em sua direção. — Poupe suas energias! Usar sua Relíquia agora só queimará muito mais energia que o necessário! Não tente nada de imprudente! 

    Mas Kamito já havia decidido. Solum sabia que ele não desistiria tão facilmente. 

    Falcão riu baixinho, com desdém. 

    — Que nome patético para uma Relíquia. “Garra”? Então ainda se considera um lobo?! Uma vez eu lutei contra um Lobo. Ele tentou tirar tudo de mim, então no final eu o matei, assim como matarei você e seus amigos. 

    Num instante, Falcão surgiu bem na frente de Kamito. Ele ergueu a mão esquerda e a pousou sobre a cabeça dele. Kamito se assustou, arregalando os olhos, mas não teve tempo de reagir. 

    Falcão o arremessou para trás como se fosse um boneco, e, enquanto Kamito ainda estava no ar, as asas do inimigo o golpearam com força brutal. O impacto ecoou pelo corredor. 

    Kamito caiu de bruços e cuspiu sangue no chão, tentando respirar. 

    Falcão o observou, aproximando-se lentamente. 

    — O mais irônico de tudo é que você se parece com ele. Olhos, cabelos e a maldita determinação de arruinar meus planos, como ele também tinha!!! 

    — Não esqueça que eu também estou aqui! Foi burrice sua abaixar a guarda! 
      Solum avançou pela esquerda, tentando surpreender Falcão. Porém, numa fração de segundo, o inimigo rebateu o ataque com uma das asas e o lançou novamente contra a parede. 

    — Seu… seu maldito! Você era mesmo traiçoeiro, Falcão! — Solum rosnou, tentando se levantar apesar da dor. 

    Falcão ergueu a mão e começou a disparar pequenas cargas de energia em direção aos três. As explosões os atingiam direto, fazendo-os gritar de dor. Ele não parecia querer matá-los de imediato. Pelo contrário… divertia-se com o sofrimento deles. Aquilo era cruel, desumano, parecia um demônio que havia perdido qualquer traço de humanidade. Era difícil acreditar que ele chegara tão longe apenas por causa de um plano arruinado. 

    — Kamito! Solum! Vocês estão bem?! — Akane perguntou, recuando instintivamente enquanto tentava manter o equilíbrio. — Não adianta, ele é muito mais poderoso do que imaginávamos! Estamos em desvantagem! 

    Ela estava visivelmente apreensiva. Falcão a olhou com um sorriso perverso, como se tivesse encontrado uma nova forma de diversão, e começou a caminhar em sua direção. 

    — Minha guarda nunca está baixa, Solum. — Ele caminhou lentamente, com confiança absoluta. — Vocês três não seriam capazes de me enfrentar nem mesmo se estivessem com seus poderes no máximo. 

    Ao se aproximar, Falcão segurou Akane pelos cabelos e a arrastou pelo chão. Ela gritou de dor, tentando se soltar, mas ele a puxou até Kamito, jogando-a perto dele. Kamito tentou se levantar, respirando com dificuldade. 

    — Olhe bem para ele, garota. — Falcão ergueu o queixo de Akane à força.  

    — Ele luta para te proteger, para proteger essa cidade… mas sequer consegue ficar de pé. Eu poderia te matar agora e acabar com essa brincadeira de heróis, mas… — ele sorriu de lado. — E se eu o matar na sua frente? Você morreria por ele? Se sacrificaria por quem você ama?! 

    — É claro! — Akane gritou, chorando enquanto o encarava. — Se com isso ele conseguir escapar, eu morrerei feliz! Eu jamais me perdoaria se o Kamito morresse! Kamito, por favor, não se importe comigo e fuja! Se apenas um de nós tiver que sobreviver, que seja você! 

    As palavras dela o atingiram profundamente. Kamito a olhou assustado, sentindo o desespero crescer dentro dele. Ele apoiou a mão no chão e tentou se levantar com todas as forças. 

    — Não, Kamito! Fuja! — Akane implorou, a voz trêmula. — Por favor, fuja! Eu não quero mais que você se machuque! Apenas vá! 

    — Como eu poderia fugir sabendo que a pessoa que eu amo está em perigo bem na minha frente?! — Kamito gritou, finalmente ficando de pé, mesmo cambaleando. — Eu cansei de ser fraco e de correr! Eu não vou a lugar algum sem você, Akane! Nem que para isso tenhamos que morrer juntos! 

    Algo estranho começou a pulsar dentro dele. Um calor, uma força, algo que não era familiar. Falcão percebeu e riu. 

    Ele então arremessou Akane violentamente em direção às janelas — mas Solum a interceptou no ar, agarrou-a e se chocou contra uma pilastra para protegê-la. Isso fez a fúria de Kamito crescer ainda mais. 

    — Falcão, você pagará pelo que fez! — Kamito rugiu, levantando a espada com as mãos trêmulas. — Eu juro que irei te matar! Guarde bem as minhas palavras!!!! 

    Falcão abriu um sorriso predatório e exibiu os dentes. 

    — Não faça promessas que você não pode cumprir. Você jamais irá me matar. Desista, moleque. Aceite a morte de bom grado… antes que eu mude de ideia e faça você sofrer de verdade. 

    Ele lentamente assumiu uma postura de combate. O olhar de Falcão parecia hipnotizar Kamito, puxando sua atenção de maneira quase forçada. A presença dele era sufocante, esmagadora. 

    Kamito mal conseguia segurar sua espada. As mãos tremiam, e sua respiração saía pesada. Mesmo assim, ele avançou um passo. Akane e Solum o observavam a alguns metros de distância, sem saber se Kamito realmente estava em condições de enfrentá-lo. 

    Solum franziu o cenho, analisando a situação. 

    — Isso é loucura. — Ele murmurou para Akane. — Kamito não tem condições de resistir nem por dois minutos. Akane, eu tenho um plano… e preciso da sua ajuda. 

    Ele a colocou cuidadosamente no chão e a encarou com seriedade. Apesar de ferido, Solum parecia determinado. 

    — Talvez o Raishi e os outros já tenham sentido a presença do inimigo. Só nos resta ganhar tempo até eles chegarem. — Solum continuou. — Como o Kamito conseguiu chamar a atenção dele, eu posso atacá-lo desprevenido. E é aí que você entra. Quero que concentre sua energia e crie uma barreira para proteger o Kamito caso as coisas saiam do controle. Entendeu? Vamos esperar o momento certo. 

    Akane respirou fundo, tentando se concentrar. 

    — Tudo bem, eu acho que consigo. Só preciso me concentrar. Ele conseguiu quebrar meu escudo com muita facilidade, então preciso criar outro muito mais resistente. Daquela distância, o dano ainda iria todo para o Kamito. 

    Ela lançou um olhar rápido para Kamito, como se buscasse coragem no próprio desespero. Logo depois, se ajoelhou lentamente e começou a reunir o pouco de energia que lhe restava. Seus dedos tremiam, mas ela mantinha o foco na formação da barreira. 

    Enquanto isso, Kamito cerrava os dentes, ignorando a dor que queimava seu corpo. 

    — Eu farei você engolir cada uma das suas palavras!!! — gritou, avançando de uma vez. — Você acha que pode chegar aqui e ameaçar esta cidade?! Seu erro foi achar que ninguém te impediria, e agora você também sentirá o que eles sentiram!!! 

    Ele firmou as mãos no cabo da espada e partiu para cima de Falcão, golpeando repetidas vezes. Falcão desviava com facilidade, quase como se estivesse apenas caminhando ao redor dele. Irritado, Kamito acelerou os golpes, e a lâmina começou a se envolver em chamas enquanto ele atacava cada vez mais rápido. 

    — Droga, droga, droga, droga!!!! Por quê?! Por que eu não consigo acertá-lo?! — rosnou, tentando mais uma estocada que passou no vazio. 

    Falcão riu, inclinando a cabeça de maneira despreocupada. 

    — Está desesperado, garoto?! É difícil aceitar a triste realidade de que você jamais será capaz de me acertar? Irei acabar com seu desespero agora. 

    Suas asas se fecharam sobre os braços, concentrando energia até formar uma esfera brilhante e instável. 

    — Hora de morrer, Lobo!!! Glorious Claws!!!! 

    — Esqueça o plano, Akane!!! — Solum gritou, correndo na direção deles enquanto sua voz se quebrava em puro desespero. — Use a barreira agora! Não importa o que aconteça, não deixe ele ser atingido por aquilo!!! Akane, me escuta!!!! 

    Para Solum, tudo parecia em câmera lenta. Ele viu a barreira ainda se formando diante de Kamito, frágil demais para resistir. Ele prendeu a respiração, tomou sua decisão em um único instante e se jogou para frente, parando exatamente entre Kamito e o golpe. 

    — Não faço a mínima ideia do que estou fazendo, mas não deixarei que tire o meu alvo de mim!!! — gritou ele, sem tirar os olhos do ataque que vinha. — Ei, Kamito, boa sorte. Obrigado por abrir meus olhos. 

    — Solum!!! — Kamito gritou, tentando correr até ele, mas suas pernas falharam. — Solum, saia daí! Eu vou conseguir! Por favor, saia daí! Nãoooo!!!! 

    A explosão o atingiu por completo. O impacto jogou Solum violentamente contra a barreira, destruindo-a junto. A maior parte da energia foi absorvida por seu corpo, enquanto Kamito apenas foi arremessado para trás, deslizando pelo chão. 

    — Kamito!!!! Solum!!!! — Akane gritou, levando a mão à boca em choque. 

    Falcão pousou as asas e balançou a cabeça, quase entediado. 

    — E pensar que ele se jogou na frente do golpe para proteger seu amigo. Solum, você é mesmo um tolo. Morrer de uma forma tão patética como essa?! 

    Mas, de repente, ele franziu o cenho. Uma energia estranha, pesada, começou a emanar da direção do impacto. Ele fechou os olhos por um segundo, tentando reconhecer. 

    — Que presença ameaçadora é essa?! — murmurou, dando um passo cauteloso para trás. — Eu só havia sentido essa presença uma vez, muito tempo atrás. Quem é o responsável por isso?! 

    Ele caminhou em meio à fumaça, atento. Dois vultos surgiram lentamente quando a cortina cinzenta começou a se dissipar. Um deles estava caído no chão… Solum, completamente desacordado. O outro estava ajoelhado, tentando chamar por ele, sem sucesso. Kamito tremia, tentando alcançar o corpo do amigo. Tudo indicava que realmente estavam à beira da derrota. 

    Falcão, então, retomou sua postura arrogante e avançou mais uma vez. 

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