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    Vinte homens tornaram-se dezesseis em questão de segundos, depois que Blossom disparou a sua primeira rajada de flechas e acertou o coração de quatro deles.

    Sem armaduras ou escudos, tudo o que podiam fazer era morrer. E não estavam acostumados a isso. Esperavam uma luta fácil; e a visão de seus amigos agonizando no chão, enquanto se agarravam desesperadamente à vida, quebrou o espírito deles num instante.

    Mas ninguém recuou.

    Talvez fosse o choque, ou quem sabe tivessem mais coragem do que julgava, mas Siegfried sabia que o mais provável era que simplesmente estivessem esperando o primeiro deles debandar para segui-lo.

    Ironicamente, os covardes tendem a resistir tanto quanto os corajosos no campo de batalha. É justo imaginar que eles fugiriam e abandonariam seus companheiros na primeira oportunidade, mas nem sempre era assim tão simples. Ninguém quer ser chamado de covarde; muito menos ser executado por isso. E a maioria tem certa dificuldade em reconhecer uma batalha perdida quando a vê.

    Se recuar cedo demais, você pode acabar sendo enforcado por deserção, apenas para descobrir que seus amigos na verdade venceram a batalha. Saber o momento certo de desistir não era assim tão simples. Especialmente entre homens verdes. Verdes como aqueles plebeus. Estavam em maior número e isso os deixava cegos para a diferença de habilidade.

    No fim, não recuaram, nem atacaram. Apenas se limitaram a ficar onde estavam, esperando algum tipo de mudança. Alguém que tomasse as rédeas da situação e os liderasse em um contra-ataque… Ou uma fuga. Mas esse alguém não apareceu.

    “Cordeiros com forcados.”

    Na sua ânsia por usar uma estratégia militar, eles haviam se espalhado demais, pondo dois ou três metros entre cada um. Muito longe. Siegfried não teve qualquer dificuldade em quebrar a formação. Se lançou contra o primeiro adversário, abriu sua garganta com um movimento rápido e então virou em direção ao próximo, antes mesmo que o seu cadáver atingisse o chão.

    De repente, estava em ritmo de combate.

    A sua espada dançando, entregando a morte em uma fileira de cordeiros à espera do abate. Corte e estocada. Traqueia e coração. Menos dois para se preocupar.

    Até que os não-soldados finalmente encontraram alguns culhões e contra-atacaram. Um deles veio correndo em direção a Siegfried com um forcado, mas bastou um toque da sua espada para tirar o equilíbrio do homem, que caiu de cara na neve.

    Um dos mais covardes tentou partir Mimosa ao meio com uma foice e Siegfried sentiu o coração pular uma batida. Havia se afastado demais. Mas isso não foi um problema e, antes que pudesse ir até ela, a jovem deslizou pelo chão, se contorceu de uma forma estranha usando a cauda e se afastou sem ser atingida.

    Quando o homem se virou tentando ir atrás dela novamente, Blossom espetou uma flecha nas suas costas e ele caiu.

    Siegfried se acalmou e sentiu uma das mulheres atingi-lo no ombro com uma pedra. Então outras seguiram o seu exemplo e logo havia dúzias de pedras voando.

    — Monstros!

    — Assassinos!

    — Vão embora!

    Ironicamente, a maioria delas acertou justamente os homens que tentavam proteger. E a distração foi muito bem-vinda.

    Uma nova rajada de flechas derrubou novamente quatro deles. Sempre do mesmo modo. Direto no coração. Uma flecha, uma morte. Sem falha. Não que houvesse muita margem para falha quando a maioria deles insistia em ficar parada, esperando pacientemente até que a morte viesse buscá-los.

    Siegfried terminou o serviço.

    Alguns homens tentaram cercá-lo e caíram como moscas. Os seus pés se movendo, avançando e recuando, sem nunca permitir que fechassem o cerco ao seu redor. Corte, estocada, corte, corte, estocada. Jugular, coração, jugular, estômago, coração. Menos cinco.

    Os vinte eram agora três, então fugiram.

    E com eles foi-se também a vontade de lutar das mulheres. As pedras deixaram de voar e todas se calaram. Algumas choraram a morte de seus maridos, filhos e irmãos, mas a maioria se limitou a encarar os invasores. Horrorizadas. Não era a primeira vez que o rapaz via aquela cena.

    “Siegfried, o Jovem Carniceiro”, lembrou-se. “Terror dos homens e das donzelas.”

    Mas a batalha ainda não havia terminado.

    Os gemidos de dor dos moribundos e o crepitar da madeira estalando atrás dele esconderam o som de passos se aproximando, até que sentiu o frio beijo da morte em sua nuca e Mimosa gritou:

    — CUIDADO!

    Siegfried se apressou em aparar o ataque com a espada, mas foi inútil. O seu novo adversário era rápido demais e tudo o que conseguiu foi mudar ligeiramente a trajetória do golpe no último instante; ao invés do rosto, o bastão de madeira atingiu o seu peito com uma estocada. Ouviu-se um estalo e Siegfried perdeu o fôlego por um instante, com o corpo sendo empurrado para trás, cambaleando, enquanto lutava para se manter de pé.

    — Já chega! — disse o líder do povoado. O velho bastardo de Eroth Kroft. O Homem de Olhos Amarelos. — Eu disse a você para deixar esse povoado. Não permitirei que dê continuidade à sua onda de matança!

    — Vai se foder!

    — Se acha que a sua mestra irá protegê-los, está enganado, monstro. A bruxa não tem poder aqui.

    Então Siegfried avançou, encurtando a distância entre eles num piscar de olhos. Mirou a garganta, mas o Homem de Olhos Amarelos tinha reflexos afiados e usou seu bastão para mudar a trajetória do golpe no último instante.

    Ao invés da garganta, a espada atingiu seu rosto, logo abaixo do olho esquerdo. Estava vivo, mas o corte foi profundo e agora não conseguia mais mantê-lo aberto. Para não mencionar o fato de que perdera metade da orelha. O rosto molhado de sangue.

    Imediatamente, o Homem de Olhos Amarelos girou nos calcanhares e mudou a sua base, mantendo Siegfried à sua direita, de modo que não deixasse o seu campo de visão. Ótima decisão… Se fosse um duelo.

    A sua mudança de posicionamento fez com que ficasse de costas para Blossom, que não deixou essa oportunidade passar e acertou duas flechas nele, na altura do pulmão. Ainda assim, não caiu.

    E também não estava sozinho.

    — ELYON!

    O garoto que se chamava Tom veio do nada, tal como o seu mestre antes dele, e acertou o rosto de Siegfried com o seu bastão de madeira. Mas ao contrário do Homem de Olhos Amarelos, não fez mais do que deixá-lo irritado, antes de recuar três passos, pondo Siegfried entre ele e o seu mestre. Esperto. Podia ver o que estava tentando fazer. Fosse quem fosse que Siegfried decidisse atacar, estaria de costas para o outro. Exposto.

    “Nada mal.”

    E agora sabia quem dava as cartas ali. O garoto dificilmente pensou nessa estratégia sozinho, tal como os plebeus não haviam pensado no cerco cheio de falhas que usaram mais cedo. Era tudo obra do Homem de Olhos Amarelos. Ele os dizia o que fazer.

    — Quem é você? — perguntou Siegfried. — Sei que é um Kroft, mas tá na cara que você não nos seguiu até aqui. Então qual é o seu problema? O que tá fazendo nesse lugar?

    — Protegendo. De monstros como vocês.

    Siegfried deu uma olhada ao seu redor. Além do Homem de Olhos Amarelos e Tom, Kira também se encontrava por perto, embora tenha escolhido se manter na retaguarda, em segurança.

    Agora eram três contra três.

    Os poucos camponeses que ainda estavam vivos depois da batalha, haviam finalmente se afastado aos tropeços ou se arrastando, enquanto as mulheres os ajudavam — sem se aproximar muito, é claro. Restavam apenas os mortos e os fracos demais para se mover.

    E Siegfried sentia o corpo revigorado.

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