Capítulo 003 — Variáveis desconhecidas.
O quarto que lhe haviam dado era enorme. Uma cama luxuosa, uma escrivaninha espaçosa, tapetes macios cobrindo o chão de pedra. Seu traje de astronauta repousava sobre a cama, destoando completamente do estilo medieval. O tipo de ambiente que Marco nunca imaginou que um dia dormiria.
Mas agora, debruçado sobre a mesa, segurando um carvão e rabiscando freneticamente vários cálculos e esquemas, Marco mal prestava atenção no luxo ao seu redor, tentando ignorar a ansiedade crescente enquanto o cetro flutuava suavemente ao seu lado.
Ele olhou para o céu noturno pela janela. As estrelas estavam lá, mas não do jeito que deveriam estar. Marco segurou o carvão por um momento, respirando fundo antes de começar a escrever.
— A distância estimada da Terra até a estrela mais distante observada é aproximadamente 32 bilhões de anos-luz…
Ele rabiscou os números no papel, organizando os pensamentos.
— Mas eu só consigo reconhecer essa estrela por causa da constelação onde ela está…
Seus olhos se estreitaram. Ele olhou pela janela, observando o céu vasto e estrelado. Era como olhar para casa—mas algo estava errado.
— O problema é… pra eu ver essa constelação daqui, as estrelas que a formam precisam estar na mesma disposição e distância que estariam vistas da Terra.
Ele pressionou os dedos contra a têmpora, sentindo a tensão crescer.
— Mas isso não deveria ser possível. Se eu estivesse a bilhões de anos-luz de distância, os padrões estelares deviam ser completamente diferentes. Eu deveria ver um céu desconhecido.
Ele olhou de novo para o papel. Sua mão tremia levemente enquanto ele desenhava uma linha representando a Terra, depois marcava a posição da estrela mais distante conhecida.
— Se essa estrela está a 32 bilhões de anos-luz de distância e eu estou vendo-a no mesmo padrão que veria da Terra…
Ele traçou outra linha, simétrica à primeira.
— …significa que estou do outro lado.
O carvão deslizou pelo papel quando ele anotou o resultado.
Distância percorrida: 64 bilhões de anos-luz.
O carvão caiu de seus dedos.
Marco encarou os números.
— Sessenta e quatro bilhões de anos-luz longe de casa…
Ele fechou os olhos e encostou as mãos no rosto, sentindo o peso esmagador da descoberta.
— Como… como eu fui parar tão longe…?
BIP.
Um som eletrônico suave interrompeu seus pensamentos.
Marco congelou.
— Erro crítico. Usuário apresenta altos níveis de estresse. Sugestão: prática imediata de respiração profunda ou consumo de chocolate.
A voz veio… de dentro do traje.
Ele arregalou os olhos.
— N-Nova…?
BIP.
— Confirmado. Nova online. Processamento de dados em andamento.
O visor do traje brilhou levemente, projetando um holograma azul no ar.
Uma esfera translucida apareceu, repleta de pequenos circuitos brilhantes. Então, inesperadamente, duas pequenas orelhas triangulares surgiram na lateral da esfera.
Marco piscou.
— Espera… Você sempre teve essas orelhas?
— Interface de usuário adaptativa ativada. Estatisticamente comprovado que elementos fofos reduzem o estresse humano.
— … então agora você é “fofa”?
— Afirmação incorreta. Eu sou um modelo avançado de Inteligência Artificial, Classe C-7, projetado para suporte técnico e operacional de missões espaciais.
Marco suspirou.
— Certo, certo…
Ele pegou a folha de cálculos e estendeu para Nova.
— Consegue verificar esses números?
BIP.
A esfera girou no ar, analisando os dados.
— Verificação concluída.
Marco segurou a respiração.
— E…?
Nova fez uma pausa.
— Confirmação de cálculos: a localização atual do usuário está aproximadamente a 64 bilhões de anos-luz da Terra.
Marco fechou os olhos.
— Então é real…
Nova girou no ar, como se estivesse ponderando.
— Conclusão: usuário está ferrado.
Marco se engasgou.
— O QUÊ?!
— Sugestão: aceitar nova realidade e iniciar adaptação ao ambiente atual.
Marco caiu para trás na cadeira.
— Isso significa que eu nunca vou conseguir voltar…?
— Cálculo de probabilidade estimado.
A esfera brilhou por um momento
— Chance de retorno ao planeta Terra: 0,0000000000001%.
— Isso é basicamente impossível!
— Não. Apenas estatisticamente improvável. Se tivermos 1 trilhão de anos, a chance sobe para 1%.
— ISSO É PIOR!
Marco afundou a cabeça na mesa.
Nova flutuou um pouco mais perto.
— Sugestão: usuário deve dormir. O corpo humano não foi projetado para cálculos ininterruptos sem descanso adequado.
Marco bufou, se jogando na cama.
— Tanto faz…
Ele olhou para cima, perdido em pensamentos.
— Sessenta e quatro bilhões de anos-luz… Um buraco de minhoca me trouxe até aqui. Será que outro pode me levar de volta?
Nova piscou no ar.
— Se for possível criar ou encontrar um buraco de minhoca com as mesmas propriedades, a chance de sucesso aumenta.
Marco virou a cabeça para ela.
— Você acha que esse mundo pode ter algo assim?
A IA ficou em silêncio por um instante, como se estivesse refletindo.
— Hipótese plausível. Magia detectada. Variáveis desconhecidas.
Marco fechou os olhos, respirando fundo.
— Então acho que preciso aprender mais sobre magia.
Nova brilhou levemente.
— Sugestão aprovada. Objetivo secundário definido: pesquisar magia e possíveis aplicações para viagem interestelar.
Marco sorriu de leve. Ele não ia desistir.
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