Marco caminhava apressado pelos corredores de Sadra, olhando para os lados, indeciso. Não sabia exatamente aonde estava indo, mas precisava encontrar o salão do conselho.

    “Oi, Marco! Perdido?”

    Marco olhou ao redor. Ele tinha certeza de que havia ouvido a voz de Nova como se ela estivesse ao seu lado. Mas não havia ninguém ali.

    O que… o que está acontecendo? — ele pensou, tentando se manter calmo.

    “Eu me conectei ao Cetro! E como você está ligado a ele, posso me comunicar com você por telepatia!”

    Marco se assustou, quase deixando o cetro cair. A voz era tão real que ele quase podia sentir a presença de Nova ao seu lado.

    — E o que mais você pode fazer? — Marco perguntou, hesitante.

    “Eu posso acessar as “memórias” do Cetro! — disse Nova, com uma animação crescente. “Isso significa que eu sei tudo o que ele presenciou, tudo o que aprendeu… E eu posso te mostrar tudo isso, direto na sua mente!”

    — Mas… e agora? Eu preciso ir para a reunião com o Imperador! — pensou Marco, buscando uma orientação mais prática.

    “Não se preocupe!” — Nova respondeu, parecendo ainda mais empolgada. “Eu vou te ajudar! Eu sei o caminho! O salão do conselho está logo à frente. Apenas siga em frente e vire à direita depois da próxima esquina!”

    ***

    Marco entrou na grande sala, sentindo o peso da atmosfera ao seu redor. O salão era imenso, iluminado por tochas e lustres imponentes que lançavam sombras dançantes pelas paredes de pedra.

    Seus olhos varreram a mesa hexagonal no centro da sala, onde figuras de postura imponente estavam sentadas. Todos ali vestiam o uniforme do exército, um traje padronizado que simbolizava sua lealdade ao Império. No entanto, alguns ostentavam peças de armadura sobre o corpo—ombreiras reforçadas, peitorais ornamentados ou braçadeiras metálicas. A única exceção era um homem de aparência distinta, sem qualquer peça de armadura sobre o uniforme.

    “Analisando…”

    A voz de Nova soou em sua mente:

    “Lou-reen Egalyn, General de Yhe-For.”

    Marco olhou para Lou-reen, que estava de braços cruzados encostada na parede, sua postura rígida e olhar afiado. Ela não parecia intimidada por ninguém ali.

    “Luminor Mandilyn, General d’A Torre.”

    O homem parecia relaxado demais para a seriedade da reunião, girando um cálice de vinho entre os dedos.

    ‘Aamerta Londolfo, General de Eley-Vine.”

    A pessoa mais velha da sala após o Imperador. Seu rosto era o mais sério de todos.

    “Kaertien Dorbeos, representante do povo.”

    O único usando o uniforme sem peças de armadura.

    “Yaeron Daeblar, Coronel de Sadra.”

    “Tenente Faey Tyrson.”

    Marco a reconheceu: era a mulher adulta ao lado da jovem Lou-reen no campo de batalha no dia anterior.

    “E, por fim, o Imperador de Taeris, Ivoney Olaraeth.”

    Marco reconheceu o imperador sem a ajuda de Nova. Ele era o único ali sem camisa, exibindo um peitoral e abdômen esculpidos, com músculos que desafiariam até os mais experientes fisiculturistas. O contraste entre sua impressionante forma física e os cabelos e barba brancos, que revelavam sua idade avançada, era nada menos que surpreendente.

    Cada um ali parecia capaz de partir uma montanha ao meio sem esforço – exceto talvez Kaertien. Marco sabia que essa não era apenas uma conversa comum. O que acontecesse ali poderia definir seu futuro dentro do Império.

    Ivoney observou o cetro, que flutuava ao lado de Marco. A haste do cetro era ornamentada com runas antigas, mas o topo, sem dúvida, era o que mais chamava a atenção. Ali havia uma caveira detalhada, esculpida em um material negro como a obsidiana, com olhos de rubi que brilhavam intensamente, refletindo a luz da sala de maneira sinistra. A caveira parecia estar viva, seus olhos pulsando com uma energia própria, como se o cetro tivesse uma consciência em si mesmo.

    — Este… — Ivoney disse, sua voz agora mais grave, o olhar fixo na caveira com olhos de rubi —, este é o Cetro de Clyve. Forjado por um homem cujo poder ameaçou não apenas o Império, mas o equilíbrio do próprio mundo.

    Ele fez uma pausa, observando as reações dos presentes na sala, todos atentamente observando o cetro. A caveira parecia agora irradiar uma aura maléfica, e os olhos de rubi pareciam brilhar mais intensamente conforme a conversa avançava.

    —Seu criador foi um homem de grande poder, mas também de grande loucura. Embora Clyve tenha sido derrotado, o cetro não perdeu seu valor. Agora, ele está em nossas mãos, e isso representa uma enorme responsabilidade. Não apenas para o portador, mas para o Império inteiro.

    Neste momento, a sala ficou em um silêncio tenso, com todos os olhos voltados para Marco. Ele sentia o peso do cetro ao seu lado, como uma presença constante e ameaçadora.

    Kaertien Dorbeos olhou para o cetro, franzindo a testa.

    — Não posso acreditar que estamos discutindo isso. Um forasteiro portando uma arma tão poderosa. O que nos garante que ele não usará o cetro contra o Império, ou que ele sequer compreende o que está em suas mãos?

    Lou-reen deu um passo à frente.

    — Marco é de confiança — afirmou Lou-reen, firme. — Além disso, ele foi o responsável por derrotar Clyve. Se estamos aqui hoje, discutindo o destino desse cetro, é porque ele impediu que o pior acontecesse.

    Kaertien soltou um suspiro pesado, sua frustração evidente.

    — Isso não muda o fato de que ele é um desconhecido portando uma arma de poder incalculável! — Ele apontou para o cetro. — O mais sensato seria levá-lo para Ga-El, onde pode ser estudado e mantido sob vigilância.

    — O cetro está ligado a Marco. Ele não pode ser separado dele, e o vínculo é irrevogável.

    Kaertien não parecia convencido, sua expressão endurecendo ainda mais.

    — E se ele for morto, Lou-reen? O que acontece com o cetro? Escolheria o assassino como novo mestre?

    Lou-reen olhou diretamente nos olhos de Kaertien, seu olhar sério. O silêncio pesou por um instante. Lou-reen cerrou os punhos.

    — Eu não sei.

    Kaertien ergueu uma sobrancelha, satisfeito.

    — Então temos um risco incontrolável em nossas mãos.

    Lou-reen manteve o olhar firme.

    — Mas eu não vou deixar ninguém testá-lo para descobrir. Se alguém quiser o cetro, vai ter que passar por mim primeiro.

    A sala mergulhou em silêncio. Poucos no mundo ousariam desafiar Lou-reen para um combate— e a maioria deles estava ali, sentada àquela mesa.

    Ivoney recostou-se, tamborilando os dedos no braço da cadeira.

    — No fim das contas, não há muito o que fazer — disse, sua voz ressoando firme pela sala. — O garoto é um herói. Foi ele quem derrotou Clyve, e agora o cetro está ligado a ele.

    Kaertien apertou os lábios, claramente insatisfeito, mas manteve-se em silêncio.

    — Se Lou-reen diz que irá protegê-lo, então que assim seja — Ivoney continuou. — Mas saiba, General, que a responsabilidade por esse garoto e pelo cetro recai sobre você̂. Espero que tenha plena consciência do peso dessa promessa.

    Lou-reen manteve-se impassível, sustentando o olhar do Imperador.

    — Eu tenho.

    Ivoney ajeitou-se no trono, batendo as mãos nos apoios como quem se preparava para encerrar a reunião.

    — Muito bem, se não há mais nada—

    — Espera.

    A voz de Marco quebrou o silêncio antes que o Imperador pudesse dar por encerrada a discussão. Todos os olhares se voltaram para ele. Lou-reen virou-se sutilmente para encará-lo.

    — Eu tenho um pedido — Marco continuou, tentando manter a postura firme. — Ou melhor, uma oferta.

    — Uma oferta? — O tom do Imperador era intrigado, mas cauteloso.

    Marco respirou fundo.

    — Quero recursos para estudar o espaço a partir de Taeris. Sou um astronauta, esse é o meu campo de conhecimento. Se estou preso neste mundo, quero entender onde estou.

    A sala ficou em silêncio por um momento. Luminor arqueou uma sobrancelha, intrigado.

    — Hah. Ele quer mapear os céus? Interessante.

    — O que exatamente você precisa?

    Kaertien bufou, cruzando os braços.

    — Isso é um desperdício de recursos. Perdemos uma cidade inteira para Clyve—um milhão de vidas! E agora vamos investir em um forasteiro que quer olhar para as estrelas?

    Marco sentiu o peso das palavras, mas não recuou.

    — Eu entendo suas preocupações, mas não estou pedindo ouro ou exércitos. Só preciso de ferramentas para estudar o céu. Posso trazer benefícios para o Império com o que sei. Meu conhecimento pode ser útil para expandir suas fronteiras, entender os céus e até mesmo criar tecnologias. Não sou apenas um forasteiro com um cetro poderoso. Se me derem as ferramentas certas, posso contribuir de verdade.

    Ivoney observou Marco por um longo instante antes de se virar para Lou-reen.

    — Você acredita que isso vale o esforço?

    Lou-reen assentiu.

    — Ele é inteligente. Se diz que pode contribuir, eu acredito. E estarei de olho nele.

    O Imperador sorriu de lado.

    — Então que seja. Lou-reen, você cuidará disso.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota