“Chamando a cavalaria.” 

    A voz de Nova soou nos ouvidos de Marco, mas ele mal conseguia processá-la. Seu corpo estava dormente, a dor do feixe de luz atravessando-o como uma chama fria e inclemente. O ar ao seu redor parecia espesso, e sua visão estava turva. 

    Cinco segundos se passaram. 

    Um estrondo cortou o céu. 

    Lou-reen chegou como um meteoro, seu corpo envolto em um rastro de fogo e vento. Quando pousou na torre da mansão abandonada, o impacto rachou as pedras sob seus pés. Sua espada brilhava em chamas ardentes, iluminando a cena. 

    Os olhos dela analisaram a situação em um instante. Marco caído, ferido. Maera assustada. E, à sua frente, um homem de terno escuro, esguio e elegante, mas claramente perigoso. 

    Antes que pudesse falar, um feixe de luz cortou o ar em sua direção. 

    Lou-reen inclinou a cabeça levemente, desviando sem esforço. A luz passou rente a seu rosto, queimando alguns fios de cabelo que se dissiparam no ar. 

    Ela voltou o olhar para Elucydor, agora completamente focada nele. 

    — Então você é o inimigo. 

    Sem hesitar, ela avançou. 

    O chão estalou sob seus pés com a força da propulsão, e sua espada incandescente cortou Elucydor ao meio em um único golpe. 

    A imagem do assassino se desfez em cristais brilhantes, dispersando-se no ar. 

    — Uma ilusão. — Lou-reen resmungou, sem surpresa. 

    A risada de Elucydor ecoou ao redor da torre, sua voz vinda de todos os lados ao mesmo tempo. 

    — Fascinante. Eu queria enfrentá-la algum dia, mas não achei que teria essa oportunidade tão cedo. 

    Lou-reen estreitou os olhos, girando a espada. O fogo ao seu redor cresceu, iluminando ainda mais a escuridão da torre. 

    — Se queria me enfrentar, deveria ter escolhido uma forma mais digna de chamar minha atenção. 

    — Eu não estou aqui por você, general. Isso é apenas um capricho pessoal. 

    — Que pena. — Lou-reen sorriu de lado. — Eu, por outro lado, vou me divertir. 

    O ar ao redor dela crepitou quando ela bateu a espada contra o chão, liberando uma onda de calor intenso. 

    Um clarão atravessou a névoa de cristais, e Elucydor emergiu da escuridão, atacando com um florete fino de luz pura. Sua velocidade era absurda, mas Lou-reen reagiu no instante certo, aparando o golpe com sua lâmina flamejante. 

    O choque das espadas criou um clarão de faíscas, e a torre inteira tremeu. 

    Elucydor deslizou para trás, sua postura impecável e relaxada. 

    — Impressionante. 

    Lou-reen não respondeu. Ela apenas disparou. 

    O chão rachou quando ela se impulsionou para frente girando a espada em um arco flamejante. Elucydor saltou para trás, o fogo passando rente ao seu peito. Com um estalo, ele desapareceu. 

    Lou-reen girou no ar antecipando o ataque. 

    Ele reapareceu às suas costas, sua lâmina descendo com velocidade mortal. 

    Mas ela já sabia. 

    A espada de Lou-reen subiu como um relâmpago. O impacto foi tão brutal que Elucydor foi lançado para trás, deslizando sobre o chão de pedra. Lou-reen não precisou de um segundo. Ela avançou, sua espada queimando ainda mais forte, pronta para acabar com aquilo. 

    Elucydor sorriu. 

    — Fascinante, mas não o suficiente. 

    Antes que Lou-reen pudesse atingi-lo, seu corpo se dissolveu novamente em cristais — e então, dezenas de cópias dele surgiram ao redor da torre.  

    Cada um idêntico ao outro. Mesma postura elegante. Mesmo olhar calculista. Mesmo sorriso predatório. 

    Lou-reen não hesitou. Sua espada cortou o ar incinerando o primeiro clone que encontrou. Cristais brilhantes se espalharam, mas antes que pudessem tocar o chão, outros dois surgiram. 

    Ela girou, cortando mais três. 

    Cinco tomaram o lugar. 

    Mais e mais cópias de Elucydor apareceram, preenchendo a torre. 

    — Quantos de você eu preciso destruir para acabar com essa farsa? — Lou-reen rosnou, os olhos varrendo o campo de batalha. 

    — Mais do que você pode contar. 

    E então eles atacaram. 

    — Materialização de Essência: Luz Destrutiva. 

    Um clarão preencheu o topo da torre. Feixes de luz cortaram o ar de todos os lados. 

    Lou-reen desviou do primeiro, do segundo, defendeu o terceiro com a espada, dissipando a energia, mas eles não paravam. 

    Ela saltou para trás e um feixe rasgou sua coxa enquanto outro atingiu seu ombro. 

    Mais três disparos vieram ao mesmo tempo. Ela conseguiu bloquear dois, mas o terceiro queimou sua lateral. 

    Os clones continuavam surgindo. Cada vez que destruía um, mais três tomavam o lugar. E todos atacavam ao mesmo tempo. 

    Pela primeira vez, Lou-reen sentiu seu corpo pesar. Suas roupas estavam rasgadas em vários pontos, as queimaduras das rajadas de luz ainda faiscando. 

    Ela cerrou os dentes. 

    Elucydor ainda não havia mostrado seu verdadeiro corpo. 

    Marco pressionou a mão contra o próprio peito, sentindo a dor dos golpes que havia sofrido. Fechou os olhos por um instante e canalizou a essência, concentrando-se na magia de restauração. Uma luz dourada pulsou entre seus dedos, espalhando uma sensação quente e reconfortante por seu corpo. Seus músculos relaxaram, a dor diminuindo gradualmente, mas sua atenção não estava em si mesmo. 

    Seus olhos estavam fixos em Lou-reen. 

    Ela se movia com uma velocidade que ele simplesmente não conseguia acompanhar. Cada passo, cada golpe, cada desvio acontecia em um instante, como se o tempo obedecesse apenas a ela. 

    Ela era um furacão de pura precisão e poder. 

    Ao seu lado, Maera observava a cena em silêncio. Seus lábios entreabertos, os olhos arregalados, mas nenhuma palavra saía. Apenas assistia, atônita, enquanto Lou-reen se tornava um borrão de chamas douradas no campo de batalha. 

    Elucydor e seus clones pararam por um instante, um sorriso zombeteiro surgindo em seus rostos idênticos. 

    — Está cansada, general? — sua voz ecoou em uníssono, carregada de escárnio. — Gostaria de uma pausa? 

    O cheiro de queimado e sangue impregnava o ar. Lou-reen limpou a boca com as costas da mão, o sangue escorrendo de um corte no lábio. Seus olhos dourados ainda brilhavam com determinação enquanto se virava para Marco. 

    — Qual era mesmo o nome daquela coisa que você me falou aquele dia? 

    Marco, ainda ofegante, piscou em confusão. 

    — Nome? 

    — Termo… alguma coisa. — A general estalou o pescoço e rolou os ombros, ignorando os cortes profundos em seus braços. — Eu aprendi a fazer. 

    O coração de Marco disparou. 

    Termobárica? Como assim ela aprendeu a fazer? 

    A voz de Nova soou em sua mente, calma e lógica como sempre: 

    “Previsão do tempo: queda abrupta da pressão e aumento intenso da temperatura. Recomendação: se proteger imediatamente.” 

    Lou-reen olhou para Marco, esperando que ele entendesse. Ele engoliu seco e acenou com a cabeça. Sem hesitar, Lou-reen ergueu a mão e uma parede de fogo rugiu entre ele e Elucydor, ocultando Marco de vista. 

    Marco respirou fundo e concentrou sua essência. 

    — Materialização de Essência: Escudo de Diamante. 

    Uma cúpula brilhante o envolveu junto com Maera, protegendo-os do que estava por vir. 

    Do outro lado das chamas, Lou-reen deu um passo à frente. 

    — Existe uma maga — começou ela, sua voz firme e carregada de respeito. — Uma demônio carmesim que dedicou sua vida a um único feitiço. Ela não recuou, não hesitou e nunca aceitou outra forma de magia. Para ela, não havia meio-termo, apenas o ápice da destruição. 

    Seus olhos brilharam com algo entre admiração e loucura. 

    — O que farei agora é uma homenagem a essa insana e brilhante escolha. Que o céu arda e a terra trema… 

    Elucydor arqueou uma sobrancelha e soltou um riso baixo. 

    — Você está me ameaçando com uma lenda? 

    Lou-reen ignorou. Ergueu a mão. 

    — Materialização de Essência: Runa Termobárica. 

    Uma runa incandescente surgiu à sua frente, traços flamejantes pulsando com poder puro. 

    Elucydor franziu a testa e ergueu a mão. 

    — Solidificação de Essência: Barreira de Luz. 

    Um escudo translúcido se formou entre ele e Lou-reen. 

    A general girou sua espada, dissipando a parede de fogo. Elucydor finalmente viu Marco dentro da esfera de diamante, protegido. 

    Mas já era tarde. 

    A runa de Lou-reen explodiu em uma névoa densa, espalhando-se rapidamente por toda a mansão abandonada. O manto espectral de partículas inflamáveis cobriu cada superfície, infiltrando-se nas rachaduras das paredes antigas, tomando conta de cada espaço. 

    Os clones de Elucydor pararam de se mover por um instante, confusos, analisando a substância ao redor. Um deles soltou uma risada de desdém. 

    — Fumaça não vai te ajudar a vencer. — Tossiu ao inalar a substância densa. — Achei que você fosse mais esperta. 

    Lou-reen simplesmente sussurrou: 

    — Explosão da Megumim. 

    Ela estalou os dedos. 

    A faísca criada pelos dedos de Lou-reen brilhou por um instante antes de desaparecer na névoa densa que impregnava cada canto da mansão abandonada. Houve um segundo de silêncio absoluto, como se o próprio mundo prendesse a respiração. 

    Então, o inferno foi liberado. 

    O ar dentro da névoa saturada de essência inflamável se incendiou instantaneamente, criando uma reação devastadora. A primeira onda de calor expandiu-se com uma força brutal, convertendo toda a mansão em um forno incandescente. As paredes velhas foram arrancadas de suas bases, o teto rachou, e o chão tremeu com a onda de choque inicial. 

    Todos os clones de Elucydor foram instantaneamente engolidos pela explosão. Suas formas, antes perfeitas réplicas, se desintegraram em meio ao fogo e à pressão esmagadora, sem tempo sequer para tentar escapar. 

    Toda a cidade foi banhada pela luz intensa da explosão que iluminou as ruas e edifícios como se fosse dia por um segundo. O som ecoou por toda a região, reverberando nas construções e se espalhando pelos becos e praças, fazendo os vidros tremerem e as paredes se agitarem. 

    Mas essa era apenas a primeira fase. 

    A explosão termobárica não terminava com um único impacto. 

    A pressão atmosférica caiu drasticamente, criando um vácuo sufocante que sugava o oxigênio de tudo ao redor. O ar foi arrancado dos pulmões de Elucydor e logo uma segunda detonação ocorreu—agora intensificada pelo próprio ar sendo sugado de volta. 

    Ele foi engolido pelo inferno de chamas e pressão. Seu terno, antes impecável, queimou em tiras de tecido carbonizado. Seu cabelo foi consumido instantaneamente, e sua pele começou a rachar sob o calor extremo. Mas ele não morreu. 

    Mesmo sendo lançado violentamente contra os escombros da mansão, mesmo com o corpo dilacerado e queimado, ele não gritou. Apenas caiu de joelhos, respirando com dificuldade, seus olhos tendo sido devorados pelas chamas. 

    Lou-reen se manteve firme, ofegante, mas vitoriosa. Seus olhos dourados brilhavam como brasas enquanto observava seu inimigo prostrado diante dela. 

    Marco, dentro da esfera de diamante, sentia seu coração martelar no peito.  Ele engoliu em seco, ainda incapaz de processar totalmente o que acabara de testemunhar. Ele sabia que Lou-reen era forte. Tinha visto suas habilidades inúmeras vezes. Mas aquilo… aquilo era diferente. 

    Seu olhar permaneceu sobre Lou-reen, admirado, como se estivesse vendo algo que nunca poderia alcançar. 

    Ao seu lado, Maera observava Marco, não Lou-reen. E foi naquele instante que compreendeu. 

    Ela não precisava ouvir palavras ou ver gestos. O modo como Marco a olhava dizia tudo. A devoção silenciosa, o respeito, a conexão que ia além do que qualquer um poderia tentar interferir. 

    E ela soube. 

    Não havia espaço para ela ali. 

    Mas quando desviou o olhar para o céu, encontrou algo que fez seu coração doer um pouco menos. O vasto mar de estrelas se estendia acima deles, brilhando indiferente ao que acontecia na terra. E ali, ao lado de Marco, mesmo que não fosse da forma como um dia sonhou, ela ainda poderia compartilhar aquilo com ele. 

    Descobrir. Aprender. Olhar para cima e desvendar os segredos do universo. 

    E isso… 

    Isso era suficiente.

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