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    Auhra desceu.

    Ela baixou o corpo e veio em ângulos pequenos. A mão esquerda quase tocou a pedra, guiando o avanço. A garra direita buscou o flanco da Hamita, perto do antebraço, perto do que ainda era equipamento.

    Hamita deu um passo para trás, mas foi tarde demais e o fogo raspou o antebraço. O couro clareou e virou pó. Um risco fino abriu na pele e o sangue apareceu vivo, mais irritante do que grave.

    Auhra voltou para baixo e já entrou de novo, com as garras subindo para a linha das costelas.

    Hamita embainhou as duas espadas num gesto automático.

    Auhra insistiu numa sequência baixa. Três entradas seguidas, sempre pelo lado, sempre procurando apagar material no caminho. O terceiro ataque subiu do quadril para o peito.

    Hamita entrou na direção dele.

    O ombro dela bateu no centro do tronco da Auhra e a tirou do eixo. A armadura gemeu. Auhra tocou o degrau com a sola e escorregou no pó de pedra que ela mesma tinha criado.

    Um soldado vinha descendo com um ferido atravessado nos braços, o braço do homem pendurado no ombro dele.

    Auhra viu.

    As garras se abriram e o fogo branco soltou uma rajada na direção dele, um jato estreito que cortou o ar sem som. Hamita avançou e arrancou o soldado da linha no braço, puxando o corpo para a lateral antes do impacto. O ferido quase escapou, mas ela segurou junto e empurrou os dois para trás de uma fileira, fora do corredor.

    Auhra já estava em cima dela.

    As garras de fogo branco vieram para o tronco da Hamita, duas mãos, uma por cima, outra por baixo, buscando a linha das costelas.

    Hamita entrou no golpe com o ombro e prendeu um dos pulsos acima do fogo, travando o braço antes da garra ganhar espaço. A chama roçou a luva e comeu um pedaço ali mesmo, só na borda que encostou.

    A outra mão da Hamita bateu no centro do peito da Auhra e empurrou o corpo dela degraus acima, longe de quem descia.

    Hamita rosnou, a voz baixa, presa no dente.

    — Olha pra mim. Se você quer brigar, briga comigo.

    Auhra não respondeu. Ela abriu os dedos e o fogo branco se soltou de novo, uma rajada reta na direção do peito da Hamita.

    Ela saiu da linha no mesmo instante e entrou junto. A chama passou onde ela estaria e ela já estava colada em Auhra.

    O punho afundou no estômago da Multiplicadora, pesado, bem no centro. O ar saiu do corpo de uma vez.

    Hamita não deu distância.

    As duas mãos se juntaram acima da cabeça e desceram juntas nas costas da Auhra, batendo entre as escápulas. A armadura estalou. As pernas cederam e ela desabou estatelada no chão, as garras brancas batendo na pedra sem achar espaço.

    Hamita acompanhou com o corpo.

    Ela deu um passo e saltou por cima. O cotovelo veio apontado para baixo, no meio das costas, e caiu com força, fazendo a arquibancada reclamar sob o impacto.

    Hamita ficou de pé. O peso voltou para as solas, firme.

    Ela olhou para a Auhra e levantou o pé.

    O salto desceu na nuca da Multiplicadora com força. A pedra respondeu na hora. Uma rachadura abriu sob o impacto e correu para o lado, fina e rápida.

    Hamita ergueu o pé de novo e ficou um instante acima do alvo, escolhendo o lugar.

    O segundo golpe veio mais pesado; encontrou a mesma linha e a arquibancada cedeu com um estalo feio.

    O chão sumiu debaixo das duas.

    Poeira subiu e engoliu o fogo branco por um momento. Pedra e banco quebrado caíram juntos, batendo em suporte e parede até o impacto lá embaixo.

    Auhra rolou no entulho e tentou se levantar. O braço tremeu, a mão abriu e fechou no ar. As garras brancas ainda estavam ali, mas o corpo demorou a obedecer.

    Hamita já vinha no meio da poeira.

    Ela atravessou o espaço e passou o braço reto na altura do peito da Auhra, como uma barra. O impacto pegou no meio e a arrancou do lugar. O corpo voou de lado e bateu em pedra quebrada, espalhando mais pó.

    Auhra tentou se erguer de novo, apoiando o joelho.

    Hamita voltou e parou em cima dela, sombra sobre o brilho das garras. Um pé plantado perto da mão da Auhra, fora do alcance do fogo.

    — Levanta.

    Auhra levantou o rosto, os olhos prateados fixos.

    Hamita inclinou a cabeça, sem pressa.

    — Você quis atirar em alguém carregando um soldado ferido.

    Ela deu um passo pequeno para a lateral, mantendo o corpo na frente.

    Hamita não deu tempo para o fôlego da rival voltar. Antes que as garras brancas achassem espaço, a bota desceu sobre a mão direita da Multiplicadora.

    O fogo branco chiou preso entre o couro e a pedra britada. O estalo veio por baixo, seco. Auhra arqueou o corpo e o grito escapou, alto, sem controle. O fogo vacilou nos dedos, perdeu forma e apagou.

    Hamita manteve o pé ali mais um instante.

    — Eu disse pra olhar pra mim.

    Ela tirou a bota e pegou a Auhra pelo pescoço. A mão fechou e levantou o corpo do chão com um braço só. Os pés da Auhra ficaram no ar, batendo no vazio.

    Hamita segurou a rival perto, obrigando os olhos prateados a ficarem na altura dos dela.

    — Agora, desça.

    O braço da Hamita desceu e jogou a Auhra no chão. A pedra vibrou com o impacto e a poeira subiu de novo, pesada. Pedras menores rolaram para o lado e pararam.

    Auhra ficou imóvel no entulho, a mão esmagada perto do peito.

    Hamita permaneceu de pé acima dela, o rosto firme, o peito subindo e descendo no mesmo ritmo de antes.

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