Índice de Capítulo

    Löerg veio primeiro, arrastando Grithin pela gola do uniforme. Parou no centro e largou o elfo, deixando o corpo cair de lado. Grithin não reagiu; o bigode sujo de terra e sangue ficou imóvel, e o peito subia devagar, sem sinal de consciência.

    Pátkos veio atrás, com Koopus atravessado no ombro como um saco. Despejou o general no chão ao lado dele, o impacto fazendo ele soltar um grunhido baixo do peito. Koopus ficou estendido, o machado largado a dois palmos da mão, os olhos fechados e o corpo inerte.

    Cedric completou o trio, empurrando Aamerta pela nuca com a ponta da espada curta. Ela caminhou tropeçando, desarmada, o braço esquerdo pendurado num ângulo que não encaixava direito. A respiração dela veio irregular, mas os olhos piscavam, fixos nos dois no chão.

    Os três Multiplicadores pararam em formação solta, cada um com a arma ainda na mão: florete de Löerg alinhado, espadas curtas de Cedric cruzadas na frente do peito, braços de Pátkos cruzados como barreiras. O barulho da arena ao redor ainda ecoava, mas ali no centro era silêncio quebrado só pela respiração pesada dos caídos.

    O ar estourou ao longe, grosso, como se alguma coisa tivesse batido contra a fortaleza inteira. A arquibancada tremeu sob os pés deles e poeira caiu das juntas de pedra. Um segundo impacto atravessou o horizonte, e um bloco de escombro passou por cima da muralha externa, girando no céu antes de sumir.

    No fundo, uma torre inclinou. A base cedeu. A estrutura desabou em camadas, pedra batendo em pedra até virar nuvem.

    Pátkos soltou o ar pelo nariz, o olhar preso naquela direção.

    — Serana e a princesa.

    Cedric não relaxou a postura.

    — Então onde estão Asora e Auhra? O Cetro não pode ficar solto.

    Löerg girou o florete uma vez, os olhos ainda no horizonte.

    — Auhra não demora. Ela queima tudo rápido.

    Antes que Pátkos respondesse, o som cortou o ar.

    BOOOM!

    Uma seção da arquibancada explodiu para fora, pedra e entulho voando em arco. Algo atravessou o espaço como uma bala de canhão, batendo no centro da arena com força que rachou o piso em linhas finas.

    Poeira subiu em nuvem densa, engolindo o ponto de queda por um instante. Os Multiplicadores recuaram um passo, armas prontas. Grithin piscou, recobrando a consciência e tentando focar através da sujeira no ar.

    A nuvem assentou devagar, revelando o corpo cravado na pedra quebrada.

    Ela estava de bruços, o uniforme rasgado nas costas, braços estendidos como se tivesse tentado amortecer a queda. As garras brancas ainda piscavam nos dedos, mas fraco, irregular. O peito subia e descia, mas o rosto virado para o lado tinha os olhos semicerrados, lutando para não fechar de vez.

    Pátkos deu um passo à frente, os punhos se abrindo.

    — Auhra.

    Ela tentou mexer o braço, mas o ombro reclamou e o movimento parou no meio. Um gemido baixo escapou, e o fogo branco nos dedos vacilou, quase apagando.

    Löerg olhou para o buraco na arquibancada, o florete apontando para cima.

    — Quem fez isso?

    A resposta veio do alto.

    Hamita despencou da borda quebrada, o corpo inteiro no ar, pernas estendidas para baixo como pistões. A queda foi reta, calculada, sem giro extra. As solas das botas bateram no centro das costas de Auhra com o peso total da general, o impacto ecoando como martelada em bigorna.

    A pedra ao redor rachou em estrela, linhas se abrindo para os lados e soltando pó. Auhra arqueou por baixo, o ar escapando num som abafado, e o corpo dela afundou mais um palmo no piso. As garras brancas se apagaram de vez, os dedos se abrindo inertes.

    Hamita rolou para o lado no mesmo instante, ficando de pé num movimento fluido. A armadura dela tinha marcas frescas: couro queimado no antebraço, placa arranhada no peito, mas o corpo se movia inteiro, sem hesitar.

    Ela deu dois passos e pegou Auhra pelo uniforme na altura da cintura, os dedos cravando no tecido. Levantou o corpo da Multiplicadora com um braço só, trazendo o rosto dela para a altura do próprio.

    Auhra piscou, tentando focar, o fogo branco piscando de novo nos dedos, mas fraco.

    Hamita travou o olhar nela, o rosto perto o suficiente para o hálito bater.

    — Você não me ouviu?

    Auhra tentou mexer a mão, as garras ganhando forma por um instante, mas Hamita não esperou. Apertou a pegada na cintura e girou o corpo inteiro, encaixando Auhra alta nos ombros como se fosse um fardo. O peso da Multiplicadora desceu, mas Hamita firmou as pernas e segurou firme, os músculos do braço e das costas travando no lugar.

    Então despencou.

    Caiu para trás com o peso todo, guiando a queda para bater as costas de Auhra no chão primeiro. O impacto veio seco, o corpo da Multiplicadora batendo na pedra com força que estalou algo por dentro. Poeira subiu de novo, e o uniforme rasgou mais na lateral.

    Hamita rolou para fora no mesmo movimento, ficando de pé por cima dela. Auhra ficou estendida, o peito subindo devagar, os olhos vidrados no céu. As garras piscaram uma última vez e se foram, deixando só dedos normais, trêmulos.

    Hamita manteve o punho cerrado ao lado do corpo, a aura dourada vibrando ao redor dela como calor de forja. O ar pareceu engrossar, e a luz da arena refletiu no brilho, fazendo as marcas na armadura parecerem mais fundas.

    — Eu sou a muralha de Taeris!

    Hamita ficou ali, de pé sobre Auhra, o punho ainda fechado. Os olhos dela queimavam, acesos de fúria que não se apagava com o impacto. Virou-se para o campo de batalha em ruínas.

    — Me mandem outro. — disse, cuspindo no chão. — Essa tá mole demais!

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