Capítulo 393 - Encarando um Inimigo
Enquanto Abel continuava conversando com Rawl, percebeu como as lojas por ali eram escassas. Era realmente estranho de se ver. Se todas aquelas raças diferentes viviam juntas, como os habitantes locais conseguiam suas necessidades diárias?
“Por que tem tão poucas lojas por aqui, Rawl?” Abel virou a cabeça e perguntou.
Rawl respondeu: “Você não deve ter visitado muitas cidades anãs, não é, Mestre Abel? Veja bem, a cidade que você está vendo é só a superfície. A verdadeira riqueza e beleza estão no ventre da montanha. O que você vê aqui é só para humanos e elfos. Só um punhado de anões vive na superfície; a maioria, segundo seus costumes tradicionais, vive lá embaixo.”
Depois de dar a explicação, Rawl fez uma pose exagerada apontando para a estrada à frente. Queria dizer que o subterrâneo era vasto.. bem vasto mesmo.
Quando continuaram um pouco mais, Rawl começou a apontar para o topo da montanha.
“Aquele ali é o quartel-general da União dos Ferreiros. Bonito, não é?” disse Rawl a Abel.
No topo da montanha havia um grande castelo negro, com uma estátua no ponto mais alto. Embora Abel nunca tivesse estado lá antes, sabia quem a estátua representava. Era Greygenni, o deus anão da mineração e da forja. Segundo os mitos, Greygenni foi a primeira criatura a minerar minerais e transformá-los em ferramentas úteis. Ele ensinou essas técnicas aos anões, o que os ajudou a sobreviver e se defender dos inimigos.
“Espera,” disse Abel, surpreso ao se aproximar do enorme edifício, “Isso tudo é feito de hematita negra?”
Rawl sorriu satisfeito e respondeu: “Essa é a mesma expressão que incontáveis visitantes tiveram ao conhecer o lugar, Mestre Abel. Sim, tudo aqui é feito dos minerais de hematita negra mais finamente selecionados. O edifício inteiro é construído com esse material.”
Rawl continuou explicando: “Mas não foi assim que começou. O prédio todo começou apenas com a estátua no topo. Você sabe, os anões têm uma prática tradicional muito especial: quando encontram um pedaço de hematita negra de qualidade excepcional, eles o oferecem ao grande Greygenni. Com o tempo, os pedaços de hematita foram se acumulando tanto que acabou sobrando material suficiente para construir um castelo inteiro.”
“Oh, não!” Abel exclamou, “Por que não me falou disso antes? Eu não trouxe nenhum pedaço de hematita negra comigo!”
Rawl entregou a Abel um minério preto puro e disse: “Desculpe, Mestre Abel, mas a prática das oferendas é só cerimonial. Os anões não forçam isso em outras raças. Se você ainda quiser fazer uma oferenda, pode levar isto. O Mestre Thorin preparou para você. Ele sabe o quanto você respeita outras culturas, então pediu para eu lhe entregar, caso queira prestar homenagem.”
“Ah, muito obrigado,” Abel pegou rapidamente o pedaço de minério. Mesmo sabendo que era uma gentileza do Mestre Thorin, agradeceu a Rawl por entregar.
Ao mesmo tempo, sentiu um olhar cheio de ódio vindo da entrada do quartel-general da União dos Ferreiros. Não foi só Abel que percebeu; Bartoli também sentiu a presença e apertou firme seu cajado mágico. Para acalmá-la, Abel acenou com a mão.
O dono daquele olhar era um mago humano. Pela veste vermelha que usava, Abel já sabia o motivo daquele desprezo. Havia dois distintivos em seu robe: um indicava que ele era um mago novato, o outro era familiar para Abel, o crachá da Agência de Inteligência Mágica do Reino de St. Ellis, organização praticamente comandada pelo próprio Wizard Cliff.
“Você não devia aparecer em público, Abel!” disse o mago de capa vermelha com um sorriso frio.
“Cuidado com a boca quando falar com o meu mestre, seu demônio!” Bartoli não se conteve e gritou alto.
O mago de capa vermelha foi pego de surpresa pelo ataque verbal. Poucas vezes era repreendido por seu status. Seu robe era feito com o sangue de inúmeros nobres, cavaleiros e magos, e não aceitaria tamanha insolência.
Apesar da Cidade Cina ser uma “cidade pacifista”, ainda permitia que magos brigassem com suas técnicas de imposição de pressão. Essas técnicas eram difíceis de detectar e, se a diferença de nível não fosse grande, dificilmente causavam danos sérios.
Isso deu ao mago de capa vermelha motivo suficiente para atacar Abel e Bartoli. Mesmo que Rawl não tivesse nada a ver com isso, ele também foi afetado pelo ataque repentino.
Como Rawl não era mago, Abel teve que ser rápido para protegê-lo. Caso contrário, o pobre homem poderia ficar um mês em coma.
Enquanto isso, uma luz dourado-escura começou a piscar nos olhos de Bartoli. Uma imposição de pressão única surgiu dela. Diferente da pressão de um mago, essa emanava intenção assassina e outras coisas assustadoras, adquiridas após anos de derramamento de sangue. Ela tinha sido concedida pela escuridão do submundo.
Quando as duas forças se chocaram, o mago de capa vermelha deu um salto para trás, tomado por um medo instintivo. Não sabia o motivo, mas parecia estar encarando algo verdadeiramente aterrorizante. No instante seguinte, seus olhos estavam arregalados e ele caído no chão.
Uma luz branca começou a envolver o mago. Quando finalmente se recuperou do choque, lançou um olhar cheio de ódio para Abel. Não entendia o que havia acontecido, mas Abel acabou de fazê-lo gastar um item defensivo passivo. A luta nem tinha começado e ele já estava usando um artefato de uma vez na vida.
O mago de capa vermelha começou a xingar Abel:
“Você vai se arrepender disso, Abel! Só espere! A força de inteligência vai se vingar! Eu…”
Apesar do medo que sentia de Bartoli, ao concentrar todo seu ódio em Abel, aqueles olhos afiados continuaram fixos nele.
“Ei, onde eu estou?” Rawl se levantou ao acordar. “Obrigado, Mestre Abel, pelo que quer que tenha feito para me proteger.”
Abel sorriu para Rawl: “Não precisa agradecer, Rawl. Na verdade, acho que quem deve pedir desculpas sou eu. Eu acabei te envolvendo nisso.”
Abel voltou-se para o mago de capa vermelha. Para ser honesto, ele já teria matado aquele cara se não fosse uma cidade pacifista. Um mago novato não era nada para ele no seu nível atual. Ele nem precisaria das criaturas que invoca para enfrentá-lo. Droga! Se não fosse por essas restrições, eu já teria acabado com esse problema de vez.
Abel perguntou a Rawl: “Podemos expulsá-lo pelo que ele fez?”
“Não cabe a mim decidir, senhor, mas posso denunciar aos superiores!” respondeu Rawl, visivelmente irritado pelo ataque. Sem hesitar, tirou seu crachá para fazer a ligação.
Quando Rawl terminou a ligação, uma luz branca brilhou ao seu lado e apareceu um mago de capa preta. Depois de se curvar para Abel, virou-se para Rawl e pediu que ele explicasse tudo o que havia acontecido.
O mago de capa preta então falou para o mago de capa vermelha:
“Vou pedir para que o senhor deixe a cidade Cina para sempre. Por favor, não volte mais. Você não é bem-vindo aqui.”
Isso deixou o mago de capa vermelha furioso. Ele não veio a Cina para brincadeiras. Veio para encomendar um cajado mágico com um ferreiro. Os mestres ferreiros não estavam sempre disponíveis, então ele esperava o evento da reunião para resolver isso.
O mago de capa vermelha gritou, frustrado por todos os seus planos terem ido por água abaixo:
“Não! Ah! AGHHGH! Eu sou o representante do Mestre Cliff! Ninguém pode me expulsar! Nunca!”
O mago de capa preta respondeu com um sorriso de desprezo:
“Ah, é? Então está dizendo que deveríamos colocar o Mago Cliff na nossa lista negra também?”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.