Capítulo 402 - Projeto
Hoover já havia partido. Nem chegou a ficar até o fim do evento dos mestres ferreiros.
Por mais calmo que Abel parecesse por fora, por dentro, ele estava fervendo. Não havia se tornado barão por trapaça. Arriscou a própria vida inúmeras vezes para isso. Lutou contra os orcs. Perdeu homens. Enfrentou tudo aquilo, e, no fim, teve todas as suas recompensas tomadas.
É claro que ele sabia que aquela “operação” não partira de Liandre George. Por mais tolo que fosse aquele rei, jamais se voltaria contra um mago, e ainda por cima grão-mestre ferreiro como ele, especialmente considerando os laços que Abel tinha com diversas figuras influentes por todo o Continente Sagrado.
Não conseguia tirar da cabeça os magos de manto vermelho que viu antes. Um deles era subordinado do Mago Cliff, e foi só ele ser expulso da Cidade Cina para que tudo começasse a desandar. Aquilo não podia ser coincidência..
Será que me contive demais? É isso que ganho por seguir demais as regras? Essas eram as perguntas que martelavam em sua mente. Uma coisa era o país inteiro se virar contra ele; outra, muito pior, era ver sua família, amigos e pessoas que confiavam nele sendo forçados a viver como refugiados no Ducado Camelot. Isso ele não podia tolerar.
Conflitos entre magos jamais deveriam atingir aqueles ao seu redor. Era uma regra não escrita, em vigor desde os primórdios das sociedades. Se a vingança passasse a recair sobre as famílias dos magos, a civilização humana no Continente Sagrado já teria desmoronado há muito tempo.
Devido ao que aconteceu no Ducado, o evento dos mestres ferreiros precisou ser encerrado antes do previsto. Antes, todos estavam animados, conversando em clima amistoso. Agora, esse bom humor havia sido substituído por uma forte insatisfação com a nobreza do ducado.
Logo, à medida que os rumores se espalhavam, tornou-se evidente que o Mago Cliff era o verdadeiro responsável por tudo o que estava acontecendo com Abel.
“Tenho algo importante pra te contar, Mestre Robin,” disse Abel, ao visitar a residência dele. “Preciso partir agora. É algo que eu mesmo tenho que resolver.”
Mestre Robin respondeu, aflito: “Tenha cuidado lá fora, Grão-Mestre Abel! Magos avançados são perigosíssimos. Não deixe a raiva te dominar.”
“É, sobre isso…” Um sorriso frio surgiu no canto da boca de Abel. “Pode confiar em mim. Nunca faço nada sem ter certeza do que estou fazendo.”
Mestre Robin olhou ao redor e murmurou: “Se você realmente quiser matar o Cliff, me avise. Talvez eu não seja lá grande coisa, mas posso tentar chamar um mago anão avançado. O Mago Cliff é nível 16, eles cobram caro, mas com certeza tem alguém disposto a aceitar o trabalho.”
Abel não esperava ouvir isso da boca de Mestre Robin. Não fazia ideia de quanto custaria contratar um mago anão de nível avançado, mas tinha certeza de que isso poderia desencadear um conflito aberto entre humanos e anões, algo que ele definitivamente não queria ver acontecer.
Mais importante ainda: magos avançados estavam entre os alvos mais difíceis de eliminar em todo o Continente Sagrado. Diziam até que eram imortais, e que seus “movimentos instantâneos” os protegiam de qualquer perigo. Assim como o Vento Negro, podiam usar o poder da eletricidade para escapar de ataques em um piscar de olhos.
Ainda assim, Abel valorizou a oferta: “Não se preocupe com isso, Mestre Robin. Se eu for atrás do Cliff, você será o primeiro a saber.”
Mestre Robin assentiu:“Fico feliz que entenda. Lembre-se: você é um grão-mestre ferreiro. Já conquistou mais do que qualquer um de nós, vivos ou não. Se quiser se vingar de Cliff, vai ter muitas chances no futuro.”
“Pode deixar, vou lembrar disso,” respondeu Abel, entregando o cajado mágico de fogo negro a Mestre Robin. “Fique com ele por enquanto, Mestre Robin. Agora que sou um homem procurado, é melhor que esse cajado fique em suas mãos. Considere isso como uma contribuição minha para todos os membros da União dos Ferreiros.”
As mãos de Mestre Robin começaram a tremer ao receber o cajado. O que Abel acabou de fazer era simplesmente extraordinário. Agora que o cajado mágico de fogo negro estava disponível para estudo, seria possível aprender e replicar as técnicas usadas em sua criação. Mais especificamente, aprenderiam como criar cajados mágicos conectando-os a fontes de energia externas.
Mestre Robin respondeu com respeito: “Muito obrigado por isso, Grão-Mestre Abel. Pode ter certeza de que, sejam humanos, anões, elfos ou qualquer outra raça, agora que estou com esse cajado em mãos, todos terão a mesma oportunidade de aprender.”
Após se despedir de Mestre Robin, Abel foi até o círculo de comunicação. Entrou em contato com o responsável e pediu para falar com Bernie, da Família Goff.
A União dos Ferreiros foi rápida. Logo descobriram em qual cidade Bernie estava e redirecionaram a chamada da filial local direto para ele.
“Grão-Mestre Abel! Não esperava receber sua ligação tão rápido depois de você se tornar grão-mestre, mas muito obrigado!”
Por mais que Bernie tentasse soar casual, o status atual de Abel deixava seu tom um pouco tenso.
Abel não se importou. Para ele, nada havia mudado de verdade.
“Bernie, preciso te pedir algo. Vou direto ao ponto. Não quero que ninguém de fora ouça isso.”
“Oh, tudo bem! Confesso que imaginei que você mudaria agora que virou grão-mestre, mas é bom ver que continua o mesmo. Então, o que você precisa?”
“Preciso que sua família faça um conjunto especial de itens para mim. Onde você está? Vou me teletransportar até aí agora.”
“Sim, claro! Estou na Cidade Guardiã da Lua. Você sabe onde me encontrar.”
Com Nuvem Branca e Flying já guardados no anel de feras dimensionais, Abel montou em Vento Negro e voltou à sede da União dos Ferreiros. Lá, usou o círculo de teleporte principal do prédio e se teleportou diretamente para a Cidade Guardiã da Lua.
Ao chegar, viu que Bernie já o aguardava. O Lorde Ivan também estava presente, e, para um governante, parecia bastante humilde.
Abel entregou a Bernie uma ilustração e disse: “Bernie, este é o projeto do que preciso. Preciso de uma grande quantidade desse tipo de ferro, dez mil libras, para ser exato. Você precisa me fornecer todo esse material.”
Bernie pegou o papel e deu uma olhada. O desenho era bem simples. Uma esfera do tamanho de um punho, com várias superfícies planas. Fora isso, nada chamava muito a atenção.
Bernie perguntou: “Você precisa disso pra agora, ou…?”
Abel não entrou em detalhes: “Sim, o quanto antes. Vou esperar por elas aqui na Cidade Guardiã da Lua.”
Dez mil libras. Definitivamente, não era pouca coisa. Será que os anões dariam conta de uma demanda tão grande? Bem, bastava olhar para o número de ferreiros anões existentes.
Por instinto, a maioria dos anões sonhava em ser ferreiro desde criança. E, uma vez nesse caminho, o número de ferreiros anões era tão grande que sequer se conseguia calcular.
Felizmente, muitos deles tinham ligação direta com a Família Goff. Assim que o pedido foi repassado, todos deixaram de lado seus trabalhos atuais para começar a produzir aquele tipo estranho de esfera de ferro com múltiplas faces.
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