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    Quando Abel ativou seu feitiço de Campo Paralizante, Johnson nem se deu ao trabalho de usar as esferas de múltiplas faces. Pelo que entendia, aquele feitiço era praticamente inofensivo, e estava certo. O campo desapareceu rapidamente assim que entrou em contato com Johnson. Ele sequer sentiu alguma coisa, muito menos sofreu qualquer dano.

    Aquilo bastava como teste. Abel guardou Johnson de volta no anel de armazenamento, então pegou a bolsa espiritual que Flying havia conseguido para ele. Claro que não esqueceu de dar a Flying sua recompensa: uma garrafa extra de poção nutritiva, com sabor reforçado de carne de coelho uivante azul.

    Ao olhar dentro da bolsa, Abel percebeu o quão desorganizado era seu antigo dono. Havia até itens de uso diário ali, algo incomum para a maioria dos magos, considerando o quão pequenas as bolsas costumavam ser.

    Abel balançou a cabeça diante daquilo. Não havia muita coisa que fosse valiosa para ele, então jogou a maior parte no fogo do inferno. Não é que quisesse transformar o Acampamento dos Ladinos em um depósito de lixo, mas jogar no fogo tudo que não servia era uma forma bastante prática de organizar as coisas.

    O único item que chamou sua atenção foi um cajado mágico com o feitiço “nevasca de gelo” gravado. Aparentemente, o feitiço podia ser usado três vezes por dia, e todas as ativações podiam ser feitas de imediato, sem a necessidade de entoar os encantamentos. Também havia alguns padrões de runa e gemas mágicas, mas ele não tinha muito uso para aquilo.

    Abel vasculhou mais a fundo na bolsa. Percebeu que havia uma caixa com algo dentro: um cajado mágico vazio e uma bola de cristal. Era exatamente isso que estava procurando quando decidiu matar o mago de manto vermelho.

    Ao pegar a bola de cristal, Abel viu uma fera espiritual negra uivando em seu interior. Ele não fazia ideia de que tipo de criatura era aquela. Fora os seres espirituais mais comuns, não conhecia muito da biologia das demais espécies. Mesmo assim, tirou um pergaminho e começou a esboçar a fera negra da melhor forma possível. Quando terminou, guardou a bola de cristal em sua bolsa espiritual.

    Quanto ao bastão mágico vazio, não havia nada de especial nele, exceto por ser mais novo que o que Abel pegara do mago caído. Só de olhar, dava para notar que era feito com materiais recém-preparados. Por isso, ele decidiu guardá-lo dentro do bracelete de armazenamento.

    Em seguida, deixou o mundo sombrio e voltou para o jardim do Lorde Ivan. Àquela altura, todas as dez mil esferas metálicas haviam desaparecido. No entanto, devido à quantidade, todas as flores e árvores que ficavam ali tinham sido praticamente dizimadas.

    “Abel! Finalmente você saiu!” Bernie correu até ele. “Onde colocou todas aquelas esferas metálicas?”

    Abel afastou Bernie, que se aproximara demais. “Bom te ver, Bernie. Sobre isso, será que posso usar a fornalha aqui primeiro? Te conto o que fiz depois que terminar uma coisa.”

    “Oh! Claro, claro. Bem, se for forjar algum equipamento novo, se incomodaria se… hm, deixasse alguns dos meus colegas observarem? Considere como uma recompensa por terem feito as esferas metálicas pra você.”

    Bernie não pedia aquilo por si mesmo. Embora sua família o elogiasse por ajudar Abel, os outros ferreiros que trabalharam nas esferas não deixariam Abel sair de mãos vazias. Por mais que fosse um grão-mestre, não podia simplesmente mandar os outros trabalharem de graça.

    Abel, no entanto, mudou de assunto: “Ei, Bernie, posso te perguntar uma coisa?”

    “Claro, o que você quer saber?”

    “É sobre algo pelo qual os anões são famosos. Eu sei que conseguem construir balistas maiores do que aquelas usadas para defender fortalezas. Você acha que tem como eu conseguir uma dessas?”

    “Ah, então é disso que se trata!” Bernie apontou o dedo para Abel. “Você está falando daquelas balistas em escala real, não é? Usamos para atingir montarias voadoras a grande altitude. São extremamente difíceis de construir, sabia? Leva cerca de dez anos só para reunir todas as peças. Até agora, só existem três em toda a Cidade Guardiã da Lua..”

    Por mais relutante que parecesse, Bernie sabia que Abel concordara em deixar os outros observarem seu trabalho. Não era exatamente a troca mais vantajosa, mas toda oportunidade de assistir a um grão-mestre ferreiro em ação era extremamente valorizada.

    Abel sorriu. Bernie acabou de lhe dar uma explicação completa sobre a balista gigante, ele sabia que o anão não estava realmente bravo.

    Bernie ergueu os braços no ar. “Certo, certo! Mas só desta vez, entendeu? Agora, me diz: por que você precisa de uma balista desse porte? Como pretende usá-la? É muito maior do que qualquer uma que já tenha visto.”

    E ele não estava brincando. A balista gigante tinha cerca de cinco metros de largura quando completamente montada. Sem o espaço adequado, seria impossível usá-la contra os inimigos. Além disso, era extremamente difícil de puxar. Devido à força absurda de recuo da corda, cada parte era feita de metal.

    Abel ainda assim não respondeu. Preferiu mudar novamente de assunto: “Aliás, Bernie, preciso da sua ajuda com uma coisa. Reconhece essa fera espiritual?”

    Bernie respondeu assim que viu o esboço no pergaminho de Abel: “Sim. É uma besta uivante de raio, com certeza. Se você estiver pensando em lutar contra uma dessas, melhor desistir. É uma fera espiritual de raio de nível elevado. Uma só é suficiente pra dizimar um exército inteiro. Até magos avançados têm dificuldade pra enfrentá-la.”

    “Oh, sério? Isso é bem impressionante,” respondeu Abel. Ele não sabia como o Mago Cliff havia conseguido a alma de uma besta uivante de raio, mas agora aquilo estava em sua posse.

    Depois da conversa, Bernie ordenou que os outros preparassem uma oficina para Abel usar. E quando tudo ficou pronto, alguns ferreiros de sua família apareceram para assistir. Todo o processo levou cerca de meio dia e, durante esse tempo, uma das balistas gigantes foi entregue ao local. Junto dela, vieram dez flechas gigantes.

    Abel apontou para uma fornalha enorme. “Então, esse é o lugar que prepararam pra mim.”

    Bernie levantou o nariz com orgulho. “É. Impressionante, não é? É grande, tem todos os materiais que você precisa. E o melhor: como o lugar é meu, você não vai pagar nada por isso.”

    Abel balançou a cabeça e sorriu. “Belo espírito de comerciante, hein. Tudo bem, meu amigo. Quando terminar, vou fazer uma espada grande de cavaleiro pra você. Mas antes disso, vou precisar de mais do que uma fornalha. Quero dez. Aí sim, posso começar.”

    “Pode deixar!” Bernie deu uma risada. “Mas não me venha com uma espada qualquer, entendeu? Quero uma daquelas fodonas com magia. Assim vou poder exibir pra todo mundo que conheço.”

    Abel olhou em volta. “Tudo bem, combinado. Hora de começar. Melhor avisar seus colegas pra chegarem mais perto. Não gosto de ser observado de longe.”

    “Já estão vindo!” Bernie sorriu.

    Logo, um grupo de anões começou a entrar. Não demorou para que preenchessem toda a oficina.

    “O quê…”

    Abel não esperava que fossem tantos. Imaginava uma dúzia de espectadores, não quase uma centena.

    “Por favor, Grão-Mestre Abel, comece quando estiver pronto,” disse Bernie. Como os outros estavam presentes, ele evitava chamar Abel pelo nome diretamente.

    “Certo, vou começar agora,” disse Abel. Ele se sentia meio enganado por ter tanta gente olhando, mas, para ser justo, Bernie já o havia ajudado bastante, então não se importava tanto assim.

    Assim que lançou ferro hematita dentro da fornalha, Abel tirou de seu bracelete o martelo de 700 libras que havia usado na conferência. Depois disso, mostrou aos demais sua famosa técnica de “uma forja para cada golpe”.

    Alguns ainda duvidavam, mas, ao verem Abel em ação, o silêncio tomou conta da multidão. Mesmo que não conseguissem imitar o que ele fazia, apenas observar já os fazia aprender mais do que quem nunca testemunhara aquilo.

    Em trinta minutos, ele havia forjado uma espada gigante de cavaleiro. Para finalizar, fez furos em ambos os lados do punho. Usava a técnica tradicional do Continente Sagrado, não a que aprendera no mundo sombrio.

    Em seguida veio a runa. Com sua Pincel rúnica, Abel desenhou os dois lados do padrão em apenas quarenta segundos. Depois, pegou duas gemas azuis perfeitas e as encaixou nos furos da espada. Acabava de criar uma espada mágica de gelo com runa dupla.

    Normalmente, uma espada mágica de gelo só teria espaço para uma runa em um dos lados, mas como Abel conseguia alcançar uma base com 300 forjas com seu martelo superpesado, o metal que usava era praticamente transformado em ferro refinado.

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