Capítulo 429 - Razão

Quando Abel retornou do Mundo das Trevas, Bartoli lhe trouxe um relatório.

“Recebi uma mensagem do Mestre Joyce. O mensageiro dele veio dizer que o mago de elite Nigel designou uma missão exclusivamente para o senhor! Aparentemente, ele está disposto a pagar muitos pontos por isso.”

“O que ele quer que eu faça?”

A primeira coisa que veio à mente de Abel foi a missão de forja de 5.000 pontos que ele tinha visto no prédio da União dos Magos. Mas isso parecia um pouco diferente do que estava ouvindo agora. Naquele missão, alguém queria que ele forjasse um cajado mágico. Embora um cajado não fosse algo caríssimo, o comprador normalmente precisava pagar de outras formas além de moedas. Para ser mais específico, o criador do cajado poderia ser recompensado com favores especiais em determinados lugares ou então ganharia prestígio por ter se tornado o “auxiliar” de alguma figura importante.

Isso aqui parecia muito mais simples, na verdade. Quem quer que tivesse emitido essa missão certamente sabia das circunstâncias atuais de Abel. Não apenas sabia que ele estava na cidade Liante, como provavelmente também tinha ouvido falar de que ele não tinha muitos pontos para gastar. Além disso, devia ter tomado conhecimento de que Abel estava proibido de fazer compras por causa de seu conflito com a filial da União dos Magos de St. Ellis.

E a parte mais estranha era a sincronia. Abel tinha acabado de ser promovido a mago oficial. Ou seja, ter sua própria torre mágica agora era prioridade. Esse trabalho, seja lá o que fosse, parecia conveniente demais justamente nesse momento.

“Mestre, o mago de elite Nigel ofereceu 6.000 pontos. Isso, claro, se o senhor aceitar forjar um cajado mágico para ele”, disse Bartoli com um sorriso.

Abel balançou a cabeça:

“Então é ele quem está tentando me contratar. Eu até aceitaria se viesse pedir pessoalmente, mas da forma como está fazendo… Não acha que é um tanto desonesto?”

Bartoli concordou: “De fato. Todos sabemos como é difícil confeccionar um cajado para magos avançados. Agora que ele aumentou a recompensa em mais 1.000 pontos, a situação ficou ainda mais suspeita.”

Ela fitou Abel nos olhos:

“Mestre, perdoe minha franqueza, mas acredito que ele esteja tentando se aproveitar do senhor.”

Naquele mesmo momento, o Mago Lorenzo conversava com o Mago Nigel.

O Mago Lorenzo conferiu o quadro de missões:

“Ei, você acabou de aumentar a recompensa em 1.000 pontos?”

O Mago Nigel suspirou e respondeu: “Imaginei que o Grão-Mestre Abel não estivesse interessado, sabe… por causa de quão baixa foi minha oferta inicial.”

Nigel era um mago de elite. Mesmo assim, aqueles pontos que estava oferecendo tinham sido conquistados com muito esforço. Era assim que funcionava em Liante: pontos só podiam ser obtidos através de trabalho. Era praticamente uma sociedade que levava a meritocracia ao extremo. Por isso, aumentar o preço lhe causava uma dor considerável.

Lorenzo sugeriu: “Já falamos sobre isso antes, mas por que não vai pedir diretamente ao Grão-Mestre Abel? Talvez fosse mais fácil se fosse pessoalmente.”

Nigel sacudiu a cabeça: “Não, acho que não daria certo. Existe a chance de eu ser arrastado para águas muito, muito profundas, entende o que quero dizer?”

“Falando claramente: não quero ter nada a ver com a filial da União dos Magos de St. Ellis. Eles estão um verdadeiro caos agora… e, além disso, o jeito como o Mago Cliff foi assassinado outro dia. Não estou sugerindo nenhuma conspiração, mas muita gente suspeita do Grão-Mestre Abel, sabia? Se eu for encontrá-lo pessoalmente, não há como prever o que ele pode tentar me fazer.”

Lorenzo assentiu em concordância: “Verdade, verdade. Eu também não arriscaria me envolver.”

Nigel continuou: “Eu tentei tanto alcançá-lo, sabe? Depois de publicar a missão na União dos Magos, fui ao ponto de colar o mesmo cartaz na União dos Ferreiros. E também contatei o Mestre Joyce. Agora que ele chegou até a residência do Grão-Mestre Abel, só espero que perceba minha intenção.”

O raciocínio de Nigel era simples: queria fazer negócios com Abel, mas não queria ser envolvido em escândalos. Por isso decidiu permanecer anônimo o tempo todo. Não estava preocupado com polidez, mas sim com segurança, acima de tudo.

Havia apenas algo que não considerou. Assim que sua oferta de trabalho foi enviada à União dos Ferreiros, a notícia chegou imediatamente a Abel. Ele tinha acesso a todas as informações de que precisava, e foi por isso que se sentiu tão ofendido com essa proposta.

Agora o preço do cajado havia subido em 1.000 pontos. Para um verdadeiro especialista como Abel, essa oferta mesquinha parecia apenas um insulto à sua arte. Para ele, era como se a pessoa tentasse enganá-lo, supondo que ele não tivesse noção do mercado atual. Além disso, esse indivíduo permanecia no anonimato enquanto espalhava pedidos em todos os lugares que Abel frequentava.

Para colocar em perspectiva: Abel era um dos apenas quatro grão-mestres ferreiros em todo o Continente Sagrado. Os outros três eram anões, o que fazia dele o único grão-mestre disponível para negócios fora das tribos anãs. Se esses quatro fossem excluídos, praticamente ninguém poderia ajudar a forjar um cajado para um mago de elite.

Não apenas era incrivelmente difícil forjar um cajado desse nível, como também muito caro, especialmente pelo material essencial: a alma de uma besta espiritual de alto nível, algo rara. Essas criaturas geralmente se escondiam nas profundezas da Cordilheira de Buda ou na Floresta de Duas Luas. A dificuldade de caçá-las era tamanha que nem valia a pena detalhar.

E mesmo que conseguissem capturá-las, ainda havia a tarefa de extrair os materiais sem danificá-los. No passado, quando só existiam três grão-mestres ferreiros anões, os preços jamais eram “negociados” ou “oferecidos”. Eram eles, os forjadores, quem decidiam o pagamento. Eram eles quem definiam o valor. Desde o início, também eram eles quem determinavam se aceitariam ou não o trabalho.

Não se tratava de orgulho. Se Abel aceitasse o pedido do Mago Nigel, estaria violando os acordos estabelecidos entre os outros grão-mestres ferreiros.

Em outras palavras, Abel já havia colocado Nigel em sua lista negra de clientes indesejados.

Com um sorriso irônico, Abel disse:

“Bartoli, eu realmente gostei daquela sua ideia do restaurante. Na verdade, que tal sairmos para procurar um lugar e abrirmos nosso próprio estabelecimento? Pelo que vejo, seria muito melhor do que ajudar o senhor Nigel.”

“Obrigada, mestre”, respondeu Bartoli com uma reverência obediente. Para ela, era uma grande honra ver seu mestre considerar suas sugestões.

“Hm, mas antes disso, acho que não devo deixar o cavaleiro guardião espiritual aqui.”

Bartoli, mais uma vez, ofereceu um ótimo conselho:

“Sobre isso, mestre, talvez não seja a melhor ideia deixar o cavaleiro guardião espiritual cozinhar aqui. Se quiser ter alguém como seu cozinheiro sem correr o risco da receita vazar, pode fazer seus empregados assinarem um contrato. É um método que acabei de recordar.”

“Além disso, não vamos desperdiçar o treinamento do cavaleiro guardião espiritual. Talvez não seja ideal que cozinhe aqui, mas ele pode cuidar disso quando o senhor estiver no Mundo das Trevas. Agora que tenho minhas próprias tarefas neste mundo, será mais difícil acompanhá-lo em suas missões.”

“Um contrato? Você recuperou parte da sua memória?” Abel perguntou surpreso.

Bartoli explicou:

“Sim, mestre. Durante todo esse tempo, venho organizando lentamente minhas memórias dos últimos milhares de anos. Não significa que as recuperei por completo, mas parte delas está começando a retornar.”

Abel assentiu: “Um contrato, hmm. Excelente ideia! Deixarei isso por sua conta, então.”

O plano do restaurante começava realmente a tomar forma. Com a essência de coelho, eles poderiam facilmente superar qualquer outro estabelecimento da cidade Liante. Era algo muito concreto. Da última vez, quando Abel serviu carne a um grupo de elfos (cuja dieta era praticamente só de vegetais), eles não conseguiram parar de comer por causa da essência que ele havia adicionado.

E havia também Flying. Até mesmo dragões achavam difícil resistir à iguaria que era a essência de coelho. O novo restaurante seria um enorme sucesso em Liante. Abel tinha plena certeza disso.