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    Pela manhã, Abel retornou do Mundo Sombrio e recolheu o círculo de proteção. Nos últimos dois dias, Bartoli esteve ocupada com seus novos restaurantes, então saiu bem cedo. Os chefs da mansão ainda não haviam sido treinados, por isso não sabiam cozinhar.

    Mais importante ainda, os dois chefs da mansão não estavam sob contrato. Eles não podiam preparar pratos do cardápio de Abel até que estivessem vinculados por um acordo de confidencialidade.

    Abel dispensou o capitão cavaleiro guardião espiritual. Embora tivesse lutado por dias, sua armadura permanecia limpa como sempre, já que a substância negra que a compõe possuía uma habilidade de autolimpeza.

    Claro, Abel havia forçado o uso dessa habilidade. Mesmo estando acostumado a cenas sangrentas, como humano, ele não queria ver aquelas coisas repugnantes em sua vida cotidiana. Por isso, até mesmo seus corvos precisavam aprender a se limpar sozinhos.

    “Bom dia, mestre!”

    Como todo bom mordomo, Edwon já estava aguardando do lado de fora desde cedo. Ele se curvou no instante em que viu Abel sair do círculo de proteção.

    “Edwon, a União dos Ferreiros já entregou os ingredientes culinários?” perguntou Abel. Na noite anterior, ele havia solicitado ingredientes para sua nova mansão. Como agora possuía vinte e sete restaurantes, Bartoli organizara um novo armazém, já que seriam necessários muito mais suprimentos.

    “Mestre, a União dos Ferreiros entregou os ingredientes logo cedo, e a senhorita Bartoli já organizou os servos para separá-los e enviá-los a cada restaurante. Ainda restam alguns na cozinha!”

    Edwon estava bastante confuso com o fato de Abel ainda estar envolvido em negócios. Embora comerciantes tivessem riqueza, raramente possuíam status elevado.

    Ele sempre sentia que não estava cumprindo bem seu papel, pois nem sequer sabia qual era a verdadeira ocupação de seu mestre. Se Abel fosse apenas um comerciante, não havia como o Reino de St. Pierrt simplesmente lhe conceder uma mansão real.

    Edwon não sabia a quem perguntar. Seu círculo social era composto apenas por nobres, e nenhum deles sabia muito sobre Abel.

    Naquele dia, um novo lote de ingredientes fora entregue pela União dos Ferreiros. Embora os entregadores não dissessem nada, Edwon percebeu claramente o orgulho estampado em seus rostos, mesmo estando ali apenas para uma tarefa trivial.

    Abel fez um gesto com a mão, e o capitão dos cavaleiros saiu pela porta. Edwon se assustou tanto ao sentir aquela aura aterrorizante que quase saltou para trás. Desde quando aquele cavaleiro assustador estava ali?

    “Prepare o café da manhã para mim!” ordenou Abel ao capitão.

    Sob o treinamento de Bartoli, o capitão havia se tornado um cozinheiro decente.Trazia até uma garrafa de essência de coelho presa à cintura, feita especialmente para Abel..

    O cavaleiro se curvou como um cavaleiro humano e caminhou lentamente em direção à cozinha, acompanhado de seu lobo espiritual. Abel o advertira para não se mover instantaneamente. Embora pudesse se mostrar em ambientes selvagens, não deveria usar nenhuma de suas habilidades secretas.

    Ao ver seu senhor ordenar que aquele cavaleiro poderoso fosse preparar o café da manhã, Edwon ficou confuso. Era como se nada mais fizesse sentido.

    “Edwon, desculpe, esqueci de me apresentar adequadamente a você”, disse Abel, percebendo a confusão do mordomo. Como seu administrador, ele merecia saber quem ele realmente era.

    Edwon imediatamente se endireitou e fez uma reverência solene.

    “Meu nome é Abel Harry. Eu já fui um barão, mas meu título foi revogado. Também sou procurado pela União dos Magos no Reino de St. Ellis. Acredito que ainda estejam atrás de mim”, disse Abel com naturalidade.

    Edwon ficou ainda mais confuso. Não era algo comum perder título e território, e, além disso, seu mestre ainda era procurado pela União dos Magos. Era praticamente um milagre que ele ainda estivesse vivo. Como podia viver ali com tanta tranquilidade?

    “Eu sou um cavaleiro, hum…” Abel pensou por um instante antes de continuar. “Pode-se dizer que sou basicamente um comandante-chefe honorário!”

    Edwon finalmente soltou um suspiro de alívio. Embora um comandante-chefe honorário não fosse nada extremamente prestigioso na cidade de Liante, definitivamente não era um status baixo.

    “Também sou um mago de Nível 6”, continuou Abel.

    Edwon suspirou aliviado mais uma vez. Agora tudo fazia sentido. Claro que a União dos Magos não procuraria uma pessoa comum.

    “Além disso, acabei de me tornar um grão-mestre ferreiro”, completou Abel, ainda com o mesmo tom neutro.

    O queixo de Edwon quase caiu. Graças a anos de experiência profissional, ele conseguiu se manter firme, mas seu coração transbordava de empolgação. Como mordomo de uma  mansão da realeza, ele sabia muito bem o quão elevado era o status de um Grão-Mestre.

    Não era de se admirar que o Reino de St. Pierrt tivesse sido tão generoso. Edwon sequer sabia que Abel também havia recebido vinte e sete restaurantes. Só aquela mansão já valia uma fortuna.

    Ele finalmente entendeu por que os entregadores da União dos Ferreiros pareciam tão orgulhosos, mesmo realizando algo aparentemente insignificante.

    “Edwon, você tem experiência em organizar banquetes?” perguntou Abel, interrompendo seus pensamentos.

    “Sim mestre!” respondeu Edwon, com a voz carregada de orgulho.

    “Quero convidar algumas pessoas daqui a três dias. Diga aos chefs para irem ao Recanto Esquecido aprender novos pratos. Quero que dominem essas receitas em três dias, para servir meus convidados”, ordenou Abel.

    “Sim mestre, deixarei tudo organizado!”

    Edwon não sabia exatamente o que Abel queria dizer com “novos pratos”, mas, sendo uma ordem, ele daria um jeito de cumprir.

    Havia dois chefs na mansão, ambos já haviam servido à realeza, então sua base era sólida. Não deveria levar muito tempo para aprenderem novas receitas. Se o capitão cavaleiro guardião espiritual pudesse se comunicar bem com humanos, Abel poderia até deixar essa tarefa nas mãos dele.

    “Edwon, envie cartas de convite para estas pessoas”, continuou Abel.

    “Por favor, diga-me os nomes”, disse Edwon, tirando um lápis e um pedaço de pergaminho de pele de cordeiro. Normalmente, um nobre não usaria um instrumento de escrita tão simples como um lápis, exceto por pura conveniência.

    “Convide o Mago de Elite Lorenzo, da União dos Magos da cidade de Liante. O Mestre Joyce, da União dos Ferreiros. O jovem mestre Bernie, da família Goff, e também o agente do Reino de St. Pierrt, o Mago Intermediário Arche.”

    Edwon conteve sua empolgação enquanto anotava cada nome. Aquele era, sem dúvida, o banquete de mais alto nível que já havia organizado, algo que poderia impulsionar enormemente sua carreira. A partir daquele momento, ele se tornaria uma elite entre os mordomos.

    O Mago Lorenzo era um dos magos mais poderosos de Liante, e o Mestre Joyce era o verdadeiro responsável culinário da União dos Ferreiros. Ele não conhecia muito bem o jovem mestre Bernie, mas sabia que a família Goff era a única família anã responsável por todo o comércio anão, possuindo um status extremamente elevado em todo o Continente Sagrado.

    Quanto ao Mago Intermediário Arche, ele havia sido o antigo superior direto de Edwon.

    “Mestre, devemos usar os vinhos do cave?” perguntou Edwon, curvando-se.

    “Tenho outros planos para o vinho do cave. Vou colocar uma caixa de rum lá dentro, então use isso no banquete”, respondeu Abel, acenando com a mão. Ele planejava combinar todos os vinhos do cave e bebê-los no futuro.

    Não era fácil conseguir bons vinhos, já que a maioria ficava nas mãos de forças poderosas. Quanto maior a qualidade do vinho, melhor era sua textura após passar pelo Cubo Horádrico. E, sem dúvida, Abel guardaria o melhor para si.

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