Índice de Capítulo

    Abismo

    Abaixo da sala da Figura Nebulosa…

    Na prisão…

    Uma criatura baixa, trajando uma bata branca, uma capa preta e uma máscara acizentada que cobria todo o rosto, com um nariz pontiagudo, andava de cela em cela, deixando bandejas do que parecia ser comida. Ela as retirava de uma bolsa que portava.

    —Criatura (se aproximando da cela de Mivk, observando): Novos hóspedes, hmm. O que os terá trazido aqui? Ele está tremendo. (Abrindo a cela e tocando em Mivk) O que te atormenta?

    A criatura coloca a mão na testa de Mivk e diz “Martrat“. Com isso, ela se vê dentro da cabeça de Mivk, vendo o que ele estava vendo, presenciando seu sofrimento.

    A criatura flutuava, observando tudo de cima. Ela via Mivk preso por duas estátuas de pedra que seguravam seus braços. Uma terceira segurava seus olhos para que não se fechassem, e uma quarta, a única que se movia, limpava seus ouvidos para que ele pudesse escutar o “trak rak trak rak”, o som do mastigar das cabeças de Mirk e Miv.

    —Mivk (chorando e gritando): Me soltem! Me soltem! Parem com isso! Eu não quero ver isso! Parem! Parem! (Vomitando) BLEEARGHH!

    Mivk vomitava. A estátua que limpava seus ouvidos limpava o vômito e o obrigava a ingerir um líquido que lhe tirava o gosto para que ele pudesse se concentrar em uma única coisa: aquele maldito mastigar.

    —Criatura (escrevendo em um caderno que retirava da bolsa que portava): Ainda falta mais uma etapa.

    A criatura desceu de cima e se aproximou de Mivk, pondo-se em frente a ele.

    —Mivk (com os olhos vermelhos de cansaço, assustado): Quem é você? Por favor, eu não aguento mais! O que você quer de mim?

    —Criatura (limpando as lágrimas de Mivk com um pano retirado de sua bolsa): Acalme-se, não entre em pânico. Eu vou te tirar deste lugar, mas primeiro preciso de um favor.

    —Mivk (com uma centelha de esperança): Favor?… Qual? Diga, eu farei qualquer coisa!

    —Criatura (retirando o caderno da bolsa): Me diga o que ou de quem são aquelas cabeças que tanto te atormentam.

    Mivk não aguenta e começa a derramar mais lágrimas. Ele é atingido e inundado por flashes de memória tão fortes e intensas que fazem sua cabeça do lado de fora começar a aquecer.

    —Criatura (pensando): O tempo está acabando, tenho que ser rápido. (Limpando e acariciando Mivk) Vamos, se acalme, se acalme. Tente, diga quem são. Vamos, diga para que eu possa te ajudar.

    —Mivk (com dores fortes em sua cabeça, chorando): Eles são meus amigos… Não, eles são a minha família… Fa…mi…lia.

    Mivk começa a gritar “Família!”. Sua cabeça aquece cada vez mais. Então, a criatura sussurra algo em seus ouvidos que o acalma, que o faz esquecer o que acontecera.

    —Criatura (fazendo a estátua que segurava seus olhos soltá-los): Não posso te tirar daqui por agora. Isso é o mínimo que posso fazer por você.

    E com isso, a criatura sai da cabeça de Mivk, o deixando sem ver aquela tortura. Mas o som daquele maldito mastigar ainda o atormentava. Cada estalar dos ossos se quebrando, cada mordida o atingia como balas.

    Fora da cabeça, a criatura anotava tudo no caderno. Em seguida, colocou um pano com partículas de neve ao redor da testa de Mivk e saiu, trancando a cela ao som dos gemidos que ele emitia.

    —Criatura (pensando enquanto andava naquele lugar): Miv e Mirk, entende.

    Com isso, a criatura começou a gargalhar: “krakrakrakrakra”. Era o que fazia.

    O som que ela emitia ecoava nos ouvidos de todos naquele lugar. Não suportando, eles fechavam seus ouvidos.

    Enquanto andava, a criatura é chamada por alguém em uma das celas.

    ??? (segurando as barras da cela): Chegou gente nova?

    — Criatura (deixando uma bandeja): Por que pergunta?

    ??? (comendo): Tchomp… tchomp… Você está fazendo essa coisa irritante.

    — Criatura (olhando em seus olhos): Coisa irritante? (Levantando o braço e o fazendo sufocar) Coisa irritante?

    ??? (engasgando e perdendo o fôlego): Des… descul…pa… (Sendo solto) Arf… arf… arf… arf… cof cof.

    — Criatura (escrevendo algo em seu caderno, olhando irritado): Não ouse repetir isso novamente, entendeu?

    ??? (amedrontado): Eu entendo.

    — Criatura (virando-se para retomar sua tarefa): E sim, tem gente nova.

    A criatura segue distribuindo as bandejas e sumindo naquela névoa acinzentada e verde.

    ??? (massageando seu pescoço, pensando): Quando eu sair daqui, você será o primeiro que irei eliminar, seu louco!

    A criatura chega à cela de Mirk, abre-a e o observa. Ele estava se contorcendo, dizendo: “Desculpa, desculpa.” A criatura toca em sua testa e diz “Martrat“. Assim, ele adentra em sua cabeça e lá dentro o observa preso a uma árvore, amarrado com seus galhos mantendo seus olhos abertos e limpando seus ouvidos, mas as cabeças estão mastigando e falando, o atormentando com palavras que se materializam como facas afiadas que o penetram em cada frase dolorosa. Do alto, a criatura podia ouvir os gritos ensurdecedores.

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