Voltei que sono
Capítulo 86 — Em frente
Ráy abriu a porta e adentrou a cabana. Então, a porta se fechou, e a cabana começou a afundar nas águas abaixo dela, até que sumiu de vez.
Lá dentro, uma criatura com mechas cinzentas, de um metro de altura, usava um vestido escuro como a noite — assim como sua pele. Seus olhos eram amarelo-dourados. Ela estava sentada em uma cadeira de balanço.
O ambiente parecia uma casa de madeira com quatro paredes, iluminada por velas.
— Ráy (encarando a criatura): Marloise?
— ??? (balançando e esboçando um sorriso): …
— Ráy (caminhando para se aproximar): Mas que raios…
Ráy não conseguia avançar nem recuar; estava preso ao local onde estava.
A criatura então guardou o sorriso.
— ??? (levantando o braço e movendo o dedo indicador, contornando Ráy): Ráklid cadrir.
Um silêncio se instaurou.
— ??? (quebrando o silêncio): Não, meu nome não é Marloise. Esse é o nome da antiga, minha irmã. Meu nome é Marlise. E, indo adiante, eu já entendi o que te traz aqui. Pode guardar suas explicações. Você quer que eu abra o portal para o Abismo, para que busque uma cega vingança… É sempre a mesma história, vezes sem conta. Bom, seja como for, não estou aqui para julgá-lo, mas para avisá-lo que, como Guardiã deste Portal, ele não é convencional. Ele te levará a uma camada sombria e perigosa do Abismo. Então é melhor que esteja preparado para tal. E isso não é uma suposição: você com certeza vai sofrer. Com este aviso dado, pode falar.
— Ráy (quebrando seu silêncio): Obrigado pelos avisos. E me perdoe pelo erro, Guardiã Marlise. Eu não pretendo recuar. Eu irei entrar no portal. Que venha o que tiver que vir, pois o que me era mais importante neste mundo eu perdi faz muito tempo. Agora eu virei apenas o papel que interpreto nesta vida. Então eu repito: que venha o que tiver que vir, que eu enfrentarei.
Marlise se levantou da cadeira e se moveu até uma escrivaninha. Sobre ela, havia um relógio de bolso, do tamanho da palma de uma mão adulta. Marlise o pegou com seus longos dedos cinzentos, que destoavam de sua pele escura.
— Marlise (se aproximando de Ráy): Fique com isto. Este relógio está agendado para tocar em dez minutos, e a contagem iniciará quando você entrar no Abismo. Se ainda pretender ficar lá, segure-o firme e o quebre, magoando seu pescoço no processo — então não se poupe. Depois, atire-o na névoa do Abismo. Mas reitero: pense duas vezes, pois é sua única saída. Eu sei qual será sua decisão, mas seja como for, você sabe o que faz com a sua vida. Hm… hm…
— Ráy (pegando o relógio pela corrente e o colocando): Obrigado. Mesmo que eu não vá ficar com ele… Mas obrigado, Marlise.
— Marlise (sorrindo levemente): Muito bem. Aproxime-se da minha mesa.
Uma mesa surgiu em frente à cadeira.
— Marlise (sentando-se): Morda seu polegar e… (entre suas mãos, papéis surgem) assine todos estes contratos. (Olhando nos olhos frios de Ráy): Você sabe o que dará em troca? Pois, se não souber, comece a pensar enquanto assina. E se já souber, não tenha dúvidas, pois se tiver, se arrependerá.
— Ráy (aproximando-se; uma cadeira surge, ele a puxa e se senta): Eu já me decidi. (Com o sangue do polegar, ele assina cada um dos papéis.) Você parece mais séria do que antes de eu entrar aqui. O que houve?
— Marlise (sorrindo): Hm… hm… hm… hm… Concentre-se em sua vida.
Ráy marcou o último papel com seu sangue. Então todos eles entraram em chamas — mas não eram chamas comuns; eram esverdeadas, com tons de azul-escuro. Os contratos levitaram e, na vertical, se projetaram: cada um para um lado do corpo de Ráy, um entre as mãos e pés, um no centro do corpo e, por fim, um na testa. Eles adentraram e aumentaram suas chamas.
Ráy sentiu a dor, mas não esboçou nenhuma reação. Marlise o encarou e deslizou seus dedos em seu rosto.
— Marlise (fechando os olhos de Ráy e com a outra mão em seu coração): Boa sorte, meu caro.
Após alguns instantes, a dor que Ráy sentia o abandonou.
— Marlise (afastando-se de Ráy e aproximando-se da porta): Agora vá. Siga em frente sem desviar do percurso. O portal para o Abismo o espera lá. E, novamente, boa sorte. Espero que consiga o que busca.
— Ráy (dirigindo-se à porta e segurando a maçaneta): Obrigado. (Abrindo a porta) Fique bem.
Quando a porta se abriu, Ráy se deparou com uma paisagem esverdejante da floresta. Diferente da anterior, em vez de um pântano e árvores mortas, via lagos azuis, árvores bonitas e vida por toda parte.
Então, sem questionar, apenas admirado, começou a caminhar, seguindo em frente, a fim de encontrar o portal para o Abismo.
Perfeição
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