Capítulo 34 – Ajuda de um Príncipe
Maria respirou fundo e bateu na porta.
— Entre — a voz lhe causou calafrios.
Relutante, esticou a mão até a maçaneta e abriu a porta.
Catarina estava sozinha, sentada atrás da mesa que ficava na antessala de seus aposentos.
— Sente-se, Maria.
Maria já tinha visto-a depois do seu retorno, mas a imagem lhe causou espanto mesmo assim. A rainha estava irreconhecível. Seu rosto estava mais magro e seus olhos pareciam mais fundos por causa das grandes olheiras escuras. Parecia ter ganhado mais algumas rugas no rosto, e uma bengala apoiada ao lado da mesa denunciava que alguma doença prejudicava sua mobilidade. Mas o brilho no olhar estava mais aceso do que nunca.
— Queria falar comigo, Majestade? — disse ao sentar-se.
— É óbvio, não? Se mandei chamá-la.
— E sobre o que queria falar, Majestade? — Maria tentou reprimir a raiva crescendo no peito.
— Não seja dissimulada. Sabe muito bem por que está aqui.
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— Suponho que seja sobre conde Alvar?
— E que outro assunto poderia ser? A não ser que esteja tramando outro golpe contra mim. Está?
— Majestade! Como ainda pode desconfiar de mim depois de tudo que eu fiz?
— Hunf — resmungou a rainha. — Não estou tão certa disso. Sua ideia de me mandar para a casa de Aragão certamente não foi nada inteligente.
— Minha ideia? — Maria não podia acreditar no que tinha ouvido. — Majestade, eu nunca sugeri isso. Pelo contrário, eu defendi que ficasse aqui.
— Hunf. Sinceramente, não me lembro. Deve ter sido aquele capacete que você insiste em usar o tempo todo.
Inacreditável!
Fazia muito tempo que Maria não usava sua armadura. A rainha simplesmente não prestava atenção.
— Majestade, se me permite… foi o conde Alvar quem sugeriu…
— Eu confiava nele. E eu disse a você para confiar nele, não disse?
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— Disse, mas…
— E você achou que podia simplesmente ignorar a minha vontade?
Maria respirou fundo, e disse:
— Majestade, se me deixar explicar…
— Vamos lá, então. Explique-se!
— Eu não sei o que a senhora ouviu, mas a verdade é esta: conde Alvar tramou contra mim. Ele simulou um ataque em Lancastre, com um mensageiro falso, e tentou convencer a tropa a segui-lo. Ele queria que eu fosse sozinha a Gama. Preparou uma tocaia para me matar.
Catarina abriu os olhos, em uma expressão de incredulidade. Maria continuou:
— Se os soldados não tivessem ficado ao meu lado, eu não estaria aqui hoje. Sabe que Alvar queria o meu posto, não sabe?
— Bem, não vou negar que… — Catarina parecia impressionada. — Ele é um homem ambicioso, sem dúvida, mas não pensei que…
— Nós derrotamos um grupo de bandidos e assassinos que estavam escondidos perto do castelo de Gama. Alvar desertou depois disso, e os soldados que tinham escolhido segui-lo voltaram-se a mim e pediram para se juntar à tropa novamente.
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— Mas… tem certeza, Maria? Alvar sempre foi tão fiel ao reino. A mim!
— Pergunte a qualquer um dos soldados, Majestade, e eles confirmarão a história.
Catarina olhou para as próprias mãos por um segundo, ajeitando um de seus muitos anéis. Em seguida olhou para Maria, com uma expressão de orgulho no rosto.
— Se o que está me contando é verdade, você merece ser condecorada.
Maria ruborizou.
— Não, Majestade, eu não quero nenhum prêmio…
— Como você conseguiu?
— O quê?
— Fazer os soldados seguirem você, ao invés de Alvar? Ele me disse que a tropa o adorava.
Maria pensou em Martim enfrentando Alvar e seus seguidores, defendendo-a e convencendo-os a seguirem-na.
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— Eu acho que… — gaguejou um pouco. — Não sei dizer exatamente, Majestade.
— Acho que posso ter me enganado em relação a você, Maria. — A voz de Catarina ficou mais baixa.
— Majestade?
— Pode ter sido um erro trazer Alvar apenas para satisfazer os nobres. Eu devia ter confiado mais em você. Devia ter confiado mais em meus instintos, droga!
— É difícil ser rainha, ter que lidar com todas as pressões da nobreza.
— Você me entende, não entende, querida? — Sua voz agora se tornou mais aguda, e seu rosto se abriu em um sorriso. — É difícil liderar, quando somos mulheres.
— Entendo — Maria sorriu também.
Catarina virou a palma da mão para cima, convidando Maria a colocar a sua mão ali. Ela consentiu e recebeu um aperto da rainha. Sentiu sua mão fria e ressecada acariciando-lhe vagarosamente.
— Você merece uma condecoração, capitã. Vou organizar uma cerimônia daqui a dois dias.
— Majestade, de verdade, não precisa, eu…
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— Considere como um pedido de desculpas. E também uma promessa: a partir de hoje você será a única responsável pela minha guarda, sem subcapitão ou qualquer homem pendurado ao seu lado.
Maria abriu ainda mais o sorriso.
— Pode confiar em meu trabalho, Majestade.
Maria não conseguia esconder o bom humor enquanto caminhava pelo castelo. Por todo lugar que passava, recebia os costumeiros cumprimentos dos soldados, ao que respondia animadamente:
— Boa tarde, capitã.
— Boa tarde, Manoel.
— Boa tarde, capitã Maria.
— Boa tarde, soldado Ulimar.
— Capitã?
— Soldado Pedro.
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Lembrar-se dos nomes de cada um dos homens que cruzavam seu caminho era muito satisfatório. Sentiu uma alegria que há muito tempo não vivenciava. Estava enfim conquistando seu tão sonhado objetivo de ser finalmente reconhecida por seu trabalho e ser respeitada pela tropa.
— Boa tarde, capitã — disseram, em uníssono, dois soldados à sua frente.
— Soldados Filipe e Belchior, podem me ajudar com uma coisa? Vai levar uma hora, no máximo!
— É claro, capitã — um deles respondeu, atencioso.
— Sigam-me, por favor.
Ela os guiou pelos corredores até seu escritório. Abriu a porta e entrou, pedindo que eles a seguissem. Disse:
— Por favor, me ajudem a arrumar essa bagunça. Vamos deixar essa sala do jeito que estava antes.
— Sim, capitã.
Maria torceu o nariz ao abrir o pacote.
Um vestido.
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Uma nota escrita à mão dizia:
“Use-o esta noite, tão especial para você. Você merece, Maria.
— Rainha C.”
Ela pegou a vestimenta com as duas mãos e levou-a até a frente do espelho. Colocou-a em frente de seu corpo e repuxou o canto da boca em desprezo ao ver sua imagem refletida.
O vestido era feito de um tecido fino e brilhante. Tinha um tom azul-escuro fabuloso, misturado com pedaços que eram quase transparentes, nas costas e nos ombros. Adornos prateados destacavam as costuras na cintura e na saia.
Mas o decote era enorme.
No pacote, Catarina também enviou uma fina tiara, feita de um fio contínuo de prata. Havia um par de brincos também prateados, enfeitados com pedras negras, e um enorme colar enfeitado com diamantes. Um par de sapatos em tom azul — o mesmo do tecido — completava o traje.
Resignada, Maria despiu-se e colocou o vestido. Olhando-se no espelho, a má impressão de antes apenas se confirmou. Seu colo e ombros ficaram muito expostos. Tentou puxar o tecido para cima para tentar cobrir-se um pouco mais, mas não adiantou muito.
Talvez as jóias ajudem a disfarçar um pouco.
Pendurou o enorme colar no pescoço e achou que a situação só piorou. A jóia era magnífica e parecia ter brilho próprio, mas também serviria para atrair toda a atenção do mundo para seus seios. Maria terminou de colocar as jóias e vestir um dos sapatos. Voltou a olhar-se no espelho.
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Bem, pelo menos a saia tem um caimento discreto. E não tem luvas, detesto luvas!
Decidiu se maquiar. Sentou-se na mesinha e escolheu um vermelho claro para os lábios e um tom azulado para as pálpebras. Tentou ser o mais sutil e suave que conseguia. Assim que terminou, voltou ao espelho grande.
Hum… Não ficou tão ruim assim.
Você vai ser condecorada, Maria. Vai receber um merecido reconhecimento pelo seu trabalho.
E é só por uma noite, você já passou por isso antes. Sorria, acene e aproveite.
Você fez por merecer.
Maria respirou fundo e olhou-se uma última vez antes de apagar as lamparinas e sair do quarto.
Sua ansiedade diminuiu ao ver que o caminho até a sala do trono estava cheio de homens e mulheres enfeitados, alguns até mais extravagantes do que ela. A rainha adorava usar qualquer desculpa para estimular seus seguidores a se vestirem e se exibirem uns aos outros. Os nobres a cumprimentavam educadamente, acenando com os olhos ou com as mãos.
Viu também muitos soldados no caminho, e estes eram bem mais atrevidos. Ao vê-la, logo abriam um largo sorriso e diziam:
— Boa noite, capitã. Parabéns pela condecoração.
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— Nossa, capitã, está bonita hoje. Parabéns pelo prêmio.
— Parabéns, capitã. Estamos orgulhosos de você.
— Definitivamente, a gente tem que ganhar aquela aposta. — Reconheceu a voz de Tomás atrás de si. Virou-se, deu um tapa em seu ombro e disse:
— Romena vai ficar tão feliz de ouvir isso…
— E daí? Ela já sabe da aposta.
— Sabe, é? Mas só por precaução, vou confirmar com ela, tudo bem?
— Não, por favor, capitã — ele sorriu. — Tá, me pegou, eu não contei para ela.
Chegaram até a sala do trono, que já estava cheia de gente. Moisés, o secretário da rainha, aproximou-se de Maria, dizendo:
— Capitã, com licença, você precisa esperar aqui fora. Eu venho chamá-la no momento certo.
— Está bem, até mais Tomás — disse, despedindo-se do amigo.
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— Até.
Moisés se despediu também e se afastou. Maria ficou ali parada, sozinha, observando o movimento, enquanto a sala se enchia de gente. Viu um grande número de nobres, com suas roupas coloridas e bem ajustadas, passando por ela e acenando com a cabeça. Os soldados também estavam bem vestidos, mas suas roupas eram mais largas e discretas. Um soldado alto e de ombros largos parou em sua frente:
— Uau!
— Boa noite, soldado.
Ele não disse nada, apenas ficou olhando-a, com a boca aberta. Parecia devorá-la com os olhos.
— Psst! Entra logo, Martim — ela disse, sussurrando, enquanto dava um sorriso amarelo para as pessoas atrás dele.
— Está bem, mas hoje à noite você vai deixar a porta do seu quarto aberta, hein?
— Majestade. — Maria deu uma cotovelada nele e deixou-o para trás antes de fazer uma reverência para a rainha, que se aproximava. Catarina caminhava com dificuldade. Não usava bengala, mas se apoiava nos braços de um velho nobre ao seu lado.
— Maria! — A voz aguda doeu em seus ouvidos. — Levante-se! Hoje você não se curva para ninguém. Você está maravilhosa, querida.
— Obrigada, Majestade.
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— Eu não te disse, lorde Eustáquio, que esse vestido ia ficar ótimo nela?
— Sem dúvida, Catarina. — O homem ao seu lado concordou e esticou a mão para Maria. — Capitã? Está magnífica.
Maria forçou-se a sorrir e a estender a mão, colocando-a sobre a do nobre. Este a beijou demoradamente, deixando um resquício de saliva na pele.
Droga, agora eu queria estar usando luvas!
Maria voltou ao seu lugar e respirou aliviada ao ver que Martim tinha desaparecido.
Ficou ali mais um tempo, até que o fluxo de pessoas se encerrou. As portas se fecharam e ela ficou sozinha ali, do lado de fora. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo a ansiedade crescer e o coração acelerar.
Estava prestes a ser condecorada. Já tinha recebido um reconhecimento antes, das mãos do rei Gregório, mas na época, era uma soldada da infantaria, e tinha recebido o prêmio junto com André e outros membros de seu pelotão.
André.
Desejou muito que ele estivesse ali, naquele momento. Ele estaria sorrindo para ela, feliz e orgulhoso. Ele diria: “Eu não te disse, pequena? Você merece.”
Distraída por seus pensamentos, ela viu uma sombra se movimentando no final do corredor. Seus olhos foram atraídos para lá, mas ela não conseguiu distinguir o que era. A sombra se misturou com a escuridão que o archote pendurado na parede não conseguia eliminar.
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Ela se aproximou, dando alguns passos relutantes naquela direção. De repente, ouviu uma voz ao seu lado:
— Essa roupa lhe veste bem. Mostra a prostituta que é.
Sentiu um arrepio passando por seu corpo inteiro, virou-se de sobressalto e viu, próxima à parede, a figura de um homem. Instintivamente, colocou a mão na coxa, mas não achou nada. Esqueceu de amarrar seu punhal ali.
— Está tão indefesa sem a sua armadura… vai ser fácil matá-la agora.
Seu rosto estava coberto pelas sombras, e sua roupa negra ajudava a ocultar sua identidade, mas ela não teve dúvidas de quem se tratava:
— Alvar.
Ele sacou a espada e começou a se movimentar em direção a ela. Instintivamente, ela recuou, mas logo viu-se encostada contra a parede. Disse:
— Afaste-se. Eu vou gritar, a guarda está toda ali dentro.
— Não vai conseguir se a minha espada estiver atravessando sua garganta.
Nesse momento, fez-se um barulho na porta da sala do trono. Alvar deu um último olhar ameaçador para Maria antes de sair correndo e desaparecer nos corredores.
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— Capitã? — era Moisés. — Vamos? Estão esperando.
Ela demorou para conseguir se mexer. Ainda olhava para o local onde Alvar tinha desaparecido. Percebeu os músculos de todo o corpo retesados, prestes a explodir. Respirando algumas vezes, conseguiu controlar seu corpo e forçá-lo a se mover em direção a Moisés.
— Calma, capitã — ele disse ao perceber que havia algo estranho. — É normal ficar nervosa.
— S-sim — ela disse, antes de dar uma última olhada para trás. Não havia mais ninguém ali.
Respirou fundo e entrou.
A música imediatamente encheu seus ouvidos, e uma salva de palmas a recebeu. Rostos sorridentes a encaravam por toda a sua volta. Ela não reconhecia ninguém. Conseguia apenas pensar em Alvar e na ameaça concreta que sua visita representava. Forçou-se a sorrir de volta, fingindo estar emocionada e feliz, enquanto caminhava pelo corredor central. Achou que estava fazendo um bom trabalho, até ver o rosto de Martim.
Parecia que Maria olhava num espelho. Cada ruga e cada músculo retesado no rosto dele representava a exata sensação que também estava em seu peito. Seu olhar preocupado e sua boca comprimida diziam que ele sabia que havia algo errado.
Martim murmurou silenciosamente com a boca, parecendo dizer algo como: “O que houve?”. Maria respondeu balançando a cabeça sutilmente de um lado para o outro. Depois ela olhou para a frente e continuou a caminhar.
A rainha estava em pé e sorria amigavelmente. Ao seu lado, havia um homem que ela nunca tinha visto antes. Era jovem, aparentando ter a mesma idade que Maria. Tinha cabelos escuros e lisos, que estavam finamente penteados. Seus olhos castanhos a olhavam com atenção. Usava barba e bigode finamente aparados, e sua boca exibia um sorriso cordial. Suas roupas eram simples. Usava calças e camisa compridas da mesma cor, um tom marrom-claro que se misturava com laranja. Um colete da mesma cor cobria sua camisa, e ele usava uma flor vermelha pendurada ali. Não havia dúvidas de que pertencia à alta nobreza, pois uma fina coroa dourada circundava sua cabeça.
Assim que Maria se aproximou do trono, Catarina levantou as mãos, pedindo silêncio. A música cessou, e ela disse:
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— Amigos aqui presentes, obrigada por juntarem-se a nós nessa singela cerimônia. Estamos aqui para reconhecer a bravura de nossa amada capitã Maria, da guarda real. Uma salva de palmas!
Maria se virou de costas para a rainha e agradeceu enquanto era ovacionada. A multidão de rostos felizes aqueceu seu coração e acalmou um pouco seu espírito perturbado. Enquanto estivesse cercada por aqueles homens, estaria a salvo.
— Maria, vire-se.
Ela obedeceu e voltou a encarar Catarina. A rainha continuou:
— Você mais uma vez mostrou a todos nós que a guarda real tem uma líder valorosa, que não merece ser contestada por ninguém. Para entregar um símbolo desse reconhecimento, convido o príncipe Joaquim, do nosso reino vizinho de Soverosa.
O homem desconhecido acenou para a multidão, timidamente, e depois olhou para Maria, dando-lhe um sorriso. Nesse momento Moisés se adiantou, ergueu uma pequena caixa e abriu-a em frente ao príncipe. Este pegou um cordão, do qual pendia uma medalha dourada, e se aproximou de Maria, com um olhar fixo em direção a ela.
Ela olhou para ele, tentando sustentar seu olhar e manter seu sorriso intacto. Abaixou a cabeça e disse:
— Príncipe, é uma honra.
— A honra é minha, capitã — ele respondeu, sorrindo ainda mais.
Ele levantou as mãos e passou o cordão por cima da cabeça de Maria, tomando cuidado para não desarrumar os seus cabelos. Em seguida, ele desceu as mãos por trás de seu pescoço, ajeitando o cordão para que ficasse bem encaixado. Demorou-se um pouco demais ali, e ela sentiu seus dedos acariciando sua nuca exposta.
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Maria sentiu o peso da medalha no peito, e olhou para baixo, admirando a peça de ouro. Assustou-se quando viu os dedos de Joaquim ajeitando a peça entre seus seios, e novamente ele demorou demais para fazer isso, tocando inadvertidamente em sua pele.
— Todos saúdem Maria, a capitã da guarda! — disse Catarina, em sua voz estridente.
Maria agradeceu por livrar-se dos toques inoportunos do príncipe e virou-se para encarar os soldados. Sorriu e acenou em agradecimento às palmas que recebia. O sorriso diminuiu quando sentiu a mão do príncipe acariciando suas costas. Ele passava a mão no tecido fino do vestido, em um movimento lateral. O sorriso desapareceu por completo quando sentiu o dedo polegar do homem tocando a lateral de seu seio, enquanto os outros acariciavam sua barriga.
Neste momento, Maria mais uma vez viu o rosto de Martim na multidão. O assédio do príncipe era discreto e muito sutil, ninguém além dela própria estaria percebendo. Exceto Martim. Seu rosto não era mais um reflexo dos sentimentos dela, de preocupação e constrangimento. Sua expressão era de ódio.
Depois do que pareceu uma eternidade, a rainha voltou a falar:
— Maria, muito obrigada pelos seus serviços. É uma honra tê-la aqui, comigo.
— Obrigada, Majestade. É uma honra servi-la.
— Convidados — ela dirigiu-se aos demais —, teremos um pequeno serviço agora, coisa simples, aqui mesmo. São só alguns petiscos e uma bebidinha leve. Aproveitem para conversar com a nossa capitã e dar um abraço nela. Ela merece.
Ela puxou palmas, sendo seguida por todos, inclusive pelo príncipe, e Maria agradeceu por ficar livre mais uma vez de seus toques inoportunos.
As pessoas começaram a sair de seus lugares e dirigir-se para as enormes mesas que tinham sido colocadas ao redor da sala, cheias de comida e bebida. Catarina se aproximou de Maria e Joaquim, colocando as mãos nos ombros dos dois ao mesmo tempo. Ela disse:
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— Deixe-me apresentá-los de maneira apropriada. Maria, este é o príncipe Joaquim, que veio nos visitar.
— Muito prazer, vossa Alteza — ela disse, tentando parecer educada.
— O prazer é meu, Maria.
— O príncipe nos agracia com uma visita em um momento tão oportuno — disse Catarina. — Os invasores ainda não foram expulsos, e nós precisamos de toda ajuda que pudermos.
— Mas é claro, rainha Catarina — disse Joaquim. Ele tinha uma voz grave e um jeito firme de falar, que transmitia confiança e atitude. — O reino de Soverosa tem o maior interesse em ajudar. Afinal, se Évora for tomada, nós podemos muito bem ser os próximos.
— Maria, por que não conversa com o príncipe e explica melhor a nossa situação? Você sabe muito mais do que eu sobre as estratégias de defesa adotadas pelo general Fernão.
— Sim, é claro, Majestade.
— Então é Fernão quem está comandando o exército? — perguntou Joaquim, colocando a mão nas costas de Maria e puxando-a para o lado, para afastar-se de Catarina. Mais uma vez, ele demorou demais para tirar a mão de seu vestido.
— Sim, ele está em Lancastre.
Tire a mão daí!
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— E onde acha que nossas tropas poderiam ajudar mais?
— Acho que a defesa está bem estabelecida. O principal seria enviarmos um contra-ataque em Teles ou perto dali, onde os invasores estão em menor número.
— Concordo. Parece ser uma boa estratégia, capitã. — Ele se aproximou e pegou a medalha de Maria com a mão, tocando-a mais uma vez. — Desculpe-me a intromissão, mas posso perguntar o que fez para merecer isto?
— Com licença, capitã?
Maria virou-se e levou um susto ao ver Martim ao seu lado. Desferindo-lhe um olhar suplicante, ela disse:
— Sim, soldado? O que deseja?
— Posso ter uma palavra?
Ao perceber que ele não desistiria, virou-se para o príncipe e disse:
— Com licença, Alteza.
Martim afastou-se, e ela o seguiu. Irritada, disse, em um sussurro:
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— O que está fazendo?
— Estou te salvando, esse cara não tira as mãos de você.
— Me deixa, Martim! Isso é importante, é meu trabalho.
— Trabalho?
— É, não sei se lembra, mas o reino foi invadido. Tem soldados morrendo. Nossos irmãos.
— E o gostosão ali vai tirar armas e suprimentos de dentro do seu vestido, por acaso?
— Martim! Vai embora…
— Maria? — Era Catarina, aproximando-se. — O que está fazendo? — Ela olhava para Martim, inquisidora. — Deixou Joaquim falando sozinho?
— Não, Majestade — ela disse, abaixando a cabeça. — Só…
— Volte já para lá e faça seu trabalho. O reino precisa de você, agora!
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— Sim, Majestade.
A rainha se afastou, com o semblante irritado.
— Agora, me deixe, Martim — disse Maria, sussurrando novamente. — Você está atrapalhando.
— Ela está usando você novamente, como no torneio, não está percebendo?
— Martim! Agora… não! — suplicou, com os dentes cerrados. — Me deixa!
Ela se virou e não olhou para trás enquanto voltava a se aproximar de Joaquim. Colocou um sorriso no rosto e retomou a sua conversa:
— Desculpe-me por isso, Alteza. Onde estávamos?
— Eu queria saber por que você ganhou essa medalha. — Voltou a pegá-la entre os dedos.
Enquanto respondia, sem graça, Maria arriscou um olhar para o lado, apenas para ver Martim saindo da sala com os ombros caídos e a cabeça baixa.
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