Índice de Capítulo


    ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎

    Capítulo 006 – A primeira de muitas!‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎

    Quando o tédio atordoava a cabeça; o cansaço do corpo e da mente gritavam por algum socorro. Se ainda houvesse algumas moedas de ouro sobrando no bolso, muito poderia se fazer em Sihêon.

    Arte e a bebida, ambas, detinham um papel de suma importância: permitiam não apenas prazer, mas também proporcionavam alívio e o entrosamento do reino como um todo.

    Havia diversas tavernas espalhadas do muro para dentro, mas uma em específico era a favorita de quase toda a população.
    Localizada próxima à grande praça central, chamava-se Melusina Dançante. Com largas portas de carvalho enegrecido, entalhadas detalhadamente com desenhos de pequenas fadas. Um refúgio quente que cortava a noite fria com suas festas.

    O grande salão da taverna vivia iluminado por candelabros de bronze e uma enorme lareira que ficava em um dos cantos. A multidão que buscava a Melusina como ponto de distração era mista: cavaleiros, mercadores, aldeões e, às vezes, até nobres. Embora esses com mais raridade.

    As risadas e conversas bêbadas de entusiasmo e cerveja enchia o clima descontraído. Regados por músicos e poetas talentosos que iniciaram uma melodia contagiante que fez com que alguns mais animados dançassem.

    Passara pelas largas portas de madeira, uma criança de cabelos cobre, saltitava em direção ao balcão e como havia feito diversas vezes, pediu por hidromel.

    — Ah! Você de novo?! — exclamou o taverneiro.

    — Ora, o que tem de errado?

    A pequena garota tinha os cabelos bem cacheados e curtos que se esforçaram para atingir suas orelhas, ela estava na ponta do pé para poder encarar o homem do outro lado do balcão, que negou com muita ênfase o pedido da bebida, como já era de costume.

    Ao invés disso, a garotinha recebera uma larga caneca de suco de maçã.

    Ela era uma patrulheira, tinha um conhecimento superficial sobre animais e bosques. Mesmo com pouca idade, a ruiva guardava um arco nas costas que era maior que o tamanho do seu torso, retirou o mesmo assim que se sentou com a sua singela bebida.

    Acima de tudo estava contente, algumas caravanas com novos moradores haviam chegado no reino nas últimas semanas, as guildas tinham novos graduados e o mais novo rei ascendeu oficialmente em uma cerimônia que ocorreu para os moradores há dois dias.

    A patrulheira bebia lentamente, até que percebeu com o canto dos olhos uma mulher adentrar na taverna, seguia séria, com vestes escuras e uma pele caramelo.

    Dirigiu-se ao balcão e pediu ao taverneiro a bebida mais forte que havia, virou o rosto assim que escutou a pequena lhe chamar.

    — Boa noite! Como vai? — indagou a criança, elevando a sua voz para a mulher de cabelos negros que se encostava enquanto sua bebida era servida.

    Naquele instante, outra mulher adentrara a Melusina: uma dama com olhos levemente estreitos, vestida como uma nobre. Havia pedido hidromel, dirigindo-se logo em seguida para uma mesa próxima, então abriu um pequeno livro, ela lia enquanto sua bebida não chegava.

    — Contenta-me bastante ver mulheres nessa taverna, eu estava começando a ficar cansada de estar rodeada por grosseirões! — A patrulheira erguia sua caneca de suco, buscava contato visual com ambas as mulheres, cada uma em um canto da taverna.

    O barulho dos copos que se chocavam, dos bardos enlouquecidos e das risadas estavam altos, mas aquela aguda voz, surtia um efeito chamativo.

    A jovem de trajes negros e pele caramelo percebeu que a pequena falava com ela, respondeu alto visando a criança e depois encarando a dama com o livro.

    — Realmente, é ótimo ver mais mulheres aqui.

    A dama dos trajes nobres, sorriu ao escutar as outras duas, ergueu a caneca que acabara de chegar em sua mesa, brindando de volta.

    — Ótimo ter mais companhia feminina em minhas noites de bebida.

    A criança prontamente puxou duas cadeiras para a sua mesa, um guerreiro estava prestes a sentar em uma delas inclusive, mas ela duvidou que ele fosse se importar com isso, chamou novamente a atenção das jovens que acabara de conhecer e depois tomou mais um gole da sua caneca.

    — Venham! Me acompanhem nesta noite! — gritou a patrulheira.

    A mulher das vestes nobres fechara o seu livro e, segurando-o com uma mão e a caneca com a outra, aproximou delicadamente de onde uma cadeira foi puxada.
    Por fim, a jovem de trajes negros também fez deste modo, as duas ficaram encantadas com o carisma dessa pequena moça de cabelos cobre.

    — Acredito que deva ser estranho estar sempre rodeada de tantos brutamontes como esses, não é? — A dama com o livro perguntou assim que sentou à mesa.

    — Te juro — A patrulheira respondeu rapidamente — Um armário quase cuspiu nos meus pés quando eu caminhava para cá, que raios de costume é esse? Eu quase o acertei na testa com uma flecha.

    O brilho de velas tingia reflexos dourados nos canecos de hidromel. Quanto mais pessoas adentravam no local, os funcionários sentiam-se obrigados a iluminar com mais candelabros. Uma noite de casa lotada.

    — Os bons modos não são nada que vejo muito por parte deles, daqui. — A jovem da pele caramelo respondeu enquanto observava a interação das duas, bebendo lentamente sua caneca.

    A criança sorriu, apresentando-se:

    — Sou a Joana, inclusive.

    O som de alaúdes, flautas e tambores reverberava pelo recinto!

    — Prazer, Joana, eu sou a Victoria. — Disse a dama do pequeno livro, ajeitando os longos cabelos negros.

    — E eu me chamo Dalila. — interrompeu a jovem que apenas bebia. — Aparentemente, todas concordamos que os homens daqui precisam de algumas aulas sobre bons modos, certo?

    — Com toda certeza, esses nojentos!

    Joana exclamava com muito ânimo, parecia estar verdadeiramente ingerindo álcool, depois de mais um gole, prosseguiu:

    — Primeira vez que vejo vocês duas por aqui, vocês estão afiliadas em alguma guilda ou apenas são muito estilosas? Eu mesma, sou uma patrulheira. Ainda não temos uma guilda aqui, mas quando tiver… Estarei lá.

    — Sou uma mestra dos venenos, resido em Covil do Escorpião — respondeu Victoria.

    — Que legal! — Joana parecia muito animada — Lá é bonito?

    — Ah, é sim — A mestra sorria com o entusiasmo que a pequena demonstrava — Muito bonito, adoro viver lá.

    — Guilda dos algozes. — Dalila era mais direta e ríspida, sua voz era certeira, não parecia ter tantos trejeitos sociais quanto as duas que a acompanhavam, ela olhou para a pequena de cabelo cobre, compadecida com sua energia — Espero que possamos ser boas amigas.


    Até o meio da noite, todas as três moças estavam muito entretidas entre si. Victoria havia abandonado o seu livro em cima da mesa, segurando a caneca de hidromel enquanto ria. Dalila estava com uma expressão mais amigável, também carregava um rosto corado.

    Escutavam os relatos engraçados que a criança compartilhava, também com as experiências de combate. Joana parecia agir como se estivesse de fato bêbada, isso levantou questões na mesa se o suco não havia fermentado.

    Toda a taverna calou-se quando observavam que Ayel estava passando pela porta, alguns ainda paralisaram, outros curvam em reverência. O rei rapidamente tentou se aproximar, impedindo que fizessem.

    — Aqui não, aqui é a taverna… Permitam que eu ande livremente no meu mais novo domínio, por favor!

    O bárbaro sentia sede, o castelo onde passou a morar tem bebidas que não saciavam seu gosto tribal: vinhos, sucos e licores caíam iguais no paladar do ruivo. Ele avançou e encostou no balcão, antes mesmo que pudesse conversar com o taverneiro, sentiu o peso dos olhares para si.

    Incômodo.

    — Mas que raios, vocês?! — esbravejou o jovem — Está certo. Ficará tudo na minha conta, bebam e comam à vontade… A despesa desta noite e de todas as futuras sairão do meu bolso enquanto eu estiver vivo, agora me deixem beber!

    E essa frase foi o suficiente: o grito dos bêbados somado aos outros presentes por conta da gratuidade eterna poderia ter sido escutado há léguas de distância, Ayel aproveitou esse momento que comemoravam para pedir suas canecas de hidromel, três vieram até o balcão e duas dessas foram bebidas rapidamente em largos goles.

    — Vamos pedir um banquete! — exclamou Joana, contente ao escutar as palavras do rei, erguendo seu suco.

    — Poderíamos chama-lo para se juntar a nós, também. Para nos conhecermos. — Continuou a algoz.

    Ayel estava no balcão, nas costas de Dalila. Ela precisava virar para encarar o ruivo, que bebia a terceira caneca rapidamente, pedia por mais para o taverneiro, que começou a ficar assustado.

    — Venha! — Dalila puxara consigo a dama Victoria, que havia se assustado com o baque, mas conseguiu levantar a tempo para seguir a mais nova amiga.

    — Mas que audácia, eu digo! — gritou a mestre dos venenos, confusa — Que ideia é esta?

    — Só estou sendo cuidadosa, afinal, não o conheço. Nunca se aproxime de um bárbaro sem uma companhia.

    A algoz sorriu, piscando com um dos olhos para Victoria, que comprazia de volta, tomando nota do que foi dito como uma lição valiosa. A voz aguda de Joana ainda ecoava conforme a dupla se afastava, a mesma informou que faria de tudo para guardar os lugares.

    As duas aceleravam o passo, alcançando rapidamente o balcão, havia poucos metros até a figura majestosa do jovem de cabelos de fogo.

    Os bardos aumentaram a intensidade dos seus alaúdes, os pés que batiam no chão compassados agora respondiam com velocidade, a cantoria sobejava uníssona.

    A noite aguardava uma solenidade alegre na famosa Melusina, o bárbaro virava-se, acarava1 constantemente a grande festividade como se não estivesse presente. E então sorriu.

    “Talvez eu me acostume com isso.”


    1. Acarar: Encarar, olhar (alguém).
    Participe do meu servidor do Discord dedicado para a minha obra!
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.

    Nota