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    ‎ ‎ ‎ Capítulo 014 – O conselho dos nobres! ‎ ‎ ‎

    — Fale mais uma vez, do começo. — A voz ecoava pelo silêncio do cômodo.


    Ayel suspirava antes de coçar a garganta e aí, sim, dizer o que pretendia:


    — Quando chegamos lá, abordamos os bandidos e todos foram mortos. O chefe da vila havia sido assassinado, mas Kord, Claude e eu fomos bem recepcionados pela viúva e sua filha, Anastasia. As duas cederam hospedagem e comida.


    — Irresponsável. — Um dissera.


    — Não tem como você achar isso fora prudente — Outro continuou.


    — E se você perecesse para esse tal Bran? Um rei assassinado por um bandido de quinta. — Mais uma voz surgia.


    — Bom, mas eu não pereci. — declarou o rei.


    — Porém, poderia. — O tom seco era de puro julgamento.


    O Alvorada desviou o olhar para as paredes do salão, como se procurasse uma saída para a pressão da discussão. Aquele era o famoso Conselho dos Nobres, tudo que o Alvorada mais repudiava nesse mundo.


    Estavam todos sentados em largas cadeiras de madeira adornadas com um estofado de penas. Essas cadeiras faziam um semicírculo e o ruivo constava no exato centro de tudo. Era mais uma das alas do castelo, uma específica na qual os criados tinham proibição de passar sem serem devidamente convocados.


    O bárbaro olhava um a um. Com uma raiva que o consumia como se fosse um fogo que iniciava do estômago e o inflamava até o peito. Eric Belomonte, Branwen Lâmina-fria, Bartolomeu Loregard, Ivan Láparo, Drake Less, Milo Verde-folha e Akihiro Ikeda. Ayel havia decorado o nome de todos os patriarcas dos clãs mais abastados do reino para poder amaldiçoá-los decentemente.


    — Inclusive, eu soube que você levou apenas dois guerreiros — O Lâmina-fria tomava a vez de falar — Um deles é meu filho. E se algo de ruim tivesse acontecido com ele? Apenas três combatentes contra uma quadrilha inteira?


    Brawen liderava o clã Lâmina-fria há quase trinta anos, todos seus filhos e os filhos deles seguravam espadas desde os cinco anos de vida. Treinavam com um único propósito e, por fim, tornavam-se crias honradas e assassinas. Ele estreitou os olhos, analisando cada reação de Ayel com um olhar crítico.


    Kord não era o membro mais novo do clã, mas o último homem. Logo, toda uma responsabilidade caia sobre suas costas. O legado de toda uma linhagem dependia daquele homem.


    O rei de Sihêon torcia o nariz ao escutar tamanho discurso, impetuoso, cerrara os dentes enquanto contendia internamente o sermão que irritava a cada palavra dita pelo Branwen.


    — O teu filho é a porra de um guerreiro, se ele não está pronto para a guerra. É bom falecer em combate mesmo.


    Um som uníssono de surpresa abrangeu todo o conselho.


    — Cuidado com o palavreado, isso não é atitude de um rei. — dissera Akihiro Ikeda.


    O bárbaro decidiu ignorar, já que o clã Ikeda sequer fazia parte originalmente de Sihêon, era uma linhagem de artistas que vinham do reino Eikõ, no oeste. Ayel tentava compreender como membros com uma mente tão fechada puderam permitir a participação desse homem ao conselho. A nata social de Sihêon era estupidamente imperialista, associavam preconceituosamente os eikianos.


    Os olhos dos moradores do reino do oeste eram estreitos, o tom da pele e a cultura criaram um abismo entre Eikõ e Sihêon, eles eram chamados pejorativamente de oestinos.


    — De qualquer forma, nenhum dos dois que levei comigo foram mortos, e a vila agora é minha, eu a anexei ao reino.
    Ayel não conseguia disfarçar o seu incômodo, isso não era um empecilho para o Conselho, eles tinham a noção de serem alvos do ódio do ruivo, mas também era sabido terem o rei em suas mãos.


    — Não é assim que essas coisas funcionam. — O patriarca dos Loregard se ajeitou na cadeira após ter quebrado seu silêncio.
    — Como não? Eu só não precisei atacá-los, eles cederam facilmente, principalmente depois que eu os salvei.


    — O que faremos agora que existe um pedaço do território do reino que está fora das muralhas? — O Bartolomeu continuou.


    — Podemos fazer com que paguem impostos para melhorar o armamento dos nossos homens. — Eric sugeriu, pegando uma taça de vinho que um criado acabara de trazer, equilibrada em uma bandeja de ferro, o mesmo criado começou a servir todos os outros membros do conselho.


    — Ninguém vai cobrar imposto algum em Pharid. — Todos puderam sentir o peso daquele maldito olhar tribal.


    — Então está anexando algo ao nosso território que só nos trará prejuízo e não lucro?


    O patriarca Láparo abriu uma boa questão, e após isso, todos os membros começaram a conversar entre si. Ayel até tentou escutar, pescou algumas palavras que mencionaram cálculo de ouro e disponibilidade de enviar guardas, mas nada, além disso.


    Havia algo no discurso de Ivan que estava deixando o rei com um queimar no peito.


    “Nosso território”


    Impaciente com as palavras profanadas, Alvorada lançara um ar repleto de desdém para o conselheiro.
    — Não há nada aqui que seja nosso, o reino é meu, os homens trabalham sob meu nome e a porra do território me pertence!


    O ruivo apertara os punhos, tentava com muita força conter a raiva que fervera intensamente dentro de si.


    — Será que em algum momento passou pela sua cabeça que, pelo bem e pela ordem, você deve agir exatamente como ordenamos que faça? Tenho certeza que você tem essa noção. — Drake levantou-se.


    Ele então ajeitou a gola de seu traje, olhando Ayel de cima, como se o considerasse inferior, e continuou a falar diretamente ao bárbaro.
    — Acha que não estamos reparando o verdadeiro motivo de você estar unificando as guildas se não para garantir um pouco de poderio social, além do bélico? É deprimente. Há cada cinquenta homens, apenas dez se tornam aventureiros. A quantidade de civis dentro desses muros é absurda perto do que você acredita que possa ter puxado para você. Você precisa de nós! Entendeu?


    Ayel esfregara a mão na nuca, como um gesto de inquietação evidente, principalmente enquanto o patriarca Less falava.
    Por fim, ele lembrou o motivo pelo qual Aiden talvez nunca tivesse batido de frente contra esse conselho, justamente por não saber como a burocracia dos reinos funcionava, ele estava perdido, tal qual seu irmão mais novo, agora.


    Alvorada poderia garantir certeza em planos mais simples, táticas de combate e como demonstrar compaixão ou gerar medo, mas o que ele faria para acalmar os ânimos de centenas de milhares de pessoas que viviam dentro do que ele herdou? Como se comunica com tantas pessoas assim?


    A necessidade do conselho era maior do que o rei poderia ter visto antes, eles sabiam manobrar as massas ao seu prazer e, enquanto o rei dançasse conforme a música, eles não agiriam negativamente. Era como uma prisão e isso incomodava demais.


    — Precisamos fazer um controle de danos, a população de Pharid espera uma posição de Sihêon sobre a sua tomada, ela foi legitimada a partir do momento que o próprio rei a disse para os moradores. — Milo Verde-folha havia erguido o dedo para levantar esse tópico.


    — Sem impostos, não conseguiríamos mover guarda o suficiente para deixar aquele local seguro de novo, nem teríamos de onde tirar mão de obra o suficiente para criar um muro menor, apenas naquele local. — Belomonte complementou.


    — Um bom começo seria adicionar esse ponto como mais uma parada das trilhas comerciais. — Dissera o Less, todos concordaram rapidamente.


    As trilhas comerciais eram caravanas criadas ainda na época de Mahfus III. Um aglomerado de peregrinos que fazia revenda de farnéis, tecidos e especiarias em geral.


    Eles viajavam para onde esses bens eram abundantes e adquiriam-nos de forma mais barata e então transportavam essas mesmas mercadorias para cidades onde estavam escassas para triplicar o preço e gerar lucro.


    Em um determinado ponto, todos os reinos e cidades próximas sabiam da existência das trilhas comerciais, mas ainda assim continuavam a alimentá-las.


    Pois, as estradas e os caminhos eram perigosos e ninguém tinha a coragem de se aventurar. O preço a mais a se pagar também era visto como uma alternativa para continuarem seguros.


    Adicionar Pharid como um dos pontos da trilha seria de grande valia, a vila por si só cresceria justamente pelo movimentar de ouro que um comércio poderia fazer. Uma estratégia simples, porém válida. O conselho discutia isso veemente.


    — Vamos precisar de um novo líder, então, já que pelo relatório do bárbaro, o antigo faleceu. — O Verde-folha sempre fora muito direto.


    — Quem poderia ser? Não conheço ninguém de Pharid. — Concluiu Lâmina-fria.


    — Eu menos. — Ivan ajeitava seu casaco de couro enquanto encarava todos.


    Bartolomeu finalizou a sua taça de vinho, deixando-a no canto do braço da cadeira. Não havia demorado tanto até ela cair, ele gritou com algum criado para resolver logo e limpar os cacos de vidro. Assim que resolvido, ele voltou aos seus companheiros:


    — No mínimo, alguém que seja de confiança para eles, ainda assim, que possa ser controlado por nós.
    Um dos patriarcas sorriu, então convocou o tribal.


    — Ayel. — Drake Less encarava o rei. — Já visitou Maut Ka Mandir?


    O ruivo havia perdido muito tempo nessa conversa, distraído enquanto encarava o chão, seus pensamentos estavam distantes. Não prestara um pingo de atenção no que o Drake dizia.


    — Ayel? — Ele repetia.


    — O quê? Diga. — Ele retorna a sua atenção.


    — Já visitara Maut Ka Mandir?


    — Sim, ontem mais cedo, apresentei a minha proposta e um homem chamado Anusha atendeu. Eu sequer entrei no templo, dizem ser proibido para aqueles que não são algozes, de qualquer forma, a minha conversa com ele foi amigável. Por quê?

    — Ayel decidiu parar de rebater, era o que Aiden faria.


    — Acredito eu que tanto Anusha quanto o Mudamir em pessoa sejam membros pharideanos. Preciso que peça um primeiro favor a eles, agora que estão unidos à coroa.


    — Estou ouvindo. — Ayel suspirava ouvindo Drake, o odiava acima dos outros.


    — Um novo homem deve ser enviado para Pharid como o novo líder da vila, escolhido a dedo por nós. Esse homem precisa estar próximo à comunidade, por isso, alguém de Maut possa nos ser útil. Esse homem precisará nos ser fiel e passar tudo que está ocorrendo lá, dessa forma teremos controle e, finalmente, iremos então oficializar o primeiro território que você conquistou.


    Sendo ordenado como se fosse um simples batedor, Ayel concordou com a cabeça enquanto agradecia aos céus que nenhum membro do conselho poderia ler pensamentos.



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