Capítulo 022 - O círculo mágico!
Capítulo 022 – O círculo mágico!
Cauteloso, Ayel abrira os olhos, a luz suave da manhã estava sendo filtrada pelas cortinas aveludadas, iluminou fracamente o aposento com um brilho dourado, tentou espreguiçar, mas não conseguiu. Yelena estava com o rosto apoiado em seu peito, nua, dormindo profundamente.
O silêncio do local estava sendo pontuado apenas pelo canto tão distante de pássaros que passavam com sua melodia.
As coisas haviam escalado muito rápido da noite anterior para essa, quando o rei percebeu, já estava com os cabelos loiros em seus braços.
Não é como se ele não quisesse, a sentinela tinha um lindo corpo com um rosto de traços tão finos e detalhados, quase angelicais. Recebeu de volta diversos vislumbres do que aconteceu com ele e ela na madrugada e abriu um sorriso olhando para o teto.
— Está tudo bem?
A voz dela ecoou pelo quarto, talvez a movimentação dele tivesse despertado a jovem.
— Pode voltar a dormir, está tudo bem — assentiu o rei.
O bárbaro não podia ver, mas a loira estava com um grande sorriso estampado em seu rosto. Ela encarara todas as partes do quarto e cada pedaço daquele lugar remetia a algo que o rei havia feito com seu corpo e a satisfez. Ela então fitou com seriedade a trouxa de lençóis ensanguentados que haviam sido jogados no canto do aposento. Compreendendo no passo que ela havia dado e que agora era uma mulher.
— E se eu não quiser dormir? — Yelena soava com um tom que transbordava cacofonia.
A sentinela ergueu-se e montou sobre o rei, sentia uma dor forte no pé do seu abdome como uma cólica proveniente da força que o bárbaro havia feito nela, mas decidiu ignorar.
Alvorada olhara para cima, observando aquela mulher no alto, cujo corava enquanto a respiração se tornava mais ofegante, os olhos do tribal intercalavam no rosto delicado da capitã da guarda e os seus seios que se aproximavam do seu rosto.
— Se você não deseja dormir, há algo que possamos fazer… — O sorriso do monarca transpirava uma energia lasciva.
A loira inclinou para frente, beijando com vontade o homem que a abraçava no processo. Ambos engalfinharam pela cama por alguns minutos até uma batida na porta interrompê-los.
— Majestade?
A voz que ecoava do corredor era de um dos criados. Era muito comum os lacaios do castelo apenas andarem pelas alas dos dormitórios procurando pelo seu rei. Principalmente, pois Ayel sempre dormia em aposentos diferentes toda noite, não como uma estratégia de segurança, ele fazia apenas para poder usufruir de todo o perímetro do castelo, sem desperdiçar um espaço tão gigantesco e majestoso.
— Sim? Estou aqui. — Ayel respondera, Yelena estava por baixo e pareceu fazer uma pequena expressão de decepção com a interrupção do criado.
— O senhor de Nox Arcana, Bruxo Negro, deseja lhe falar.
— Ele está aqui? — indagou Alvorada.
— Não, majestade. Ele repousa em Nox Arcana e convidou gentilmente o nosso rei para uma reunião emergencial.
— E por qual motivo essa reunião seria tão emergente? — O rei começara a sair de cima da sentinela, que se cobriu com os lençóis assim que desprotegida, sem o corpo do bárbaro por cima.
— Houve duas mortes no bosque sul. O Bruxo anseia conversar os próximos passos com o senhor.
— Certo.
Não tardou e Ayel já estava praticamente vestido, seus trajes são fáceis de tirar tão quanto são fáceis de pôr, a calça escura com pedaços de couro batido com diversas tiras que sobem pelo torso como suspensórios.
Ele então encostou-se para poder vestir sem sentar na cama. As paredes de pedra, outrora gélidas por toda a madrugada, agora pareciam mais acolhedoras com o calor que absorviam do sol.
Yelena ainda estava deitada, observava.
— Pode ficar por aí e descansar, hum? — Ayel abrira um sorriso.
— Como minha majestade quiser. — Ela sorriu.
O rei se perdeu em alguns pensamentos enquanto observava aquela linda mulher que ele havia deflorado. Decerto que ele a desejava e isso era recíproco, mas ainda assim, era muito perigoso. Ayel compreendia que, em algum momento, ele iria precisar cortar qualquer indício de relação com essa mulher por ser uma subalterna, o conselho dos nobres ficaria estarrecido e atrapalharia muito a sua vida.
Ele também cogitou manter Yelena como um segredo, mas seria arriscado tanto quanto. A partir do momento que ela percebesse que o fato da relação se tornar algo público virasse uma arma, poderia utilizar aquilo contra o rei e ele repudiava encarar esse fato.
Ele pensaria melhor quando seu sangue voltasse para a cabeça.
O local dentro de Nox Arcana, no qual realizavam as maiores reuniões, era conhecido como Esoterium. Lá, tanto os professores da academia se encontravam quanto o grande Círculo Mágico.
O Círculo Mágico era o grande conselho que regia a academia mística. Formado sempre por sete membros, por conta da importância arcana na numerologia: o algarismo sete esteve sempre relacionado à busca pelo conhecimento, à perfeição, à conexão espiritual e à plenitude.
Seus membros mudavam de eras em eras, mas sempre eram escolhidos os mais habilidosos nos portões misteriosos.
A geração dos alunos da grande escola arcana estava sendo administrada pelos magos Theodor e Hexacorallia, pelos bruxos Ecos e Evangeline e pelos feiticeiros Connaissance, Selene e Bruxo Negro, sendo esse último, o grande senhor e líder.
Esoterium se destacava pelo seu tamanho, era um local extenso com tetos altos e preenchidos por vitrais que transmutavam a luz em cores vibrantes, criando um ambiente espalhafatoso e estupidamente luminoso no chão de mármore.
— Considerações finais, meus irmãos arcanos?
Bruxo Negro era o único que ficava em pé quando ocorriam as reuniões do Círculo Mágico. Ele perambulava imponente por todo o Esoterium com as mãos nas costas, os outros membros precisavam estar sempre atentos em relação ao tom da voz utilizada pelo ser misterioso, já que o seu rosto era uma grande incógnita de sombras.
— Acredito que não, mestre. — Connaissance era, provavelmente, o membro mais formal do Círculo.
Ele era o guardião da biblioteca de Nox Arcana, conhecido por trajar mantos amarelos bem chamativos e usar um chapéu tão extenso que cobria parte do seu rosto. Assim que proferiu suas palavras, ele se ergueu da cadeira acolchoada e começou a retirar todas as xícaras de chá que estavam dispostas para seus companheiros, levando-as até um criado próximo, um arcano de confiança.
— Faremos alguma coisa em relação à infestação de goblins no sul? — indagou Hexacorallia.
Era uma mulher muito bela, mas algumas runas desenhadas em seu rosto que se estendia até os braços chamavam mais atenção que qualquer outro aspecto que tivera.
— Em relação a isso… — Bruxo Negro focou a virar a sua cabeça para a direção da mulher. — Convoquei que o rei viesse até nós hoje, assim que vocês partirem, terei uma conferência com ele. Pedirei encarecidamente que ele reúna um grupo de combatentes poderosos para erradicar aqueles monstros. Aquele bosque nos é útil magicamente, não podemos perdê-lo para goblins.
— Evidentemente — Dissera Ecos — Lá pode se tornar uma zona ermida1, não é isso?
Ecos era um homem de cabelos acinzentados, ele tinha diversos adornos em volta de suas orelhas, algumas argolas eram possíveis de identificar, outras coisas se confundiam no meio de tanta diversidade.
— É possível, sim, eu adoraria explorar e estudar aquele lugar… — Bruxo Arcano puxara um artefato do seu bolso do manto. Um cubo reluzente.
— Se precisar da nossa ajuda, sabe que estamos completamente inclinados a auxiliá-lo, mestre. — Continuava o homem das orelhas adornadas.
Ecos estava com os cotovelos apoiados na longa mesa de madeira que estava dominando o centro do local. Ela tinha as superfícies bem polidas, com exceção de alguns cantos nos quais transbordava cera de inúmeras velas postas para manter o ambiente o mais claro possível no escuro noturno.
O senhor de Nox Arcana brincava com aquele cubo, ele tinha diversas partes móveis e o arcano parecia girá-las para diversas direções, buscando manter todas as faces daquele item mágico com a mesma cor.
— Acredito que, pelo fato de o nosso mestre decidir convocar o rei e pedir um grupo, significa que talvez ele não pretenda cansar nossas próprias forças.
Dissera Evangeline, a bruxa ostentava o que podia com seus trajes completamente luxuosos, sempre combinava com a cor dos seus cabelos negros e curtos, ela tinha uma faixa ornamentada que cobria os olhos.
— O que é bem prudente, cá entre nós. — Theodor riu.
O senhor era o típico mago que se contava nas histórias por todo o reino, um cabelo longo branco com uma barba que acompanhava em trajes azuis que destacavam a pele branca.
— É sabido que eu gostaria de poupar nossos queridos alunos e até nós mesmos — Dissera Bruxo Negro, fazendo uma expressão empática que ninguém conseguiria ver.
Nas paredes constavam algumas prateleiras, que estavam repletas de tomos antigos e relíquias arcanas. Bruxo Negro guardava este cubo reluzente em uma dessas prateleiras antes de prosseguir.
— Mas esse tipo de pensamento, meus irmãos. Remete a uma época que já não mais vivemos, não precisamos pensar com essa individualidade toda agora que as guildas foram unificadas pelo tribal.
— Crê verdadeiramente nessas palavras, mestre? — indagou Selene.
Ficara a reunião toda quieta, ela era desse jeito, sempre observadora com o seu cachimbo na mão. Ela tinha um rosto fino que não parecia combinar com o resto do seu corpo farto de carne.
Bruxo Negro virou com surpresa.
— Creio verdadeiramente, espero que seja o suficiente para fazer com que o restante do Círculo também acredite.
As palavras do senhor de Nox sempre eram carregadas com muita emoção e sabedoria ao mesmo tempo. Bruxo Negro era quase um ser mitológico, pouco se sabia da sua idade ou da sua origem, mas quase todos os arcanos do mundo já escutaram ou leram este nome.
Um dos criados surgiu na entrada do Esoterium e fez uma breve reverência para o homem do rosto das sombras, que compreendeu.
— Meus irmãos arcanos, vou pedir que se retirem para que eu possa realizar a minha conferência… O rei chegou.
- Vai depender muito da cultura que esse arcano estiver inserido, mas é comum o termo de Zonas Ermidas, ou Terreno Ermo.
Consistirá em ambientes que sejam naturalmente ou intencionalmente embebidos com uma quantia tão absurda de mana que se torna uma fonte de recuperação para os arcanos que estejam dentro do raio de influência dessa força.Esse tópico será melhor explicado em capítulos futuros.[↩]
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