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    Capítulo 023 – ‎Chás esotéricos!

    O tribal passava pelos portões enegrecidos com um certo desconforto, ele odiava ter que aguardar para algum arcano descer a barreira da escola para então passar. Tirando a atenção que ele chamava para si enquanto andava pelos corredores que eram longos e sinuosos.

    O eco de todos os passos ressoavam no chão frio, a brisa passava suavemente pelo corpo do bárbaro, advinda das janelas altas. O aroma de ervas secas e papel velho era um ponto forte.

    — Saudações.

    Ayel passara pela entrada do Esoterium e lá havia duas pessoas o aguardando.

    Uma dama com um chapéu enorme e cabelos ondulados e pretos, parecia bastante tímida, estava no canto do cômodo e Bruxo Negro estava sentado na mesa retangular no centro. Ele se levantou apenas para fazer uma reverência ao rei e então sentara mais uma vez.

    — Boa tarde, majestade. Como você está?

    O Bruxo gesticulou para o ruivo, que também se sentou. Na outra ponta da mesa, ambos se encaravam.

    — Vou bem, Bruxo. E essa? — indagou Ayel.

    — Essa é Amelie, uma das nossas novatas. Caso não se importe, gostaria que ela estivesse conosco.

    A jovem curvou-se em uma respeitosa reverência, encarando poucas vezes o Alvorada.

    — Sem problema algum. — Ayel assentiu.

    — Muito prazer, vossa alteza. — A voz da moça era doce e aguda, indicava pouca idade.

    — Eu soube, uns dias atrás, na taverna.

    Bruxo negro estalou os dedos enquanto dizia, a moça então se afastara por uns momentos e quando retornou estava com um enorme bule de argila, fumegante.

    Ela serviu duas grandes xícaras de porcelana e deixara uma junto do Bruxo Negro e a outra, levou até o monarca, se afastando novamente e observando tudo calada.

    — Tem chamado muita atenção, meu rei. — O arcano sorriu, mas o Ayel nunca conseguiria reparar isso.

    — E o que você quer que eu faça, Bruxo?

    O rei bateu com a mão na mesa.

    — Peço que não comece a agir que nem o conselho dos nobres, eu não sou do tipo que fica sentado e observando os outros viverem.

    O arcano se assustou com o ímpeto que o monarca respondeu, ele ergueu ambas as mãos como sinal amistoso.

    — Não me leve a mal, majestade… Eu não buscaria assustá-lo dessa forma tão superficial, apenas quis evidenciar a sua presença e acessibilidade. — apaziguou Bruxo Negro.

    — Sei que não foi para isso que me chamou, também. — A voz do Alvorada carregava um rancor.

    — Definitivamente, não.

    — Então pode prosseguir. — O rei passara a ficar um pouco mais atento.

    — No sul, há pelo menos um mês, conseguimos reparar uma pequena tribo goblin começar a criar forças, creio que duas semanas atrás um relatório igual chegou para você vindo de Kord e Claude.

    Bruxo Negro colocou alguns papéis na mesa, eles lembravam um pouco os relatórios que vinham da sentinela, assim que feito. Amelie se aproximou e pegou os papéis, levando-os até o ruivo do outro lado da mesa.

    — Eu soube pela Yelena.

    — Acontece que, não mais recente que isso, dois membros adentraram no Bosque das Folhas Densas e apenas um retornou. — O tom de voz do arcano desceu um pouco pelo peso da morte.

    — Quem eram esses dois? — indagou Ayel.

    — Phellege, um necromante. Acabou morto.

    O senhor de Nox Arcana pegara a xícara, soprou-a bem e então levou à boca, ou onde qualquer um poderia crer que fosse a sua boca, já que as sombras encobriram tudo, inclusive as texturas do rosto daquele homem.

    — O outro é Aldmond, um relicário. Este escapou com vida, voltou ao Laboratório das Maravilhas — Ele continuou.

    — Dois membros de guilda? Que surpresa pensar que perderam para alguns goblins.

    Para Ayel é estranho que os goblins sejam tão poderosos em conjunto, mas ele sabia que era uma visão muito parcial, visto que bandos bárbaros andavam em conjunto igual e é isso que os tornam tão temíveis.

    — Ambos podem ser membros de guilda, mas são novatos também, a necromancia é uma arte muito ingrata, levam muitos anos para que ela surta algum efeito significativo, já o relicário… Sem muita experiência em criações, não há muito que ele consiga inventar para auxiliá-lo efetivamente. — Bruxo Negro explicou.

    — É triste, mas o que tenho a ver com essa morte?

    O rei encostou na cadeira acolchoada e cruzou os braços.

    — Agora que as guildas foram unificadas, majestade. Algumas responsabilidades para com elas estão em suas mãos, acredito que saiba que existem, nesse exato momento, duas famílias desestabilizadas, e isso só pode ser curado com um parecer seu sobre o bosque.

    — Entendo, você quer que eu os destrua? — Ayel abrira um sorriso.

    — Eu não diria você necessariamente, excelência. Mas talvez um grupo de aventureiros poderosos e capazes que possam acatar qualquer ordem sua.

    — Posso reunir um grupo, Bruxo. Mas prefiro ir pessoalmente, não dispenso uma batalha. — O monarca parecia indobrável em relação a isso.

    O tribal ajeitou suas vestes com tiras de couro e observara o arcano que bebia com muito gosto o chá, então encarou a xícara que logo estava à sua frente também, o rei então pegou o chá. Antes de levar a boca, encarou Amelie.

    — Posso?

    Ela corou.

    — Claro, vossa alteza. Preparei esse chá especialmente para essa ocasião, espero que goste do sabor.

    Ayel bebeu gradualmente, o calor do líquido não afetava sua boca. Ele nunca foi de beber sucos ou chás, principalmente após ter conhecido as belezas do hidromel, mas havia dado uma chance e gostou definitivamente do que estava provando.

    — Muito gostoso, mas não identifiquei que erva seja essa… — Ele devolvera a xícara para a mesa.

    — Uma erva muito especial, achei-a em minhas caminhadas à noite, é realmente ótima para se fazer chá, nunca descobri seu nome em meus estudos, então batizei de erva da lua. — explicou Amelie, rindo docemente.

    — Deveras saboroso, eu adoraria beber mais vezes.

    Bruxo Negro coçara a garganta, interrompendo a interação dos outros dois. Ele pegou novamente a sua xícara de chá e tomou mais um gole, com o rosto virado para o bárbaro.

    — Enfim, em relação ao grupo?

    — Serei eu e mais alguns, como eu disse anteriormente. — O rei estava com um semblante mais sério assim que voltou a atenção para o Bruxo.

    — Cabeça dura, hein? — O arcano riu — Bom, de qualquer forma, é uma tarefa simples se efetuada por um grupo de membros experientes, não dois garotos. Acho que seja interessante que você tome para si essa tarefa, vossa alteza.

    — Entendo perfeitamente, Bruxo. Atuo auxiliando as guildas justamente para manter a ordem, saiba que o reinado sempre irá favorecer esses pequenos grupos de aventureiros a participarem desse tipo de peleja, considere-o cumprido.

    Ayel olha para os lados até encontrar novamente a dama, ele ergue a xícara, agora vazia.

    — Posso beber mais?

    — Ah, claro! Servirei o senhor, alteza.

    Amelie direcionou seus passos para o canto da sala onde havia deixado o resto do chá, pegou o bule e serviu mais uma vez a xícara do rei.

    — Obrigado — Ele agradeceu, já levando o chá à boca.

    — Disponha, meu senhor.

    Grandes colunas de mármore sustentavam o Esoterium, cada uma entalhada com símbolos, milimetricamente calculados para estarem onde estão. Amelie ficou encostada em uma dessas colunas.

    A arcana decidiu se calar, esperando o diálogo entre o Bruxo e o bárbaro.

    Bruxo Negro encarava a situação toda enquanto conjurava uma pequena chama de uma vela, que acendia na ponta do seu dedo indicador. Ele dissipa a chama balançando os dedos repetidamente, voltou a atenção ao tribal que bebia chá.

    — Devo dizer que preciso partir agora, sua permanência em Nox é mais que bem-vinda, meu rei. Aprecie o resto do seu chá, que estava ótimo. Obrigado, Amelie.

    O senhor de Nox ergueu-se da cadeira enquanto Amelie reverenciava-o em agradecimento, então ele prosseguiu.

    — Tenho planos de ir até a caverna de Alyssius e pedir novamente que aquele mago desista do exílio e junte-se a nós finalmente… Mas aquele orgulhoso, duvido que um dia aceite.

    — Até mais tarde, mestre. — Despedia-se a arcana.

    — Até, Bruxo. — Ayel dizia enquanto o homem saia da área da sua visão.

    Quando sozinhos, Amelie se sentiu um pouco mais à vontade com a presença do monarca, dando um passo à frente, ela perguntou:

    — O que… O que planeja fazer a partir de agora, senhor? Não querendo me meter em seus assuntos… Mas quem vossa majestade pensa em chamar para esta missão no bosque do sul?

    — Eu ainda não sei, há muitos membros de guildas que têm potenciais interessantes… Não conheço todos. — Ayel começara a beber o chá com goles mais generosos.

    — Eu não costumo sair para muito longe, então conheço apenas as pessoas que acessam Nox Arcana, mesmo.

    A bruxa andou um pouco mais próxima da mesa retangular, como se fosse sentar em um dos lugares, mas apenas ficou em pé ao lado de uma das cadeiras.

    — Você está disponível? — indagou Alvorada de supetão.

    A arcana dos cabelos ondulados fez uma expressão de surpresa que rapidamente foi substituída por um sorriso cheio de timidez.

    — Eu? Estou, sim, deseja que eu acompanhe o senhor?

    Ayel então se levantara, ajeitava as suas vestes, empurrando a cadeira de volta para a parte de baixo da mesa enquanto proferia em direção a Amelie.

    — Se desejas vir comigo, então fique pronta, eu devo procurar pelo menos mais três pessoas e então partiremos.

    — Eu já estou pronta! Cogita ir necessariamente agora ou deseja que eu te espere? — A jovem estava animada, um entusiasmo que se perde com o tempo, mas estava muito vivo em aventureiros novatos.

    — Venha comigo, então, me acompanhe.

    O bárbaro começa a se retirar da sala de reuniões de Nox.

    — Eu adoraria, majestade.

    Quando ambos rumavam fervorosamente para a saída, Ayel olhava fixamente para as prateleiras, as estantes e principalmente para as magias que escutava conjurarem ao longe da academia, via luzes que passeavam pelo claro das paredes de pedra, era, de fato, impressionante.

    — Vou te ser sincero, acho a escola mágica fascinante, mas não é para alguém como eu. — Concluiu o Alvorada.

    — A magia é linda… Esse cheiro é bom, mas não supera as ervas da lua. — A dama riu, colocando a mão sob a boca.

    O eco de outras conversas passeava pelos corredores até chegar na dupla que estava se retirando.

    — Onde você colhe essas ervas? Me mostre depois, se puder, eu gostei delas.

    — Colho praticamente todas as noites, no bosque ao noroeste, depois dos muros do reino.

    — Permita-me que eu a acompanhe na próxima vez. — Ofereceu-se o tribal.

    — Eu ficaria lisonjeada com tamanha presença, vossa alteza. — Mais uma vez, ela abriu um sorriso delicado.

    Os dois andavam lentamente um ao lado do outro, Ayel claramente não havia percebido o olhar de admiração que Amelie falhava em disfarçar.

    Alguns outros aventureiros precisavam estar presentes.

    Algumas guildas deviam ser visitadas para convocações.


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