Capítulo 025 – Emaranhado verdejante!
Capítulo 025 – Emaranhado verdejante!
Demorou, mas o grupo no fim alcançou lentamente a primeira clareira do Bosque das Folhas Densas, empurravam os galhos e as flores entrelaçadas para limpar o caminho que faziam, os lenhadores haviam acabado seu serviço e se retiraram.
Duas coisas atiçaram fortemente todos assim que pisaram no centro daquele espaço verde.
Primeiro era a visão que tinham sobre a batalha anterior, flechas presas nos troncos retorcidos e marcas de arranhão nos galhos colocara todas as cabeças para pensar em como tudo poderia ter acontecido. As manchas enegrecidas de algo que um dia já fora sangue também eram um dos chamativos que puxaram muito a atenção.
A outra coisa que atiçou os aventureiros acabou sendo um cheiro horrível que invadia o ar, como se algo profano estivesse apodrecendo ali por muito tempo. Fora quando avistaram, deitado, cheio de marcas, o antigo necromante que auxiliava Kassandra em sua guilda.
Seu corpo acobertara-se de sujeira e lama, as suas roupas estavam rasgadas e gastas e ele estava inteiramente em um estágio avançadíssimo de putrefação.
O odor era tão fétido que Yelena e Amelie tiveram que cobrir seus rostos com parte de suas vestes para não sucumbirem à vontade inerente de vomitar. A necromante dos olhos pálidos avançou e se ajoelhou ao lado do cadáver.
— Meu rei estava certo, meu menino está pútrido… — Kassandra dissera, fazendo carinho no rosto de Phellege.
A expressão dele era um grito de sofrimento e desespero, somado à exaustão que ele claramente sentia. Seus olhos estavam opacos e encaravam para cima como se tivessem virado de tamanha dor e agonia.
O clima havia escurecido, todos fitavam entre si enquanto a ruiva do Mausoléu acariciava o homem sem vida, as respirações passaram a ficar cada vez mais pesadas e ruidosas, o que quebrava o silêncio de outrora. Lamentavam quietos.
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Era possível observar de longe tamanho contraste existente na tranquilidade do rei e dos guerreiros em comparação à expressão empática das moças que visualizavam Kassandra absorver a decadência do seu aluno podre. Uma sensação de desconforto gigantesca acertava todos os presentes, tudo estava muito sombrio.
— Nekrí Diatírisi1.
A voz da Morta-viva soou como um sussurro, embora tenha propagado em direção ao corpo como uma vibração. Veios negros saíram diretamente da sua garganta e trafegaram lentamente, flutuando cintilante em direção aos ouvidos, nariz e boca do cadáver, adentrando seu corpo e gelando-o completamente.
A pele de Phellege enrijeceu e branqueou ainda mais, alguns vermes que resistiam em seus cortes profundos e abandonados foram rapidamente repelidos pela magia, reduzindo-os a pó.
Ayel não pode deixar de ficar curioso, tal qual todos ficaram, mas apenas ele se dirigiu até a ruiva que checava as condições do corpo.
— O que fora isto? — indagou o tribal.
— Estava cuidando para que não apodrecesse ainda mais, utilizei a uma técnica necromante antiga chamada Fala da Tanatose2.
Kassandra sorria, havia dado certo, o homem era seu e estava seguro.
— Isso vai impedir que ele apodreça mais? É incrível. — Alvorada decidira falar um pouco mais alto para que os outros pudessem sanar suas dúvidas igualmente.
— Ordenei que alguns membros viessem para pegar o corpo, devem chegar em breve… Cuidarei do Phellege mesmo após morto, vai se tornar um material de estudos que me pertencerá.
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O bárbaro encarou bem a situação, o bando ao qual ele pertencia era bem frio quando o assunto é a morte, mas neste ponto? Definitivamente, surpreendente. Isso fez o monarca pensar bem no motivo pelo qual as outras guildas e os aldeões temiam o fixar dos necromantes na grande Sihêon.
Amelie se sentia um pouco deslocada, encarando o rei com a necromante, a Yelena com seus guerreiros do outro lado. Ela desejava profundamente se distrair para evitar sentir medo, principalmente ao vislumbrar a situação em que a necromante utilizou a sua Fala da Tanatose, fez a arcana cogitar se era poderosa o suficiente para estar onde estava. Olhara para baixo, encarara a sua mão e tentava lutar em vão com a sensação de insegurança.
Ela lembrou do que o Bruxo Negro havia dito um pouco antes dela partir em direção ao bosque para encontrar Ayel e os outros.
“Muitos que estarão lá têm uma experiência em batalha que você ainda não tem, tome como oportunidade para observar, entender e aprender. Não se esforce além do que você sabe que consegue fazer, eles poderão tentar proteger você, mas conte também com a sua mana. Se não for possível permanecer, corra.”
A arcana cogitava se a sua presença seria tão importante, hesitava em se mover para longe, se afastando e desistindo de tudo, porém, assim que ela ergueu sua cabeça para ver o que estava acontecendo.
Percebeu Yelena um pouco mais adiante, Kord e Claude estavam abaixados com as mãos no cabo das suas espadas. Ayel percebera junto da bruxa o que acontecia, se aproximou, pisando devagar, sem criar alarde.
Não apenas a visão, mas a audição da sentinela loira era muito aprimorada, ela olhava entre os arbustos e galhos que poderiam atrapalhar qualquer um que tentasse focar adiante, mas não ela. Uma pequena silhueta esverdeada estava destoante no meio da vegetação, pairando sob o grupo.
— Um goblin. — Ela sussurrou.
— Acerte-o daqui, consegue? — O tribal já estava próximo dela, movia-se com cuidado por ser espalhafatoso.
— Daqui? Devo acertá-lo, mas não acredito que eu consiga matar. — Ela virou o rosto para encará-lo, corou um pouco pela proximidade dele com o seu rosto para poder falar baixo.
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— Ótimo, então faça.
— Meu rei? — Ela voltou a atenção ao ser verde.
— Goblins são seres pouco inteligentes que atacam em bando e em situações em que estejam em vantagem, covardemente, com as suas famosas emboscadas. — O rei focava tentando encontrar o monstro já localizado pelos olhos de Yelena.
Enquanto escutava, a mulher sacava o seu arco, cuidadosamente puxara uma flecha da aljava, enquanto o Alvorada continuava:
— Se o acertar agora, ele continuará vivo, se estiver sozinho… Recuará, se tiver outros próximos dele, ele pedirá ajuda. Deixará de ser uma emboscada, tomaremos as rédeas da situação.
Yelena soltara o dedo, e o tiro fora primoroso, certeiro e letal.
Um som seco ressoou quando a flecha atingiu o alvo, todos se assustaram com o som anterior do vento sendo rasgado por um assobio agudo.
A flecha fincou-se no fundo da carne do globin que atônito recuou bons passos, seus olhos arregalaram de dor, pela principalmente surpresa, pois achava que estava furtivo, suas pequenas garras quase em reflexo agarraram a haste de madeira que aprofundou no seu peito, cravando profundamente.
Seu grito escapou estridente pela sua pequena garganta, assustou os poucos pássaros que estavam perto da clareira. Um grito rasgado e embebido em desespero, como um lamento de um animal encurralado pelo seu predador. Um último apelo que adentrou as sombras da floresta.
O sangue escorria pela flecha, chorava no chão úmido e escondia-se no meio do emaranhado de raízes. O monstro se esforçava para continuar ereto.
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Sua voz falhava e o seu grito ficava cada vez mais rouco, caíra para frente, terminando o serviço da flecha que se aprofundou o máximo que podia e quebrou-se com a queda.
De longe, todos na clareira puderam observar o surgimento de diversas pequenas esferas brilhantes que cintilavam e piscavam na escuridão do bosque, correndo agressivamente em seus gritos ritmados e tribais para o interior do ambiente, os três espadachins rapidamente sacaram as suas espadas. Yelena não mudou a direção que mirava o seu arco, mas seu pescoço virava para todas as direções como se procurasse um alvo mais próximo.
Amelie sacou rapidamente uma varinha, que estava presa em sua cinta.
Muitos arcanos visualizavam uma certa facilidade em organizar sua mana em algo fora do seu próprio corpo. Uma varinha servia para concentrar a mana em um espaço mínimo, potencializando seus disparos. Um cajado, por sua vez, acumulava quantidades maiores de energia para conjurações mais complexas. Arcanos mais experientes substituíram as varinhas pela ponta dos seus dedos e o topo dos cajados por suas palmas, mas ainda assim. Era comum ver velhos bruxos e magos ainda utilizando desses artifícios apenas por comodismo.
Kassandra sacara uma adaga, assim que ela fez, diversos goblins invadiram finalmente a clareira e um embate estourou com voracidade. Hob, Alvorada e Lâmina-fria estavam na frente, suas espadas largas e pesadas cortavam as criaturas com uma facilidade gigantesca. O que fez com que os monstros recuassem tamanho o medo.
Isso não impediu que a investida dos aventureiros parasse, o fato de terem atiçados o ataque dos goblins impediu que fossem flanqueados completamente, rompendo ferozmente a emboscada.
Yelena atirava suas flechas com uma velocidade absurda, o zunido do vento sendo desconsiderado pela força dos disparos só finalizava seu choro quando encontrava a carne goblin, ela era dona de uma destreza anormal. Ayel olhara para trás algumas vezes encarando a maestria da sentinela loira, sorrindo com um desejo latente.
O número de goblins que surgiu para o número que continua de pé se tornou uma lacuna enorme, os monstros esverdeados inclusive demonstram uma surpresa genuína em perecerem com tanta facilidade, todos que tentam fugir são mortos com crueldade pelos aventureiros.
— Oito… Nove… — Kassandra passava delicadamente a sua lâmina nos pescoços dos goblins que se aproximavam dela e do cadáver, ela contava cuidadosamente.
Quando ela percebeu haver uma dezena de pequenos monstros mortos ao seu redor, ela guardou a sua adaga prateada e ergueu ambas as mãos, profanando mais um pouco da Fala da Tanatose:
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— Sikotheíte kai epitetheíte3!
Veios negros saíram tanto da boca da mulher ruiva quanto da ponta dos seus dedos, caíram como uma fumaça que tivesse peso e trafegaram pelas raízes até adentrarem pelos orifícios dos goblins mortos, que abriram novamente seus olhos, agora com um branco inconfundível no olhar.
Kassandra apontara seu dedo para os inimigos e seus zumbis reerguidos correram para atacar aqueles cujo eram seus companheiros momentos atrás, criando uma chacina de goblins contra goblins.
“Então essa é a força de um necromante…”
Pensava Ayel enquanto decapitava mais um esverdeado com muita facilidade. A batalha parecia estar completamente controlada, ele fitou Amelie que estava recuada, mas eventualmente disparava algumas rajadas puras de mana nos inimigos, concordou sozinho com a cabeça reparando sua utilidade. O chão havia se tornado um grande oceano de cadáveres verdes, mas o rei sabia que não era apenas isso que se escondia no bosque, que teriam mais.
De qualquer forma, todas essas quedas desestabilizaram efetivamente toda a comunidade monstro que estava aqui, seria um bom momento para descansar evidentemente. Talvez até retornar para o reino.
Em meio aos seus devaneios ele sentiu algo passar do seu lado, era um goblin. Que fugia.
Ele olhou rápido para todos os outros, os aventureiros encaravam o fugitivo, não havia mais nenhum inimigo vivo.
Yelena tentou atirar mais uma vez, porém quando colocou sua mão atrás da cabeça para puxar uma flecha, percebeu que a aljava havia esvaziado.
O tribal então correu, pisando pesado e espaçando suas pernas para alcançar o monstrinho, que corria em desespero tão tátil, que gritava.
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— Criatura, esse bosque onde você se encontra pertence a mim, ao meu reino!
Ele ergueu a espada, mesmo em movimento na sua corrida, desceu a mesma na diagonal de cima para baixo, dividindo com brutalidade o inimigo que faleceu tão rápido, que as pernas ainda tentavam se mexer depois que os restos caíram, manchando o chão com sangue.
— E eu quero de volta.
- Termo vindo de: “Νεκρή Διατήρηση” que é o equivalente grego para “Preservação da Morte”⤶
- Nota do Autor: A Fala da Tanatose será um idioma específico que alguns necromantes utilizarão em algumas de suas magias, é afetada culturalmente, Kassandra pertence às Terras Verdejantes então a sua Fala da Tanatose é muito baseada no grego, um necromante das Terras Áridas, exemplo, poderia se comunicar com a Fala da Tanatose em um idioma muito baseado no egípcio, por exemplo. Sempre será remetido de alguma forma a culturas antigas que veneram especialmente os ritos de passagem da vida humana.⤶
- Termo vindo de: “Σηκωθείτε και επιτεθείτε” que é o equivalente grego para “Levante-se e Ataque”⤶
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