Capítulo 027 – Ensanguentados!
Capítulo 027 – Ensanguentados!
Os portões de Maut Ka Mandir abriram para que o seu grande regente pudesse passar, ele estava com uma katar presa em cada uma das suas mãos.
Assim que ele as retirou, um algoz veio cumprimentá-lo. Estava terminando de secar-se, na frente das sagradas fontes, quando viu o seu senhor.
— Mestre Anusha? Quem foi agora?
O aprendiz mencionava um alvo de contrato.
— Um senhor do reino vizinho… Um guerreiro aposentado, não parecia que seria difícil, mas ele demonstrou grande resistência. — Explicou o mascarado, retirando as katares das mãos e indo lavar-se nas fontes ornamentais.
— O senhor feriu-se?
O jovem apontou delicadamente para as manchas nas vestes do seu superior, que riu com a preocupação tola.
— Uma leve perfuração na costela, mas tomei uma poção que já está me fazendo sentir uma melhora. Obrigado.
— Eu o deixarei em paz, mais velho. Qualquer coisa, por gentileza, me convoque.
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Em meio uma longa reverência, Anusha estava sozinho, lavando suas mãos nas águas límpidas da morte.
Retirara a sua máscara, seu rosto pálido e a boca carnuda sentiu o gélido líquido que purificava. Mas logo colocou rapidamente a máscara mais uma vez, quando escutou passos se aproximarem.
Era Dalila.
Ela havia acabado de chegar no santuário da morte, estava explorando a cidade, ela não a conhecia da forma que devia, tomou um chá com Victoria e Joana, estava chegando para poder descansar. Reparou na presença do seu senhor e se sentiu na obrigação de saudá-lo.
— Perdoe-me, mais velho. Não havia visto o senhor.
O mascarado estava começando a secar as katares, uma a uma, com uma seda, que estava presa em sua cinta, depois. Estava ungindo ambas com um líquido de um frasco que ele pegou perto de uma das fontes.
— Não se preocupe, criança. — A voz abafava-se quando batia na figura branca do rosto da raposa. — Passeando?
— Sim, senhor, eu precisava conhecer o ambiente no qual estou inserida… Sabe? Sinto que nunca caminhei nas ruas da forma que precisava. Eu as conhecia, mas estou longe de dominá-las.
O raciocínio da jovem algoz não era de todo um erro, as ruas de Sihêon se tornavam confusas devido ao tamanho estúpido do território, era muito fácil se perder caso não estivesse viajando para postos-chave da cidade. Como Nox Arcana ou o Templo, por exemplo.
Anusha concordara com a cabeça, ainda focado nos seus afazeres com a sua arma. A seda servia para tirar qualquer umidade da água e impedir que a lâmina enferruje-se, já o óleo servia para manter os cortes nas vítimas abertos após cortados.
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— Há algo errado, senhor? — Ela havia estranhado a frieza do seu superior, talvez tivesse feito algo contra ele e sequer lembrava disso.
— Você já escutou um grito de dor?
O regente de Maut Ka Mandir foi direto, Dalila piscou repetidas vezes em completa confusão.
— Alguns… — Dalila falava com um tom baixo.
Fora o que ela conseguira responder dado o baque da pergunta.
O som da água que passava pelas fontes atroava, preenchia o silêncio pesado que se criava entre uma frase ou outra, no meio dos dois assassinos.
— Entretanto, creio que não tenha entendido o motivo disso, do nada, mestre Anusha.
Ela buscava compreender o rumo que o diálogo poderia correr, infelizmente, não conseguiu concluir coisa alguma.
— Não… Não escutou não. Eu ainda vejo o brilho nos seus olhos. Logo, você nunca escutou.
O pharidenho andou até o centro do salão das fontes, encarando a sua aluna com os olhos cerrados. Era possível ver parte da sua pele pálida atrás dos orifícios da sua máscara.
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— Estou falando, Dalila. De um grito de dor real, mais profundo que o de um simples corte.
E ele começava a se aproximar da mulher, circulando-a com passos lentos e pesados.
— Um grito de dor… Aquele grito agudo, cheio de angústia… Um grito carregado de um sofrimento indescritível. Um grito que demonstra a total falta de esperança.
Os pingos incansáveis das fontes marcavam o tempo de uma maneira absoluta. O gotejar aumentava a tensão enquanto Anusha cercava Dalila.
Quando rodeou completamente a mulher da pele de caramelo, ele se viu mais uma vez de frente para uma das fontes, seu reflexo estava nítido, ele ficou refletindo por alguns momentos.
— Um grito daquele que sabe que irá perecer… Então retorna ao medo infantil de se sentir impotente, ou o grito de ver alguém que ama sofrer e não ter como reagir a isso…
Dalila observava atentamente a movimentação do homem, não sabendo ao certo aonde ele chegaria.
Decerto que ela pode reparar que Anusha em pessoa, não se sentia confortável ou até mesmo concordasse com o ofício que havia escolhido.
— Diz isso para que eu me prepare de cometer meus próprios assassinatos? — indagou a algoz.
Anusha movia-se silenciosamente, ele não parecia sequer estar tentando ser furtivo, era como se fosse assim desde sempre, ele encarava a sua aprendiz, ela sentia o peso dos olhos. A pressão do clima.
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Havia um aroma tão extasiante no ar. Eram as velas, acesas e postas estrategicamente para uma combinação de iluminação e adorno. A pedra úmida das paredes parecia absorver o cheiro das ervas incendiadas e isso deixava o ambiente com uma atmosfera densa, mas acolhedora.
A voz dele era baixa e rouca:
— Você acredita mesmo que os algozes se orgulham das chacinas que proporcionam? Se todos os corpos que tirei a vida fossem empilhados e eu estivesse por cima, você mal me veria no monte.
A mulher dos cabelos escuros engoliu seco enquanto escutava.
— É o nosso trabalho, é árduo e às vezes sujo, mas temos que fazer. — Concluía o mascarado.
O suspiro da moça parecia ter reverberado nas águas das fontes. Ela se mantinha parada enquanto observava o seu superior andar de um canto para o outro.
— Sei disso, mahoday1. E é por isso que acredito que o brilho dos meus olhos não deva ser apagado… Afinal, isso mostraria que eu não respeito a escolha da família e nem mesmo a minha de seguir esse caminho.
Ela tocou na sua katar que estava presa em sua cinta, uma arma virgem.
— Por favor, não me entenda errado. — Dalila prosseguiu — Eu já vi o peso da morte e lamento pelas vítimas, as quais vão encontrar a minha lâmina, entretanto não aspiro permitir que isso também me mate por dentro.
O senhor de Maut escutou, retrucando assim que a frase da mulher estava prestes a acabar.
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— Você precisa entender que, para a sua vida poder continuar, você vai ser obrigada a ceifar outras. Você viverá acabando com almas alheias. Você encerra com sonhos, com planos, com as famílias, com amigos… com casais apaixonados, você é o fim.
O pharidenho fez alusão como se fosse retirar a máscara, colocando sua mão sob ela, mas ele ponderou. Não mexendo mais em nada próximo ao seu rosto. Erguendo o rosto da raposa para observar diretamente o rosto da subalterna.
— O que difere um algoz de um simples assassino, Dalila, é ter justamente essa compreensão. Entender que esse é um pecado que escolhemos. Um fardo pesadíssimo, mas apenas nós conseguimos carregar.
Um leve som de passos ecoava no ponto mais distante, não demorou para se perder na escuridão. Era outro aprendiz passara sob as fontes, havia cordialmente reverenciado os dois que se encontravam no recinto.
O senhor de Maut Ka Mandir havia entrado com luvas grossas de couro, ele havia tirado para se lavar nas fontes. Assim que ele termina de tratar as lâminas, começa a pôr o restante do seu vestuário.
— Minhas mãos… — A fala de Anusha parecia vir carregada de exaustão. — Não importa quantas vezes eu as lave, eu sempre vou sentir o cheiro de sangue que emana delas, e esse sangue não é meu.
Ele toca no ombro da mulher que ainda se encontra no salão das fontes.
— Pense bem se é isso mesmo que você quer, se achar que é pesado demais para você, desista. — assentiu o mascarado.
— Não irei desistir, mahoday. Lutarei para que esse peso não apague o que foi classificado como o brilho dos meus olhos… Querendo ou não, eu devo isso às minhas vítimas.
De peito estufado, conforme a mulher prosseguia com a sua frase, Anusha abriu um discreto sorriso, que se escondeu na raposa de porcelana.
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— Quando chegar a hora, eu sei que vou pagar por toda a dor que causei, causo e causarei. Seja neste ou em outro mundo. Estou completamente certa do caminho que estou trilhando.
A mão de Anusha soltou o ombro da sua aluna, ele pôs essa mesma mão no ferimento que havia recebido mais cedo, o quente do sangue escorria por todo seu tórax, ele usava vestes escuras demais para que Dalila pudesse perceber.
Ele então apenas concordou com a cabeça, dispensando a pele de caramelo da sua vista, aparentava estar pronta para um contrato. Mas longe de ser uma verdadeira assassina, só estaria completa assim que ceifasse alguém.
De qualquer forma, o tempo resolveria isso, naquele momento, a mente do líder da guilda estava mais ao noroeste. Onde uma dupla habilidosa agia em seu nome.
- Do Híndi: महोदय, que pode significar uma forma muito polida de se reverenciar um superior; equivalente a “senhor”⤶
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