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    Capítulo 032 – Que venham os inimigos! ‎

    As bandeiras no mais alto das atalaias tribulavam com os ventos calmos que acariciavam friamente o reino. Carregava uma sensação fugaz de paz.

    Todos sabiam que essa tranquilidade estava prestes a ser interrompida.

    Algumas caravanas mobilizadas pelos mercadores e por alguns relicários levavam os aldeões do sul em segurança para além da praça.

    Os muros largos que faziam fronteira com Folhas Densas iam ao encontro de uma das praças centrais de Sihêon, a quantia de moradores lá era praticamente o dobro das outras quadras residenciais.

    Enquanto os civis eram escoltados pelos guardas reais, os portões da cidade fecharam-se em um estrondo altíssimo, não demorou para alguns homens ocuparem seus postos em cima das torres e dos parapeitos.

    Gradualmente, alguns líderes das guildas e seus afiliados se aproximavam do portão sul, outros aventureiros também constavam.

    O silêncio prevaleceu por alguns instantes quando a tropa do rei chegou. Ayel na frente, com sua espada bastarda, atrás dele estavam Kord e Claude, ambos com armaduras pesadas.

    Não tardou para Yelena surgir também, a pequena Joana estava com ela, a seguindo como um carrapato, a loira a dispensou rapidamente. Fazendo com que a pequena adentrasse em uma das caravanas civis que partiam para o norte.

    “Saudações, meu rei”

    Ayel escutara isso de todos enquanto andava, das mais diversas formas que ele poderia imaginar, seu aceno enchia o peito daqueles que observavam com um calor fenomenal. O rei estava na batalha.

    — Acabei de ler o último relatório dos batedores ao sul. — Yelena sorria ao se aproximar de Ayel, principalmente depois da noite calorosa que tiveram anteriormente.

    Para os bárbaros, guerra e morte andavam naturalmente em conjunto a ponto de sempre estarem prontos para o pior. Então faziam tudo que achavam que fosse necessário para sanar seus desejos antes de grandes batalhas.

    Por isso, o bárbaro fodeu sua sentinela enquanto ela ainda conseguia se manter de pé.

    — E então? — indagou Alvorada, observando a loira curvar-se diante da sua presença, seguida dos seus dois guerreiros.

    — Conseguimos mesclar bem todas as ideias, majestade. Há diversas armadilhas no trajeto até o portão sul, os muros e o próprio portão foram reforçados pelos relicários, os arcanos fizeram algumas barreiras mágicas que impedirão os goblins de dar qualquer contorno pelas nossas proteções, forçando-os a bater de frente conosco. — A sentinela sorriu.

    — Ótimo… Então, esperemos.

    Muitos outros aproximavam-se, principalmente após o bárbaro ter dado o ar da graça. Um desses era um jovem, pálido, dos cabelos curtos e loiros. Havia chegado de Althavair recentemente. Ele andava em direção ao centro da praça com curiosidade ao visualizar o alvoroço.

    — O que será que está acontecendo? — Ele dizia.

    Aaron sabia que situações dessa magnitude eram prelúdios de coisas bem ruins e catastróficas. Reparou na presença do rei, que havia visto apenas de longe desde que chegou de viagem.

    Não muito após isso, era possível ver o velho mago da caverna surgir. Alyssius havia gastado suas últimas horas preparando algumas poções nas quais ele acreditava que seriam úteis. Ele distribuiu algumas para os que estavam mais próximos ao rei. Por garantia.

    Cumprimentara o Alvorada com uma reverência discreta.

    — Boa tarde.

    Kassandra estava logo atrás dele, o senhor virou para vê-la, entregando mais uma das poções. A necromante estava junto de alguns subalternos, em seu corpo esguio. A ruiva preencheu com adornos e desenhos em tinta negra. Pareciam runas.

    Eram círculos de podem cravados em seu próprio corpo.

    Sombras próximas a uma das casas materializaram roupas de couro batido, um manto longo e um chapéu pontudo, quando tomou forma verdadeira. Perceberam ser o Bruxo Negro, andando até seu companheiro da caverna e sua majestade.

    — Quantas pessoas influentes reunidas… Isso é uma guerra? — Aaron falou mais alto do que pensara. Ayel o encarou.

    — É o início de uma. — O rei seguiu para a parte sul da praça. — Se não estiver preparado para isso, garoto. Pode recuar… Para os demais, venham comigo.

    O loiro calou ao escutar o rei, a voz imponente o assustou mais do que qualquer ameaça goblin. Ele se surpreendeu com a presença do homem ruivo e assentiu com a cabeça, ele não recuaria.

    Solomúrius estava ocupado coordenando as caravanas civis, quem tomou a frente junto de outros relicários fora Aldmond, que apertou o passo para seguir o rei assim que o ouviu.

    A sentinela loira estava ao lado do homem tribal, quando pediu permissão para o mesmo. Ela gostaria de estar no alto das torres, coordenando os arqueiros.

    — Tudo bem, vá. — A voz de Ayel era firme. Yelena concordou com a cabeça lentamente e seguiu.

    Distante, Celérius surgia com diversos clérigos, os homens de fé se dividiram em alguns pequenos grupos e espalharam-se pelo futuro campo de batalha, seriam o suporte. Junto do líder do templo, havia apenas duas mulheres, de maior confiança. Lilian e Mariane.

    Mariane era uma paladina, carregava uma espada larga. Ela não tinha um corpo muito feminino, tinha as costas largas e era bastante alta, deixava o sacerdote loiro bem pequeno quando próximo a ele. Já Lilian era uma mulher de corpo cheio, coxas e seios fartos. Era uma clériga.

    Aaron não conseguia parar de encarar Lilian, aquele corpo o atraia de formas que ele sequer conseguia imaginar.

    Com medo de alguma possível punição divina por desejar uma mulher de fé, ele virou-se para o portão, esperando que algo acontecesse para distraí-lo do erro em seus pensamentos.


    O ar ao redor assobiava agudo como se estivesse congelado, era o dono de uma tensão que podia ser vista de longe.

    Diversos arqueiros e lanceiros estavam nos muros, um batedor, no entanto, se mantinha lá apenas para pegar relatórios e passar para os que estavam embaixo. O rei principalmente.

    O silêncio serviu de palco para que todos pudessem perceber que o chão tremia levemente, uma aproximação.

    Poucos instantes depois, sons começaram a ecoar por todo o reino: eram tambores em um ritmo tribal que reverberava constantemente.

    Em intervalos irregulares, cornetas feitas com ossos rasgavam o som dos tambores como um choro fino. Misturava-se ao som das botas que marchavam potentes.

    Aqueles que observavam trocaram olhares entre si sem que ousassem dizer qualquer palavra.

    Esse silêncio trocou gradativamente pelo estalar das flechas em contato com a corda dos arcos e das diversas espadas, sendo rapidamente removidas de suas bainhas.

    Ayel apertava a sua espada bastarda com uma certa firmeza, seus dedos esvaiam de sangue, tornando-se claros devido à força que ele infligia no punho. Seus olhos visaram os portões quando escutou o primeiro grito das atalaias.

    “Eles chegaram!”

    O batedor correu para informar, as primeiras linhas de goblins começaram a se tornar visíveis do horizonte.

    Eram centenas, marchavam com uma organização deveras alarmante, seus escudos improvisados de troncos de árvores cobriam todas as brechas, as lanças estavam postas à frente, entre as lacunas criadas pelos escudos.

    Não apenas o Alvorada, mas Kord e Claude se surpreenderam igual com o relato de uma formação tão bem ordenada.

    — Meu rei! — Claude se aproximou rapidamente do bárbaro. — São mais numerosos do que havíamos previsto… Indiferente disso, nunca vi goblins marcharem dessa forma!

    — Acredito que essa seja a prova de que eu precisava para conseguir acreditar completamente no que os arcanos disseram… Crono armou isso, esses goblins estão a mando dele… Precisamos agir! — O rei ergueu a espada para os céus, todos que estavam próximos gritaram vibrando o começo do massacre.

    — Escutei os tambores. É um claro sinal que as tropas têm seus coordenadores, devo imaginar que existam generais goblin? Tsc. — Kord estava mais calmo, ele era bem mais analítico.

    — Eu não duvido que seja isso. — Anusha acabara de chegar da tropa real, inúmeros algozes acompanhavam ele, espalharam-se com os outros.

    Kord claramente se assustou, mas depois cumprimentou o homem de Maut Ka Mandir. Então continuou:

    — Podemos esperar que seja um ataque dividido em diversas baterias, que atacarão em ondas diferentes… As primeiras serão com os mais fracos apenas para testar as nossas defesas.

    — E deixar nossos recursos escassos. — Ayel completou.

    Kord o encarou com respeito, eram dois estrategistas de guerra, ele já devia ter percebido isso antes.

    As tropas verdes estavam no meio do caminho e, em um piscar, estavam quase coladas aos muros.

    Yelena gritou ferozmente e as primeiras chuvas de flechas começaram a cair, a maioria parava nos escudos tortos. Ainda assim, alguns poucos goblins já estavam caindo.

    As armadilhas espalhadas pegavam as criaturinhas de surpresa, essas se assemelhavam com as que os patrulheiros utilizavam para pegar ursos: fechavam dentadas sobre as canelas pequenas e esganiçadas, muitas armadilhas mutilavam os inimigos.

    Todos estavam tensos, os arqueiros por conta da pressão de atingir os inimigos e os guerreiros, pois entrariam em combate a qualquer momento. Algumas fileiras conseguiram superar as flechas e colaram sobre o portão, batiam com agressividade. Os monstros iriam derrubar.

    Em um estalo, o rei deu alguns passos à frente, enchendo seus pulmões com ar para dar um grito que mudaria a situação completamente naquele início de conflito.

    — Abram os portões!

    O silêncio retornou, com todos olhando para o Alvorada como se o mesmo fosse um lunático, mas lá estava. Aquele olhar assassino mais uma vez.

    — Abram, eu disse.


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