Capítulo 033 - Protejam a praça!
Capítulo 033 – Protejam a praça!
Os soldados pareciam não ter compreendido a natureza daquela ordem.
“Abrir os portões”
Viravam-se, olhando entre si, para a sentinela e seus dois guerreiros e então de volta ao seu rei.
— Façam o que foi ordenado! — brandiu Yelena — Com os portões abertos, os goblins passarão direto por eles, sem tentar destruir nada no caminho. É uma estratégia adotada para evitar danos nas muralhas e no portão. Teremos de contê-los aqui dentro, na praça!
A guarda real, então, prontamente atendeu. Respeitavam completamente Yelena e a confiança para com Ayel ainda estava se formando.
O bárbaro segurou a espada com uma fúria tão visível que era como se ele exalasse um vapor avermelhado. Não conseguia compreender o motivo de não terem lhe dado ouvidos.
O abrir dos portões ocasionou um silêncio assustador, as criaturas horrendas seguiram direto para o caminho que lhes foram abertos, saltando, gritando e cortando os primeiros humanos que estavam em seus caminhos.
Eram criaturas rápidas e boa parte dos soldados em nome do reino nunca haviam batalhado contra algo assim. Fazia muitos anos desde que era sabido sobre relatos de monstros em Sihêon.
Essa horda goblin se movia como uma maré forte, pulsava fervorosamente contra a resistência da guarda real e dos aventureiros. O grito dos combatentes ardia a garganta e o brilho sinistro do sol no aço e os feitiços que voavam pelo campo preencheram a visão de toda a praça.
Quando finalmente, no meio de gritos e sons de carne cortando enquanto o sangue chorava para os lados. Alvorada se mantinha.
— Firme, homens! — A presença do bárbaro no meio dos guerreiros era avassaladora, o homem carregava consigo uma fúria tão extrema, que às vezes parecia agir com mais voracidade que os próprios monstros.
Aldmond liderava o grupo de relicários que constavam no coração da batalha, as ordens que ele deu foram claras e rápidas. Seus homens combatiam com uma potencial eficiência. Todos estavam com uma fúria acima do normal, queriam concluir a vingança em nome do necromante assassinado.
A horda dos monstros esverdeados estava sob controle, magias destrutivas mantinham eles no perímetro da praça. Alyssius e Bruxo Negro conjuravam com maestria o seu mana em prol de manobrar os goblins. Chamas trucidavam os monstros, engoliam os goblins e reduziam-nos a cinzas. Barreiras de energia pura surgiam nas laterais e bloqueavam becos e ruas. O que impedia da batalha se propagar para o restante do reino. Encurralando indiretamente a investida inimiga.
Ayel permanecia à frente da resistência, se tornando um verdadeiro colosso e uma das bases mais sólidas das posições adotadas pelo reino em meio a tamanho caos.
A grande dupla de Kord e Claude aproveitava as brechas criadas para causar ainda mais danos. As investidas de Ayel abriam espaço e oportunidade.
Já que o rei era completamente imprevisível, muitos ao seu redor se moldavam às reações do que ele fazia do que necessariamente suas ordens em si.
Até porque, após simples “Avancem” e “Ataquem”. Agora, tudo que escutam são os grunhidos do bárbaro misturado aos grunhidos dos goblins.
Isso não era um empecilho, pelo menos não mais, a dupla genial dos guerreiros estavam acostumados. O que fazia com que o rei se tornasse um turbilhão abrindo caminho no meio das criaturas verdes e Kord ao lado de Claude finalizasse rapidamente aqueles que ousavam sobreviver.
— Por quanto tempo podemos aguentar isso? — Lamina-fria procurava analisar a situação como um todo, ele previa desvantagem para o lado dos humanos.
— Precisamos aguentar quanto for preciso, Kord! — O senhor Hob urrava enquanto disferia os golpes, preciso. Atento.
Ambos moviam suas espadas com um ritmo magistral, fendia os adversários horrendos com uma sintonia quase perfeita. Ninguém parecia ameaça-los, eles estavam a espreita. Finalizando o que Ayel começava.
Celérius estava mais atrás, junto de Lilian e outros clérigos. Eles sentiram o ímpeto da presença do bárbaro fazendo com que entrassem nessa mesma sintonia com a adrenalina do tribal. Os feridos começavam a aparecer e os homens divinos corriam, saltavam e esgueiravam-se no meio da batalha para curar aqueles que necessitavam de tratamento. Corajosos, alimentados pela barbaridade ruiva.
No meio da praça, um grupo de goblins começava a cair com uma velocidade irreal, era a parcela de algozes que estavam naquele quadrante.
Dalila era uma, no meio desses, avançava com uma agilidade mortal, fazia com que seus movimentos com a katar fossem suaves, quase como uma dança. Atacava com precisão. Não muito longe, Lavish replicava essa destreza com letalidade. Os golpes rasgavam a carne goblin com um estalo estridente.
Os goblins que sobravam eram pegos pelos olhos atentos e movimentos calculados do líder da guilda. Anusha eliminava com tanta facilidade, surpreendendo os pequenos monstros, movia-se com um silêncio assustador entre as sombras.
— Eles não param de vir! — urrava Yelena do alto do portão, saraivando com maestria junto dos seus homens os goblins pelas costas. Assim que passavam para dentro da praça.
Os relicários brandiam suas espadas, atiravam suas flechas certeiramente. Munidos com bestas e aparatos diversos, digladiavam as linhas de avanço goblin. O próprio Aldmond estava com uma espada larga nas suas duas mãos, lutava fervorosamente, suando, enquanto respirava ofegante e acelerado. As falas da sentinela ecoavam negativamente para ele, não era um combatente tão experiente assim. Por quanto tempo ele duraria?
Enquanto o aprendiz do Solumúrius e a tropa de relicários utilizavam precisão e estratégia. Ayel no centro de tudo, era o caos personificado. Sua liderança era instintiva, seus gritos carregavam uma autoridade e uma ferocidade, que era acatada sem questionar. Tanto Alyssius quanto Bruxo Negro notavam, mesmo no meio de toda aquela confusão arcana que haviam arquitetado. Aquela energia primitiva que emanava do tribal, aquele olhar assassino. Os dois entreolhavam-se, cogitando se essa fúria bárbara não poderia reverberar negativamente nesse confronto.
— Quantos mais!? — Kord acabava de retirar a sua espada de um dos inimigos enquanto voltava sua atenção para a sua superior loira.
Outro goblin o acertaria pela lateral, mas Claude chegara antes e o finalizou, cortando sua cabeça.
— Eu não sei! Algumas centenas? — Repetidamente, a mão direita da sentinela ia rapidamente para trás de modo a pegar outra flecha da sua aljava, em uma cadência tão mínima que zeraria sua munição em poucos minutos, levando um número absurdo de monstros consigo.
Aaron se viu no meio desse diálogo, estava entre o guerreiro e a líder da guarda real. Sua espada já havia sido sacada da sua cintura, rugia, determinado, investindo contra os monstros que passavam pelo bárbaro com vida. Sua lâmina não era tão precisa quanto da dupla de guerreiros, nem tão potente quanto os golpes do Alvorada, mas eram o suficiente. Os sons de gritos goblins e suas carnes sendo divididas estavam somados à presença do homem de Althavair. Ao lado dele, Mariane, enfurecida, atingia as pequenas criaturas com o seu martelo de guerra, que era massivo.
“O que é essa mulher?”
Ele se assustava com essa magnitude nos golpes da mulher de fé.
O impacto soava sísmico, as criaturas verdes voavam com tamanha força, diversas vezes o tribal encarava a paladina, admirado com sua potência em batalha.
Ainda impressionado com a paladina ao seu lado, Aaron se assustara quando observou Ayel atravessar uma linha inteira de inimigos verdes como uma figura lendária e onipotente. Dilacerava, criando um caminho de corpos.
Ele encarou Mariane, que segurava seu martelo completamente ensopado de sangue, ele riu. Enquanto o suor lhe descia da testa e atingia seu olho esquerdo. Fazendo com que ele fechasse devido ao ardor do sal.
— Então… Aquele é o rei daqui? O rei desses todos…
— O nosso rei. — A enorme mulher assentiu.
O loiro abrira um sorriso.
— Nosso? Sim, nosso rei…
Inspirados, os dois golpeavam sem clemência. A fim de se aproximar do quadrante que o tribal conquistou, uns metros perto do portão.
O bárbaro era bem mais que um combatente, havia se tornado um símbolo. Esse frenesi no seu combate se tornará um lembrete fulminante para todos ao redor, sejam aliados ou inimigos. De que o reino não iria desabar sem lutar até a última gota de sangue cair dos humanos. Enquanto o Alvorada liderava, a praça sul resistia à investida.
Como um redemoinho da destruição, Victoria e Belle estavam do outro lado do campo, a aprendiz manejava suas adagas da forma mais elegante que conseguia. Belle, no entanto, balançava suas duas foices curtas com ferocidade, criava-se um amontoado de corpos. As duas juntas estavam poderosas no campo de batalha, mesmo que mais atrás, onde não havia tantos inimigos.
— Nada mal, meu amor! — Belle sorria, observava sua aluna dilacerar um por um dos adversários.
— Obrigada! — A atenção da mestra dos venenos constava tanto na sua senhora quanto na sua amiga Dalila, que estava do outro lado. As duas trocavam olhares de aprovação, era um cenário perigoso. Mas ao menos ainda estavam vivas.
Mais afastados do tumulto, protegidos pelo embate devido à presença de muitos homens na frente. Celérius comandava os clérigos. Guiava-os e gesticulava em ordens francas enquanto curava os feridos que chegavam em um fluxo constante. As armas goblins não eram muito refinadas e a carne rasgava ao invés de um corte limpo, gerando um sofrimento acima do comum. Os representantes divinos se viam em um desafio.
Lilian se movia entre os feridos, sua imposição de mãos acelerava o processo de cicatrização dos homens, que suspiravam aliviados finalmente ao sentirem que suas dores cessaram. Isso não os entregava mais energia, mas sanava a agonia. A exaustão se tornara a mais nova inimiga, os combatentes estavam todos curados, mas sem energia o suficiente para continuar lutando.
Que confronto sombrio e cruel. Uma sinfonia da morte.
Para qualquer lado que olhasse, havia um aventureiro desempenhando seu papel em meio à resistência do reino. A pressão da horda inimiga era gigantesca.
Lentamente, os números dos guerreiros do reino caíam, embora a quantia de goblins que passavam do portão para dentro apenas aumentava.
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