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    Capítulo 034 – ‎Perto do céu!

    Esta guerra estendia-se até o último raio de sol.

    Era sabido que o campo de batalha estava à beira de um colapso colossal. Desde a grande invasão de Aiden, talvez essa fosse a provação mais cruel que Sihêon passava.

    A escuridão da falta do som parecia se fechar ao redor do embate, como se criasse um holofote apenas onde interessasse: o portão sul

    A penumbra atingia e absorvia completamente a praça, que rapidamente começara a ser iluminada por tochas e pelas flechas flamejantes que zuniam euforicamente.

    O caos estava presente em todos os lados. Diversos guerreiros caiam mortos, com os goblins se jogando em cima dos cadáveres ainda quentes para se alimentarem.

    Inúmeros verdejantes perdiam suas cabeças, também, mutilados com uma facilidade pela maestria das lâminas dos aventureiros. Irrompia catedraticamente os monstros sobre a defesa do reino, em um quadro sombrio e desolador no portão sul de Sihêon.


    O sacerdote Celérius estava no grande coração da ala de apoio, ele estava comandando os clérigos enquanto estes faziam o impossível para manter os aventureiros e a guarda real ainda viva. O cansaço dos homens do templo chegou em um nível tão absurdo que parte do clero recuava, alguns estavam completamente inutilizados na batalha sem a energia que permitisse que suas curas avançassem nas feridas alheias.

    Lilian corria entre os feridos, mesmo que os mesmos aumentassem tão abruptamente que ela já não tinha mais a aptidão que estava acostumada. O brilho pálido da luz da cura estava cada vez mais fraca, sua imposição de mãos era frágil pela sua coordenação que estava trêmula.

    A magia divina estava esgotando, os homens de Deus perguntavam internamente se o grande senhor que seguiam não estava abandonando todos eles.


    Em um dos pontos de batalha estava Dalila, sua luta ressonava como uma dança, ela tinha movimentos precisos enquanto cortava os monstros, até o momento que o som de um impacto em sua mão a fez largar uma das suas katares. Ela recuou alguns passos, os inimigos eram muitos e a pressão inimiga era tanta que ela não havia visto de onde veio o golpe, ou quem disferiu.

    Seu sangue misturava-se com o seu suor, gotejara sobre um dos olhos, a fazendo fechá-lo.

    — Será que isso não vai acabar!? — fulminou a algoz.

    A carnificina era revelada conforme a escuridão da noite rachava perante o luar solene, os olhos atentos daqueles que ainda respiravam encruzilhavam-se no meio das brasas incandescentes.

    Dalila perguntara, buscando o Lavish que estava próximo dela no embate anterior, mas não mais. Os olhos da algoz trafegaram por quase todo o campo de batalha até encontrá-lo muito distante, cercado de goblins vorazes.

    Um dos ataques das criaturas foi certeiro e havia passado por entre as defesas do algoz da pele de ébano. Abriu um profundo corte horizontal que cruzava o seu torso. Ele cambaleava.

    — Senhor Lavish! — Dalila gritava, sua voz era trêmula e falhava com a preocupação.

    Ele não escutava, mas ainda estava em pé. Seus braços não tinham força para manter as katares erguidas com a guarda alta. O homem agarrava-se com veemência à última faísca de consciência.

    Enquanto ele se movimentava, era possível ver seu corte chorar sangue em uma força considerável, manchando os tecidos em couro que os algozes amam tanto usar. Dalila tentava diminuir esse espaço entre ela e o seu companheiro. Sem muito sucesso.

    A fúria e a constância incessante do Anusha contra as pequenas criaturas era imponente. O líder da guilda agia desesperadamente de forma que alcançasse os seus companheiros. Enquanto os mais habilidosos ainda estavam guerreando: como Lavish e Dalila, a visão do homem mascarado atingia subalternos não tão experientes. Que estavam sendo mortos como se nada fossem.


    Em meio à dança da confusão, diversos gritos de raiva e agonia ecoavam pelo campo sujo da batalha. Tão altos que superavam o clangor metálico das armas e o rugido das criaturas tribais que estavam sedentas por sangue.

    Os dois arcanos mais poderosos do reino estavam começando a sentir o limite das suas forças, mesmo que suas chamas estivessem destruindo os inimigos, varrendo goblins em ondas frenéticas de fogo. Tanto Alyssius quanto o Bruxo Negro estavam exauridos de tamanha quantia de mana que estava sendo gasta.

    A situação parecia insustentável, quando os mestres mágicos estavam próximos de ceder seus poderes. Amelie liderava um grupo de alunos de Nox Arcana, os reforços inesperados uniram-se à luta.

    Os magos, bruxos e feiticeiros novatos conjuravam fortemente defesas psíquicas, muralhas de fogo, lanças de gelo e raios que caiam dos céus.

    — Vocês! — Bruxo Negro virava seu rosto, fazia com que os alunos encarassem o escuro infinito do seu rosto.

    — Mestre! — A expressão de Amelie reverberava uma coragem, principalmente após ordens expressas do senhor de Nox, de evitar completamente a linha de frente.

    Alyssius fitava o homem encoberto por sombras misteriosas, o senhor ria com a determinação dos alunos arcanos.

    — Preocupado, meu amigo? Se eles seguem seus ensinamentos, eles vão se dar bem aqui, não podemos negligenciá-los.

    — Mais que isso, eles… — manifestou o senhor de Nox Arcana com um tom ambíguo. Preocupado, decepcionado e orgulhoso ao mesmo tempo.

    A tensão do conflito não havia diminuído, o ambiente estava frágil, mas agora ambos os mestres poderiam descansar.

    Os soldados, juntos da guarda real e dos aventureiros, tentavam manter em seus lugares, entretanto, a horda goblin começara a avançar implacavelmente. O portão sul, que outrora criava uma imagem intransponível e imponente, agora está escancarado, servindo de passagem para um mar esverdeado das criaturas de rostos distorcidos.

    — Não vamos conseguir mais tempo! — Dissera um dos relicários, como se chorasse em direção ao representante do Laboratório na batalha.

    E antes que pudesse respondê-lo, Aldmond vê esse companheiro ser decapitado por uma sequência de golpes goblins, que mesmo com algumas lâminas cegas, rasgavam efetivamente.

    A linha da defesa dos aprendizes de Solomúrius começava a fraquejar. Um por vez os relicários caiam.

    Eram vítimas dessas bestas sedentas.

    A tropa lutava para manter a sua formação, pois estava deveras enfraquecida. O próprio Aldmond começara a sentir o peso da derrota sobre os seus ombros, ainda assim, precisava se manter firme para não desestabilizar mais aqueles que o seguiam.

    “Então, é essa a pressão que ele está passando… Mas em uma magnitude tão superior à minha!”

    O relicário encarava o Alvorada. Impetuoso.

    Tamanho olhar do desejo feral existia tanto nas criaturas minúsculas que brandiam seus machados e lanças sujas de sangue de aventureiro, quanto existia no rei tribal que dilacerava como um monstro quem estivesse no seu caminho. A pressa pela vitória, o ímpeto pelo sucesso.

    Os corpos dos soldados tombavam um a um, mesmo que houvesse ainda muitos que conseguiriam prosseguir nessa batalha de igual para igual. Era impossível não perceber como a vantagem numérica dos goblins era avassaladora. Parecia insuperável.

    — Kord! — urrou Alvorada.

    — Sim… Majestade! — O guerreiro trucidava dois goblins enquanto gritava sem encarar a direção de onde a voz do monarca surgiu.

    — Qual a situação? Yelena nos contatou?

    — Ainda não, meu senhor! — O Lâmina-fria precisara pegar um escudo rudimentar do chão, defendia-se de um goblin com uma lança torta.

    — Estamos caindo, precisamos nos reagrupar no centro, agora! — Os gritos do tribal eram mais altos que o som da batalha.

    — Difícil, alteza! Há pelo menos de oito a nove grupos isolados dos nossos homens, separados por um mar verde com sede de sangue. Qualquer movimentação que faça essa formação quebrada se mover, levaria muito do nosso poder.

    Kord não perdia o seu lado analítico, Ayel sabia perfeitamente disso. O fato dele ainda estar perto do rei conforme o conflito passava as horas lhe daria uma boa visualização maior de todo o evento. Ele conseguiria fazer ordens que eram mais necessárias que outras, mas ainda faltava algo.

    — Claude!!! — brandiu Ayel.

    — Sim! — O guerreiro ébano respondia enquanto refletia um golpe poderoso.

    — Consegue alcançar a Yelena? Precisamos da visão dela que está nas atalaias — O bárbaro olhava para os lados, buscava a loira em cima dos muros, caçava-a como um predador atrás de uma presa. Mas nada havia, apenas sangue, corpos e goblins.

    — Consigo, senhor!

    Kord e Claude se entreolharam, a preocupação que eles tinham com sua senhora também constava no tribal logo à frente. Os dois suspeitavam que Ayel e Yelena estivessem tendo um caso, mas a distância do monarca sempre fora um ponto muito válido para desmentir esses rumores. Ainda assim, ele claramente se importava com a sua subordinada, era a ordem que estavam esperando para poder verificar se ela ainda estava em segurança.

    A dupla de guerreiros era praticamente invencível quando estavam juntos, com essa separação abrupta. Ocorreu uma ruptura na sintonia dos dois guerreiros e seus movimentos se mantiveram precisos, mas não tão letais quanto outrora. A força de vontade e bravura dos dois existia independentemente da companhia do outro, mas era visível como dispersos, eles não derrubavam tantos goblins assim.

    Claude correu até onde havia visto Yelena pela última vez.

    Aquele charco do chão, criado a partir da lama misturada com o sangue, gerava uma imagem de desolação.

    E na rima triste dessa música regada a tragédia e sofrimento, Ayel visualizou-se novamente na mesma situação que com o Efreet.

    Os soldados precisavam se esforçar para acatar suas ordens mais gerais, apenas um grupo seleto o seguia cegamente, também, liderados pela dupla de guerreiros geniais do reino.

    Claro que a sua existência nessa batalha aumentava significativamente a moral daqueles que o observavam. Mas quando ordenava, o Alvorada criava estratégias que só demonstravam eficácia a longo prazo e isso deixava todos seus seguidores ressabiados.

    Como se duvidassem da sua inteligência.

    Ele precisava agir.


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