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    Capítulo 035 – ‎Dança das cobras!

    Diversas sombras pareciam dançar lado a lado com a morte. Eram arremessadas graças à luz das tochas que tremulavam ao longo do portão sul.

    A brisa noturna perdia para o calor da batalha, e o som do conflito era um adereço para as longas e agudas risadas dos monstros.

    Em um momento de pausa, as duas mulheres dos venenos escutaram o som rítmico e tribal vindos do exército inimigo: mais uma onda inimiga se aproximava, o prenúncio dos reforços verdes que passavam para dentro do reino como uma correnteza de fúria e angústia.

    Victoria murmurara algo entre seus dentes, ofegante, claramente. Ela girava suas adagas à espreita, para atingir os inimigos que corriam na direção dos guerreiros.

    Seus passos eram interrompidos pelas baterias da linha de frente, os homens robustos pairavam como muralhas ante os goblins debilitados e aglomerados.

    Belle erguera a cabeça por um instante, ela percorria com os olhos por todo o horizonte, observando o caos que estava instalado, não tinha como não ficar desesperada.

    Eles chegam, então.

    Victoria e Belle estavam recuando diante da maré goblin à sua frente. As adagas da Belomonte brilhavam com seus movimentos que não eram tão rápidos, pois ela não era necessariamente uma combatente, mas eram eficazes, principalmente somados aos golpes de foice vindos de Belle.

    A noite favorecia eventualmente as duas mestres dos venenos, por estarem sempre trajadas de finos tecidos negros e, que goblins não sejam os monstros mais inteligentes dessas planícies. As duas disfarçavam-se nas sombras, sendo flagradas apenas pela luz chacoalhante do fogo sob seus rostos e corpos.

    Victoria havia evitado que um golpe poderoso de uma marreta torta atingisse sua cabeça, embora tenha tropeçado no processo de se esquivar e caíra para trás. Sua tutora finalizou rapidamente o goblin com a marreta, erguendo rapidamente sua aluna.

    — E as outras meninas? — inquiriu Victória.

    O campo de batalha estava caótico e complexo, com exceção da linha de frente, que era formada pelo rei e seus guerreiros mais poderosos. Após eles, nas entranhas do portão sul, tinha uma bagunça de conflitos. O chão em que elas pisavam puxava as suas botas devido à grande camada de lama e sangue.

    — Acredito que eu tenha visto duas caídas, o resto está se saindo bem, são inteligentes e estão usando bestas com virotes envenenados, não estão tão coladas dos monstros como você e eu!

    Os gritos distantes dos homens que eram feridos não assustara Belle, que girou sua foice em um pequeno arco que atingiu a maioria dos goblins que estavam próximos a ela. Victoria saltava, fazia suas adagas passarem pela pele grossa das criaturas que ainda estavam em pé após sua senhora ter atingido.

    — Quanto tempo acha que isso ainda dura, minha senhora? — A garota permanecia pressionada pelas criaturas que a rodeavam, mas em alguns golpes, fazia com que caíssem todas.

    A mestra dos venenos encarou Victoria por alguns segundos enquanto respirava fundo, seu rosto estava coberto de poeira colada com o suor. Antes que ela pudesse dizer algo, precisou voltar para a batalha, bloqueando o golpe de um dos goblins usando sua foice para impedir que a adaga enferrujada da criatura verde atingisse sua garganta.

    Retornou a atenção para a mais jovem assim que finalizou o inimigo.

    — Não sei se muito mais, porém, nós duas não vamos durar o mesmo se continuarmos dessa forma…

    Não muito distante, alguns guerreiros colaram suas posições no quadrante no qual as duas se encontravam. A princípio, eles fugiam dos golpes devastadores dos inimigos, completamente desorganizados.

    Após recuarem precisamente, esses homens refizeram, às pressas, sua formação, mesmo enquanto atacados e volta e meia um cedia a lâmina verde.

    Prontos, eles retornaram para o conflito, tornando-se um apoio que era necessário para as garotas, nesse momento.

    — Ficaremos firmes! — reforçara a aprendiz.

    Quando parecia que uma das pequenas e macabras criaturas iria atingir a sua aprendiz, Belle avançou pela esquerda para cobrir o flanco da Belomonte. A lâmina curva de sua foice cortava o braço de um goblin para longe.

    Os esverdeados eram numerosos, mas fracos, frágeis. Incompetentes, claro que com tamanha pressão em cima do povo de Sihêon a ponto de a precisão não ser considerada, essa ameaça quando isolada. Era de fácil administração.

    — Precisamos ficar, já pensou no caos que seria uma Belomonte perecer no meio desse conflito? Filha de um dos membros do conselho dos nobres? — Belle sorria maliciosamente, o olhar dela volta e meia batia em Ayel, ela o desejava, mas seria muito mais proveitoso jogar sua aluna no colo do bárbaro. Já que a própria líder da guilda havia falhado.

    — Se meu pai fosse muito honrado, estaria aqui também.

    Um trovão distante ecoou pelo campo, ele assustou a mestra dos venenos mais nova. Mas ela tentou manter sua concentração na batalha.

    — Teu pai fabrica vinhos, não venenos! — reforçou a senhora do Covil.

    Os homens que guerreavam nos arredores brandiam suas armas e gritavam contra as criaturas, diferentemente de como a dupla do Covil do Escorpião estava agindo, não tardou para chamar atenção e menos ainda para aumentar a população inimiga naquele pequeno espaço entre algumas casas perto da praça.

    Instintivamente, enquanto lutava pela sua vida, a jovem de cabelos cacheados encarava a luta à frente, visualizava os relicários caírem um por um, visualizava os clérigos perderem suas forças. Ela buscava alguém.

    — Mais preocupada com os outros que com você mesma? — sondou Belle.

    Os inimigos eram muitos, e as duas, mesmo juntas, começaram a ceder terreno.

    — É uma amiga preciosa e me preocupo com ela. — Explicara a jovem dos cabelos cacheados.

    A aprendiz apontara com a sua adaga, eram os algozes, que lutavam com maestria um grupo de monstros três vezes maior do que ambas estavam enfrentando agora. Ela rastreava por Dalila, ela procurava pela sua amiga de não tão longa data.

    — Sempre pense no seu pescoço primeiro antes de começar a cogitar o próximo, Victoria!

    A voz da mulher pálida era rouca e ríspida, poderia ser tanto pela repudia do que pelo cansaço do conflito.

    — Eu me importo com ela! — rebateu Belomonte.

    E de fato, mais vezes que ela pode contar, Dalila e Victoria desenvolveram uma relação amistosa muito forte desde que se conheceram na taverna, conversavam sobre tudo e compartilhavam tudo. Uma compreendia exatamente o que a outra fazia em sua guilda, de quem gostava e de quem desgostava. Uma sempre utilizara a outra como apoio e suporte para as suas confissões, elas se viam como irmãs.

    Obviamente, isso não seria aceito tão facilmente, não após anos e anos de rivalidade entre todas as guildas. Era muito natural perceber o membro de um grupo ter um rancor inexplicável por membros fora da sua sede e da sua profissão. Ayel mudava isso a passos curtos.

    — E ela se importa com você? Acorda! — vociferou Belle.

    — O que quer dizer com isso? — contestou a mestra dos venenos, encarando a sua senhora.

    — Algozes são sujos e escorregadios, eles estão sempre esperando o momento certo para trair os outros. — Belle fitava para a direção apontada anteriormente pela ponta da adaga da sua aluna, a forma com que ela torcia para os algozes falecerem todos era fortíssima em seu coração.

    — A guilda de Maut Ka Mandir é uma das mais unidas que existe nesse reino! — bramiu a Belomonte.

    — E você é de Maut por um acaso?

    — Eu não concordo com isso…

    Enquanto batalhavam, a discussão fez-se perceptível, não que os outros ao redor pudessem escutar necessariamente o que elas diziam, mas os ânimos das mulheres do Covil do Escorpião esquentaram exponencialmente, e com isso, a atenção que as tropas dos arredores travavam seus olhos na dupla.

    Dalila bateu sua pupila para sua amiga e a tutora dela, as duas estavam distantes demais para que pudessem ser alcançadas pelos ouvidos da algoz. Ela também estava preocupada, mas Victoria parecia estar bem, principalmente após comparar com o Lavish que estava ao lado da garota da pele de caramelo. Ele sangrava sem parar, alguma coisa tinha de ser feita para impedir isso. A mulher de Maut estava dividida, não queria entregar mais trabalho para Anusha recuando com seu parceiro ensanguentado.

    Ela poderia eventualmente se aproximar de Victoria, mas isso teria de esperar.

    — Aqueles que erguem as katares são apenas leais a eles mesmos, nós, fora da guilda… Nada somos. Não se esqueça disso. — bramiu a viúva.

    Essa era uma crítica frequente, Victoria nunca conseguiu interpretar, mas, por algum motivo, Belle odiava profundamente os algozes. Ela desconfiava deles com tanta veemência que seu preconceito era visível a quadras de distância.

    A conversa fora interrompida por um grupo inimigo que atracou, atacando com uma fúria, mesmo com elas bloqueando e defletindo a ameaça. Quando Victoria lançara seu olhar para Belle, notou que o braço da senhora sangrava consideravelmente.

    A líder da guilda colocou rapidamente a mão sob o corte, respirando fundo enquanto ficava ainda mais pálida.

    — Senhora! — A Belomonte correra, não pode se aproximar o suficiente, dois inimigos surgiram das sombras, engalfinharam em um combate desesperado.


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