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    Capítulo 040 – ‎A força do esquadrão!

    Um trovão rugira no céu.

    Definitivamente, não era natural, principalmente no raiar do dia.

    O cajado do rei goblin ainda brilhava, crepitava uma energia destrutiva e maligna.

    O impacto fez o corpo do bárbaro ir para trás com tanta força, que ele precisou jogar o peso do seu corpo para frente para que evitasse a queda. Seus pés deslizaram sob o chão ensanguentado da praça.

    Seguindo do peitoral que começara a fumegar, a fumaça que subia era uma mistura fúnebre de um pouco da carne do rei ruivo com o couro que revestia o corpo.

    A carne parecia retorcer-se, devido à força da eletricidade sob a pele de Alvorada, que caíra sob seus joelhos, que estremeciam. A risada aguda do rei goblin o irritou.

    — Meu rei!

    — Alteza!

    — Meu senhor!

    Exclamavam os companheiros todos. Mas Ayel ergueu sua mão esquerda, indicando que estava bem. Quase como se quisesse que se calassem.

    — Mantenham-se firmes. — Ele dissera. — A vitória é nossa!

    Então, o bárbaro levantou-se. Batendo o pó que acumulava em seu corpo, encarando o seu adversário de cima para baixo.

    O Alvorada não se acovardou.

    Amelie lentamente aproximara, visualizando o fim da fumaça do impacto de desgrudar do bárbaro.

    — Um relâmpago, alteza… Um golpe de mana admirável. Você está contra um arcano.

    Ela falava em um tom baixo e tímido, como se estivesse esperando a ordem para calar a boca por estar se intrometendo demais, acuada.

    — Tal como você… Correto? — O rei não estava intimidado com o golpe que acabara de receber, mantinha sua espada erguida na direção do goblin.

    — Sim…? — Amelie não compreendia o motivo dessa conversa ter começado, principalmente no meio do caos em que se encontravam todos.

    — Quais são as maiores fraquezas que um arcano pode ter?

    — Majestade? — A bruxa observava os outros dois esquadrões, fragilizados pela demora da derrota do rei inimigo.

    Do outro lado, Yelena liderava suas sentinelas, mesmo que ainda acatasse as decisões estratégicas gritadas por Claude. Os inimigos eram astutos, diversas vezes essas linhas defensivas eram quebradas devido à pressão exercida pelos pequenos verdejantes. De qualquer forma, Belle e Alyssius prestavam um auxílio que mantinha o esquadrão da direita sempre reunido.

    Não bastaria muito mais e o rei estaria livre para batalhar com o goblin arcano. Mas ele ainda precisaria entender tudo.

    Ayel batalhara contra muitos guerreiros, contra diversas criaturas, seres feéricos e monstros de poderes incontáveis. Mas arcanismo? Ele não poderia experimentar ter a sensação de lutar pela primeira vez contra algo que poderia criar chances de derrota. Ele não era mais o irresponsável que vivia em uma tribo. Ele representava um povo.

    — É de conhecimento geral que magos, bruxos e feiticeiros são uns frágeis… Comparados a combatentes como nós, aguentam pouca porrada…

    O ruivo estava completamente cálido1, respirava ofegante, encarando o seu inimigo que parecia deveras competente. Uma força descomunal. Desde o Efreet Ayel não precisava se preocupar tanto com uma batalha, isso o excitava.

    Se perdera em suas palavras quando compreendeu que a pequena e jovem bruxa poderia ter escutado sua frase anterior como uma ofensa, mas ele a fez entender que gostaria de incapacitar o goblin.

    — Com todo o respeito.

    A bruxa olhou para os lados, em busca do Bruxo Negro ou Alyssius, preocupada em ser uma tutora para o grande monarca e não servir à ajuda de que ele necessitava, no momento.

    — Tudo bem, eu entendo… E não é uma mentira, nós estudamos mais do que nos exercitamos, nossos corpos não se desenvolvem para batalha como o de guerreiros ou bárbaros, majestade. — Amelie estava resoluta.

    — Então, tudo que preciso é acertá-lo, com tanta força que ele não conseguirá mais realizar nada. Imobilizo seus braços? — Ayel dissera meticulosamente, encarando o rei goblin.

    — É viável.

    A garota passou a analisar o monstro adversário como se estivesse em mais um daqueles duelos que volta e meia aconteciam em Nox Arcana. Era a senhora Evangeline mesma quem organizava, ela sempre ordenou observar o outro com os olhos arcanos. Curioso a mesma dizer isso, sendo que vivia de vendas.

    Amelie analisara, como se estivesse prestes a duelar magicamente.

    Então soube.

    — Veja, meu rei, ele carrega um cajado de ouro. Quando o arcano precisa centralizar o seu mana para canalizá-lo com mais potência, ele pode decidir qual será a aderência e o ponto de partida do mana dele… A ponta do dedo é algo direto, forte, mas com pouca precisão. A palma da mão é espaçosa, aumenta a precisão, mas não é tão direta. Um adereço, como um cajado, permite uma boa mira e um bom espaço para as orbes canalizarem.

    — Posso arrancar aquele cetro dele. — Ofegante, entusiasmado. Ayel queria correr para a batalha de novo, mas seria acertado.

    — Iria inutilizá-lo temporariamente, ele poderia conjurar a partir das mãos, dos dedos.

    — Arrancar o cetro e mutilá-lo.

    — Um arcano sabe que essa é uma fraqueza, altíssimo. Duvido que ele não esteja pronto para o senhor fazer exatamente isso. — Amelie tentava parecer calma, mas dada a situação em que ela se encontrava. Era de extrema responsabilidade.

    Ela era quem estava direcionando as próximas ações do Ayel Alvorada.

    E a forma sombria e direta com que ele dizia as coisas, como seu desejo de mutilar o inimigo, a assustava.

    De qualquer forma, ela fez de tudo para permanecer serena enquanto dizia, é um hábito dos arcanos estarem sempre calmos, embora o coração estivesse tentando saltar pela boca.

    O tribal sorrira encarando o adversário, o rei goblin sorria de volta. Embebido em uma ironia maligna avassaladora.

    — Então precisarei de distração.


    A quietude do esquadrão do centro foi chamativa, mas aqueles que estavam à esquerda… Não podiam parar.

    — Celérius! Localize!

    Kord gritava friamente, o sacerdote estava em um ponto alto, o que antes era o estábulo de uma casa e agora estava destruído e servia apenas como um grande palanque. O fato de estar em um ponto mais alto fazia com que o homem do templo pudesse identificar onde estavam os feridos.

    — Há pelo menos cinco ao noroeste do senhor! Sendo dois guerreiros e três desarmados. Na esquerda do algoz… Uma arqueira e uma clériga!

    Precisa a visão do loiro a mando de Deus. Enquanto os dois homens da linha de frente abriam espaço e caçavam os fugitivos do emaranhado, o restante se comprometia em erguer esses aventureiros que precisavam de auxílio e subiam ao norte para tratá-los como mereciam.

    Bruxo Negro lutava com feitiços sombrios, transformava goblins em cinzas com alguns toques. Seus olhos brilhavam em meio ao escuro do seu rosto, duas glândulas verdes praticamente opacas, que rastreavam os inimigos. Ele erguia algumas barreiras que protegiam os relicários que corriam até os feridos da guerra, para retirá-los de lá.

    Kassandra controlava seus zumbis com uma certa maestria sinistra, chegava ser aterrador o que esses pequenos acinzentados conseguiam fazer. A quantia era absurda a ponto de começarem a atacar a retaguarda da horda principal. Auxiliando indiretamente a tropa de Claude.

    Um ponto onde tudo parecia estar dando certo.

    Mas numa guerra, o que pode ser considerado correto? Qual é o verdadeiro preço de brincar com tantas vidas como se fossem peças de um tabuleiro?

    A facilidade do que vai sempre volta, e o fim é tão possível de ser alcançado que é aterrador parar para pensar nisso.

    Celérius escutara um grito tão alto, de desespero e dor à sua esquerda. Ele logo encarara.

    Era o escárnio do destino.

    Aldmond não estava tendo tamanha sorte, parte dos seus homens estavam bem protegidos pelas barreiras levantadas pelo líder da escola mágica. Porém, o homem havia saltado para fora do trajeto em busca de uma guerreira ferida, que acabara finalizada por uma lança enferrujada dos inimigos verdes.

    Inimigos esses que cercaram o relicário. Que tentara resistir, mas foi dominado. Tamanha a quantia de golpes que recebera, que o homem caiu agonizando, sufocado pelo próprio sangue. Jorrando pelos lados esguichos vermelhos dos seus cortes.

    — Recuem! — O clérigo gritara para os relicários que ainda restavam.

    Os esforços que mantinham para deixar esse lado do esquadrão intacto claramente falhou. Levara um tempo até que Kord e Lavish conseguissem finalizar esses goblins também. Abrindo espaço para que Celérius pudesse correr até Aldmond. Que não respondia.

    O olhar para o vazio em olhos que gradativamente perdiam o seu brilho.

    Celérius pôde sentir, o momento exato em que a alma do relicário subira de teu corpo até o reino dos céus. O garoto do laboratório das maravilhas trajava um sobretudo de linho preto, que havia retirado do corpo do seu amigo Phellege. O sacerdote o cobriu.

    Ambos os amigos caminham na estrada da paz, finalmente.

    A morte no calor da guerra é ingrata. O relicário ganhava um colo que seu amigo necromante não havia conseguido.

    Nenhuma palavra fora dita, nenhum discurso de despedida.

    Celérius encarava para um corpo morto que ainda jorrava, pois havia muito sangue guardado.

    Alguns relicários observavam seu companheiro e desviavam o olhar para manter o sucesso da empreitada e resgatar quem ainda respirava.

    Outros caíram no sentimentalismo de gritar pelo nome do companheiro que dividiram dias e treinos. Conhecimentos e vitórias.

    Um aperto no peito de Solomúrios o fez segurar tão fortemente seu corselete de couro batido.

    Ele sentiu.


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