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    Capítulo 043 – ‎Caia por todas as maldições!

    E, de qual sombra de má sina, os demônios rumaram ao mando do seu comandante tribal.

    Dalila fora a primeira a mover-se. Suas sandálias roçaram agressivamente contra o solo, teria sido com leveza se não estivessem coladas por conta do sangue na sola, mas isso não a impediu.

    Esgueirava-se entre os cadáveres e pulou sob os destroços, apenas uma katar constava em sua mão direita, sem saber o que possa ter acontecido com a esquerda. Soltou quando foi socorrer Lavish, talvez?

    Sua lâmina oculta teria sido mais efetiva se fosse uma batalha a noite, ela saltou sob o rei goblin que rapidamente percebeu sua investida.

    Aquele cajado dourado lampejou, era um fulgor azulado com som elétrico crescente. Um raio gigantesco percorreu o ar atingindo Dalila antes mesmo que a lâmina dela pudesse tocar o goblin, fazendo com que ela tombasse nos pés do inimigo.

    — Dalila!

    Victoria gritou atônita, correra até a sua amiga, quando ela percebeu o sorriso do rei adversário, acreditou que seria uma boa oportunidade de encerrar essa postura elitista de um reles monstro.

    As adagas de Vic gotejavam veneno, tão mortífero e silencioso quanto ela mesma tentava ser. Belle, atenta, observava como sua subalterna reagiria a isso, principalmente por conta do sentimentalismo exagerado para com uma algoz.

    Ela girou um golpe.

    Um único corte que seria direto e certeiro em direção ao inimigo, mas o rei goblin erguera a mão e desferiu um impacto etéreo. Um baque surdo que implodiu como um impulso invisível que arremessara a mestra dos venenos longe, batendo violentamente contra os restos de uma casa. Apagando com um gemido de dor agudo.

    Ayel cerrou os punhos, eram as duas garotas que bebericaram com ele. Ele sentiu uma ira, mas sabia que precisava esperar o momento exato para agir, e os aventureiros estavam dispostos a serem a isca para o rei goblin.

    Um dos clérigos conseguiu alcançar a Victoria, mas Dalila ainda estava muito próxima do inimigo para ser tratada imediatamente.

    — O honrarei, meu rei! — A paladina gritara no meio da praça.

    Mariane estava impávida, lançou-se a seguir, seu escudo reluzia ao mitigar a presença do único ser que impedia a vitória completa do reino.

    A risada do rei goblin aumentava gradativamente, conforme as aventureiras caíam, uma a uma.

    O ar rasgara em um golpe de fúria imparável advindo da paladina, mas a risada do goblin não cessou e ele rapidamente fustigou1 o chão com a base do seu cajado, erguendo pedras e pedaços da terra que subiu, levitando rapidamente embaixo dos pés de Mariane, que caíra para trás, esses pedaços erguidos pelo rei dourado ainda se ergueram mais alguns metros e quando o goblin cessou a magia. Despencaram sobre a garota, que gritou sangrando.

    O bárbaro iria correr até o monstro, em um ímpeto de um ódio incontrolável, quando sentira uma mão em seu peitoral que impedia silenciosamente que ele se mexesse. Era Amelie, ela estava ofegante de ansiedade, tremendo… Balbuciava algumas palavras como se tentasse comunicar-se com seu rei.

    — Agora não, majestade… — Ela gaguejava.

    — Bruxa? Que raios!

    — A paladina está viva, veja…

    Alvorada parou por um instante, olhou embaixo dos escombros onde a mulher havia sido soterrada, a terra e as pedras mexiam-se ritmadas como uma respiração fraca.

    — Senhora Evangeline é uma das grandes mentes atrás de Nox Arcana, ela faz parte do círculo mágico… Um grupo seleto dos arcanos mais poderosos do reino. Tudo que sei sobre combater um arcano, aprendi com os duelos que ela organizava… Repare bem, majestade.

    A bruxa aprendiz apontou para alguns pontos do próprio goblin, que ria observando as aventureiras caídas.

    Ela tomou a frente, dera cinco passos para a direção do monstro inimigo, o bárbaro surpreendeu-se com tamanha coragem.

    — Ele tem respostas rápidas para ataques físicos que o miram. Acredito que ele não consiga se recuperar se o arcanismo atingi-lo. Um goblin não é um ser inteligente, podemos apostar que ele esteja acostumado a combater contra seres físicos tal qual a raça dele, poderia se surpreender se eu me esforçar o suficiente.

    O que ela dizia fazia bastante sentido, Ayel concordava silenciosamente, embora ela estivesse na frente demais para poder observá-lo. Ele claramente não conseguia compreender sobre as nuances da magia, quando Alyssius e Bruxo Negro puxavam tópicos que envolviam isso, o rei apenas fingia não ser tão estúpido.

    Amelie pegara uma varinha, puxando da cinta de couro. Respirara fundo e começou a bradar um encantamento, como se a varinha fosse um pincel no ar: ela traçou runas como se fosse um caminho para conjurar o que fosse necessário.

    Um som de chamas irrompeu da ponta da varinha, cada fragmento solto de fogo tornou-se uma serpente que voou rapidamente em direção ao pequeno monstro. Surpreendendo todos, com exceção do maldito rei, ele apontara o cajado para a bruxa e a relíquia começou a absorver as labaredas como se nada fosse. Na sequência, retribuindo as chamas com um pouco de relâmpago consigo, foi disferido uma rajada avermelhada com raios que atingira Amelie antes mesmo que ela pudesse erguer qualquer barreira.

    O grito de dor explodiu do peito da mulher até sair pelos seus finos lábios. O choque a paralisou de tamanha forma que iluminou todo seu corpo como se a eletricidade tivesse corrido suas veias. Ela caiu para trás desacordada.

    Restava Aaron, e ele correu assim que visualizou Ayel se aproximar para segurar o corpo de Amelie.

    Ele tremia de medo, seu coração estava acelerado. Pensava ele que, se alguém poderoso como Mariane foi facilmente derrotada, o que seria dele?

    As mãos suavam na empunhadura da espada, os joelhos ameaçavam ceder, mas ele não parava de correr.

    Um rugido de desespero escapou pela garganta do nortenho, que chamara a atenção do rei goblin. Que virou para o invocador, como sempre, rindo.

    Aaron visualizou um escudo no chão e agarrou desesperado, quando ele estava para atingir o inimigo. Um raio vindo dos céus mostrou o cajado dourado mais uma vez, mostrando seu uso.

    De cima, a rajada azul descera, bateu no escudo que era tão frágil que sequer resistiu, estilhaçando-se em dezenas de pedaços de madeira, estalando com o fogo criado pelo impacto.

    A força arremessou Aaron, sem escudo, em choque por conta da força do raio a ponto de ter derrubado sua arma. Desesperado, gritara ainda mais de medo.

    O rei goblin marchou até ele, sua expressão transbordava um triunfo vil. Levantara o cajado para o golpe final contra o homem de Althavair.

    Um urro que parecia ter vindo do nada, quase bestial, rompeu o ar tão repentino que parecia uma rajada sonora.

    Bárbaro.

    Como uma tempestade encarnada, Ayel aproveitou da distração perfeita que Aaron conseguiu. Girando com brutalidade, sua lâmina cintilou em um corte horizontal tão rápido, que mesmo virando para encarar o ruivo. O rei goblin não conseguiu reagir mais do que apenas arregalando os olhos.

    Golpe certeiro.

    O aço frio adentrara na carne.

    A carne cedia pela força descomunal.

    A pele esverdeada jorrava um sangue roxeado que espirrava para todas as direções.

    O aço frio atravessara os ossos.

    Rolou pelo chão a cabeça do rei adversário. Enquanto Ayel ainda bufava em ódio colossal contra toda a raça monstruosa.

    E a humanidade prevaleceu.


    Os poucos que ainda constavam naquela praça gritaram a todo pulmão, finalmente conseguiram correr até os caídos. Dalila ainda estava desacordada, Mariane parecia catatônica e, além de alguns clérigos, Aaron também foi acudi-la.

    Um dos noviços já havia cuidado da Victoria, quando ela voltou a si, visualizou Belle. Mesmo um pouco desapontada, ela começou a consolar a sua subalterna.

    Yelena abriu um sorriso, ela deixou sua postura de lado ao visualizar como o homem que ela admirava encerrou todo esse confronto. Ela estava próxima de chegar perto do Ayel para cumprimentá-lo pela vitória, quando percebeu Anusha vir de longe, andando diretamente até o rei.

    Uma conversa entre um representante de uma guilda e o rei, ela não desejaria atrapalhar isso.

    Visto que tudo estava seguro, a sentinela decidiu verificar o restante das tropas.

    — Admirável, majestade. — O mascarado batia palmas lentas, andando devagar.

    O bárbaro ainda estava um tanto ofegante, guardara sua arma enquanto o algoz batia os pés suavemente no solo enegrecido de sangue.

    — Agradeço… Onde esteve?

    — Mais ao norte, alguns passaram pelas defesas, eu estava com eles. — Anusha encarava a cabeça que ainda terminava de rolar ao longe.

    Uma certa estranheza pairava pelo ar. Alvorada recordava-se muito bem de como havia sido seu primeiro contato com Anusha, um homem perfeitamente formal, sério e de postura. Mesmo ainda muito polido socialmente, Ayel conseguia sentir um ar incomum, começou a se perguntar se algo havia ocorrido para Maut Ka Mandir e ele precisaria resolver, o rei bateu o pó das vestes.

    — Tem dois dos seus algozes completamente feridos, não consigo contar as quedas que a guilda teve… Mas levantaremos esses números. — Ayel encarou diretamente nos olhos do senhor mascarado.

    — Sei que o senhor é responsável a esse ponto, meu rei. Mas tem algo que tem me atormentado e precisava muito papear com você… A sós.


    1. Fustigar: Agredir com violência[]
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