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    Capítulo 049 – Glória ao mausoléu!!

    Como um monólito de puras sombras, a construção de Kassandra Morta-viva finalmente encerrou e estava pronta, tanto ela quanto o Alvorada estavam na grande entrada.

    — Assim que eu soube, precisava vir e checar isso. — asseverou Ayel.

    — Espero que te agrade, meu rei.

    A ruiva se curvava, alegre, erguia a cabeça para encarar o tribal com os seus olhos do exício: desde Anusha, Ayel carregava uma energia vital tão estupidamente forte, que Kassandra não conseguia retirar informação alguma.

    Ela sorriu, como sempre fez, ao tentar usar seu poder no seu rei.

    — Levaram uns bons meses, mas é impressionante! Devo dizer.

    O aspecto externo do mausoléu lembrava aquelas edificações antigas de reinados esquecidos, era áspero e negro, como se tivesse sido tingido ou queimado até chegar nesse tom.

    — Agradeço, agradeço muito. — Kassandra falava com muito orgulho em sua voz, segurando ambas as largas portas da entrada, empurrando-as.

    Fazia um som horrendo, um ranger familiar para o bárbaro.

    — E como se chama? — indagou Alvorada.

    — Mausoléu do Sofrimento, alteza.

    Todo o local foi edificado por meio de ossos corroídos e crânios, alguns com aspectos amarelados. Isso fazia com que as paredes fossem completamente frias e úmidas.

    — Sugestivo, gosto.

    O ambiente era acolhedor para a dama, não tanto para o homem, embora ele não se importasse com o teor fúnebre que estava imerso naquela hora.

    — Aqui será o ponto onde todos os necromantes poderão verdadeiramente se sentir acolhidos, será onde eu poderei ensiná-los tudo que sei.

    Conforme andavam pelo local, as mãos da necromante tateavam toda a decoração e os detalhes, deixando seu toque no gelado do seu lar.

    Havia candelabros feitos de tendões ressecados e retorcidos, donos de uma aparência grotesca, mas ainda assim era possível observar uma delicadeza e uma atenção minuciosa no que deixava tudo belo.

    — Imagino como deve estar se sentindo realizada, eu estou adorando tudo que vejo.

    Kassandra sorria, claro, era como se a edificação toda fosse uma pintura de sua autoria e ela estivesse sendo mimada por diversos elogios, mas assim que percorreram um pouco mais do lugar, ela coçou a garganta e puxou outro assunto com o monarca.

    — Eu soube da criação do esquadrão. — Morta-viva dissera, enquanto ajeitava o cabelo.

    O Esquadrão do Centro da Praça.

    Ayel havia criado uma força tarefa particular com todos que lutaram com o rei goblin ao seu lado. Ele fora para um dos ferreiros mais renomados do reino e ordenou que um broche fosse feito.

    Adornado luxuosamente, uma coroa com uma espada atrás.

    Os membros do esquadrão foram condecorados com esse símbolo e, por conta do sucesso da guerra contra os inimigos, a população passou a respeitar um pouco mais o tribal, consequentemente, essa força tarefa que o mesmo criou.

    — Eu sei que eu não estava efetivamente contigo na linha de frente, mas como agradecimento por me ceder esse espaço no seu reino, eu poderia assumir um dos broches, se ainda houver.

    O piso lembrava fragmentos de cadáveres, também.

    Ayel acabou percebendo formatos como mandíbulas e crânios, alguns grosseiramente quebrados, embora adornado dessa forma. O chão não era irregular, havia uma camada espessa e transparente que estava sob os ossos e agia como um chão gélido. Uma espécie endurecida de resina.

    Quando se deu conta, percebeu que havia deixado a garota no silêncio.

    — Kassandra, seria uma imensa honra para o reino ter alguém como você no meu esquadrão particular, eu irei solicitar que um broche seja entregue a você também.

    — Agradeço mil vezes, rei.

    Arriscado, perigoso, porém rentável.

    Ficou sabido que o esquadrão do centro da praça atuaria em circunstâncias extremamente perigosas, assumindo a linha de frente junto de Ayel, na frente até mesmo da própria guarda real, era um serviço perigoso.

    Em contrapartida, a coroa financiava os membros do esquadrão como um pagamento extra devido às chances de morte que aumentavam gradativamente junto das obrigações que o esquadrão poderia enfrentar em algum momento.

    Kassandra não perderia um pouco a mais de ouro, mesmo que seu pescoço estivesse à prova.

    Perdida em devaneios e ainda grata por ser convocada para o esquadrão, a necromante apenas voltou a si quando sentiu a mão do rei sob seu ombro, ele sorria.

    — Vamos, deixemos as honrarias de lado, me diga mais sobre seu lar erguido.

    — Certo!

    Ambos caminhavam curiosamente, encarando a arquitetura macabra. O bárbaro lembrou-se de que se sentiu maravilhado igualmente quando visitou Nox. Kassandra estava completamente orgulhosa de tudo aquilo que apontava para puxar a atenção de Ayel.

    — Os cômodos iniciais vão remeter a um mausoléu, mesmo, armazenaremos e cuidaremos dos cadáveres antes de serem necessariamente enterrados ao redor, no cemitério.

    O teto era arqueado e sustentado por colunas que, ironicamente, eram feitas de colunas vertebrais. O bárbaro riu discretamente, perguntando se isso havia sido proposital, como uma pequena piada criada pela Kassandra.

    Os ossos estalavam, como se o peso acima muito fosse.

    Entregava uma falsa sensação de que tudo poderia ruir, e a iminência de que tudo estivesse prestes a desabar apresentava uma fragilidade da vida.

    — Os próximos conjuntos de salas seguintes são médios salões onde os necromantes mais experientes poderão administrar aulas para os novatos.

    — Como em Nox Arcana? — O monarca precisava compreender a origem dessa inspiração.

    — Posso dizer que sim, mas diferente de lá, onde existem vários tipos de arcanos, as magias necromânticas são mais simples e diretas.

    — Interessante. — Alvorada aproximava-se, atento, como se fosse um dos discípulos da morte.

    O vento era gélido, o bárbaro não conseguia dizer se era uma manhã que esfriava conforme as horas passavam ou se os ossos retiravam qualquer resquício de calor que se aproximasse, balançava as cortinas esfarrapadas, eram feitas de pele.

    — No fim de tudo, depois vamos ter os aposentos, além da minha sala. Onde vou cuidar de tudo e onde estão os meus experimentos. — O tom da Kassandra foi sugestivo, instigou uma curiosidade primordial no homem trajado em couro.

    — Experimentos, o que tem feito? — contestou o rei, tentando captar.

    — Eu te mostro.

    Por mais macabro que continuasse a arquitetura conforme os dois andavam, ou principalmente a fragrância morta que impregnou no ar de forma que parecia perpetuar o odor, o bárbaro não achou o ambiente feio.

    Inclusive, quanto mais tempo ele permanecia ali, com Kassandra, mais seus olhos se acostumavam com os arredores.

    Por fim, quando alcançaram a sala da matriarca da guilda dos necromantes, Ayel observou um salão oval enorme, com uma larga mesa no canto, no centro de tudo. Havia uma espessa mesa de granito, dois corpos inanimados estavam estirados.

    O cheiro era frio com um toque de flores que o rei conseguiu distinguir: madressilvas e lavandas.

    Muito provavelmente era um preparado de flores e ervas para suprimir o odor fétido dos cadáveres.

    Os rostos eram familiares, embora suas peles estivessem acinzentadas.

    Eram os amigos Aldmond e Phellege.

    Desnudos e adornados, o Alvorada compreendeu que poderia ter sido usado necromancia para estabilizar a putrefação. Eles não estavam com o aspecto em que deveriam estar, após meses.

    — O necromante e o relicário.

    Ayel suspirou.

    — Vai reanimá-los?

    — Essa é a ideia principal, mas minhas forças são limitadas.

    Kassandra acariciou o rosto dos mortos.

    — Eu pretendo trazê-los de volta, sim, mas não como meros zumbis, eu quero entregar suas consciências, fazer com que eles retornem à vida totalmente. — brandou a ruiva.

    O bárbaro sorriu, cruzando os braços, era essa personalidade ousada da líder dos necromantes que o fez entregá-la o território para a construção do mausoléu.

    — Como pretende fazer isso? — perguntara o homem.

    — Eu soube de uma planície que outrora era verdejante e florida, porém, desde uma infestação de energia morta, ela se tornou algo tenebroso e vil. Aposto que eu conseguiria moldar essa energia morta e entregar finalmente a vida aos meus filhos.

    “Filhos?”

    O rei continuava sorrindo.

    — Eles serão sua criação, entendo. Entretanto, que local você está mencionando?

    — As planícies de Katze, sudoeste do reino, alteza.

    Ayel lembrava desse nome, era um local relativamente próximo dos muros de Sihêon. Ele passou a se perguntar se isso acabaria se tornando um problema para o seu reinado, uma energia morta que tira a vida da vegetação de uma planície conhecida.

    Ele deveria se unir a Kassandra? Enquanto ela desejasse pegar a energia, ele estivesse ali apenas para garantir que cairia em boas mãos?

    Ele decidiu pensar nisso mais tarde.

    — Bom saber que Aldmond e Phellege poderão retornar.

    — Ah, não, isso não… — Kassandra cortou Ayel, que a encarou estranho.

    — Como assim?

    — Eles perderam seus nomes, perderam seus significados, eu entregarei para eles uma nova chance, uma nova vida. Um novo nome.

    Os olhos da necromante brilhavam naquele pálido opaco.

    — E quais serão seus novos nomes, garota? — Ayel a encarava de cima.

    — Pútrido… — Ela passava a mão sob o rosto de Phellege enquanto dizia, então voltou a atenção para Aldmond. — Esse será Espúrio…

    O tribal encarou os cadáveres e então sorriu, olhando para a ruiva.

    — Nomes que combinam muito com o que você fará com eles, imagino. Eu adoraria ver isso acontecer, vou te ajudar em Katze.

    A garota estaria com os olhos brilhando, encarando o auxílio do tribal, se não fosse o opaco sem vida das escleras brancas do exício.


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