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    Acredito que conforme aprofundarmos nas guildas e suas nuances, seja necessário capítulos como esse. Com um viés didático.




    Capítulo 050 – Os ecos do mana!

    Nem tão claro, tampouco escuro. As velas oscilavam tão delicadamente no interior daquela sala de estudos.

    A academia arcana, berço da magia em Sihêon era praticamente um labirinto para aqueles que não a conheciam. Naquela sala, havia estantes aos montes, encostadas nas paredes, mas também no meio do ambiente.

    Estava abarrotada de pergaminhos, livretos e grimórios.

    Ecos permanecia em pé, imponente, esperava sua convidada adentrar na sala enquanto respirava fundo e permitia aquele cheiro envelhecido dos pergaminhos e ervas secas subirem suas narinas.

    Quando ela surgiu no arco da porta de madeira, ele consentiu com a cabeça lentamente, sinalizando para que a mesma pudesse adentrar.

    E ela o fez.

    Sentou-se logo à frente dele, existia uma mesa retangular que separava os dois. Ele não se sentou, continuou a encará-la, sério.

    — Bom dia.

    — Bom dia, meu senhor — ela fez uma pequena mesura com a cabeça.

    Amelie, embora estivesse com uma expressão determinada, sentia a pressão esmagadora daquele momento. Ela estava prestes a ser testada por um membro do Círculo Mágico.

    Isso não era algo simples, trivial.

    Nenhum outro aprendiz viveu isso.

    Desde a criação do Esquadrão há um tempo, os membros se tornaram conhecidos perante os aldeões, esses aventureiros estão sendo vistos como extensões dos olhos e mãos de Ayel. Consequentemente, estão sendo requisitados para ajudar a população.

    Amelie foi a única arcana a batalhar com o rei goblin ao lado do rei bárbaro, logo, foi a única de Nox Arcana inteira a ser chamada para o Esquadrão.

    O broche da coroa com a espada que agora está preso em seu manto tem um peso absurdo, a academia reconheceu isso. Gerou uma onda de respeito enorme, mesmo que a garota tenha se tornado bruxa há tão pouquíssimo tempo.

    — Podemos começar? — indagou Ecos, ajeitando seu óculos de armação circular.

    — Claro…

    Ela era uma jovem muito promissora, bruxos precisam fazer um pacto com entidades de outras dimensões chamados patronos para conseguir exercer o seu mana. Isso difere de magos que estudaram por anos para desenvolver a manipulação da magia, muito mais também de feiticeiros que apenas nascem sabendo como conjurar.

    Nox Arcana sempre priorizou ensinar conceitos básicos antes de instruir os seus futuros bruxos como contatarem um patrono e usufruir dos pactos. Entretanto, Amelie já se matriculou para a academia sob um pacto. Dizia ela que havia feito desde muito criança.

    Talvez, a entrada no esquadrão fora apenas mais um item valioso para seu extenso currículo.

    Ecos apoiou ambas as mãos naquela mesa de carvalho escuro, observando a garota com uma calma antes que pudesse formular sua primeira pergunta.

    Amelie havia se tornado uma figura pública e Nox Arcana não permitiria que uma garota inexperiente pudesse passar desinformações da guilda para os moradores do reino.

    — O que é o mana? — A voz do bruxo ecoou pela sala, solene.

    A garota suspirou fundo antes que sua fala saísse da boca, ajeitou ansiosamente o seu bracelete de couro que repousava no pulso, era um hábito inconsciente, talvez estivesse buscando a calma, talvez reorganizava as ideias na cabeça.

    — O mana é uma energia presente em toda forma de vida. Ele pode ser manipulado pelos arcanos para conjuração mágica, enquanto outros indivíduos podem armazená-lo de formas mais limitadas e acioná-lo por gatilhos específicos.

    Ela puxou um pouco mais de ar, olhando nos olhos de Ecos, então continuara:

    — Contudo, apenas os arcanos têm o domínio de moldá-lo conforme sua vontade.

    O bruxo assentiu levemente sua cabeça, mas ainda mantinha seu semblante inexpressivo.

    Do lado de fora da sala de estudos, alguns passos sussurrados ecoavam, eram aprendizes que haviam parado próximos à porta que Amelie havia deixado entreaberta.

    Os novatos trocavam olhares curiosos sem tirar suas atenções do teste que estava sendo imposto na bruxa do esquadrão. Estupefatos.

    Ecos não se importava com as presenças furtivas, ou talvez estivesse tão acostumado a chamar atenção involuntária que sequer se preocupava com o peso dos olhares.

    Amelie visualizava isso como uma pressão ainda maior.

    O bruxo moveu-se até uma das estantes, deslizava os seus dedos pelas fileiras de livros, retirando um em específico. Este tinha a capa dura e enegrecida.

    Ele abriu enquanto andava de volta para a posição em que se encontrava, sem dar atenção direta para a aprendiz.

    — Então, e sobre as variações do mana? Como se classificam?

    A bruxa endireitou a sua postura, ela demonstrava confiança e isso fez Ecos soltar um ar de riso.

    Mal sabia ele que ela havia recebido uma aula dos próprios mestres, naquela fatídica tarde da guerra.

    — O mana que conseguimos moldar livremente como arcanos é conhecido apenas por isso, o mana. Se visto por peritos, poderiam dizer que ele é translúcido. É dele que nós, magos e feiticeiros, conseguimos atingir os efeitos que precisam em suas magias.

    Amelie coçara a garganta, tentando ler o título do livro que Ecos pegou, sem sucesso.

    — O mana vermelho está ligado às emoções, especialmente à raiva. O roxo proporciona precisão, garantindo acertos e esquivas exatas. O azul se relaciona à velocidade, permitindo impulsos e reações sobre-humanas. O verde conecta-se à natureza e costuma ser manipulado por seres féericos ou por aqueles que têm grande afinidade com o ambiente natural. O amarelo está atrelado à compreensão e aprendizado. O negro rege os mortos e as artes necromânticas. Por fim, o branco é o mana divino, concedido àqueles que seguem caminhos religiosos. — concluiu a bruxa sem respirar.

    — Correto.

    Dessa única vez, o membro do Círculo Mágico permitiu que saísse do seu rosto um sorriso discreto.

    Então ele se sentara, de frente para Amelie. Fechara o livro para encará-la diretamente.

    — Respondeu com uma precisão arcaica, gosto disso. Agora, e sobre a Academia de Nox Arcana? Qual a sua importância?

    — Apenas o maior centro de conhecimento arcano, ouso dizer, do mundo. Berço de diversas guildas mágicas, foi fundado pelo Bruxo Negro, que acreditava que o conhecimento fosse um item valioso que precisava ser compartilhado.

    “Ela veio pronta para isso, gostaria de poder ver a expressão de todos quando eu relatar isso”

    Pensara Ecos, prosseguindo com seu teste.

    — Muito bem. E quanto ao Círculo Mágico?

    Ele sorriu.

    — São os membros que regem e administram Nox Arcana, sendo formado por sete membros, número que tem grande importância arcana. Seu elenco muda de tempos em tempos, mas sempre reúne os mais habilidosos escolhidos.

    — Quem faz parte do elenco das últimas eras? — Ele sorriu.

    — O senhor e a senhora Evangeline são os dois bruxos, os magos Theodor e a senhora Hexacorallia, e os feiticeiros Connaissance, Selene e o Bruxo Negro, o líder supremo…

    Lisonjeado, Ecos levantou-se e caminhou lentamente por todo o ambiente do salão de estudos, ele absorvia cada uma daquelas respostas com muita atenção. A luz que vinha do corredor, por conta das tochas presas nas paredes, imprimia as silhuetas dos aprendizes que ainda estavam espreitando do lado de fora.

    Sussurravam entre si.

    Estavam impressionados com tamanho rigor que aquele teste estava sendo, como se Amelie não tivesse espaço para errar e de fato não tinha.

    Além de um momento para compreender o nível da bruxa. Ecos permitiu que os aprendizes continuassem ali, pois aquilo estava sendo uma brilhante aula.

    Todos sairiam ganhando.

    — Amelie…

    — Sim, senhor.

    — Você entende a responsabilidade que está carregando ao ter aceitado se unir ao Esquadrão do Centro da Praça, não entende?

    Ele a encarou com a mesma seriedade que teve assim que ela passou pela porta.

    A bruxa assentiu com firmeza nos seus gestos, embora voltasse a mexer no seu bracelete de couro.

    — Eu… Eu compreendo que a minha fama está crescendo e que serei obrigada a estar diante de públicos distintos… Sei que agora posso não estar representando apenas a mim mesma, mas represento Nox Arcana e todo o legado entregue.

    Ecos endireitou sua postura por um tempo, refletindo tudo que escutava. Então acenou brevemente, como se fosse um sinal de aprovação.

    — Garota, você está no caminho certo. Ainda há muito o que aprender, mas eu consigo ver um potencial tamanho em você.

    — Sou grata, senhor.

    Do lado de fora, os aprendizes dispersaram-se rapidamente. Ecos estalou os dedos e criou uma barreira sonora tão poderosa que assustou todos que estavam no corredor. O som que partiu do lado externo foi estranhamente mais alto que o estalo que Amelie presenciou.

    — Isso não é mais pertinente para eles escutarem.

    Ecos voltou a olhar para Amelie.

    — Sabe o que faz com que um membro seja devidamente escolhido pelo Bruxo Negro para ser parte do Círculo Mágico?

    Amelie abriu um pouco mais os olhos, claramente estava curiosa.

    — O… O que senhor?

    — Sabe o que são as disciplinas mágicas?

    Amelie piscou, hesitante. Aquele não era um tema amplamente discutido.

    — Se eu não estou enganada… São diferentes das magias comuns, como lançar uma bola de fogo, porque não podem ser copiadas. Foram desenvolvidas exclusivamente por seus usuários e fazem parte de seu próprio legado arcano.

    — Pois bem. — Ele sorriu com a resposta da mesma. — Todos os membros do Círculo Mágico possuem suas próprias disciplinas mágicas, mas isso não é algo que se discute abertamente, já que cada arcano molda a sua compreensão de acordo com sua afinidade única da magia. Não posso falar por eles, mas posso revelar a minha: magias sonoras.

    Amelie inclinou a cabeça, intrigada.

    — Magias sonoras?

    — Uhum… Consigo propagar minha voz ou qualquer outro som que eu já tenha ouvido e fazer com que ele seja escutado em qualquer lugar que eu já tenha visto antes. Isso pode servir como distração, comunicação ou até mesmo para desorientar alguém. É útil e versátil.

    Dessa forma, ela entendeu o que aconteceu há alguns minutos, Ecos estalou os dedos e fez com que esse som aumentasse o volume no corredor para assustar os aprendizes.

    Ela ficou maravilhada. Só voltou a si quando escutou Ecos prosseguir:

    — Membros do Círculo Mágico não costumam dar aulas públicas aqui em Nox, porém, podemos escolher discípulos. Como vejo potencial em você, Amelie. Gostaria de tornar-te uma.

    Ela arregalou os olhos, que brilhavam com o mar de possibilidades que surgiram em sua mente.

    — Mestre Ecos, seria… seria uma honra e eu aceito.

    Sorrindo enquanto estalava os dedos, o bruxo começou a andar para fora da sala de estudos.

    — Então, descanse por hoje e prepare-se para amanhã, quando começaremos sua tutoria. Esteja pronta, vamos estudar.


    Dentre as maravilhas de Nox Arcana, tanto quanto suas práticas e os cômodos mágicos que estão adornados dentro desse grande centro acadêmico de magia, é possível que seja abordado apenas em materiais extraoficiais como a nossa wiki.

    Existe sim a possibilidade de eventualmente termos capítulos que foquem mais na hierarquia interna e a profunda lore dessa sede de guilda, mas é de bom gosto que evite-se focar demais em núcleos que se distanciem demais dos protagonistas (Esquadrão do Centro da Praça)

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