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    Capítulo 056 – Aperto Amaldiçoado!


    No início da viagem, aquele território era um verde exuberante, repleto de campos. Naquele momento, a paisagem parecia ter sido completamente drenada.

    O batalhão dos batedores pisava naquele chão seco e rachado. Kord viajava à frente de todos os homens, que reuniam, entre a guarda real, os melhores.

    Ele repousara sua mão sob o punho da sua espada longa enquanto cavalgava, seu cabelo castanho e curto estava bagunçado pela brisa seca. Embora fosse um homem de bom humor, seu semblante carregava uma certa preocupação.

    — Você deveria deixar de pensar nisso — disse ele, com a sua voz firme, mas com um tom quase casual.

    Yelena estava olhando para trás nesse momento, quando escutou, virou seu olhar para o companheiro.

    Aquele rosto de traços finos e pálidos brilhava até na escuridão das planícies mortas.

    — Nisso… O quê? — A sentinela retrucou arqueando a sobrancelha.

    Claude estava a cavalo igual aos três e trotava ao lado de ambos, soltou um suspiro enquanto falava. Com aquela voz tranquila.

    — Tudo bem, senhora Yelena, não somos tolos. Metade do reino já sabe que você e nosso rei estão tendo um caso.

    Kord bufou e acrescentou, sem qualquer espécie de rodeio:

    — E a outra metade sabe da Victoria.

    A líder da guarda real desviou o olhar quase que de imediato, começou a encarar o caminho à frente, impassível. Ela demonstrava frieza.

    — Isso não é um assunto que seja pertinente a vocês.

    — Não quer dizer que nós não nos preocupemos — Dissera Claude, sempre gentil.

    Garantidamente, os dois guerreiros mais poderosos do reino não visualizavam aquela mulher apenas como uma superior a eles, sim, uma irmã. Então, de alguma forma, eles viam-se também como seus protetores.

    — E se a sua honra estiver sendo ferida, ele pode ser o rei que for, nós vamos pegá-lo. — Disse Kord cerrando os punhos.

    Yelena sorriu, fora um riso curto e sincero que escapara dos seus lábios. Sua expressão estava carregada de ternura, completamente tocada pela lealdade dos seus companheiros.

    — Escutem… Sei que para vocês vai parecer estranho, mas quando Ayel disse que em sua cultura as coisas são assim, eu sei que ele não mentiu. — A voz de Yelena ganhou um tom diferente, um pouco mais caloroso.

    Naquele momento, os três viajavam com seus cavalos paralelos, onde os dois observavam atentamente sua superior, a sentinela prosseguiu:

    — Lembro-me perfeitamente quantas mulheres passeavam pelo castelo apenas para satisfazer o irmão mais velho dele, Aiden. Isso que ele as tratava como se não fossem nada… Dezenas passavam sempre pelo seu trono, Ayel não é assim.

    — Quer que a gente acredite que ele é melhor só porque, diferente do irmão, que teve dezenas, ele tem apenas duas? — Kord cruzara os braços e estreitou os olhos para a loira.

    — Você precisa se valorizar mais, minha senhora. — Falara Claude, que assentiu sério.

    A loira suspirou, seus dedos apertaram levemente as rédeas do seu cavalo.

    — Ele me trata de uma forma diferente… E eu decidi me entregar a ele por conta dessa magia que sinto quando estamos juntos. Vocês sabem como fui reclusa todos esses anos, e como muitos homens tentaram me tomar… colegas de tropas de vocês, inclusive.

    Claude franziu a testa por ter lembranças dos assédios que sua superior já passou, movimentando sua cabeça em negação para tentar esquecer todas as cenas que o atingiram.

    — Eu não concordo nem um pouco com isso, minha senhora. — concluiu Hob.

    Kord continuou em conjunto.

    — Eu menos.

    Existiu um silêncio muito breve no trio, ressoava nada além do som dos cascos dos cavalos no solo árido. Instalaria um clima antipático entre todos, mas Claude deu um último suspiro e forçou uma tosse.

    — Mas… se é algo que te faz feliz, então não temos muito o que fazer… — Ele deu de ombros.

    — Obrigada, rapazes. — Yelena dera um leve sorriso.

    — Agora, se ele te magoar, nos avise que pegaremos ele na porrada! — bradou Kord, assim que relaxou um pouco mais.

    — Exatamente! — Claude compartilhava enquanto ria.

    Aquilo cortara um pouco a tensão que pairava. Yelena fitou ambos com muito carinho, sabia que, apesar das palavras duras. Tudo aquilo era uma preocupação genuína.

    E ela confiava plenamente neles.

    As vastas planícies mortas de Katze se estendiam diante do grupo, era um oceano de relva ressecada que se perdia no horizonte. O vento frio da noite caia lentamente sob todos, pairava no ar, trazendo consigo um cheiro terroso e uma sensação estranha de inquietude.

    A jornada havia sido longa e exaustiva, os cavalos precisavam parar, e aqueles lados dos cavaleiros montados também.

    O batalhão liderado por Yelena aguardou os outros dois se aproximarem. Ayel utilizava sua presença imponente e olhos atentos para ditar onde todos poderiam pisar e como prosseguiriam.

    Logo atrás do rei, estava Amelie, ela ajeitava sua mochila, presa nas costas. Verificava se todas as poções ainda estavam lá.

    Mariane, por sua vez, observava a paisagem com um misto de curiosidade e talvez um pouco de receio. Ela não gostava do que estava visualizando: céu nublado e árvores secas.

    Aaron estava logo ao lado da paladina e, perto dele, estavam Dalila e Victoria, que entraram em conversas supérfluas e tricotavam para passar o tempo.

    — Vamos montar o nosso acampamento aqui. Precisamos de um ponto fixo para organizar nossos suprimentos e garantir um local seguro para descansarmos.

    O tribal dissera assim que encontrou um terreno relativamente plano e protegido das fortes ventanias. Ele tomara a iniciativa e começou a reunir algumas tendas, que estavam com os relicários.

    Sem quaisquer objeções, cada um assumiu uma tarefa e em união desempenharam seus papéis.

    Enquanto Amelie desembrulhava uma lona resistente e começara a erguer uma tenda improvisada, Mariane mantinha lá, verificando os equipamentos e separando os mantimentos. Aaron auxiliava a arcana junto de Victoria. Dalila amarrava tudo para manter fixado e em pé.

    Usavam as estavas que Ayel estava fincando no chão. Assim que feito, o próprio rei tratou de acender diversas fogueiras.

    Os movimentos foram espelhados para todo o exército que acompanhava os batalhões e o grande acampamento tomou forma rapidamente. O número das tendas erguidas passava um pouco da centena, grandes o suficiente para acolher cinco ou seis membros do reino. Uma dúzia dessas tendas estava sempre ao redor de uma extensa fogueira feita pelo tribal.

    O esquadrão e os líderes importantes estavam nas tendas próximas à de Ayel, que preferiu ficar sozinho na sua.

    Perto da tenda real, foram montadas mesas extensas de madeira onde havia mapas e adagas presas na madeira espessa.

    — Não fique magoada com ele. — Victoria se aproximou de Dalila, que finalizava o último nó.

    — O quê? — A pele de caramelo virou assustada.

    — Com o rei, ele não faz por mal. Desde o ataque de Anusha, tento fazer com que a visão dele caia por terra com o preconceito que se gerou.

    A Belomonte dizia solenemente, a algoz se ergueu, ambas observaram o rei que continuava fincando estacas para as tendas serem erguidas, um trabalho braçal árduo que ele executava com facilidade.

    — Esse cabeça de vento. — Dalila retrucou, enquanto estreitava os olhos, fitando o homem. — Ele acha que vou aturar ser desrespeitada? Ele pode ser o rei, baterei de frente.

    A mulher com as katares mirava o bárbaro, ainda existia aquela admiração, parecia inata e presente independente do que ele fizesse. Mas Dalila amava a si acima de qualquer respeito que ela poderia nutrir pelo ruivo. Se preciso, o atacaria.

    — Será que eu terei de ser a mediadora de vocês dois, sempre?

    Victoria amava a Dalila como amava Ayel, essa amizade e esse laço romântico não desejavam coexistir, isso a machucava. Mas ela evitava deixar isso tão presente.

    — Eu consigo manter a postura, Vic, não se preocupe com isso. — A algoz dissera entre os dentes, amarrando mais um nó.

    Todos prosseguiam, trabalhando arduamente, eram tantas tendas que parecia uma pequena vila sendo levantada no meio das planícies mortas. Logo foram recebendo seus toques de vida: algumas fogueiras já receberam caldeirões por cima delas para que guisados fossem preparados, estábulos improvisados com troncos e tiras de couro estavam sendo preenchidos com maçãs e água para os equinos.

    Quando tudo estava pronto, Ayel sentou-se sobre um tronco caído e passou os olhos para os representantes de cada batalhão para espalhar a mensagem.

    — Amanhã seguimos adiante. Vamos descansar enquanto podemos.

    Assim que Yelena e Celérius se afastaram para repassar o que precisava ser feito para todos os outros membros, Kassandra, Bruxo Negro e o Esquadrão acompanhavam o rei ao redor da sua extensa fogueira, protegida por inúmeras pedras ao redor para evitar que apagasse com facilidade.

    Amelie suspirou, sentando-se ao lado de Bruxo Negro, que buscava esquentar as mãos, levando-as para perto do calor do fogo.

    — Essas planícies me deixam desconfortável… Sinto que algo nos observa.

    — Não é uma impressão apenas sua. — concordou Mariane.

    Kassandra, Bruxo Negro e Ayel se entreolharam mais uma vez, eles nada disseram, mas sentiram um arrepio em suas espinhas.

    Eles também tinham essa sensação de que desde que haviam pisado nas Planícies de Katze.

    O olhar do bárbaro recaiu sobre a linha do horizonte, onde era possível ver as sombras da noite alongarem-se e consumir a paisagem num breu macabro.

    Algo estava errado.

    Mas ele não fazia ideia do quê.


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