Capítulo 059 - O pós-vida!
Capítulo 059 – O pós-vida!
Para que o esquadrão que fosse cuidar do homem da orbe pudesse passar, o batalhão dos batedores precisava aniquilar os mortos-vivos que rodeavam o maldito.
À frente de todo o exército, cavalgava Yelena, com seus cabelos dourados e soltos. Ela olhava fixamente para os inimigos com sua mão erguida. Assim que ela abaixou, a mesma, uma saraivada originária de todos os sentinelas que aguardavam a ordem, partiu para os céus e descera como projéteis fervorosos sob os mortos, derrubando inúmeros logo antes do grande choque.
Ao lado dela, seus dois mais fiéis: Kord e Claude. O pele de ébano estava com seu escudo conhecido e sua espada curta. O outro já havia retirado da bainha a sua espada longa. A moral dos soldados estava elevada, esses três eram os mais perigosos.
Assim que a primeira linha de zumbis avançou e ocorreu o choque com os primeiros cavaleiros, Yelena já estava com uma flecha posicionada. Com um movimento fluido, ela disparou e a seta atravessara o crânio de um dos mortos, cravando no fundo da testa distorcida, jorrando esverdeado pelos cantos. O zumbi caiu tão rapidamente quando a flecha foi disparada.
Kord investia com um rugido, sua espada longa passava em arcos mortais de baixo para cima, ele utilizava a velocidade da sua montaria para desmembrar os zumbis como se o corpo deles não tivesse resistência alguma contra a lâmina. Por onde ele passava, deixava um rastro de cadáveres caídos, que ainda tentavam se mover, mas acabavam finalizados.
Alguns mortos rodearam os cavalos e isso assustava os equinos. Muitos cavaleiros caíram das suas montarias e foram pisoteados, outros conseguiram domar. Yelena se jogou da sua montaria para se movimentar livremente no campo, esquivando de qualquer coisa que pudesse derrubá-la. Ao perceber que seria rodeada por zumbis, girara os calcanhares, sequenciando três disparos secos, rápidos e precisos. Cada uma das flechas acertou um inimigo diferente.
Os únicos golpes que assassinavam completamente as criaturas eram quando atingidas na cabeça, dois desses zumbis que receberam flechadas da Yelena apenas foram imobilizados, com setas em seus joelhos ou peitos, consequentemente, outro batedor surgia e finalizava o que a sentinela havia começado.
— Fácil! — Kord gritava enquanto passava com sua montaria sobre os inimigos.
— Não cante vitória tão cedo, hum? — Repreendeu Claude.
Hob observava como seu companheiro de guerra estava costurando pelos adversários. Claude continuava na linha de frente, impedindo que os zumbis passassem por ele e chegassem aos níveis inferiores do batalhão, principalmente onde o rei estava.
Ele interceptava as arranhadas e mordidas com o seu escudo, mas algo que acontecia com ele e aconteceria eventualmente com todos que constavam ali seria uma pequena desvantagem em um local tão distante: os zumbis também miravam seus golpes nos cavalos, como se eles não raciocinassem perfeitamente, mas sempre estivessem prontos para tirar a vida de quem ainda tinha consciência.
Diversas vezes, os mortos tentavam derrubar a montaria de Claude, que resistiu por muito. Ele sempre que possível tentava abater os mortos-vivos antes que seu cavalo fosse capturado pelas investidas infectadas.
Não durou muito, ele acabou indo para o chão. Ao olhar ao redor, percebeu que pelo menos dois terços do exército real estava nessas mesmas condições.
Ao ver que um arqueiro havia caído próximo a ele, mas não conseguiu erguer-se na mesma velocidade e seria devorado. O pele de ébano correu e lançou seu escudo como se fosse uma arma de arremesso, que colidiu contra o morto-vivo. O impacto foi poderoso a ponto de poder-se escutar sons de ossos quebrando onde o escudo acertou, derrubando o zumbi. Que fora finalizado logo depois com um golpe direto ao crânio.
O choque irrompeu o redemoinho, fazendo com que todos os zumbis parassem de correr em círculos e iniciassem sua investida contra os vivos. Isso criou uma brecha para que Ayel e os outros pudessem desviar do conflito e seguissem diretamente para o homem no meio de tudo.
— Vamos! — Ayel gritara, apontando com a espada para o homem com a orbe. O esquadrão seguiu, desviando pela esquerda da batalha, mas ainda havia alguns mortos no caminho.
— Auxiliem eles! — gritou Yelena, mirando sua flecha em direção aos zumbis que atrapalhariam o trajeto do rei.
Um grupo de zumbis se jogou contra o cavalo de Kord, que tentou continuar correndo, mas logo caiu, sendo mastigado pelos dentes apodrecidos. O Lâmina-fria conseguiu se lançar cavalo fora, em tempo suficiente para evitar o impacto e, em uma cambalhota na sequência, aparou parte da queda, erguendo-se.
Um pequeno grupo de mortos lançou-se contra Ayel e os seus seguidores, como se tentassem impedir que o esquadrão alcançasse o meio. Alguns deles atingiram o cavalo de Dalila, que em uma relinchada desesperada, caiu para trás, sendo devorado.
A algoz saltou antes que a queda fosse pior, mas estava prestes a ficar rodeada de mortos, sozinha, no lado oposto do restante do exército.
— Inferno! — Ayel gritara, puxando as rédeas para contornar e ir até a algoz para salvá-la, seu movimento fora impedido por Victoria.
— Ela é minha amiga, irei ajudá-la, siga o objetivo, majestade, siga o seu plano!
Enquanto ainda cavalgavam paralelos, o rei encarou a mestra dos venenos e, reconhecendo sua honra e sua força, ele apenas assentiu com a cabeça. Permitindo que ela fizesse o que declarava, Victoria virara a sua montaria, dando a volta para conseguir alcançar sua companheira algoz. Lilian, a clériga, observando o perigo de uma mulher ir sozinha, também desviara da sua rota. Acompanhando a mulher de cabelos cacheados.
Cercada por pelo menos quatro inimigos, Dalila elevara suas katares com ambas as mãos e girou o corpo em um golpe circular. Cabeças e braços voaram em todas as direções, como bonecos que desmontavam. As katares têm lâminas finas que transpassam a carne zumbi como se não fosse nada.
Ainda assim, ela continuaria absorvida no meio da horda, que diminuía, mas ainda não havia sido neutralizada. Visualizou Victoria e Lilian se aproximarem.
Outro zumbi escalava uma pilha de corpos para atacar a algoz de cima. Antes que pudesse fazer o salto, Victoria ergueu sua foice e esmagou o inimigo, utilizando a velocidade do seu cavalo. O morto despencou inerte.
Cansada, Dalila não teve tempo para respirar assim que foi atacada, em um momento derradeiro acabou se deixar levar pelo momento e caiu sob um dos seus joelhos, outro zumbi viria para pegá-la, mas ela usou uma das katares para se proteger e assim que se ergueu novamente, desferiu um golpe de cima para baixo que partiu o zumbi em duas partes.
Lilian abandonara sua montaria, saltando rapidamente enquanto o cavalo seguia para o sul, seguido por alguns dos mortos. Ela pairou sobre Dalila, fazendo uma imposição de mãos.
— Está bem?
— Eu? Claro. — A algoz encarava Victoria Belomonte que se aproximava com seu cavalo, trotando. — Não precisavam vir.
— Sei que não, mas eu nunca abandonaria a minha amiga. — A mestra dos venenos sorriu.
Permitindo ter seus ferimentos tratados, Dalila olhou adiante, buscando pelo Ayel. Que estava a curtos passos de se aproximar de vez do homem no centro.
— Eu o atrapalhei, ele vai encher o meu saco por isso. — Ela chutara o chão seco enquanto dizia.
— Deixa disso, ele mesmo estava vindo para cá, quando eu intervi dizendo que poderia salvar você. — Respondeu a Belomonte. — Ele viria te auxiliar, ele não vai te julgar por cair.
A algoz sorriu, mas o momento de descanso das três mulheres durou pouco, percebendo que ainda existiam alguns zumbis próximos que perceberam as suas presenças, elas fintaram parte deles enquanto batalhavam, elas buscavam se aproximar da Yelena ou de algum de seus homens, para garantir reforço o suficiente para mantê-las vivas por um tempo mais.
O chão ainda estava exalando um fedor necrótico por conta da batalha. Yelena estava limpando o suor da sua testa com o dorso da mão, os seus olhos ainda estavam atentos, analisava a situação da guarda real que ainda batalhava com o resto dos zumbis. Claude apoiava-se no seu escudo, respirava ofegante, seu corpo estava coberto pelo sangue escuro e espesso dos infectados. Kord estava ajoelhado ao lado de um corpo que ele acabara de derrubar, seu braço tremia com o esforço que ele desempenhou.
Ao redor deles, o restante do batalhão cumpria o seu papel com os zumbis que ainda perambulavam. A horda havia sido dizimada, sim. Entretanto, um gato-pingado ou outro ainda causava uma certa dor de cabeça nas forças de Sihêon.
O esquadrão atravessava o campo com a urgência que a situação pedia. Ayel liderava a marcha, seus olhos faiscavam com a inquietude de não ter pegado a orbe ainda. Ao seu lado estava Kassandra, que não usava armas, e do outro, Bruxo Negro.
Passaram todos por Yelena e os demais sem trocar uma palavra sequer, os olhos deles estavam fixos no coração da planície morta.
Pois o homem da orbe ainda permanecia ereto, inerte.
Como um estandarte profano e paralisado.
Assim que se aproximavam verdadeiramente do homem, o cenário tornou-se ainda mais macabro.
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