Capítulo 060 - O homem morto!
Capítulo 060 – O homem morto!
Todos eles haviam parado, de frente para o centro daquela planície. A orbe estava incandescente e as cores pretas e roxas cintilavam dentro da esfera de vidro. Os cavalos pararam, não carregavam coragem o suficiente para prosseguir, então todos desmontaram.
Não parecia prudente se afastar e rodear a criatura, logo Ayel estava na frente, acompanhado pela esquerda e direita respectivamente de Kassandra e Bruxo Negro. Atrás deles estava Amelie, e um pouco mais distante a dupla do templo, Mariane e Aaron.
— Majestade, cuidado. — advertira Bruxo Negro, sendo um dos últimos a sair do seu equino, ele observava o rei se aproximar.
— Tudo bem, Bruxo… Só estou achando estranho demais.
E ao chegarem a poucos passos de distância, perceberam que o homem estava morto, aquilo era certo, seus olhos estavam vazios e a pele acinzentada como a de um cadáver exposto por muitos dias no relento, as unhas estavam negras e o peito imóvel. Mesmo assim, permanecia de pé. Segurando a esfera com uma firmeza não natural.
Quando Ayel dera um passo à frente, o que parecia impossível aconteceu. O cadáver gritou.
Um som agudo, irritante, era um misto de resquícios do que poderia ter sido voz humana em algum momento. Em uma piscadela, o morto quebrou sua pose e avançou contra o bárbaro em uma velocidade desumana, obrigando todos a recuar, mas não eram ágeis o suficiente.
Ímpeto!
Mesmo com tamanha velocidade, o bárbaro conseguiu usar a espada para aparar os arranhões que ele poderia receber. A força era muito maior que dos zumbis anteriores vistos, e a velocidade estava fora de cogitação.
— Não deem espaço para ele, avancem! — gritara o rei a todo pulmão.
Kassandra recuou, dando alguns bons passos enquanto focava na criatura com o seu olho do exício. Bruxo Negro gesticulava suas mãos, pronto para disferir um poderoso encantamento. Amelie se pôs ao lado dele para auxiliar com uma mágica de suporte.
Aaron correra para o lado, tentava flanquear a criatura.
Seu primeiro golpe ricocheteou contra a pele do cadáver como se ele estivesse batendo contra uma pedra, todos encararam a cena embasbacados. Tão surpreso quanto o resto, o invocador cambaleou para trás por conta do impacto, seus olhos arregalavam de temor.
— Meu rei! — Aaron buscava o ruivo com os olhos, que o encarou imediatamente.
O loiro recuava uns bons passos.
— Faremos igual ao rei goblin, me comprometo a distrair essa criatura, finalize ele quando encontrar brecha, majestade!
Uma ordem?
Mas Ayel concordou com a cabeça, reconhecendo a coragem do nortenho, principalmente assim que desviou seu olhar para o outro lado e percebeu que a paladina Mariane iria se unir ao garoto no trabalho de distrair a criatura, dessa forma, o rei poderia pensar no momento oportuno para atingir com toda a sua ira.
— Faça, garoto! — Permitiu o tribal.
Com as mãos ainda muito trêmulas, cheias de receio e de adrenalina, o garoto de Althavair tentou outro ataque, mirando o flanco do monstro. Mas o zumbi virou-se no instante em que a espada vinha ao seu encontro, esquivando-se como se não fosse uma tarefa muito complicada. Em um contra-ataque, quase atingira Aaron com as garras, mas o jovem desviou, jogando-se no chão.
Mariane corria até a situação com seus pés pesados no chão seco, erguera o seu escudo pronta para abatê-lo e empurrá-lo para longe, mas o homem morto torceu seu pescoço e a fitou com seus olhos vazios, ele permitiu que o choque ocorresse. Mas seu corpo parecia tão pesado que a paladina quase se desequilibrou, recuou diversos passos, como se estivesse batendo contra uma parede espessa.
Assim que virado para a Mariane, o homem estava de costas para Aaron, o garoto por sua vez tentou invocar uma centelha de mana branca para utilizar no morto-vivo, mas a única coisa que saiu da palma da sua mão fora uma mísera vibração tão fraca que chegou a ser dissipada antes de desencostar da sua branca pele, ele ficou desesperado e recuou mais, chamando a atenção do morto, que voltou a sua atenção para o nortenho.
— Calma, Aaron! Calma! — Mariane recuperava o seu equilíbrio enquanto tentava acalmar o seu companheiro, ela virava o rosto para compreender a expressão de Ayel.
Impassível, o tribal estava confuso, pelo visto, nenhuma brecha estava sendo criada. Eles precisavam agir.
A velocidade de resposta do zumbi que ficava no centro das planícies era estupenda, Mariane tentara contra-atacar com o seu martelo de guerra, um golpe esse que teria força suficiente para esmagar dois homens de uma única vez, o morto desviou com um salto, como se fintasse tão rápido que apenas em instantes já estivesse em outro lugar. Isso arrepiou a paladina completamente.
— Bola de fogo!
O tempo fazendo gestos criou na frente do Bruxo Negro, uma pequena esfera que chamuscava em chamas avermelhadas, assim que gritou, o arcano dera um soco na esfera criada, transformando ela em um projétil tão veloz, que alcançou o morto em segundos, explodindo quando encostara na pele morta, houve chamas para todos os lados, principalmente para cima.
E antes que a fumaça toda dissipasse, Amelie também conjurou algumas esferas menores que viajaram em menor velocidade, explodindo em menor potência.
Ainda assim, uma manobra magnífica, Ayel sorriu, abrindo bem os olhos.
Mas nada, quando a fumaça desapareceu finalmente junto do vento gélido das planícies secas, o homem da orbe estava distante, como se tivesse conseguido recuar no instante em que as bolas de fogo explodiram.
— Majestade… Se nem eu consegui atingir essa criatura…
Bruxo virou o rosto encoberto por sombras para o Alvorada, que começou a sentir receio, o tribal visualizava o arcano como uma entidade… Se nem mesmo ele for páreo, então o esquadrão estaria fadado à morte.
Longe de onde os outros estavam, Aaron, arfando o peito, correra mais uma vez para a criatura, lançando um golpe desesperado, mal mirado, sem técnica.
A espada se perdeu no ar, saltando das suas mãos antes mesmo de atingir o inimigo.
— Merda! — gritou o loiro.
Mariane decidiu correr para trombar mais uma vez a criatura, principalmente agora vendo que o seu companheiro estava desarmado. Quanto mais ela se aproximava do zumbi, mais ela sentia que a sua armadura estava ficando pesada… Sufocante demais até para continuar com a sua investida, então ela acabou parando no meio do caminho.
Nesse momento, a criatura surgira mais próximo da paladina e tratou de disferir golpes rápidos demais para serem naturais. Mariane bloqueou um, dois, mas o terceiro atingiu seu ombro. A armadura segurou as unhas do morto, mas o impacto a fez voar diretamente para o chão. Onde ela permaneceu por mais alguns segundos, completamente zonza.
O rei percebia que aquela situação não iria melhorar, essa estratégia não estava sendo efetiva e cada vez mais, as chances de perder dois dos membros do esquadrão estavam gritando para ele, então prontamente erguera seus olhos, tanto para o invocador quanto para a paladina. Compreendendo o pânico nos olhos de ambos, gritou:
— Recuem! Rápido, essa coisa não é natural!
Kassandra permanecia imóvel, observou os dois recuarem para perto do restante do esquadrão, observou a preocupação de Amelie, do Bruxo e do rei. Mas observou principalmente a situação, analisava friamente o combate que havia desdobrado diante dos seus opacos olhos.
Os movimentos sobrenaturais do inimigo estavam sendo estudados pelo crivo dos olhos da necromante, enquanto os demais insistiam em atacar o cadáver. A Morta-viva via algo que escapava da atenção do restante. Em um estalo, ela percebeu tudo.
Não era o corpo do cadáver que se movia por si só. Não. Bem longe disso.
Existia uma força além da carne corrompida, aquela – orbe.
A esfera de vidro metade roxa, metade negra… Pulsava.
Respirava.
Comandava.
— É isso! Ele está morto sim… — A necromante murmurou mais para ela mesma que para os outros. — É a orbe, a orbe é a mente… O corpo não é nada além de um simples hospedeiro.
O Bruxo Negro também estava estudando, observava o corpo com atenção com os braços cruzados. Ele girou seus dedos no ar assim que escutou a epifania da dona do Mausoléu. Ele dera um passo à frente, um pouco mais confiante que outrora.
— Posso prendê-lo, por alguns instantes. Quando eu afundar os pés dele no solo, sua velocidade ficará comprometida e a orbe ficará vulnerável. — explicou Bruxo Negro.
— E com ela vulnerável, os combatentes podem arrancar ela, me entregar e eu consigo neutralizá-la usando necromancia. — concluiu Kassandra.
Ayel escutava, segurando forte o cabo da espada. Amelie, Aaron e Mariane também haviam compreendido o que precisava ser feito.
— Aproveitem esse momento, façam ele valer. Por favor. — O arcano suplicava, pelo peso da sua voz, não poderia ser algo que ele teria forças para fazer uma segunda vez.
Todos arquearam para fazer a sua disparada, aguardariam a oportunidade criada pelo Bruxo para retirarem a orbe das mãos do cadáver para Kassandra neutralizar.
Não havia espaço para erros, Ayel estava nervoso, preocupado além do resultado, mas também com a segurança dos seus subalternos.
— Estamos prontos… Bruxo!
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.