Capítulo 064 - Retorno para o lar!
Capítulo 064 – Retorno para o lar!
Assim que levantaram o acampamento, a companhia retomara a sua marcha rumo ao reino, lar de todos. À frente dessa tropa inteira, cavalgavam a dupla Claude e Kord.
Suas montarias ressoavam pesadamente no chão seco, levantando poeira e criando um rastro. Eles eram os responsáveis por guiar toda a caravana, diferente da viagem de ida. Agora tudo estava reunido em um pequeno exército que viajava sob a mesma liderança.
Não tardou para reencontrarem os últimos fragmentos de vida que existia em Katze, longe do epicentro onde a orbe repousava e sugava toda a vida.
Kord encarara com seus olhos semicerrados sob o seu elmo, queixava-se.
— Viu Yelena? — indagou.
— Ela segue mais atrás, cuidando da segurança da comitiva real… O rei está ferido demais para cavalgar por si só, está sendo carregado.
Respondera Claude, que segurava com muita firmeza as suas rédeas, seu semblante transbordava a seriedade que o trajeto necessitava, ele precisava estar atento com o trajeto que precisavam seguir para sair daquele local.
— E pensar que um brutamonte daqueles foi posto abaixo daquela maneira. — murmurou Kord, balançando a cabeça, incrédulo.
— Subestima o poder do Bruxo Negro? — retrucou Claude. — Aquela criatura embebida em sombras não é um homem… É um monstro.
Kord riu, ambos respeitavam profundamente a figura de Nox Arcana.
— Tem razão, tem razão… Perdoe minha insolência!
Horas passaram-se, ecoando os cascos dos cavalos sob o terreno arredio. Quando a vegetação voltou ao pulso a aparecer na visão dos dois, afunilavam-se passagens entre galhos cerrados e moitas que pareciam arranhar. Ambos manobravam de modo a proteger os cavalos. Obviamente diminuíram o ritmo.
Claude firmava com concentração seu tronco sobre a sela do equino que prosseguia ferozmente, ele afastava os galhos e ramos que ameaçavam atingir seu rosto.
— Após esse último reduto, acredito que já será possível ver os muros de Sihêon. — murmurou Hob com alívio.
— Graças aos deuses. Estou exausto. Tudo isso… por uma necromante adolescente em busca de uma esfera de vidro… Arriscado demais, você não acha? — suspirou Kord com um pouco de desgosto.
Mas Claude parecia não ter prestado atenção no que seu companheiro havia dito. Ele falou baixo, como se fosse apenas para ele mesmo.
— Quero retornar logo…
Essa atitude acendeu uma pequena chama de desconfiança no Lâmina-fria, que lançara um olhar com extrema curiosidade para o pele de ébano.
— E por que essa urgência toda para retornar?
— Não é nada importante. — esquivou-se Claude.
Seu tom parecia forçar uma naturalidade, mas ambos se conheciam muito bastante. Aquilo não convenceria ninguém.
— Lutamos lado a lado por tantos anos e você acha que consegue me enganar desse jeito? Vamos. — Kord prosseguia. — Me conta.
— Já disse que não é nada.
— É buceta. Com certeza é buceta.
— Kord! — Claude virou em um ímpeto, em um espanto notável.
Isso fez com que o homem risse, principalmente com a reação do seu amigo.
— Acertei em cheio!
Claude balançou a cabeça negativamente algumas vezes, deixou um leve sorriso escapar para seus lábios. Ainda assim, mantinha sua compostura.
— Mais respeito, por favor.
A floresta que eles haviam deixado para trás mostrou-se ofendida, para poderem ser transpostos, ambos precisavam ter muito cuidado e perícia para escapar dos galhos secos, das raízes e das árvores no meio da trilha. Um trajeto que precisaria ser desviado pela caravana principal. Mas, como eles estão agindo a fim de antecipar qualquer perigo, atalhos eram bem vindos.
Suor escorrera sob suas vestes, não era mais esforço do conflito contra os mortos vivos, mas sim, apenas o trabalho de atravessar toda a natureza que sempre recusou a ajoelhar-se perante a presença humana.
— Então não é só sexo, hein? Está me dizendo que conseguiram laçar meu amigo pele de ébano? — provocara Kord, com uma certa alegria em sua frase.
O guerreiro permanecera em silêncio, apertando as rédeas como se estivesse guiando algo mais pesado que aquele cavalo.
— Claude! — O Lâmina-fria insistiu.
— Está bem… Está certo. Sim, é uma mulher. Estamos nos aproximando do reino, da cidade. E é dela que sinto falta.
Os olhos do companheiro do pele de ébano arregalaram, surpresos, entusiasmados:
— Por todos os céus! Por que não me disse nada antes, caralho? Quem ela é? De onde ela é? Eu a conheço?
Hob hesitou por alguns instantes, mas olhou para o lado, visualizando seu companheiro contente por sua felicidade. Talvez pudesse se abrir.
— Elise. Mora perto da praça.
— A filha do padeiro?
— Essa, exatamente.
— Será que ganharemos pães de graça, agora?
Claude riu. — Como assim, nós?
— E sonhar agora custa? — Kord dissera, ajeitando seus cabelos castanhos. Ria.
Pouco depois, mais cascos foram escutados ao longe, aproximava-se, um grupo de batedores.
Assim que surgiram, vindos da retaguarda. Claude e Kord os receberam com a devida seriedade. Eles transmitiram o relatório de que o caminho estava limpo, precisaria ser feito um desvio para que a caravana não ficasse presa no bosque anterior, mas, acima de tudo isso: a viagem corria conforme o previsto.
Os mensageiros se afastaram da dupla, pois de lá avisariam o restante dos comandantes. Quando sozinhos, os dois retomaram a sua conversa fraternal.
— Mas falando sério… Estou muito feliz por você, meu irmão. — Dissera Kord, com bastante sinceridade em sua voz.
— Obrigado, amigo. Assim que eu puser os olhos nas muralhas, só conseguirei pensar em vê-la.
— Que frase apaixonada, devo dizer.
— Estou apaixonado. — Claude sorriu. — Perdidamente.
O homem de ébano tomou a frente com o cavalo enquanto Kord ria, mas o acompanhou logo depois.
— Será que eu vou perder um guerreiro para a calmaria que apenas uma padaria pode oferecer?
— Eu não iria me opor se isso acabasse acontecendo.
Assim que escutou essa resposta do seu companheiro, Kord entrou em um silêncio estranho, fitava o horizonte.
Pela primeira vez, ele cogitou se Claude poderia realmente deixar o campo de batalha por conta dessa Elise.
Ele não iria culpar seu amigo se ele fizesse essa escolha, afinal.
A jornada para o retornou do reino prosseguira sem mais pausas, era um ritmo constante. Ditado principalmente pela ânsia dos dois para acabarem com essa jornada de uma vez.
Os dias em Katze haviam deixado algumas marcas em cada um dos aventureiros que cruzaram os portões para enfrentar a orbe.
— Às vezes, posso sentir que isso não passaria de apenas um sonho, para mim. — dissera Kord, quebrando um silêncio que havia se criado há quase meia hora.
Fez com que o pele de ébano olhasse para trás, buscando seu companheiro, erguia uma das sobrancelhas.
— O que quer dizer?
— Deixar de ser um aventureiro… Eu, um Lâmina-fria, parte de um clã originado e moldado para a guerra. O que seria de mim se eu abandonasse a espada? — Kord ajeitara-se na sela.
— Já pensou em fazer isso? — indagava Hob com o cenho franzido.
O guerreiro suspirou profundamente, os seus olhos estavam se perdendo entre os troncos e arbustos que havia no caminho da trilha.
— Em alguns momentos, sim… Principalmente após presenciar tantas carnificinas… Além do que a minha alma podia suportar.
Silêncio.
— Ou quando vi inocentes sendo arrastados para a morte sem que eu pudesse impedir. — O Lâmina concluiu.
O apaixonado nada disse de imediato, o som das palavras desviava do barulho dos cascos dos cavalos. Ele murmurou a resposta assim que o som dos galopes foram abafados pela relva.
— Vi o peso no seu rosto após o caso do açougueiro, lá em Pharid.
Kord abaixara os olhos, a expressão paralisada por dissociar em relação às lembranças.
— O que aconteceu com aquela pequena Danielle… Aquilo me enojou, Claude. Conversei várias vezes com a mãe dela, a senhora Onore. A culpa consumia tanto aquela mulher… E… Eu não posso culpá-la por isso.
— Passou quase um ano e isso ainda me atormenta… — respondeu Claude, fechando os punhos. — Sempre que eu me lembro, meu sangue ferve.
— Ao menos o bárbaro o fez sofrer. O que ele fez com aquele monstro foi muito além do que eu conhecia como brutalidade. — Kord olhara para cima, buscando um pouco de paz no céu ou nas folhas. — Eu vi tudo… Enquanto cuidava dos seus ferimentos. Vi Ayel enfrentar Bran sozinho. Um duelo que parecia mentira, só acreditei, pois estava lá.
— Todos mencionam isso quando passo em Pharid. — complementou Claude. — Todos também perguntam como nosso rei está, agem como se ele tivesse sido uma lenda que andou ao lado deles por alguns instantes.
— E pensar que um homem monstruoso assim foi esmagado como se fosse feito de barro pelo Bruxo Negro. — Kord balançara a cabeça, ainda com um pouco de espanto. — Isso faz eu me sentir tão… pequeno. Ridiculamente pequeno.
— Somos todos pequenos, amigo.
A trilha então abriu-se, revelava um campo além dela, muito vasto e esverdeado. Tocado completamente pela luz do fim de tarde.
Os cavalos ficaram mais tensos ao repararem que não estariam mais tão apertados, relinchavam alegres por cavalgar com mais liberdade.
Faltava pouco para o fim.
— Pensando em quão pequenos somos… Se você deseja parar, Claude. Se a Elise é a sua paz… Então tome-a como esposa. Fique com ela.
Claude fitou seu companheiro guerreiro, sentiu o peso da sua frase e a sinceridade em quem só queria o seu bem.
— Você também poderia ter isso, meu caro.
— Talvez. Mas a minha espada não me pertence mais… Ela pertence a todos vocês. Protejo Yelena, o rei. O povo. Alguém precisa estar sempre na vanguarda.
— Quem disse que preciso ser protegido? — rebateu o pele de ébano, ele fingia orgulho em sua voz.
— Você entendeu! — riu Kord.
O reino começava finalmente a revelar na linha do horizonte. Originalmente como um borrão por conta da distância, mas não tardaria para os estandartes ficarem compreensíveis e as linhas dos muros demarcassem o terreno.
— Mesmo assim, Kord. — disse Claude. — Se não formos nós… Me diz quem? Quem se arriscaria para manter tudo que temos em pé?
Lâmina-fria não respondeu, apenas apertou o trote da sua montaria, ansioso para retornar para a sua casa.
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