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    Capítulo 074 – O imperador!

    — Thassar? — murmurara Bartolomeu, recostando-se brutalmente na cadeira. — Senhor… Não é tão simples!

    — Não é simples, não é simples! — repetiu Ayel, imitando o tom de Bartolomeu, mas debochadamente, isso calou o conselho por um momento.

    — Eu não solicitei a opinião de nenhum de vocês, eu disse o que quero e eu vou atrás do que eu quero.

    Milo apoiou o cetro dourado um pouco mais adiante.

    — Não pode simplesmente querer um território e tomá-lo como se fosse um cavalo selvagem, meu rei. Existem tratados, manutenção dos suprimentos… Toda uma logística.

    Ayel cuspiu um pouco do hidromel que restava em sua boca no chão.

    — Logística, tratados. Da mesma forma que você cuidou tão bem do bosque, não é? — vociferou o tribal. — Eu trouxe vocês aqui para escutarem a minha decisão, não para colocar obstáculos nos meus objetivos.

    Akihiro ergueu o olhar com serenidade, seus olhos escuros estavam tentando ler as chamas dos olhos do bárbaro.

    — Majestade, sei que nos cânticos existem muito dessas conquistas em poesias cantadas em tavernas. Mas no mundo real… Acha mesmo prudente arriscar o que temos por um punhado de minérios?

    Ivan Láparo ajustou os óculos, falando baixo, mas firme, assim que o Ikeda terminou sua fala.

    — Precisaríamos aumentar o número de tropas, reforçar os armazéns, manter rotas seguras… Garantir que Thassar não esteja apenas no nosso nome, mas esteja dentro realmente das nossas fronteiras e isso custaria uma fortuna, majestade.

    — Não acredito que se tome uma vila como se abatesse um javali na mata. Eu, mais que ninguém, adoraria marchar até Thassar e arrancar algumas cabeças daqueles mercenários cretinos que dominam ela atualmente. Mas também não sou cego. — interrompeu Lâmina-fria, encarando Ayel. — Se quer tanto a cidade, precisa se planejar como um general, não como um caçador embriagado.

    — Como um general, não como um bárbaro. — concluiu Belomonte.

    Ayel riu, soltara um som gutural que reverberou pelas paredes todas do salão.

    — Eu sou o rei. Não um escravo dessas suas planilhas inúteis ou dos temores.

    O bárbaro inclinou-se para frente, com aquele maldito olhar estampado no rosto.

    — Acredito que vocês esqueceram de que a espada consegue falar mais alto que qualquer pergaminho. — O ruivo ainda estava com o sorriso no rosto.

    O salão emergiu em silêncio, os nobres trocaram olhares inquietos. Era como se a invasão bárbara de Aiden estivesse acontecendo mais uma vez. Era como se o homem na frente dos nobres fosse um animal.

    — Majestade… — Bartolomeu prosseguiu, era o mais imparcial dos nobres. — Suplico que pondere… Se ainda assim insiste, permita que ao menos organizemos os suprimentos e estudemos as guarnições.

    Nunca o conselho havia sido tão prontamente solícito para um bárbaro antes, mas já que perceberam que não poderiam reciclar as estratégias, talvez Ayel responderia melhor se fosse bem tratado.

    — Eu já decidi, mas dei a chance de ouvir os latidos de vocês. Então, posso considerar algumas das suas estratégias.

    O Alvorada estava torturando o conselho, não com as palavras, mas com a humilhação, um lembrete claro de onde era o lugar deles.

    Nenhum dos membros do conselho estava tocando em seus copos ou taças, mas Ayel virou mais um gole do seu hidromel antes de prosseguir:

    — Que fique claro: Thassar será nossa. Se me desafiarem, vão acabar provando da mesma fúria com aqueles que ousaram me chamar de fraco enquanto eu estava acamado.

    Dessa forma, estava lá o rei, sentado.

    Aguardava quem seria o próximo a se atrever a falar.

    Tudo parecia bem, até todos virarem com o som do rangido da cadeira, que havia despedaçado o silêncio da ameaça tribal.

    Drake Less em um movimento brusco arrancou sua cimitarra da bainha, aquele metal curvo refletia as chamas das tochas e, sem hesitar, ele avançara os passos ecoando como se fosse um gigante.

    Isso deixara todos no recinto em alerta. Drake foi um pirata sujo, então tinha métodos questionáveis de persuasão. Ele provavelmente estava crente de que conseguiria dobrar Ayel pela força, mas diferente dos nobres, o rei permanecia imóvel, apenas observava o Less com o olhar fixo e assassino.

    — Sugiro que repense no que diz a nós! — Drake falava enquanto gesticulava o braço com a espada. — Nós quem damos poder para os reis, nós quem temos a fortuna para financiar suas merdas, nós quem controlamos as massas, nós quem somos Sihêon, você é a porra do nosso fantoche.

    Em um só movimento, praticamente imperceptível aos olhos mortais, o rei bárbaro puxara sua espada bastarda, aquela lâmina longa e larga que parecia pesada para qualquer homem comum erguer.

    O restante do conselho dos nobres arregalaram os olhos, alguns até prenderam as suas respirações, outros levaram as mãos à boca como um ato reflexo de medo. Bartolomeu inclusive se levantou e recuou um passo, derrubando a sua cadeira. Milo havia deixado cair seu cetro, recolheu-se no encosto onde estava.

    Drake esboçou um sorriso de puro escárnio, ele acreditava fielmente que o bárbaro hesitaria e que esses atos de coragem não passavam de um fingimento do ruivo para tentar manter o pouco poder que ainda lhe restava.

    Mas antes que pudesse perceber, ou até mesmo antes que pudesse falar mais alguma coisa. Ayel havia rompido à frente em um ímpeto assustador, nos momentos seguintes o som da lâmina que cortava o ar precedeu o som da lâmina que cortava a carne.

    O estalo seco do ranger da lâmina arranhou as costelas e os pulmões misturados ao surdo do ar no corpo.

    Os olhos do pirata arregalaram-se com esse choque, ele encarou para baixo e percebeu seu sangue jorrar como a nascente de um rio quente ao redor de toda a lâmina, tingindo lentamente sua túnica com um vermelho bem escuro. Sua boca se abriu com mais uma jorrada de rubro que escorria pelos lábios, seus dentes estavam manchados, fios desciam até o seu queixo.

    Como um último ato de desespero completo, o homem virou seu olhar trêmulo para os outros nobres, com um terror estampado em cada uma das suas pupilas. Depois disso, tentara fitar Ayel uma última vez antes de cair de joelhos. Alvorada puxou a lâmina com uma força estrondosa, fazendo um som horrendo.

    Drake tombara morto sobre o chão do salão com seu sangue, criando rapidamente uma poça ao redor do cadáver.

    O tribal ergueu a espada ensanguentada e olhou no fundo dos olhos de cada um dos conselheiros, ele não estava cansado, embora tivesse dado um disparo forte para atingir Drake. O tempo acamado o deixou sedento por agir. Por fazer.

    — Devo alertar vocês de uma coisa que talvez tenham se esquecido…

    Muitos nem encaravam Ayel enquanto ele começava esse discurso, ainda estavam olhando o corpo imóvel de um companheiro de conselho.

    — Eu não sou um nobre, um aventureiro… Eu não sou um mercenário, mas não sou honroso quando me ofendem e Drake me ofendeu.

    Ayel chutou o corpo morto.

    — Se vocês fizerem o mesmo… — O tribal rosnou. — Não precisarei de guildas ao meu lado, nem dos guardas reais. Eu não preciso de mais ninguém, pois eu mesmo tenho a força de uma dezena de homens e, se eu quiser, posso aniquilar cada um de vocês e cada membro das suas odiosas famílias! Então, aprendam!

    Dissera, apontando a espada para o homem que ele acabou de ceifar.

    Era espantoso, ele não demonstrava remorso ou pena. Todos os conselheiros indagavam se ele conseguiria ter essa frieza toda para silenciar completamente os nobres. Por mais lunático que isso pudesse parecer, acreditavam que, se enfrentassem a ira de Ayel, poderiam, sim, perecer.

    O reino de Sihêon estava preso a um animal cruel e sem escrúpulos, um tribal andarilho sanguinário e estúpido.

    Todos estavam embebidos no desespero do medo, como crianças.

    Continuavam imóveis enquanto o monarca dera um passo à frente, pisando na poça de sangue com suas botas. O ruivo ergueu a espada, rugindo:

    — Eu sou a porra de um bárbaro. As coisas agora vão funcionar da seguinte forma… Quando o assunto for administração, taxação de impostos, controlar o povo e manter as minhas leis vigentes… contarei com o trabalho dos senhores, meu conselho dos nobres… Se o assunto for guerras, ataques, anexos e qualquer coisa que envolva conflitos físicos… Isso é comigo, apenas comigo.

    Estavam catatônicos, observando o homem que assassinou um igual encarar seu conselho como meros criados, não existia força naqueles nobres para reagir.

    — Todos vocês, agora, vão dobrar seus joelhos para mim. Pois assim que eu tomar Thassar… Não serei mais um rei. Quero que me reconheçam como o dono de um império.

    Ayel ergueu o punho, seus músculos pulsavam.

    — Serei o imperador bárbaro!

    O ambiente inteiro congelou, o medo espalhou pelos presentes como se estivessem envenenados.

    Um a um, os nobres estavam caindo sobre seus joelhos. Bartolomeu fora o primeiro, com seu rosto pálido, pressionava o peito em sinal de submissão.

    Akihiro estava tremendo, mas segurava-se, pôs seu leque contra a testa antes de se ajoelhar enquanto Branwen, embora bastante relutante, ajoelhava-se com o semblante endurecido.

    Ivan Láparo com seus olhos arregalados por trás das lentes, e Milo Verde-folha que já estava sem o seu cetro, caíram na reverência completa. O velho Láparo murmurava algo que parecia uma prece contida enquanto o velho druida suplicava com as mãos unidas.

    O ruivo observava de cima, sua lâmina ainda estava pingando, seus lábios curvaram-se em um sorriso feral.

    — Jurem. Jurem lealdade ao imperador! — bradou o bárbaro como um trovão.

    E em um coro uníssono, as vozes fracas e trêmulas completaram a resposta que o homem tanto ansiava.

    — Juro!

    — Juro lealdade ao imperador!

    — Juro lealdade ao imperador bárbaro!

    — Vida longa ao imperador!

    Anos e anos de dominância, perdidos por uma invasão, recuperados quando dobraram Aiden, trucidados quando fizeram o mesmo com Ayel.

    Enquanto eles gritavam, Ayel abria um sorriso ainda maior, como se sua determinação fosse uma fogueira onde havia sido jogada uma centena de lenhas. Ele queria mais, muito mais e Thassar seria só o começo.

    O nascimento de Ayel Alvorada, o imperador bárbaro.


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