Capítulo 0023: Gwen
Assim que o conde e as servas saíram, a garota de olhos azuis se jogou para trás e caiu deitada de braços abertos em uma cama forrada com palha.
O movimento brusco fez a barra do vestido subir, até que as suas coxas ficassem completamente expostas, se esfregando uma na outra conforme a garota se mexia.
— Aff, tinha esquecido como isso era irritante — ela disse, juntando os braços e rolando na cama de um lado para o outro, como uma criança que faz birra para não ir à missa de manhã. — Veste isso, penteia aquilo, ajeita a postura. Aff. Eles acham que eu sou a droga de uma boneca pra ficarem me enfeitando desse jeito!?
Então ela jogou o corpo para a frente e se sentou corretamente, com os joelhos juntos e as pernas levemente inclinadas para o lado. A mão esquerda apoiada na coxa desnuda e a direita, na cama, para manter o equilíbrio.
— Acho que eu sou a sua recompensa, né? — Ela alisou o cabelo e sorriu com desdém, como se zombasse dele. — Essa não. O que vai fazer comigo, mestre?
— Isso não foi ideia minha.
— É, tô sabendo. O conde tá comendo na sua mão. Pra ser sincera, eu tô meio surpresa. Não achei que cê fosse do tipo esperto. Quero dizer, um mês? Sério? Como é que cê virou o braço direito de um lorde tão rápido? Já ouvi histórias de cortesãs que morreram de velhice antes de conseguirem o favor de seus amantes… Você não tá dormindo com o conde, né?
O rapaz deu um passo à frente e ela foi rápida em se desculpar:
— Nossa, relaxa. Foi só uma brincadeira. Quanto drama. Mas acho que pode funcionar… Que tal eu e você fazermos isso juntos?
— Quê?
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— Por favor, não finja que não pensou nisso. — Ela se levantou. — Vamos abrir os portões pro Eradan e seus homens.
— …
— Não faz essa cara, cê pensou nisso também, né? Eu ouvi um monte de coisas aqui e ali. Tirando o conde e as garotas, parece que todo mundo aqui te quer morto. E por que não iriam querer? Você é uma ameaça à posição deles. É o escudeiro, conselheiro, braço direito, caramba! Daqui a pouco ele te nomeia seu herdeiro. Bom, não que isso importe, né? Afinal, não é como se um nobre fosse manter a sua palavra.
— Do que você tá falando?
— O que ele te prometeu? Seu peso em ouro? Algum castelo? Um título de nobreza? Aposto que ele também mencionou uma ou duas donzelas. Isso costuma convencer os garotos… Você não acha que ele vai te dar essas coisas, né?
Quando o rapaz não respondeu, ela precisou tapar a boca com a mão para segurar o riso. Não funcionou.
— Hahaha. Ah, vamolá. Cê é um mercenário, né? Não tem como ser tão ingênuo. Ele tá comprando a sua lealdade com promessas vazias. É isso que eles fazem. Você não é nem o primeiro a cair nessa. — Ela engrossou a voz, estufou o peito para imitar um homem e disse: — Ei, eu vou te dar um grande castelo e uma bela donzela pra se casar. Tudo o que você tem que fazer é me servir fielmente pelos próximos dez anos. E se você morrer? Bem, essas coisas acontecem.
A garota interrompeu a atuação para lhe dar um olhar arrogante, antes de prosseguir:
— Tipo, sério? Isso faz algum sentido? Ele não vai te dar nada. Eles nunca dão. Se você tiver um castelo, vai ter que cuidar dele, e isso quer dizer que ele perdeu um guerreiro leal e não ganhou nada com isso. É muito melhor continuar te mandando pra missões suicidas até você morrer, e então dar aquele castelo pra algum pequeno lorde aí e forjar uma aliança qualquer.
— O conde é um homem de palavra!
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— Igual a você? Não que faça diferença. Ele é velho e, como eu disse, cê não é muito bem quisto aqui não. Acha que a condessa vai honrar a promessa do marido, se ele morrer? Ou quem sabe o filho dele? Fiquei sabendo que ele tá lutando em algum lugar aí. Nem deve saber que você existe. Acha que ele vai dar um castelo pra um estranho? Mesmo que ele seja tão ‘honrado’ quanto o pai, o melhor que você vai receber é alguma cabana de dois andares com uma ovelha pra vender quando estiver morrendo de fome. Mas você não precisa fazer isso. Não quando tem a mão vencedora bem aqui.
Ela se aproximou.
— Eradan tá congelando em algum bosque por aí, desesperado e perdendo apoio rápido. Ele não tem dinheiro pra manter seus homens e nem a moral pra evitar que desertem. Mate o conde. Abra os portões. E a gratidão dele não conhecerá limites. Você vai poder exigir o que quiser.
O escudeiro sentiu o hálito quente e doce dela em seu pescoço, quando a garota ficou na ponta dos pés e apoiou as mãos em seu peito, colando o corpo ao dele.
— Deixe que ele fique com o salão e a filha do conde pra lhe dar legitimidade, então pegue a Torre da Justiça e a mão daquela loirinha metida. Ela vai te dar acesso à corte e fortalecer a reivindicação dos seus filhos. Se não me engano, a prima dela é agora duquesa da família Greenguard. Claro, ela está do lado errado dessa guerra, mas é só uma garota. Tenho certeza de que vão recebê-la de braços abertos, se disser que foi forçada a apoiar o Rei Negro por causa do seu pai. E não acho que ele esteja em posição de negar, agora que ficou uma cabeça mais baixo.
A mão dela deslizou para baixo, até a sua cintura.
— Todos vão ser muito gratos ao jovem e corajoso marido dela, que a resgatou e matou um proeminente traidor no processo. Dobre o joelho ao rei Helmut, faça amigos na corte e pronto, você terá ido mais longe do que qualquer mercenário jamais foi. Tudo isso em um golpe só.
Siegfried agarrou a mão da garota, quando ela tentou pegar sua espada, e então a prendeu contra a parede.
— Eu não sou um traidor!
— Posso pensar em pelo menos vinte pessoas que discordariam disso.
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Ele apertou seu pulso com mais força, até que ela começasse a suar.
— T-tá legal, parei.
— Eradan é um incompetente. Seus homens não passam de covardes. E eu matei o melhor deles há várias semanas. Ele perdeu a minha lealdade quando me enviou para morrer. Um comandante que abandona seus próprios homens, não merece lealdade!
— Tá legal, entendi. Definitivamente não traição. Saquei.
— …
— Então… Cê vai me soltar agora ou…?
Ele hesitou.
Podia sentir o seu sangue fervendo e o coração pulsando, como um aríete prestes a abrir um buraco em seu peito.
Ela também parecia desconfortável. Seus olhos azuis estavam molhados, seu rosto vermelho e a respiração pesada.
“Ela tem medo de mim.”
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Seus olhos desceram pelo corpo da garota, e só então notou como ela era pequena e magra. Viu a cicatriz em seu peito; aquela que quase a partiu ao meio quando enfrentaram o conde.
Ela arfou e o rapaz deu por si com a sua boca a poucos centímetros da dela.
Então a soltou e se afastou, enquanto a pequena escrava escorregava com as costas pela parede até cair de joelhos no chão, com as pernas trêmulas.
— Qual o seu nome?
— G-Gwen…
— Eu sou leal ao conde, Gwen. E enquanto me servir, você também será.
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