Capítulo 0036: Como um filho
Já escurecia quando Siegfried levou Elenor para a casa de banho.
O pátio estava deserto, conforme os servos iam terminando os seus deveres e buscavam abrigo no calor aconchegante do salão, mas de vez em quando passava alguém dando olhares cheios de malícia para a mulher ao seu lado. Não que ela parecesse se importar.
Ele abriu a porta e sentiu o vapor da água quente afugentar o frio, cobrindo ambos como um manto de pele quentinho. Quando prestou atenção, notou que havia mais alguém no local.
Brynna estava de costas para ele, com o vestido caído aos seus pés, despida e pronta para entrar na banheira, até que uma leve brisa gelada veio pela porta aberta e fez a garota virar o rosto:
— Sieg! — Ela sorriu e deu um passo em sua direção, até notar a mulher ao seu lado. De repente pareceu se sentir incomodada com a própria nudez e tentou escondê-la com as mãos, como uma criança que se sente envergonhada de não ser adulta o bastante. — E-eu não sabia que… Hum, d-deixa pra lá.
Elenor sorriu e então tocou os lábios com a ponta dos dedos para não rir.
— Que fofa — sussurrou para si mesma. — Me desculpe, querida. Esse é o seu namorado?
Brynna não respondeu, ao invés disso, fixou os olhos em outra direção, mas Siegfried notou que as orelhas dela estavam vermelhas e os seus lábios tremiam.
— Não se preocupe — disse Elenor, abraçando-no por trás —, ele só estava me mostrando o lugar. Além disso, eu não gosto de garotinhos, sabe?
Siegfried se soltou da mulher e disse:
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— Ela é uma convidada. O conde me pediu pra deixá-la ‘apresentável’.
— Ah! E-eu ajudo. Por aqui, senhorita.
Brynna conduziu Elenor até uma das banheiras e ajudou a mulher a se lavar, até que ela puxou a garota para perto, a abraçou por trás, apalpou seus pequenos seios e fez cócegas em sua barriga. Então foi Elenor quem passou a lavar Brynna, sorrindo e sussurrando algo em seus ouvidos.
Siegfried já estava indo embora, mas assim que tocou na maçaneta, a porta se abriu abruptamente e atingiu a parede com tanta violência que lascas de madeira voaram e quase levaram junto a cabeça do rapaz, que por muito pouco não foi atingido.
Então ele entrou.
As garotas se agitaram na banheira ao ouvirem o bato. Elenor puxou Brynna para perto e a abraçou, virando as costas para a porta, como que a protegendo com seu corpo, sem jamais desviar os olhos do homem que surgiu diante deles.
Igmar deu a elas um breve olhar desinteressado e então se voltou para Siegfried, que estava bem diante dele:
— Interrompi sua diversão, mercenário?
— O que você quer?
— Insolente como sempre. — O capitão estalou a língua. — Sua graça exige sua presença.
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Dois guardas entraram e se puseram atrás do rapaz, como que para evitar que recuasse, ou talvez para dominá-lo se isso fosse necessário.
— Agora!
Siegfried não discutiu.
— Espera! — disse Brynna, mas Elenor a calou e os guardas não lhe deram atenção.
Lá fora, a noite era escura e sem estrelas, com uma neblina que cobria o chão e chegava aos joelhos.
Um dos guardas ajeitou o seu cinto da espada e o rapaz notou de repente que não havia ninguém além deles no pátio, nem mesmo as sentinelas. Nada além de um silêncio profundo e o tilintar de aço.
Mas devia estar sendo paranoico.
Igmar o conduziu até o Salão dos Poucos, onde o jantar estava sendo servido. Atravessaram em silêncio o longo caminho até os aposentos do conde, e quando chegaram à porta, o capitão parou e se virou para ele:
— Não pense que essa pequena fagulha de glória o torna especial… Mercenário. — Então entrou no quarto e o rapaz o seguiu. — Trouxe o garoto, vossa graça.
— Ótimo — respondeu a condessa. — Deixe-nos.
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— M-milady, não sei se…
Bastou um olhar de censura para que Igmar obedecesse.
— Como ordena, vossa graça.
Ele fez uma reverência e foi embora, com o rosto vermelho e algumas veias pulsando no seu pescoço, quando trocou olhares com Siegfried.
A condessa estava sozinha, sentada em volta de uma mesa redonda; a mesma que o conde usava em suas reuniões. Ela sorriu e apontou para um assento ao seu lado:
— Por favor, sente-se.
O rapaz obedeceu, mas pegou uma cadeira mais afastada; no entanto, assim que se sentou, a condessa levantou, pegou uma taça de vinho na estante perto da cama e serviu a ele uma taça, enchendo outra para si mesma e voltando a se sentar, mas desta vez ao seu lado.
— Tem de me perdoar, temo que a minha coleção esteja muito aquém do ideal. A guerra torna as coisas boas escassas, mas creio que este possa ser do seu agrado.
Siegfried tomou um gole por educação. Amargo. Então colocou a taça de volta na mesa.
— O capitão Igmar disse que vossa graça queria me ver.
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— De fato. — Ela sorriu. — Beba mais um pouco.
— Prefiro ouvir o que tem a dizer, primeiro.
— …
— Se não se importar–
— Como são seus pais?
— … O quê?
— Seus pais. Imagino que tenha dois, a menos que tenha nascido de uma muda de árvore. Eu estou curiosa para saber deles. Seu pai era um guerreiro, como você? E sua mãe? Por algum motivo que não compreendo, os homens mais violentos são sempre aqueles que mais amam suas mães, e devo dizer, você me parece o tipo que ama muito a sua.
— …
— Então?
— Que diferença faz?
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Por um instante tão curto que mais pareceu fruto da sua imaginação, o sorriso da condessa vacilou e seus olhos verdes brilharam com desprezo.
Então ela voltou ao normal.
— Sinto muito, toquei em um assunto delicado, não foi? Não era minha intenção… Meu marido tem muita consideração por você, sabia? Às vezes, quando estamos sozinhos, conversamos a seu respeito. As coisas que fez, as que fará. Não o vejo animado assim desde que… Ele o vê como um filho, sabia? Por qual outro motivo o favoreceria tanto?
— E-eu…
— Beba!
Siegfried obedeceu, e desta vez esvaziou a taça em um único gole, então a condessa voltou a enchê-la.
— Meu filho mais velho, Theron. Um ótimo garoto, mas essa guerra tem sido muito longa. Quase não o vemos mais, há sempre outra batalha… — A voz dela era melancólica e não haviam mais sorrisos para Siegfried. — Meu marido não admite, mas sei que sente sua falta.
— Não estou tentando substituí-lo.
— E nem conseguirá!
Dessa vez, o desprezo não foi imaginação sua. Ainda assim, ela respirou fundo e a raiva desapareceu, dando lugar ao sorriso mais bonito e falso que Siegfried já tinha visto.
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— Sinto muito, temo ter me exaltado um pouco. Meu humor não tem sido o mesmo ultimamente. Espero não tê-lo assustado.
— Talvez seja melhor eu me retirar.
— Bobagem. — Ela esticou o braço e tocou sua mão. — Aprecio sua companhia. Por favor, não pense mal de mim. Foi só… Não era com você que eu estava irritada, vê? Sinto muito ter gritado. Espero que possa me perdoar. Aqui, beba mais um gole.
Siegfried obedeceu.
— Veja, na verdade, há um motivo para eu tê-lo chamado aqui. Você tem servido meu marido com lealdade e dedicação. Por isso queria lhe dar algo em troca. Uma recompensa a altura de seus feitos heroicos.
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