Capítulo 0046: Vice-capitão
Siegfried acordou com o braço dormente e deu por si com Dara dormindo aninhada nele; sua respiração quente e suave fazendo cócegas em seu peito. Não queria acordá-la, por isso teve de tomar muito cuidado para sair debaixo dela e passar por cima de Mirabel e Sam, que dormiam abraçados ao seu lado.
No pátio, Igmar já tinha os cavalos prontos para a partida desde a noite anterior. Quando o viu, franziu a testa e lutou para montar usando apenas uma mão; a direita havia sido substituída por um gancho depois de ser decepada no duelo deles.
— Parabéns! — disse o capitão, levando o animal para perto do rapaz. — Conseguiu o que queria. Se livrou de mim.
— Nunca tentei me livrar de você.
— Já pode parar com as falsidades. Somos só nós dois aqui e você nunca me enganou. Acha que ganhou? É claro que acha. Dá pra ver nos seus olhos. Mas não é a primeira missão suicida que recebo, e não será a minha última. Seja lá qual for o joguinho que você tá fazendo aqui, ele vai acabar assim que eu trouxer Eradan. E eu vou trazer! E vou trazê-lo vivo, se quer saber. Tenho certeza que sua graça vai adorar ouvir o que ele tem a dizer a seu respeito.
Quando Siegfried não respondeu, Igmar sorriu e então partiu com seus homens. Sete soldados a cavalo, desaparecendo colina abaixo em meio à neve fraca da manhã que caía sobre eles.
“Com isso, a facção da condessa perdeu a maior parte da sua força. Se é que ainda resta alguma.”
Esperou os portões se fecharem, então deu meia volta e se dirigiu ao pátio de treinamento, onde encontrou apenas um guarda o esperando; uma garota magricela de cabelos curtos e mais ou menos da sua idade. Era a primeira vez que a via.
— Não sabia que o conde aceitava garotas em sua guarda.
Ela não respondeu. Ao invés disso, encarou o chão e balançou as mãos, como se não soubesse bem o que fazer com elas, antes de finalmente decidir escondê-las atrás das costas.
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— Bem, pelo menos cê tá em forma, o que já é mais do que posso dizer dos outros. Qual o seu nome, soldado?
Os olhos da garota se abriram surpresos, grandes e negros, como o seu cabelo. Por quê? Siegfried não tinha a menor ideia. Talvez fosse a primeira vez que lhe perguntavam isso?
Ela abriu a boca e seus lábios começaram a tremer:
— E-eu… — sussurrou, tão baixo que era difícil ouvi-la. — E-Elli… É Eli–
— Tá legal, Elly. Cadê os outros?
Por um momento, pareceu que a garota queria dizer algo, mas desistiu, abaixou a cabeça e respondeu a pergunta:
— D-dormindo… Senhor.
— ‘Dormindo’?
— S-sim, senhor.
— Então acorde-os! Eles têm dez minutos pra entrarem em forma.
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Ela congelou.
— Agora! — ordenou Siegfried, e a garota correu para cumprir suas ordens.
“Parece que Igmar levou os melhores, ein?!”, ele deixou escapar um suspiro enquanto a observava correr desajeitada até o salão.
Levou trinta minutos para Elly retornar com os seus colegas. Quarenta homens cambaleando; meio de ressaca, meio de sono. A garota vinha por último, andando meio curvada com a mão na barriga e uma expressão de dor; quando notou que ele a observava, endireitou a postura.
— Senhor…
— Onde estão os outros?
— E-esses são todos, senhor… O capitão Igmar levou seis dos nossos homens, e os outros estão em seus postos.
— Muito bem! Entre em forma!
Ela obedeceu, e foi a única que realmente ficou em posição. Os outros estavam bem à vontade, conversando entre si e rindo; alguns tinham até mesmo sentado no chão, como se fosse algum tipo de piquenique.
— Atenção!
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Ninguém se moveu.
Não ficou surpreso, mas isso não era bom.
“Um líder que precisa dar a mesma ordem duas vezes, não é líder nenhum”, lembrou do que Thrarim tinha lhe dito há muito tempo. Na época, foi apenas uma provocação direcionada ao próprio irmão em sua primeira batalha como líder. Agora…
Como se ganha o respeito de gente que te odeia?
Siegfried só conhecia uma forma.
Mais afastado do grupo, o encontrou: um homem grande e gordo, deitado no chão com uma jarra de cerveja na mão, enquanto outros cinco soldados conversavam e riam ao seu redor.
Quando o rapaz se aproximou, se calaram e o líder deles se sentou, olhando seu vice-capitão de cima a baixo:
— Humpf. É só você. Quê que cê quer, moleque? Tá estragando o gosto da–
— Eu dei uma ordem!
— Hum!?
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Nenhum dos dois se moveu, mas Siegfried podia sentir os olhos de todos sobre si; então tocou o cabo da espada e viu o rosto do Cara de Pança ficar pálido como leite azedo quando o clima esfriou e os seus amigos rastejaram para longe em silêncio, feito ratos.
Ainda lembravam do seu duelo com Igmar e isso era bom.
Já estava quase acabado, quando o gordo se levantou e o olhou de cima; era grande, pouco mais de dez centímetros mais alto e o triplo da sua largura, talvez por isso tenha se sentido tão confiante quando disse:
— Eu não aceito ordens de crianças! Acha que só porque sua graça te deu o comando, cê tem alguma autoridade aqui, ‘garoto’?
Ele deu um cutucão no peito de Siegfried e, por pior que fosse admitir, o homem era muito forte e foi capaz de empurrá-lo um passo para trás.
Os guardas riram.
— Se entendeu, cai fo–
— Eu não vou tolerar insubordinação entre meus homens!
O rapaz sacou a espada e as risadas morreram, conforme os guardas se empurravam para ver a cena, formando um círculo ao redor dos dois.
O gordo congelou, com o rosto empapado de suor.
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Encurralado, levou a mão trêmula até o cabo da espada e olhou ao seu redor, em busca de apoio, mas ninguém se moveu. Estava sozinho; quando notou isso, seu rosto ficou vermelho e os joelhos tremeram. Por fim, cerrou os dentes, cuspiu no chão e abaixou a cabeça, dizendo:
— N-não vai se repetir… Vice-capitão.
E entrou em forma.
Os outros seguiram o seu exemplo, primeiro com passos arrastados e hesitantes, então com mais pressa e entusiasmo; alguns minutos depois, estavam todos enfileirados, esperando por suas ordens.
“Como gado.”
Uma tropa de mercenários não teria recuado até ver um pouco de sangue, mas guardas não eram tão exigentes ao que parecia. A vida protegida a serviço de uma casa nobre os tornou moles; teria de mudar isso.
— Que assustador — disse Elenor, que apareceu do nada, sorrindo. — Então é assim que um líder se parece. Foi bem impressionante.
— Cê ainda tá aqui? — perguntou Siegfried, guardando a espada.
Ela deixou escapar um suspiro e prosseguiu:
— Sabe, você é o cavalheiro perfeito quando tá de boca fechada. Devia ficar assim mais vezes. Francamente! É sempre um desperdício quando Elyon dá os rostos mais bonitos pros garotos mais babacas. De qualquer forma, eu já estou indo embora, então não se preocupe. Vim apenas pegar algo que me pertence, vice-capitão.
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E lhe entregou uma carta com o selo do conde.
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